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Textos para uso geral de domínio público.

Mortalhas

OS DEUSES EM CEROULAS
(Versos Humorísticos)
W.B.
Nem ótimo, nem péssimo. Vai indo.
Personificação do meio-termo, Veio das vascas do governo findo E é um paliativo no país enfermo.
Ora galgando altura, ora caindo, Ora na multidão, ora num ermo, Alguns afirmam que é um talento lindo, Outros que é um pobre e simples estafermo.
De livres-pensadores teve os votos, Continuando entre os boatos e os devotos, A ser o que carrega a maior trouxa.
Da presidência, em meio à lufa-lufa, Quanto mais se lhe bate - mais estufa, Quanto mais se lhe aperta - mais afrouxa.
C. DE F.
Dobradiça de mola e parafusos, Abre a porta da escola à da caserna E, em casos complicados e confusos, Com a tarimba o gabinete alterna.
Dirige a pasta conhecendo os usos E os segredos da tática moderna;
Governa a sós, não atendendo a intrusos, Mas a vaidade, às vezes, o governa.
Tem serviços e estudos às centenas.
Bravo, se o instinto do guerreiro o guia, Tem na paz qualidades não pequenas.
Porém, ó raio da burocracia!
Sendo Faria, o que ele faz é apenas, Como ministro, o que qualquer. . . faria.
A.A.
Rumo ao mar! Eis a frase predileta De quem na Armada, hoje é senhor da pasta, E que, para poder tocar a meta, Mil tropeços, mil óbices afasta.
Mas o rumo ao bom senso é a linha reta De quem as verbas do Tesouro gasta.
E tudo o mais é sonho de poeta.
(Alexandrino é verso e isto não basta).
Mas se é verso, não seja verso branco, Pois facilmente a rima rica brota, A quem da inspiração tem porto franco.
Olhe os bancos de areia nessa rota:
Se ela, no rumo ao mar, trepar num banco A Nau do Estado vai à bancarrota.
S. B.
Este é um amuado crônico e se amua De modo agudo, repetidas vezes.
Quer ser a vertical da terra à lua E evita os atos e palavras soezes.
Na rigidez do aspecto ele acentua Gestos nem sempre amáveis e corteses, Para mostrar a linha toda sua De quem despreza os míseros burgueses.
Sendo, no fundo integralmente honesto, Não come o bolo, rejeitando o resto Como a certos gargantas conviria.
A vitaliciedade da enxaqueca Deu-lhe a aparência comprimida e seca De um frango assado de confeitaria. ..
L.M.
De uma magreza de evitar chuvisco, Tem a altura fatal de um pára-raio.
Tão alto que, se o aspecto lhe rabisco, Na vertigem da altura até desmaio.
Hoje é o senhor do cobiçado aprisco De tenros diplomatas em ensaio;
Astuto, na rijeza de obelisco, Não nos encara, espia de soslaio.
De alma arguta e sagaz, nada quimérica, Feita de tino e de sabedoria, Tudo a seu ver é uma função numérica.
Mas de andar e viajar, tem a mania.
Cometa diplomático da América, Judeu errante da diplomacia.
P.C.
Tão pequenino e trêfego parece, Com seu passinho petulante e vivo, A quem o olha, assim, com interesse, Que é a quinta-essência do diminutivo.
Figura de leiloeiro de quermesse, Meloso e parecendo inofensivo, Tem de. despeitos a mais farta messe, E do orgulho é o humílimo cativo.
Não há talento que ele não degrade, Não há ciência e saber que ele, à porfia, Não ache aquém da sua majestade.
Dele um colega, há tempos, me dizia:
É o Hachette ilustrado da vaidade, É o Larousse da megalomania!
C.M.
Lá na terra dos pampas tem o nome De chimarrita, diz o Leal de Souza, E este apelido afirmam que o consome E é o que o há de levar à fria lousa.
Se lho repetem briga e já não come, Não pára, não descansa, não repousa, Agüenta a sede, suportando a fome, Dando o estrilo feroz por qualquer cousa.
Entretanto, não tem os dotes falhos;
Do talento gaúcho é um belo adorno E tem brilhantes feitos e trabalhos.
Rapadurescamente espalha em tomo, Uma impressão de cheiro a vinha-d'alhos, De um leitãozinho mal tostado ao fomo.
R.A.
Era ministro então. O Olavo e o Guima Diziam que ele era o Morfeu da pasta, E o dorminhoco andava em metro e rima Na pilhéria que a tanta gente agasta.
Mas galgando o Catete, escada acima, Num despertar febril, Morfeu arrasta Todas as forças que a vontade anima, Nos vastos planos de uma idéia vasta.
Tudo revive! A atividade é infrene.
São mutações de sonho! É o Eldorado, É o Dinheiro na Estética e na Higiene!
Hoje, glorioso e um tanto fatigado Não se deixa ficar calmo e solene A dormir sobre os louros do passado.
R.
Pedra preciosa de um tamanho imenso.
(Pois que o nome é um rubi deste tamanho Que à sorte e à fortuna traz apenso), Eis mais ou menos o seu vulto estranho.
Escravo cauteloso do bom senso Fugidio ao espírito tacanho, Quando entra em luta diz: Ou morro ou venço!
E é difícil que alguém lhe tome o ganho.
Desdobrado em trabalho multiforme, Em finança e política não dorme, E numa ou noutra. nunca perde a audácia.
Sendo do Bananal, não é um banana:
Tocou rumo a S. Paulo a caravana, E ei-Io Rubião, em honra da rubiácea.
