Versos ligeiros
Eu acho tão feiticeira A Noemita da esquina, Com o seu recato de freira, Muito morena e franzina;
Que fico toda encantada Quando na Igreja a contemplo, Pois cuido ver uma fada Ajoelhada no Templo.
Doce nuvem cor de rosa Parece que a Deus se eleva.
D’aquela boca mimosa, D’aquele olhar cor de treva.
É sua prece que voa, Indefinida e tão mansa, Como um hino que ressoa, Como uma voz de criança A trança de seu cabelo, (Como ela é negra, Jesus!)
Semelha um lindo novelo Tão preto que já reluz.
Tem a boquinha vermelha Como uma rosa entreabrindo...
É um favo de mel de abelha Aquela boca sorrindo!
Minh’alma nunca se cansa De vê-la assim, tão divina, Sempre formosa e criança Com seu perfil de menina.
Às vezes, eu olho-a tanto, Com tanta veneração, Que fico muda de espanto, Depois da contemplação.
É verdade que não faz Mal nenhum fitá-la assim...
Meu Deus! se eu fosse rapaz O que diriam de mim?!
Macaíba - 1897