Último abraço
"Filho, adeus! Já sinto a morte, Que me esfria o coração.
Vem cá... Dá-me tua mão...
Bem vês que nem mesmo tu Podes dar-lhe novo alento!...
Filho, é o último momento...
A morte — a separação!
Ao desamparo, sem ninho, Ficas, pobre passarinho, Neste deserto profundo, Pequeno, cativo e nu!...
"Que sina, meu Deus! que sina Foi a minha neste mundo!
Presa ao céu — pelo desejo, Presa à terra — pelo amor!...
Que importa! é tua vontade?
Pois seja feita, Senhor!
"Pequei!... foi grande o meu crime, Mas é maior o castigo...
Ai! não bastava a amargura Das noites ao desabrigo;
De espedaçarem-me as carnes O tronco, o açoite, a tortura, De tudo quanto sofri.
Era preciso mais dores, Inda maior sacrifício...
Filho! bem vês meu suplício...
Vão separar-me de ti!
"Chega-te perto... mais perto;
Nas trevas procura ver-te Meu olhar, que treme incerto, Perturbado, vacilante...
Deixa em meus braços prender-te P'ra não morrer neste instante;
Inda tenho que fazer-te Uma triste confissão...
Vou revelar-te um segredo Tão negro, que tenho medo De não ter o teu perdão!...
Mas não!
Quando um padre nos perdoa, Quando Deus tem piedade De um filho no coração Uma mãe não bate à toa.