Descrição da Ilha de Itaparica
Canto Heróico I
Cantar procuro, descrever intento, Em um Heróico verso e sonoroso, Aquela que me deu o nascimento, Pátria feliz, que tive por ditoso:
Ao menos co'este humilde rendimento Quero mostrar lhe sou afetuoso, Porque é de ânimo vil e fementido O que à Pátria não é agradecido.
II
Se nasceste no Ponto, ou Líbia ardente, Se no Píndaro viste a aura primeira, Se nos Alpes, ou Etna comburente, Princípio houveste na vital carreira, Nunca queiras, Leitor, ser delinqüente, Negando a tua Pátria verdadeira, Que assim mostras herdaste venturoso Ânimo heróico, peito generoso.
III
Musa, que no florido de meus anos Teu furor tantas vezes me inspiraste, E na idade em que vêm os desenganos Também sempre fiel me acompanhaste, Tu, que influxos repartes soberanos Desse monte Hélicon, que já pisaste, Agora me concede o que te peço, Para seguir seguro o que começo.
IV
Em o Brasil, Província desejada Pelo metal luzente, que em si cria, Que antigamente descoberta e achada Foi de Cabral, que os mares discorria, Perto donde está hoje situada A opulenta e ilustríssima Bahia, Jaz a ilha chamada Itaparica, A qual no nome tem também ser rica.
V
Está posta bem defronte da Cidade, Só três léguas distante e os moradores Daquela a esta vêm com brevidade, Se não faltam do Zéfiro os favores;
E ainda quando com ferocidade Éolo está mostrando os seus rigores, Para a Côrte navegam, sem que cessem, E parece que os ventos lhe obedecem.
VI
Por uma e outra parte rodeada De Netuno se vê tão arrogante, Que algumas vezes com porcela irada Enfia o melancólico semblante;
E com a tem por sua, e tão amada, Por lhe pagar fiel foros de amante, Muitas vezes também serenamente Tem encostado nela o seu Tridente.
VII
Se a Deusa Citeréia conhecera Desta Ilha celebrada a formosura, Eu fico que a Netuno prometera O que a outros negou cruel e dura:
Então de boa mente lhe oferecera Entre incêndios de fogo a neve pura, E se de alguma sorte a alcançara, Por esta a sua Chipre desprezara.
VIII
Pela costa do mar a branca areia É para a vista objeto delicioso, Onde passeia a Ninfa Galatéia Com acompanhamento numeroso;
E quanto mais galante se recreia Com aspecto gentil, donaire airoso, Começa a semear das roupas belas Conchinhas brancas, ruivas e amarelas.
IX
Aqui se cria o peixe copioso, E os vastos pescadores em saveiros Não receando o Elemento undoso, Neste exercício estão dias inteiros;
E quando Áquilo e Bóreas proceloso Com fúria os acomete, eles ligeiros Colhendo as velas brancas, ou vermelhas, Se acomodam cos remos em parelhas.
X
Neste porém marítimo regalo Uns as redes estendem diligentes, Outros com força, indústria e intervalo Estão batendo as ondas transparentes:
Outros noutro baixel sem muito abalo Levantam cobiçosos e contentes Uma rede, que chamam Zangareia, Para os saltantes peixes forte teia.
XI
Qual aranha sagaz e ardilosa Nos ares forma com sutil fio Um labirinto tal, que a cautelosa Mosca nele ficou sem alvedrio, E assim com esta manha industriosa Da mísera vem ter o senhorio, Tais são com esta rede os pescadores Para prender os mudos nadadores.
XII
Outros também por modo diferente, Tendo as redes lançadas em seu seio, Nas coroas estão postos firmemente, Sem que tenham o pélago receio:
Cada qual puxa as cordas diligente, E os peixes vão fugindo para o meio, 'Té que aos impulsos do robusto braço Vêm a colher os míseros no laço.
XIII
Nos baixos do mar outros tarrafando, Alerta a vista e os passos vagarosos, Vão uns pequenos peixes apanhando, Que para o gosto são deliciosos:
Em canoas também de quando em quando Fisgam no anzol alguns, que por gulosos Ficam perdendo aqui as próprias vidas, Sem o exemplo quererem ter de Midas.