J.DE M.
Com este agora a musa não contava!
Nem a musa mordaz, nem a brejeira, Em certo dia o vejo a deitar lava, Aproximo-me e encontro uma geleira.
Quando a aparência é fria, a alma está brava.
Se aquela é tormentosa, esta é fagueira.
E assim, da vida. o rumo, a sós, desbrava, E, a sós, colima o termo da carreira.
Por muito que o humorismo o prenda e engrade.
Ele não esbraveja nem se irrita, Mas se lhe escapa com facilidade.
A golpes de talento o laço evita E ao ridículo opõe a habilidade.
Eis, mal pintado, o Júlio de Mesquita.
W. L.
E um bandeirante novo, sem as botas De andar em carrascais, ou serras brutas, De penetrar nas mais profundas grotas Ou se internar nas mais soturnas grutas.
É o bandeirante urbano nas devotas Ânsias de ver em formas resolutas, O esplendor das metrópoles remotas Em plintos, colunatas e volutas.
Ele antevê. nas cores mais exatas Da Paulicéia as graças infinitas, No áureo fulgor de mágicas palhetas.
Porém, depois dos bons tempos de pratas, Ele que é homem que detesta as fitas, Sente a falta do arame nas gavetas.
O PLENIPOTENCIARIO DA FACÚNDIA
De carne mole e pele bambalhona, Ante a própria figura se extasia, Como oliveira -ele não dá azeitona, Sendo lima -é quase melancia.
Atravancando a porta que ambiciona, Não deixa entrar nem entra. É uma mania!
Dão-lhe por isso a alcunha brincalhona De pára-vento da diplomacia.
Não existe exemplar na atualidade De corpo tal e de ambição tamanha, Nem para intriga igual habilidade.
Eis, em resumo, essa figura estranha:
Tem mil léguas quadradas de vaidade Por centímetro cúbico de banha!. ..
A. A.
Dizem que às vezes, quer se achar bonito, Mas, nem sendo Amadeu e sendo amado, Mas muito amado mesmo, eu não hesito:
Se não é feio é bem desengraçado.
Entretanto se o vejo (isto é esquisito)
Através de um soneto burilado, É mais que belo, afirmo em alto grito, É o próprio Apoio que lhe fica ao lado.
Mais comprido que a universal história, Este Leconte com seu ar caipira, Me deixa uma impressão nada ilusória.
Quando ele ao alto, a inspiração atira, Com a cabeça a topar no céu da glória, É um guindaste a guindar a própria lira.
V. DE C.
Fraco e doente, se solta algum gemido, Ou sai um verso ou brota uma sentença.
Se como Juiz sempre é acatado e ouvido, Como poeta não sei de alguém que o vença.
Se nas Ordenações presta sentido, Tem, nas regras de Horácio, parte imensa.
Não se lhe sabe o culto preferido:
Se na Arte ou no Direito, tem mais crença.
Tendo defeito, nunca teve alcunha.
Quando aparece, num reencontro à liça, O que nos antagonistas acabrunha, É ver que, sem fraqueza nem preguiça, Numa só mão, com o mesmo gesto empunha, A áurea lira e a balança da Justiça!. ..
F. G.
Este é por certo o verdadeiro espelho Das maiores derrotas e conquistas Que o regime vem tendo, e o seu conselho, Tem sempre o cunho das mais largas vistas.
Foi das molas mais rijas do aparelho Que deu cabo das hostes monarquistas.
Foi o Moisés do novo Mar Vermelho, A égua madrinha dos propagandistas.
Calmo, risonho, perspicaz, cordato, Todos sentem no Ilustre veterano, Do político arguto o fino tato.
Mas o Matusalém republicano, Tem orgulho infantil de ser, de fato, O bisavô dos netos do Herculano!
L. DE F.
O rosto escuro em pontos mil furado, Se lhe move da boca em derredor.
Não consegue um segundo estar calado E é de S. Paulo o tagarela-mor.
Traz, de nascença. o todo avelhantado De um macróbio infantil e, - coisa pior, -
Dá idéia de que já nasceu usado Ou de que foi comprado no belchior.
Tudo nele é exagero, até a atitude De saudar elevando o diapasão:
"Nobre amigo! Mui fuerte e de salude?"
No mais é um excelente amigalhão.
Mas que voz! É o falsete áspero e rude .
De um gramofone de segunda mão.
L. G.
Este vale, em toicinho, a inteira Minas;
Derretê-lo, seria um desencargo Para a atual crise das gorduras suÍnas.
(O Monteirinho a isso põe embargo).
Arrota francos, marcos, esterlinas, Mas uma alcunha o faz azedo e amargo:
Senador tonelada. Usa botina Cinqüenta e quatro, à sombra, bico largo.
Tem uma proverbial sobrecasaca, Cujo pano daria, em cor cinzenta, Para o Circo Spinelli uma barraca.
Da do Oliveira Lima ela é parenta Pois só o forro das mangas dá, em alpaca.
Para o novo balão do Ferramenta.
M. DE S.
Conhecem, por acaso, o Monteirinho Que é Antônio, que é Monteiro e que é de Souza?
Pois não é para aí um qualquer cousa De baixo preço ou de valor mesquinho.
Assim mesmo tostado e mascavinho, Numa poltrona do Monroe repousa, Calado e quedo qual funérea lousa, A apanhar perdigotos do vizinho.
Cabritinho de mama já esgotada, No tapete não solta as azeitonas E só espera o momento da marrada.
