Primaveras
I
A primavera é a estação dos risos, Deus fita o mundo com celeste afago, Tremem as folhas e palpita o lago Da brisa louca aos amorosos frisos.
Na primavera tudo é viço e gala, Trinam as aves a canção de amores.
E doce e bela no tapiz das flores Melhor perfume a violeta exala.
Na primavera tudo é riso e festa, Brotam aromas do vergel florido, E o ramo verde de manhã colhido Enfeita a fronte da aldeã modesta.
A natureza se desperta rindo, Um hino imenso a criação modula, Canta a calhandra, a juriti arrula, O mar é calmo porque o céu é lindo.
Alegre e verde se balança o galho, Suspira a fonte na linguagem meiga, Murmura a brisa: - Como é linda a veiga!
Responde a rosa: - Como é doce o orvalho!
II
Mas como às vezes sobre o céu sereno Corre uma nuvem que a tormenta guia, Também a lira alguma vez sombria Solta gemendo de amargura um treno.
São flores murchas; - o jasmim fenece, Mas bafejado s'erguerá de novo Bem como o galho do gentil renovo Durante a noite, quando o orvalho desce.
Se um canto amargo de ironia cheio Treme nos lábios do cantor mancebo, Em breve a virgem do seu casto enlevo Dá-lhe um sorriso e lhe intumesce o seio Na primavera - na manhã da vida -
Deus às tristezas o sorriso enlaça, E a tempestade se dissipa e passa À voz mimosa da mulher querida.
Na mocidade, na estação fogosa, Ama-se a vida - a mocidade é crença, E a alma virgem nesta festa imensa Canta, palpita, s'extasia e goza.
1º de Julho - 1858