Juriti
Na minha terra, no bulir do mato, A juriti suspira;
E como o arrulo dos gentis amores, São os meus cantos de secretas dores No chorar da lira.
De tarde a pomba vem gemer sentida À beira do caminho;
— Talvez perdida na floresta ingente —
A triste geme nessa voz plangente Saudades do seu ninho.
Sou como a pomba e como as vozes dela É triste o meu cantar;
— Flor dos trópicos — cá na Europa fria Eu definho, chorando noite e dia Saudades do meu lar.
A juriti suspira sobre as folhas secas Seu canto de saudade;
Hino de angústia, férvido lamento, Um poema de amor e sentimento, Um grito d’orfandade!
Depois... o caçador chega cantando.
À pomba faz o tiro...
A bala acerta e ela cai de bruços, E a voz lhe morre nos gentis soluços, No final suspiro.
E como o caçador, a morte em breve Levar-me-á consigo;
E descuidado, no sorrir da vida, Irei sozinho, a voz desfalecida, Dormir no meu jazigo.
E — morta — a pomba nunca mais suspira À beira do caminho;
E como a juriti, — longe dos lares —
Nunca mais chorarei nos meus cantares Saudades do meu ninho!
Lisboa — 1857