Dele, a exibir as alentadas lonas, Diz o Lopes Gonçalves Tonelada :
Ai! cabrito cheiroso do Amazonas !
P. F.
Marechal, senador e proprietário, De alma vazia e de algibeiras cheias, Ninguém conhece o sangue originário Que lhe infla as mil nonagenárias veias.
É tão feio que, assim, nonagenário, À sua própria fealdade une as alheias.
O seu rosto é um mosaico extraordinário De pedacinhos de mulheres feias.
Mosaico de canhões, namoros cava.
E, no cinema, o pé reiúno toca, Até que a dama, a rir, o mande à fava.
Se nalguma tourada se coloca, Ele que, em tempos, foi um vaca brava, Hoje não dá nem mesmo para choca.
B. L.
Nada tem de ridícula a fealdade Quando ela, em certas caras, se figura.
Quem vai rir da sinistra catadura Com que o Barbosa Lima nos invade?
É uma cara abortiva. É, de verdade!
Se uma dama pejada o olhar lhe atura, Ei-la já parturiente prematura, Sem os encantos da maternidade.
Mas tem parentes a valer o cabra!
E para colocar qualquer parente, Se não há vaga, faz com que ela se abra.
Tudo consegue por terror somente, Pois que, mostrando a cara hostil. macabra, Faz abortar o próprio Presidente!
J. DE S.
Justiniano, ele o é, mas, com certeza, Não mandará fazer novo Digesto.
Prefere saborear de língua acesa, Apimentado vatapá. ..indigesto.
Serpa, serpe ele o é e espera a presa.
O Enéas, malandrão, diz-lhe: -eu protesto!
Ele volve e responde com firmeza:
Já comeste demais, deixa-me o resto!
Isto é um traço interior de Justiniano.
Quanto ao traço exterior, não sei se o traço, Porque ele é cara sem um traço humano.
É uma fealdade de causar cansaço!
Do que é feio, eu cá digo, salvo engano:
Se o tal Pifer é o suco, ele é o bagaço!
A. J.
Para o teu nome a fórmula sintética Vou fazer, ó de Ulisses companheiro, Sem fugir às leis clássicas da estética E partindo da análise primeiro.
Tiraste os quatro pés (isto é dialética)
Do verso asclepiadeu e, prazenteiro, Ao jâmbico emprestando rima poética, Eis-te agora Asclepíades Jambeiro.
Dos quatro pés ficou-te a inteligência Pois é nela que mora o asclepiadeu, Diverso apenas pela desinência.
Da alma ao corpo a tua métrica desceu E, conforme as leis da arte e as leis da ciência, Dáctilo tens um pé e outro espondeu.
A RAZÃO
Tem causado estranheza a atividade assombrosa do M.P.F., em defesa de todas as medidas propostas pelo Sr. J. B.
(De um vespertino)
Não se compreende bem por que motivo Causa estranheza o gesto do Firmino, Pois, Firmino, afinal é um afetivo, Apesar de sabido, arguto e fino.
O amor materno é sempre ardente e vivo E é com todo esse amor, quase divino, Que ele assim ficou manso, mas ativo, Qual boa mãe por filho pequenino.
Vai até muito bem nessa maneira De mostrar que do afeto é uma alma escrava O nosso Marechal Pires Ferreira.
O Senado com esta já contava:
-Está salva a pecuária brasileira!
-Para bezerras, nunca a vaca é brava!
HEMETÉRIO DE SOUSA
Neto de Ubá, do príncipe africano, Não faz congadas, corta no maxixe;
Herbert Spencer de ébano e de guano, É um Froebel de Nanquim ou de azeviche.
No pedagogium de que é soberano, Dizque: -comigo a crítica se lixe;
Sou o mais completo pedagogo urbano, Pestalozzi genial pintado a piche!
Nagi fez da cor preta a cor reiúna.
Na vasta. escala da ornitologia, Se águia não é, também não é graúna.
Um amador de pássaros diria:
Este Hemetério é um pássaro turuna, É o vira-bosta da pedagogia.
H. DE S.
O preto não ensina só gramática.
É pelo menos o que o mundo diz.
Mete-se na dinâmica, na estática E em muitas coisas mais mete o nariz.
Dizem que, quando ensina matemática, As lições de mais b, de igual a x, Em vez de em lousa, com saber e prática, Sobre a palma da mão escreve a giz.
Uma aluna dizia: -Este Hemetério Do ensino fez um verdadeiro angu, Com que empanturra todo o magistério.
E é um felizardo, o príncipe zulu, Quando manda um parente ao cemitério, Tem um luto barato: fica nu.
CONVALESCENTE
Triste alegria a da convalescença!
Dessa alegria os poetas falam tanto, Que quem os lê fica a pedir a doença, Prenúncio triste desse alegre encanto.
Eu, somente, não vejo o que me vença Este mole. este insípido quebranto, Sem uma só emoção vívida, intensa.
Sem nada que me cause ódio ou espanto.
A própria guerra que conflagra o mundo, Não me sacode mais na voz de um hino Que eu estava a compor grave e profundo.
Sinto que estou no vácuo. Até imagino, Vendo-me assim vazio, oco e infecundo, Que estou dentro do crânio do Aurelino.
A. L.
Não és somente um diretor de estrada Sansão capilar. És estradeiro, Como o diz, provocando a gargalhada, O nosso Oscar, trocista e galhofeiro.
