Perfumes e amor
NA PRIMEIRA FOLHA DUM ÁLBUM.
A flor mimosa que abrilhanta o prado Ao sol nascente vai pedir fulgor;
E o sol, abrindo da açucena as folhas, Dá-lhe perfumes - e não nega amor.
Eu que não tenho, como o sol, seus raios, Embora sinta nesta fronte ardor, Sempre quisera ao encetar teu álbum Dar-lhe perfumes - desejar-lhe amor.
Meu Deus! nas folhas deste livro puro Não manche o pranto da inocência o alvor, Mas cada canto que cair dos lábios Traga perfumes - e murmure amor.
Aqui se junte, qual num ramo santo, Do nardo o aroma e da camélia a cor, E possa a virgem, percorrendo as folhas, Sorver perfumes - respirar amor.
Encontre a bela, caprichosa sempre, Nos ternos hinos d'infantil frescor Entrelaçados na grinalda amiga Doces perfumes - e celeste amor.
Talvez que diga, recordando tarde O doce anelo do feliz cantor:
- "Meu Deus! nas folhas do meu livro d'alma Sobram perfumes - e não falta amor!"
Junho - 1858