Poesia e amor
A tarde que expira, A flor que suspira, O canto da lira, Da lua o clarão;
Dos mares na raia A luz que desmaia, E as ondas na praia Lambendo-lhe o chão;
Da noite a harmonia Melhor que a do dia, E a viva ardentia Das águas do mar;
A virgem incauta, As vozes da flauta, E o canto do nauta Chorando o seu lar;
Os trêmulos lumes, Da fonte os queixumes, E os meigos perfumes Que solta o vergel;
As noites brilhantes, E os doces instantes Dos noivos amantes Na lua de mel;
Do templo nas naves As notas suaves, E o trino das aves Saudando o arrebol;
As tardes estivas, E as rosas lascivas Erguendo-se altivas Aos raios do sol;
A gota de orvalho Tremendo no galho Do velho carvalho, Nas folhas do ingá;
O bater do seio, Dos bosques no meio O doce gorjeio Dalgum sabiá;
A órfã que chora, A flor que se cora Aos raios da aurora, No albor da manhã;
Os sonhos eternos, Os gozos mais ternos, Os beijos maternos E as vozes de irmã;
O sino da torre Carpindo quem morre, E o rio que corre Banhando o chorão;
O triste que vela Cantando à donzela A trova singela Do seu coração;
A luz da alvorada, E a nuvem dourada Qual berço de fada Num céu todo azul;
No lago e nos brejos Os férvidos beijos E os loucos bafejos Das brisas do sul;
Toda essa ternura Que a rica natura Soletra e murmura Nos hálitos seus, Da terra os encantos, Das noites os prantos, São hinos, são cantos Que sobem a Deus!
Os trêmulos lumes, Da veiga os perfumes, Da fonte os queixumes, Dos prados a flor, Do mar a ardentia Da noite a harmonia, Tudo isso é - poesia!
Tudo isso é - amor!
Indaiassú - 1857