Quando eu morrer
A Julieta Mascare Quando eu morrer... (Quem me dera que fosse n’um dia assim, n’um dia de primavera cheirando cravo e jasmim!)
... transformem meu coração - sacrário azul de esperanças -
n’um pequenino caixão para enterrar as crianças.
De meus olhos façam círios, de meu sorriso um altar - cheio de rosas e lírios, tão doce como o luar -, e guardem nele, entre flores, longe, bem longe da terra, a Virgem santa das Dores lá da Igrejinha da Serra.
D’aquele sonho formoso que minh’alma tanto adora, façam o turíbulo piedoso que incense os pés da Senhora...
E as saudades orvalhadas - de meu amor triste enleio -
transformem nas sete espadas de dor que Ela tem no seio!...
Se d’este repouso santo em que meu corpo adormece vier perturbar o encanto o choro de quem padece:
eu quero as gotas de pranto todas mudadas em prece...
Prece que leve, cantando, minh’alma ao celeste ninho, como um pássaro ruflando as asas brancas de arminho.