Na primeira página
Vinde a mim todos os que estais fatigados e oprimidos, e eu vos consolarei.
IMIT. DE CRISTO L. IV. cap. I
Quando meu pobre coração doente, Cheio de mágoas, desolado e aflito, Sinto bater descompassadamente, Abro este livro então: leio e medito.
Leio e medito nesta voz celeste Quem vem do Além, qual mensageiro santo, Trazer um ramo de oliveira agreste Aos que navegam sobre o mar do pranto.
Meus pobres olhos sempre rasos d’água, Por um instante deixam de chorar;
E nas asas da Prece a minha mágoa Vai-se um momento para além do Mar.
E d’entro d’alma, nua de esperança, Eu penso ouvir como n’um sonho doce Alguém que fala numa voz tão mansa Como se o eco de um suspiro fosse:
“Vem a mim se padeces: no meu seio Corre a fonte serena da Alegria...
Eu sou Aquele que sorrindo veio Dourar as trevas da Melancolia.
Eu sou um branco e pálido sorriso Iluminando a tua solidão:
Faze de minha Cruz um Paraíso E do meu Coração teu coração.
Faze-te humilde, humilde e pequenina, Como as crianças, como os passarinhos...
Escuta e guarda a minha lei divina, No sacrário ideal dos meus carinhos.
Não sabes quanto padeci no Horto, Por ti, por teu amor, filha querida?
Eu sou o Anjo formoso do conforto, Venho trazer o bálsamo à ferida.
Carrega a tua Cruz e vem comigo Pela estrada da Dor e do Tormento.
Eu serei teu irmão, teu sol, o amigo Que em lírios mudará o sofrimento.
Venho trazer a Paz... Longe da terra A Paz habita... Ao pé do Santuário, Ó minha filha, a doce paz se encerra Dentro da Hóstia, dentro do Sacrário.
Felizes os que sofrem e no meu seio Recolhem suas queixas como preces;
Volta o pesar ao Céu de onde ele veio...
Feliz, ó sim! feliz tu que padeces!”
E a mesma voz escuto, o mesmo canto, De cada vez que o meu olhar ungido Cai docemente n’este livro santo, Lembrança amiga de um irmão querido.
Amo tanto o meu livro, ele é tão puro, Consola tanto o coração aflito!
Ah! desta vida no caminho escuro Ele será meu talismã bendito!
E se ele entreabre, a rir, a boca ingênua e pura, Casta como da rosa o seio imaculado:
“Abrem-se, par em par, - meu coração murmura -
As portas de coral de um palácio encantado!”
Ah! como fico alegre e como canto ao vê-lo!
Foge-me até do seio a sombra do Desgosto.
Inclino-me de leve e beijo-lhe o cabelo Enquanto o Sol se ajoelha e vem beijar-lhe o rosto...
Ó lírio perfumado! Ó manso cordeirinho Que guardas a Quimera em teu sorriso em flor...
Vive feliz, ó santo, e que jamais o espinho Da mágoa te atormente, ó pequenino amor!
Que o meu Verso te leve, açucena bendita, Nas asas de cristal, as brancas esperanças...
E o afeto sagrado e a ternura infinita Que minh’alma consagra a todas as crianças!
Macaíba - Março de 1899.
O que você achou desse texto?
Comente abaixo e participe!











