Falando ao Coração
A Generosa Pinheiro Desperta, coração! vamos morar N’uma casinha branca, ao pé do Mar...
Que seja linda como é linda a Lua Que em noites santas pelo Azul flutua:
Imaculada como a luz do Amor, Alva de neve como um sonho em flor.
Quando a Noite vier... se no meu seio Estremeceres cheio de receio, - Tremendo a sombra que amortalha o Dia E cobre a terra de melancolia, -
Longe do mundo e da desesperança, Hei de embalar-te como uma criança.
Quero que escutes o gemer profundo Do Mar que chora a pequenez do mundo E ouças cantar a doce barcarola Da noite imensa que se desenrola, Dando perfume ao coração dos lírios, Trazendo sonhos para os meus martírios.
E quando o Sol nascer; quando, formosa Como uma garça branca e misteriosa, Batendo as asas cor de neve, a Aurora Vier cantando pelo mundo a fora, Rufla as asas também... e forte, então, Tu podes palpitar, meu coração!
Acorda para a Vida e canta e canta, O Sol da Terra - iluminada e santa!
Deixa o teu sonho de saudade e dores Dormir no seio trêmulo das flores...
E foge e foge pelo Espaço, à toa, Pomba exilada que a seus lares voa!
Esquece a louca e pálida amargura Que há tantos anos meu viver tortura...
Canta o teu hino de ilusão querida, Esquece tudo o que não seja a Vida, E, para o Céu das alegrias mansas, Conduz nas asas minhas esperanças...
Não vês? Minh’alma é como a pena branca Que o vento amigo da poeira arranca E vai com ela assim, de ramo em ramo, Para um ninho gentil de gaturamo...
Leva-me, ó coração, como esta pena De dor em dor até à paz serena.
Desperta, coração, vamos morar N’uma casinha branca, ao pé do Mar...
Quero que escutes, a sonhar comigo, A queixa eterna do Oceano amigo E ouças o canto triunfal da Aurora Batendo as asas pelo Mar a fora...
Barro Vermelho.