Sylvio
A D. Emília Coelho Ribeiro Ó mães que tendes filho, mães piedosas!
Quando eles morrerem criancinhas, Enfeitai-lhes o caixão de brancas rosas;
Deixai, deixai voar as andorinhas!
Em busca das paragens luminosas!
GUERRA JUNQUEIRO
Sylvio morreu. Docemente.
Su’alma se foi, voando Como uma pomba dolente Que deixa a terra cantando.
“Não murches, olha de rosa!
Espera que chegue o inverno...
Cansaste, rola formosa?
Pousa no seio materno.”
Mas Sylvio voou sorrindo À pátria que a glória encerra...
Era um anjo meigo e lindo, E os anjos não são da terra.
Nossa Senhora é que os leva Aqui do mundo mesquinho;
Quer vê-los, longe da treva, Brincando com o seu filhinho.
Quando se vai n’um sorriso Uma criança adorada, Ao chegar ao Paraíso, Diz uma lenda encantada.
Jesus lhe entrega, risonho, Para a salvar do martírio, Duas asas da cor do Sonho E um pequenino círio.
Mas, se a mãe padece tanto Na terra, sempre chorando, Molham-se as asas de pranto E o círio vai-se apagando.
Então o pobre do anjinho Já não procura brincar, Soluça a um canto sozinho Porque não pode voar.
E, se o círio, doce e puro, Pouco a pouco perde a luz, Como pode ele no escuro Ver o menino Jesus?
Pobre mãe! não chores tanto O filho do coração...
Vais apagar com teu pranto A vela que tem na mão.
Depois ouvirás clamar, Do Céu entre as níveas gazas:
Ó mãe, não posso voar Teu pranto molha-me as asas!