Lucas
Quem fosse naquela hora, Sobre algum tronco lascado Sentar-se no descampado Da solitária ladeira, Veria descer da serra, Onde o incêndio vai sangrento, A passo tardio e lento, Um belo escravo da terra Cheio de viço e valor...
Era o filho das florestas!
Era o escravo lenhador!
Que bela testa espaçosa, Que olhar franco e triunfante!
E sob o chapéu de couro Que cabeleira abundante!
De marchetada jibóia Pende-lhe a rasto o facão...
E assim... erguendo o machado Na larga e robusta mão...
Aquele vulto soberbo, — Vivamente alumiado, —
Atravessa o descampado Como uma estátua de bronze Do incêndio ao fulvo clarão.
Desceu a encosta do monte, Tomou do rio o caminho...
E foi cantando baixinho Como quem canta p'ra si.
Era uma dessas cantigas Que ele um dia improvisara, Quando junto da coivara Faz-se o Escravo — trovador.
Era um canto languoroso, Selvagem, belo, vivace, Como o caniço que nasce Sob os raios do Equador.
Eu gosto dessas cantigas, Que me vem lembrar a infância, São minhas velhas amigas, Por elas morro de amor...
Deixai ouvir a toada Do — cativo lenhador —
E o sertanejo assim solta a tirana, Descendo lento p'ra a servil cabana...