Rosa Murcha
Esta rosa desbotada Já tantas vezes beijada, Pálido emblema de amor;
É uma folha caída Do livro da minha vida, Um canto imenso de dor!
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Há que tempos ! Bem me lembro...
Foi num dia de Novembro:
Deixava a terra natal, A minha pátria tão cara, O meu lindo Guanabara, Em busca de Portugal.
Na hora da despedida Tão cruel e tão sentida P’ra quem sai do lar fagueiro;
Duma lágrima orvalhada, Esta rosa foi-me dada Ao som dum beijo primeiro.
Deixava a pátria, é verdade, Ia morrer de saudade Noutros climas, noutras plagas;
Mas tinha orações ferventes Duns lábios inda inocentes Enquanto cortasse as vagas.
E hoje, e hoje, meu Deus?!
— Hei de ir junto aos mausoléus No fundo dos cemitérios, E ao baço clarão da lua Da campa na pedra nua Interrogar os mistérios!
Carpir o lírio pendido Pelo vento desabrido...
Da divindade aos arcanos Dobrando a fronte saudosa, Chorar a virgem formosa Morta na flor dos anos!
Era um anjo! Foi pr’o céu Envolta em místico véu Nas asas dum querubim;
Já dorme o sono profundo, E despediu-se do mundo Pensando talvez em mim!
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Oh! esta flor desbotada, Já tantas vezes beijada, Que de mistérios não tem!
Em troca do seu perfume Quanta saudade resume E quantos prantos também!
Lisboa - 1855