Sonhando
Um dia, oh linda, embalada Ao canto do gondoleiro, Adormeceste inocente No teu delírio primeiro, - Por leito o berço das ondas, Meu colo por travesseiro!
Eu, pensativo, cismava Nalgum remoto desgosto, Avivado na tristeza Que a tarde tem, ao sol-posto, E ora mirava as nuvens, Ora fitava teu rosto.
Sonhavas então, querida, E presa de vago anseio Debaixo das roupas brancas Senti bater o teu seio, E meu nome num soluço À flor dos lábios te veio!
Tremeste como a tulipa Batida do vento frio...
Suspiraste como a folha Da brisa ao doce cicio...
E abriste os olhos sorrindo Às águas quietas do rio!
Depois - uma vez - sentados Sob a copa do arvoredo, Falei-te desse soluço Que os lábios abriu-te a medo...
- Mas tu, fugindo, guardaste Daquele sonho o segredo!...
Agosto - 1858