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Textos para uso geral de domínio público.

Diálogo dos ecos

E chegou-se p'ra a vivenda Risonho, calmo, feliz...
Escutou... mas só ao longe Cantavam as juritis...
Murmurou: "Vou surpr'endê-la!"
E a porta ao toque cedeu...
"Talvez agora sonhando Diz meu nome o lábio seu, Que a dormir nada prevê..."
E o eco responde: — Vê!...
"Como a casa está tão triste Que aperto no coração!...
Maria!... Ninguém responde!
Maria, não ouves, não?...
Aqui vejo uma saudade Nos braços de sua cruz...
Que querem dizer tais prantos, Que rolam tantos, tantos, Sobre as faces da saudade Sobre os braços de Jesus?...
Oh! quem me empresta uma luz?...
Quem me arranca a ansiedade, Que no meu peito nasceu?
Quem deste negro mistério Me rasga o sombrio véu?..."
E o eco responde: — Eu!...
E chegou-se para o leito Da casta flor do sertão...
Apertou co'a mão convulsa O punhal e o coração!...
St ava inda tépido o ninho Cheio de aromas suaves...
E — como a pena, que as aves Deixam no musgo ao voar, —
Um anel de seus cabelos Jazia cortado a esmo Como relíquia no altar!...
Talvez prendendo nos elos Mil suspiros, mil anelos, Mil soluços, mil desvelos, Que ela deu-lhes p'ra guardar!...
E o pranto em baga a rolar...
"Onde a pomba foi perder-se?
Que céu minha estrela encerra?
Maria, pobre criança, Que fazes tu sobre a terra?"
E o eco responde: — Erra!
"Partiste! Nem te lembraste Deste martírio sem fim!...
Não! perdoa... tu choraste E os prantos, que derramaste Foram vertidos por mim...
Houve pois um braço estranho Robusto, feroz, tamanho, Que pôde esmagar-te assim?..."
E o eco responde: — Sim!
E rugiu: "Vingança! guerra!
Pela flor, que me deixaste, Pela cruz em que rezaste, E que teus prantos encerra!
Eu juro guerra de morte A quem feriu desta sorte O anjo puro da terra...
Vê como este braço é forte!
Vê como é rijo este ferro!
Meu golpe é certo... não erro.
Onde há sangue, sangue escorre!...
Vilão! Deste ferro e braço, Nem a terra, nem o espaço, Nem mesmo Deus te socorre!!..."
E o eco responde: — Corre !
Como o cão ele em torno o ar aspira, Depois se orientou.
Fareja as ervas... descobriu a pista E rápido marchou.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
No entanto sobre as águas, que cintilam, Como o dorso de enorme crocodilo, Já manso e manso escoa-se a canoa;
Parecia assim vista — ao sol poente —
Esses ninhos, que o vento lança às águas, E que na enchente vão boiando à toa!...


Domínio Público Gov.BR


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