Realmente! Com tal cara, assim barbada Que incita a raiva de qualquer barbeiro, És bem o que se diz: Praça escovada, Das de embrulhar um regimento inteiro.
Levas, no cargo, a vida a fazer fitas!
Como o carvão te traz mil dissabores.
De reduzi-lo a pó, firme cogitas.
Se do pó do carvão na poeira fores, Terás, nessas tuas barbas infinitas, Matéria-prima para espanadores.
VOCAÇÕES
Afirmam os jornais que o Sr. J. B. vai montar em Pernambuco, uma grande fábrica de papel.
Não sabe o que é desânimo ou cansaço O Bezerra Doutor e Coronel.
Para cavar, o tempo todo é escasso E agora a sopa lhe caiu no mel.
A cana já lhe deu caldo, melaço, Açúcares, cachaças a granel, E inda vai rebuscar no vil bagaço A celulose em forma de papel.
Terá nisso o maior dos seus orgulhos E a mais fácil, talvez, das cavações, Sem protestos, escândalos, barulhos.
Está dentro das suas vocações:
Na vida sempre andou fazendo embrulhos E andou sempre fazendo papelões.
G. M.
Se acaso uma república ainda existe, (Se é que existiu um dia, porventura), Nesta pátria que, à força de ser triste, Só conhece a alegria da loucura.
Talvez a morte a que ela agora assiste, Desse a impressão de angústia e de tortura, A que.a musa, de luto, não resiste, A este povo de crença mal segura Um préstito, um discurso e o cemitério!
Uma aluvião de flores mal encobre O que há de grande em tal caixão funéreo!
Morreste, nobre amigo. no mais nobre Orgulho do teu nome, ó bom Glicério:
O nobre orgulho de quem morre pobre!
UMA IDÉIA
A propósito da oposição do Prefeito aos cursos noturnos.
Certamente o motivo verdadeiro Dessa aversão que assim, no último grau, Tem o ilustre e eminente brasileiro Por tal curso, não tem um fundo mau.
Declara um vespertino, alvissareiro, Que na reforma está metendo o pau.
Ser do curso noturno o alto padroeiro O próprio presidente Venceslau.
Se a fim nobre o Doutor Sodré se guia Tendo o chefe do Estado um fito igual, Há um processo que tudo concilia Ei-lo aqui, muito simples mas. . .genial:
Ter o curso noturno em pleno dia, Sendo o Hemetério o Diretor Geral. . :
E. S.
Em mil programas que são panacéias, Na terra da borracha e da castanha, Quebram castanhas, esticando idéias, Só para ver quem o governo apanha.
Não se compreende luta assim tamanha, De lobos em sinistras alcatéias, Entre Lauro Sodré, teia de aranha, E entre a aranha sem teia que é o Enéas.
Completam-se ambos. O Sodré, pudico, De ingrato e espertalhão o Enéas xinga, E este diz: Só de inércia o Lauro é rico.
Os "Salpicos" que os juntem num salpico:
Ele, o Enéas, bojudo, é uma seringa, A que o Lauro Sodré serve de bico.
CARTA ABERTA
Ao General P. B., Inspetor da 5ª Região Militar.
General. Ouça aqui Vossa Excelência:
Acabe essa mania assim esquisita De ver, em cada praça, a conivência Com bernardas de que ninguém cogita.
Um general da sua competência, Tendo uma fé de ofício tão bonita, Deve guardar, ao menos, a aparência De quem detesta a exibição e a fita.
Saiba Vossa Excelência: Já se gasta O tempo em afirmar-se (quem diria!)
Que o alto cargo em que está já lhe não basta.
Se a vontade de ser ministro o guia Espere que há de ter um dia a pasta.
Não queira, a muque, a pasta do Faria!
MAU HUMOR
Baldadamente a pena o vôo ensaia.
Rima chata, estro escasso, metro rombo.
Quase a mim mesmo dou tremenda vaia:
É o humorismo a rolar de tombo em tombo.
Nada é grande. Há por tudo a ínfima arraia.
E um zunido o que outrora era um ribombo.
Definham o nariz do Augusto Maia E o nariz do Ribeiro da Colombo.
Do Arrojado, as mil barbas de. agareno Não dão, nem mais a pequenina broxa Do aparadinho andó do Galvão Bueno.
Só grande é a estupidez que hoje me arrocha E batatas espalha em meu terreno, Como se eu fosse o Figueiredo Rocha.
DOMINGO QUENTE
Isto não é um domingo, é um crematório.
O vento é o bafo de algum forno aéreo.
Cada trabalho é um desperdício inglório, Tem cada esforço a marca de um cautério.
Mas, afinal de contas, cebolório!
Quem, clima tal, pode levar a sério?
Sinto na alma o tostado do Sertório, E na pele o queimado do Hemetério.
O Hemetério dá assunto... Mas precário.
Dizer-se que ele é branco e é preto o lírio?
Desse tema já tem ele um rosário.
Estes "Salpicos" são o meu martírio!
Ah! Lembro agora o nosso pobre erário:
O Pandiá, finalmente, é grego ou sírio?
O FORO EM FÉRIAS
Hoje entra o foro nas sabidas férias.
Mas que férias ainda quer o foro?
Se a justiça é preguiça, que ouça lérias, O que é melhor que ouvir um desaforo.
Se estas coisas são mesmo coisas sérias, Que se guarde, é melhor, certo decoro, Que andarem juízes a fazer pilhérias E a veranear em centros de namoro.
