Saudade
A ela, a Eugênia, a doce criatura que me chama irmã.
Ah! se soubesse quanto sofro e quanto Longe de ti meu coração padece!
Ah! se soubesses como dói o pranto Que eternamente de meus olhos desce!
Ah! se soubesses!... Não perguntarias De onde é que vem esta sombria mágoa Que traz-me o peito cheio de agonias E os tristes olhos arrasados d’água!
Querem que a lira de meus versos cante Mais esperança e menos amargura, Que fale em noites de luar errante E não invoque a pobre noite escura.
Mas... como posso eu levar sonhando A vida inteira n’um anseio infindo, Se choro mesmo quando estou cantando Se choro mesmo quando estou sorrindo!
Ouve, ó formosa e doce e imaculada, Visão gentil de eterna fantasia:
Minh’alma é uma saudade desfolhada De mãe querida sobre a cova fria.
Ah! minha mãe! Pois tu não sabes, santa, Que Ela partiu e me deixou no berço?
Desde esse dia a minha lira canta Toda a saudade que lhe inspira o verso!
Depois que Ela se foi a Mágoa veio Encher-me o coração de luto e abrolhos.
Eu sofro tanto longe de seu seio, Eu sofro tanto longe de seus olhos!
Ó minha Eugênia! Estrela abençoada Que iluminas o horror deste deserto...
De teu afeto a chama consagrada Lança à minh’alma como um pálio aberto.
Quando beijares teus filhinhos, pensa O que seria d’eles sem teus beijos;
E, então, compreenderás a dor imensa, A amargura cruel destes harpejos!
Junta as mãozinhas dos pequenos lírios, Das criancinhas que tu’alma adora, E ensina-os a rezar sobre os martírios E a saudade infinita de quem chora.