Mocidade
Ninon, Ninon, que fais tu de la vie?
L'heure s'enfuit, le jour succede au jour.
Rose ce soir, demain flétrie, Comment vis-tu, toi qui n'as pas d'amour?!
Musset.
Doce filha da lânguida tristeza Ergue a fronte pendida - o sol fulgura!
Quando a terra sorri-se e o mar suspira Por que te banha o rosto essa amargura?!
Por que chorar quando a natura é risos, Quando no prado a primavera é flores?
- Não foge a rosa quando o sol a busca Antes se abrasa nos gentis fulgores.
Não! - Viver é amar, é ter um dia Um amigo, uma mão que nos afague;
Uma voz que nos diga os seus queixumes, Que as nossas mágoas com amor apague.
A vida é um deserto aborrecido Sem sombra doce, ou viração calmante;
- Amor - é a fonte que nasceu nas pedras E mata a sede à caravana errante.
Amai-vos! disse Deus criando o mundo, Amemos! - disse Adão no paraíso, Amor! - murmura o mar nos seus queixumes, Amor! - repete a terra num sorriso!
Doce filha da lânguida tristeza Tua alma a suspirar de amor definha...
- Abre os olhos gentis à luz da vida, Vem ouvir no silêncio a voz da minha!
Amemos! Este mundo é tão tristonho!
A vida, como um sonho - brilha e passa;
Porque não havemos p'ra acalmar as dores Chegar aos lábios o licor da taça?
O mundo! o mundo! - E que te importa o mundo?
- Velho invejoso, a resmungar baixinho!
Nada perturba a paz serena e doce Que as rolas gozam no seu casto ninho.
Amemos! - tudo vive e tudo canta...
Cantemos! seja a vida - hinos e flores;
De azul se veste o céu... vistamos ambos O manto perfumado dos amores.
........................
Doce filha da lânguida tristeza Ergue a fronte pendida - o sol fulgura!
- Como a flor indolente da campina Abre ao sol da paixão tua alma pura!
Setembro - 1858