Não me refiro ao Pedro Francelino, Que é velho e surdo, o que não é segredo, Mas que, entre damas, finge de menino.
Esse, o Celso e mais outros têm tal dedo, Que até parece terem por destino Imitar o Torquato Figueiredo.
SAI... AZAR
Seis horas. Estação da Leopoldina.
Tomo o trem. Mal me abanco, uma velhota, De setenta anos, fala, sopra, arrota, Numa desenvoltura de menina.
Quero ler. A carcaça, de voz fina, Tanto fala e me diz tanta lorota, Que, na raiva, o jornal se me amarrota E ainda o raio da velha me bolina.
Quero fugir. A peste me segura.
Por pouco mais me tomo um assassino.
Sinto que passa um vento de loucura.
E julgo ver que, em meio ao desatino, Eu era da polícia a atroz figura, E a velha era a figura do Aurelino.
O BUSTO DO CÉSAR . . . DE CAXANGÁ Faltava-lhe alguma coisa: um bronze mesmo que fosse em Soneto.
Pois cá o temos exposto no saguão do jornal; não é soneto -é um busto.
(Da Gazeta)
Não consentimos que o escultor nos venha Mostrar, em bronze, o malfadado busto Do César de arraial, César da Penha, Que anda a fingir de poderoso e justo.
O artista está a pensar que o santo e a senha Nos há de dar o César, que hoje, a custo, Suporta da Opinião o relho e a lenha, Que não é Caio e nada tem de Augusto.
O soneto de bronze do Solfieri A que a "Gazeta" alude em tom faceto, Abona o poeta sem que o riso gere.
Mas ao Dantas, nem busto, nem soneto!
Busteá-lo ou sonetá-lo a alma nos fere:
César, é César, Dantas é. . . Barreto!
TEATRO DA NATUREZA
Um amigo das árvores, das flores, Dos lagos, dos canais e da cascata Com seus trêmulos quérulos rumores, Dizia anteontem: - Isto agora mata!
Ia à tarde, fugindo dos calores, Ao Campo de Santana, onde, à frescata, Via, do ocaso de ouro, os esplendores, Até vir o palor de um luar de prata.
Hoje, o Campo se fecha a sete chaves, Para uso e gozo de feliz empresa, Antes que busquem o seu pouso as aves.
Se a natureza, do seu teatro é presa, Que me desculpem as pessoas graves:
O teatro é um teatro. ..contra a natureza.
SONETO BRINDE
A propósito da renuncia do Deputado F. P.
Esta secção foi feita para a troça, Porém, ama também fazer justiça.
Nesta época em que o mundo inteiro engrossa, Ela não vai do engrossamento à missa.
Félix Pacheco o espírito remoça Desta caduca geração mestiça, Fator maldIto da desgraça nossa, Causa da improbidade e da cobiça.
Meu caro Félix, quanto te agradeço Esse gesto em que tua alma altiva passa Sem se deter em qualquer um tropeço.
A ti, que aos poetas mostras que és da raça.
Dos que ao ideal somente dão apreço, Ergo, em quatorze versos, mm a taça.
O RISO EM PRANTO
A propósito da recusa do Prefeito em auxiliar pe- cuniariamente o carnaval.
Achamos que vai bem à Prefeitura Auxílios recusando ao Carnaval;
A União, nesta quadra amarga e dura, Auxílios dando, é que procede mal.
De que nos vai servir a áurea moldura De alta crítica ou carro triunfal, Para o quadro de dor e de tortura Que é o negro escorço do Brasil atual?
A seca a flagelar irmãos ao norte!
O operário sem lar, o lar sem pão!
O Jeito é quase o tálamo da morte!
Carnavalescos, tende coração!
Que Momo os males, como os mais suporte, Que Morno, dos que sofrem, seja irmão! . . .
SEGREDOS... SEGREDOS...
Diálogo ouvido anteontem, muito cedo:
-O poeta dos "Salpicas" anda torto.
-Do pé ? Da mão ? Das mãos ? Dos pés ? De um dedo ?
-Não! Fica ao largo sem entrar no porto. . .
-Não compreendo. - Pois ouça, mas. . .segredo!
Ele pensa que mata e dá conforto.
Porém, se prega a trama e entra no enredo, O Chimarrita, há muito, era homem morto!
-Cada vez, vejo as coisas mais escuras.
-Ouça-me a história e, na memória, grave-a.
Maximiliano afirma entre mil juras :
Prefiro, a pé, subir o alto da Gávea, Contra mim próprio, ler descomposturas, A ler um elogio ao Rivadávia. . .
CRUZADOS E PATACAS
“O Sr. Roussouliéres ficou zonzo. Porque, na verdade, ir a Jerusalém nestes tempos.
com a Turquia em guerra. não é coisa que ninguém cobice. Só quem tem a “alma de cruzado” é que se aventuraria a ir para naquelas alturas.”
(Da Gazeta)
Se é preciso ter alma de cruzado Para a Jerusalém ir, atualmente, Não sei quem possa de Aurelino ao lado, Ajudá-lo a fazer de penitente.
Acho de qualquer modo o cálculo errado:
Ou fica muito atrás ali muito à frente:
O que sobra ao primeiro delegado É o que falta a Aurelino, o renitente.
Apesar de saber que ele encavaca, Eu cá digo, sem medo da cadeia, Oue, antes de ser cruzado, o chefe empaca.
"Cruzado" é o ponto médio que os enleia:
Na alma Aurelino tem meia pataca E o Roussouliéres tem pataca e meia.
