Luz e Sombra
Versos escritos três dias antes da morte da autora À poetisa Anna Lima
Vamos seguindo pela mesma estrada, Em busca das paragens da ilusão;
A alma tranqüila para o Céu voltada, Suspensa a lira sobre o coração.
Ris e eu soluço... (Loucas peregrinas!)
E em toda parte, enfim, onde passamos, Deixo chorando os olhos das meninas, Deixas cantando os pássaros nos ramos.
Porque elas amam tua voz canora, Ó delicado sabiá da mata!
E eu lembro triste a juriti que chora E a voz dorida em lágrimas desata.
Gostam de ver-te o rosto de criança Limpo das névoas de um martírio vago, O lábio em riso, desmanchada a trança, No olhar sereno a candidez do lago.
Até perguntam quando sobre a areia Em que tu pisas vão nascendo rosas:
“Bela criança, tímida sereia, Irmã dos sonhos das manhãs radiosas.
Por que trilhando a terra dos caminhos, Onde o teu passo faz brotar mil flores, Esta velhinha vai deixando espinhos E um longo rastro de saudade e dores?”
Não lhes respondas... Pela mesma estrada Sigamos sempre em busca da Ilusão;
A alma tranqüila para o céu voltada, Suspensa a lira sobre o coração.
Vamos; desprende a doce voz canora, Que ela afugenta da tristeza o açoite;
E, enquanto elevas o teu hino à aurora, Eu vou rezando as orações da noite...