Na rede
Nas horas ardentes do pino do dia Aos bosques corri;
E qual linda imagem dos castos amores, Dormindo e sonhando cercada de flores Nos bosques a vi!
Dormia deitada na rede de penas - O céu por dossel, De leve embalada no quieto balanço Qual nauta cismando num lago bem manso Num leve batel!
Dormia e sonhava - no rosto serena Qual um serafim;
Os cílios pendidos nos olhos tão belos, E a brisa brincando nos soltos cabelos De fino cetim!
Dormia e sonhava - formosa embebida No doce sonhar, E doce e sereno num mágico anseio Debaixo das roupa batia-lhe o seio No seu palpitar!
Dormia e sonhava - a boca entreaberta O lábio a sorrir;
No peito cruzados os braços dormentes, Compridos e lisos quais brancas serpentes No colo a dormir!
Dormia e sonhava - no sonho de amores.
Chamava por mim, E a voz suspirosa nos lábios morria Tão terna e tão meiga qual vaga harmonia De algum bandolim!
Dormia e sonhava - de manso cheguei-me Sem leve rumor;
Pendi-me tremendo e qual fraco vagido, Qual sopro da brisa, baixinho ao ouvido Falei-lhe de amor!
Ao hálito ardente o peito palpita...
Mas sem despertar;
E como nas ânsias dum sonho que é lindo, A virgem na rede corando e sorrindo...
Beijou-me - a sonhar!
Junho - 1858