CONCILIAÇÃO
Leve o diabo o humorismo nesta terra!
O Tigre que no caso é cabra seco, Basta escrever-se que Bezerra berra, Para que exija que se feche o beco.
Por outro lado, que é o que mais me aterra, Se dizemos, acaso: - “é falho ou peco O gênio do Pifer” temos a guerra Do grande amigo, o bom Félix Pacheco.
Ora pipocas! Eu por nada brigo Com o Félix, - rosto meigo de criança Da canície precoce ao alvo abrigo. -
Quanto ao Tigre, oscilamos na balança:
Para pesar dos ódios o perigo, Brava fique a bezerra e a vaca mansa.
Nota Deste soneto a chave ficou perra;
Esta é mais clara e até menos opaca:
-Passar a Vaca Brava a ser bezerra E promover o Zé Bezerra a vaca. ..
J. C.
E tão alto, tão magro, tão sem viço.
Que ninguém, pelas vilas ou cidades, Mais que ele deve ser o D. Magriço, O D. Magriço das ociosidades.
Não lhe provoco-os ódios, nem lhe atiço O mau gênio por vis perversidades, Porque ele é o puro, o impávido. o inteiriço.
Guarda noturno das celebridades.
Notívago por índole, por gosto, Somente à noite dá sinais de vida, Para andar e mentir sempre disposto.
No fundo é uma alma boa e agradecida.
Mas quando não mentir, torcendo o rosto, Há de morrer de peta recolhida.
PROSOPOPEIA DA PEPA AO PUPO
"A sra. Pepa Ruiz e o sr. Pupo de Morais andam em negociações para o arrendamento do Mercado do Rio de Janeiro."
(Dos jornais)
Parece peta. A Pepa aporta à praça E pede ao Pupo que lhe passe o apito.
Pula do palco, pálida, perpassa Por entre um porco, um pato e um periquito.
Após, papando, em pé, pudim com passa, Depois de peixes, pombos e palmito, Precípite, por entre a populaça, Passa, picando a ponta de um palito.
Peças compostas por um poeta pulha, Que a papalvos perplexos empunha, Prestando apenas pra apanhar os paios, Permuta a Pepa por pastéis, pamonha. ..
--Que a Pepa apupe o Pupo e à popa ponha Papas, pipas, pepinos, papagaios!
A. M.
Sei-te médico, há três ou quatro dias.
Passaste a ser, a sério, o Doutor Fontes, E eu bem desejo, amigo, que me contes Se tens novas idéias e teorias.
Vais alienar as velhas simpatias?
Vais estreitar teus largos horizontes?
Os idílios, por vales e por montes, Cedem os passos às polipatias?
Não creio que a tua musa a isso resista.
E em ti prevejo um sábio tão profundo Quanto já és um poderoso artista!
Em curas, sê, qual na Arte, tão fecundo, E serás, por direito de conquista, O primeiro dos médicos do mundo!
CARTA EXPRESSA
“Gold-regen”, “Romã” e “Pinheiro”, “Vitória-Régia”, “Heliantho”, “Hibisco”, Flora a que eu dei minha emoção, Aos pés de atiro, audaz obreiro, Combusta, seca, feita em cisco, Ao quente sol do teu “Verão”.
Da “Marcha Fúnebre” ao som morto E à morta luz de “Olhos Funéreos”, A que eu entoei meu “Cantochão”, Melhor me fora achar conforto, Longe do horror dos cemitérios, Ao quente sol do teu “Verão”.
Aos “Três olhares de Maria”
(Ai! quem me dera em tais olhares, Ter o supremo, amplo clarão Que do teu estro se irradia!)
Quisera orar, erguendo altares, Ao quente sol do teu “Verão”.
Da minha “Nau Abandonada”, Na mesma praia em que nasceste, Que a proa e a popa ardendo vão À luz de cada estrofe e a cada Verso em que a rima áurea acendeste Ao quente sol do teu “Verão”.
“Nau salvadora” em que o milagre A Pedro fez, piedoso, o Cristo, Dando-lhe o manto em salvação, Quero que nela se consagre Em rito à luz, todo o imprevisto Do quente sol do teu “Verão”.
Poemas, estrofes. versos, rimas.
Tudo que sinto, faço e penso, Por morta ou viva inspiração, Em nada vale às obras primas Que edificaste ao brilho imenso Do quente sol do teu “Verão.”
UM DESPACHO ESCABROSO
“De acordo com o edital afixado no prédio n. . .
da rua Martins Costa, devem comparecer Senhorinha e Helena S. N. à vistoria pelos engenheiros municipais.
...Mas que vistoria vão fazer os engenheiros?”
A vistoria deve ser completa:
O pé-direito para começar, O porão habitável, a área infecta, Tudo isto é simples e rudimentar.
Ai!. . . se eu fosse engenheiro, em vez de poeta Iria, com dispensa do auxiliar, Calculando o valor para a coleta, À frente e aos fundos de qualquer andar.
Os comentários, pois, assim brejeiros, Da “Gazeta” não têm muita razão.
Os peritos são firmes e certeiros.
Em certos casos de Obras e Viação Não são moles nem nada os engenheiros. . .
E o próprio chefe deles é um Durão.
UM CONSELHO
Entre a saída do imortal Osvaldo E a entrada, a pulso, do assistente Moses, Esta, da ciência, não aumenta o saldo, E aquela, ao certo, traz males atrozes.
