Quando tu choras
Quando tu choras, meu amor, teu rosto Brilha formoso com mais doce encanto, E as leves sombras de infantil desgosto Tornam mais belo o cristalino pranto.
Oh! nessa idade da paixão lasciva Como o prazer, é o chorar preciso:
Mas breve passa - qual a chuva estiva -
E quase ao pranto se mistura o riso.
É doce o pranto de gentil donzela, É sempre belo quando a virgem chora:
- Semelha a rosa pudibunda e bela Toda banhada do orvalhar da aurora.
Da noite o pranto, que tão pouco dura, Brilha nas folhas como um rir celeste, E a mesma gota transparente e pura Treme na relva que a campina veste.
Depois o sol, como sultão brilhante, De luz inunda o seu gentil serralho, E às flores todas - tão feliz amante -
Cioso sorve o matutino orvalho.
Assim, se choras, inda és mais formosa, Brilha teu rosto com mais doce encanto:
- Serei o sol e tu serás a rosa...
Chora, meu anjo, - beberei teu pranto!
Rio - 1858