Perdão!
I
Choraste?! - E a face mimosa Perdeu as cores da rosa E o seio todo tremeu?!
Choraste, pomba adorada?
E a lágrima cristalina Banhou-te a face divina E a bela fronte inspirada Pálida e triste pendeu?!
Choraste?! - E longe não pude Sorver-te a lágrima pura Que banhou-te a formosura!
Ouvir-te a voz de alaúde A lamentar-se sentida!
Humilde cair-te aos pés, Oferecer-te esta vida No sacrifício mais santo, Para poupar esse pranto Que te rolou sobre a tez!
Choraste?! - De envergonhada, No teu pudor ofendida, Porque minh'alma atrevida No seu palácio de fada, - No sonhar da fantasia -
Ardeu em loucos desejos, Ousou cobrir-te de beijos E quis manchar-te na orgia!
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II
Perdão p'r'o pobre demente Culpado, sim, - inocente -
Que se te amou, foi demais!
Perdão p'ra mim que não pude Calar a voz do alaúde, Nem comprimir os meus ais!
Perdão oh! flor dos amores, Se quis manchar-te os verdores, Se quis tirar-te do hastil!
- Na voz que a paixão resume Tentei sorver-te o perfume...
E fui covarde e fui vil!...
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III
Eu sei, devera sozinho Sofrer comigo o tormento E na dor do pensamento Devorar essa agonia!
- Devera, sedento algoz, Em vez de sonhos felizes, Cortar no peito as raízes Desse amor, e tão descrido Dos hinos matar-lhe a voz!
- Devera, pobre fingido, Tendo n'alma atroz desgosto, Mostrar sorrisos no rosto, Em vez de mágoas - prazer, E mudo e triste e penando, Como um perdido te amando, Sentir, calar-me e - morrer!
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Não pude! - A mente fervia, O coração trasbordava, Interna voz me falava, E louco ouvindo a harmonia Que a alma continha em si, Soltei na febre o meu canto E do delírio no pranto Morri de amores - por ti!
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IV
Perdão! se fui desvairado Manchar-te a flor d'inocência E do meu canto n'ardência Ferir-te no coração!
- Será enorme o pecado, Mas tremenda a expiação Se me deres por sentença Da tua alma a indiferença, Do teu lábio a maldição!...
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Perdão, senhora!... Perdão!...
Junho - 1858