Por bem que de "cultura" arranje "um caldo", E de aplausos consiga algumas doses, Baldo de nome e de concurso baldo, Embalde o aclamam protetoras vozes.
Se por sete anos já serviu, persista, Pois da ciência a Raquel, Labão astuto, Há de ter por direito de conquista.
Mas espere, sereno e resoluto, E sempre esta verdade tenha em vista:
Osvaldo por si só, vale o Instituto.
C. L.
Homem sério, porém politiqueiro, De inteligência mais ou menos clara, É um edil, camarista ou camareira, De raro estofo e de feição bem rara.
Mais seco do que arenque de fumeiro, Todo feito em lasquinhas de taquara, Sacode em contorções o corpo inteiro E tem puxos de filme pela cara.
Tem um nariz de cinco ou seis andares.
Se ele o entulhasse, num mister diverso, De bicha, traques, fogos populares.
Faria uma fortuna, - é incontroverso, -
Pois, naquele nariz, turvem-se os ares!
Cabem todos os traques do universo!
F. O.
Tem a doença do som e a fatuidade De pensar que todo ele, fibra a fibra, É o sonoro instrumento em que só se há de Vibrar o canto em que o universo vibra.
No seu queixo que pesa mais de libra, E dos pêlos na escura densidade, Pensa que o contraponto se equilibra À harmonia da capilaridade.
Quando, às vezes, a crítica o abarba Ele, acudindo ao exigente apelo, Do ardor de um gênio musical se engarba.
De um filho de Isaú, a cara é o selo, Pois nem o Padre Eterno tem mais barba, Nem as onze mil virgens mais cabelo.
O "CASO" DA RUA AGUIAR , V.C. declara que fala de suas relações com C. somente para varrer a testada.
Dos festeiros de tal festa, Eu não entendo a embrulhada.
Um deles tem suja a testa, O outro é que varre atestada?
SOBRE O MESMO ASSUNTO
O estranho caso que a notícia narra Talvez implique um caso de direito, Novo entre nós, se for levado à barra De um tribunal para julgar o feito.
Se a uma data de chão alguém se agarra Tem, no “uti possidetis”, o perfeito Domínio, sem entrave ou sem amarra, Se por lei, de tal posse, o tempo é aceito.
Se a tal lei é extensiva, o diga a história, E se o Direito de Família o esquece, Os “Salpicos” lhe avivam a memória.
Perguntam eles, quase em tom de prece, Nesta causa de coisa assim “corpórea”, Se o "utero possidetis" prevalece.
TRÉGUAS
Por esta triste Quinta-Feira Santa Que é, conforme os católicos, de Endoenças, De tanta dor e de amargura tanta, Em beijos morrem ódios, desavenças.
Cada braço que se ergue, alto levanta, Em fé mais viva e mais profundas crenças, As preces que nos sobem da garganta, E que entre a terra e os céus erram suspensas.
E é tão bom não se ouvir o hórrido grito Da humana fera que entre os homens passa, Como a bênção é boa a um ser maldito.
Cesse por hoje, da graçola, a ameaça!
Que o que for mau não passe o dia aflito:
Nada de graças a quem pede a Graça!. . .
TIRO... QUE FALHOU
“O fim da farsa era fintar o capitalista Oscar de Almeida Gama, que há tempos vinha protegendo ocultamente a atriz Eugênia Brazão, fazendo-o apiedar-se pelo prejuízo que ela sofreu e propor-se a repor as jóias roubadas.”
(Da Rua)
Ora meu Oscar de Almeida Gama, Você que em tudo tem mostrado tino, Que de ativo e de esperto ganhou fama, Foi no arrastão de um truque feminino?
Qual as armas que traz a bela dama No "Brazão" que por certo é clandestino, Que você, nelas, todo se derrama Na ingenuidade incrível de um menino?
Já há pouco tempo foi você no "conto"
De um conto e tanto para a mulherzinha Dar ao "amant du coeur" que andava pronto.
Jóias, cautela, eterna ladainha!
Você marchou e agora exclama tonto:
Foi-se a cautela... e o caldo da galinha!...
DIA FEIO
Sexta-Feira da Paixão, eu creio, É menos feia e fúnebre, afinal, Que este dia mais fúnebre e mais feio Que um pau-d'água a morrer no carnaval.
Diz-me o Mário Valverde: — Não há meio De fugir desta estupidez igual A insipidez de que anda todo cheio O atroz bestunto do Aurelino Leal.
Meia-noite: Até a pena se me encrava No papel, sem poder chegar ao fim, Presa de tédio e de canseira escrava.
Saio à porta. Olho a rua. Em torno a mim, Corta o silêncio a voz do Vaca Brava:
— Morreu meu boi, "o que" será de mim?
PERVERSIDADE
Creio que o João do Norte, o mui formoso Dono de uns olhos lânguidos. quebrados.
Esteve hoje a amargar o contra-gozo De ver seus lindos dotes afealdados.
Ele que de Gustavo e de Barroso Alia os nomes entre deputados, Teve os seus traços de donzel garboso Na "Época" de hoje muito mal traçados.
Esse risco só corre quem se exibe, Pela tola mania do retrato Que o senso evita e o pundonor proíbe.
Com João do Norte é bem diverso o fato:
— Por maldade, o Vicente Piragibe Deu-lhe um carão de criminoso nato.
POISSON D'AVRIL
Não há coisa tão pulha e tão cediça Como essa de pregar insulsa peta A primeiro de abril. (É de justiça Dizer que não há disso na "Gazeta").
