O baile!
Se junto de mim te vejo Abre-te a boca um bocejo, Só pelo baile suspiras!
Deixas amor - pelas galas, E vais ouvir pelas salas Essas douradas mentiras!
Tens razão! Mais valem risos Fingidos, desses Narcisos - Bonecos que a moda enfeita -
Do que a voz sincera e rude De quem, prezando a virtude, Os atavios rejeita.
Tens razão! - Valsa, donzela, A mocidade é tão bela, E a vida dura tão pouco!
No burburinho das salas, Cercada de amor e galas, Sê tu feliz - eu sou louco!
E quando eu seja dormido Sem luz, sem voz, sem gemido, No sono que a dor conforta;
Ao concertar tuas tranças No meio das contradanças Diz tu sorrindo: "- Qu'importa?..
"Era um louco, em noites belas "Vinha fitar as estrelas "Nas praias, co'a fronte nua!
"Chorava canções sentidas "E ficava horas perdidas "Sozinho, mirando a lua!
"Tremia quando falava "E - pobre tonto - chamava "O baile - alegrias falsas!
"- Eu gosto mais dessas falas "Que me murmuram nas salas "No ritornelo das valsas. - "
Tens razão! - Valsa, donzela, A mocidade é tão bela E a vida dura tão pouco!
P'ra que fez Deus as mulheres, P'ra que há na vida prazeres?
Tu tens razão... eu sou louco!
Sim, valsa, é doce a alegria, Mas ai! que eu não veja um dia No meio de tantas galas -
Dos prazeres na vertigem, A tua coroa de virgem Rolando no pó das salas!...
Julho - 1858