O que são estrelas
A Jesuína Sampaio Ai! Quantas vezes eu cismo, À noite, olhando as estrelas.
Como quem sonda um abismo:
Meu Deus! O que serão elas?
E julgo que são pequenas Almas gentis de crianças, Voando as plagas serenas Como um bando de esperanças.
Caçoulas brancas, sagradas, Cheias de amor e de encantos, Hóstias formosas, nevadas, Eucaristia dos santos.
Sonhos de moça partidos, Desilusões de poetas, Raios de luz desprendidos Das asas das borboletas.
Doces lírios transportados Para uma encantada horta.
Sorrisos tristes, magoados, De uns lábios de noiva morta.
Mimosos, lindos novelos, Formados da luz serena, Que aureolava os cabelos Tão loiros de Magdalena.
Cada estrela, penso, encerra Uma alma branca de rosa, Que os anjos levam da terra Para a Santa mais formosa.
Deve ser o Azul brilhante.
O manto azul de Maria, E cada estrela um diamante Que neste manto irradia.
Ou, talvez, penas dispersas De um’asa nívea de arcanjo...
Pupilas em luz imersas Dos olhos castos de um anjo...
Parecem círios divinos No Azul imenso e sem véu...
Ninhos de ouro pequeninos Dos beija-flores do Céu...
E enquanto cismo, respondem Os astros, brancos arminhos:
Nós somos berços que escondem As almas dos passarinhos Jardim - 6 - 1897