Há quem mande anunciar que se diz missa Por alma de quem vive. Há quem se meta A enviar pastéis de areia ou de cortiça, Ou do que lhe dá, acaso, na veneta.
Mas tudo isso é tão velho e tão batido Que ninguém come do pastel funesto, Nem ouve a missa pelo "falecido".
Um, porém, teve graça, não contesto!
Foi o "poisson d'Avril" de um "a pedido":
— O Monteirinho declarou que é honesto!
M. A.
É, sem tirar nem pôr, um grande jornalista.
Quando erra ou quer errar, erra com matemática.
Faz uma escaramuça e o jogo salta à vista Mas não há quem resista à formidável tática.
Torce algebricamente a verdade e conquista O aplauso até de quem tenha traquejo e prática.
Sei-o mesmo por mim que, apesar de trocista, Nunca deixo de o ler (restrições à gramática).
Mas, em arte, Jesus! Nem se aproveita a cinza.
Como crítico é igual aos outros. Deixa o suco E, fibra a fibra, toda a bagaceira espinza.
Todo o crítico é assim, mais ou menos, caduco.
Sendo em arte incapaz, na obra alheia é ranzinza.
— O crítico, em geral, é uma espécie de eunuco.
O. D. E.
Este é o ranzinza-mor, porém no bom sentido.
Monta guarda à pureza e à precisão do idioma.
É o espectro do imbecil, o horror do presumido;
Contra ele a arraia miúda o ódio que tem não doma.
Geninhos da Garnier, geniões de ar sucumbido.
Poetinhas de salão, poetarrões de redoma Que deturpam a língua, ai deles! é sabido:
O cacete é aforismo e a cacetada é axioma.
Mas este foge à lei (que aliás é conceituosa)
De que a crítica faz só aquele que, perverso, De produzir, o orgulho e a delícia não goza.
De pena o bico atroz, no vernáculo, imerso, Se a sabe esmerilhar, sabe polir a prosa, Se o sabe criticar, sabe compor o verso.
GALERIA
" Bom amigo e senhor doutor Prefeito:
Por intermédio desta Galeria Nós requeremos, com o maior respeito, Toda a atenção de Vossa Senhoria.
Não queremos vender bolo e confeito Aos domingos, depois do meio-dia.
Esse favor pedimos seja feito Aos empregados de confeitaria."
São os termos do tal requerimento Que apanhamos, assim a largos traços, Sobre a eterna questão do fechamento.
E como a idéia é boa, mil abraços Recebam os rapazes, num momento, E, com eles, o ilustre doutor Passos.
PANTEÃO DOS SATRAPINHAS
Curitiba — Um de março — Nota urgente.
Panteão dos Satrapinhas. Eu proíbo Esse deboche tão irreverente, De me chamarem lá, chefe da tribo.
Cá por mim eu nem era presidente;
Mas o Vicente segurou no estribo, Então montei, mas não estou contente.
E entrego esta quitanda sem recibo.
Não gosto dessa história de retrato, Este pensar, já sabem, vem de longe, Sou inimigo de todo o espalhafato.
Quero ao Bormann passar, que é o nosso Cronge, As rédeas do governo, e desbarato.
— Doutor Xavier da Silva, vulgo Monge.
V. R. J
Desterro. Vinte e quatro. Está paga a resposta.
Renato do Panteão. Quero que te avantajes Traçando o meu perfil e a figura bem posta Dentro dos meus marciais e complicados trajes.
Quanto ao moral, nem... pinto. E o que mais me desgosta.
Anda-me cá um credor a dirigir ultrajes.
Quem me há de vingar é o bom Caetano Costa, Eu que sou o mais completo e ultriz filho de... Lages.
Chamam-me conselheiro Acácio em Seca e Meca (Está visto que só os que me querem mal)
Mas eu conseguirei lhes dar uma sapeca.
E me assino sem mais, amigo et coetera e tal, Presidente Vidal Ramos Júnior, Careca, Tenente-Coronel da Guarda Nacional.
O BONIFRATE
Dizia Hugo que Napoleão Terceiro, Era o Estado terciário de tal nome.
Em tal estado aqui, certo mineiro, Certo apelido que é imortal consome.
Mas este, de tal fama agora herdeiro, Nem só de glória sente sede e fome:
Cava como qualquer politiqueiro, Embaindo a quem quer que a sério o tome.
De ar sisudo, solene e perna bamba, Numa circunspeção de novo Acácio, Tem os pés para dentro em ar de samba.
O irmão, ao ver-lhe o aspecto paponácio, Grita orgulhoso: — Que esplendor, caramba!
É mesmo um Zé com muito Bonifácio!
B. DE M.
Porto Alegre — Urgentíssimo —Saúde E Fraternidade. Ordem e Progresso.
Viver às claras é a maior virtude Nosso governo. (O nosso bem expresso.)
Digo nosso porque, por mais se mude De governo, de juízes, de congresso, Por mais que aqui o poder tenha amplidade, Sem a senha Castilhos não há ingresso.
Santo Antônio, São Braz, Santa Matilde Cá não chegam nem como forasteiros, O Rio Grande à nossa fé está humilde.
Do Júlio acima, só há dois luzeiros, Santo Augusto e a imortal Santa Clotilde.
O presidente, Borges de Medeiros.


Obra de referência:
Obra Reunida, de Emílio de Menezes,
Rio de Janeiro: Livraria José Olympio1980.
Editoração eletrônica : Luciana Coelho Mota


Domínio Público Gov.BR


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