XIV
Aqui se acha o marisco saboroso, Em grande cópia e de casta vária, Que para saciar ao apetitoso, Não se duvida é coisa necessária:
Também se cria o lagostim gostoso, Junto co'a ostra, que por ordinária Não é muito estimada, porém antes Em tudo cede aos polvos radiantes.
XV
Os camarões não fiquem esquecidos, Que tendo crus a cor pouco vistosa, Logo vestem depois que são cozidos A cor do nácar, ou da Tíria rosa:
Os c'ranguejos nos mangues escondidos Se mariscam sem arte industriosa, Búzios também se vêem, de musgos sujos, Cernambis, mexilhões e caramujos.
XVI
Também pertence aqui dizer ousado Daquele peixe, que entre a fauce escura O Profeta tragou Jonas sagrado, Fazendo-lhe no ventre a sepultura;
Porém sendo do Altíssimo mandado, O tornou a lançar são sem lesura (Conforme nos afirma a Antigüidade)
Em as praias de Nínive Cidade.
XVII
Monstro do mar, Gigante do profundo, Uma torre nas ondas soçobrada, Que parece em todo o âmbito rotundo Jamais besta tão grande foi criada:
Os mares despedaça furibundo Co'a barbatana às vezes levantada, Cujos membros tetérrimos e broncos Fazem a Tétis dar gemidos roncos.
XVIII
Baleia vulgarmente lhe chamamos, Que como só a esta Ilha se Sujeita, Por isso de direito a não deixamos, Por ser em tudo a descrição perfeita;
E que para bem claro percebamos O como a pescaria dela é feita, Quero dar com estudo não ocioso Esta breve notícia ao curioso.
XIX
Tanto que chega o tempo decretado, Que este peixe do vento Austro é movido, Estando à vista de Terra já chegado, Cujos sinais Netuno dá ferido, Em um porto desta Ilha assinalado, E de todo o preciso prevenido, Estão umas lanchas leves e veleiras, Que fazem c'os remos mais ligeiras.
XX
Os Nautas são Etíopes robustos, E outros mais do sangue misturado, Alguns Mestiços em a cor adustos, Cada qual pelo esforço assinalado:
Outro ali vai também, que sem ter sustos Leva o arpão da corda pendurado, Também um, que no ofício a Glauco ofusca, E para isto Brásilo se busca.
XXI
Assim partem intrépidos sulcando Os palácios da linda Panopéia, Com cuidado solícito vigiando Onde ressurge a sólida Baleia.
Ó gente, que furor tão execrando A um perigo tal se sentenceia?
Como, pequeno bicho, és atrevido Contra o monstro do mar mais destemido?
XXII
Como não temes ser despedaçado De um animal tão feio e tão imundo?
Por que queres ir ser precipitado Nas íntimas entranhas do profundo?
Não temes, se é que vives em pecado, Que o Criador do Céu e deste Mundo, Que tem dos mares todos o governo, Desse lago te mande ao lago Averno?
XXIII
Lá intentaram fortes os Gigantes Subir soberbos ao Olimpo puro, Acometeram outros de ignorantes O Reino de Plutão horrendo e escuro;
E se estes atrevidos e arrogantes O castigo tiveram grave e duro, Como não temes tu ser castigado Pelos monstros também do mar salgado?
XXIV
Mas enquanto com isto me detenho, O temerário risco admoestando, Eles de cima do ligeiro lenho Vão a Baleia horrível avistando:
Pegam nos remos com forçoso empenho, E todos juntos com furor remando A seguem por detrás com tal cautela, Que imperceptíveis chegam junto dela.
XXV
O arpão farpado tem nas mãos suspenso Um, que da proa o vai arremessando, Todos os mais deixando o remo extenso Se vão na lancha súbito deitando;
E depois que ferido o peixe imenso O veloz curso vai continuando, Surge cad'um com fúria e força tanta, Que como um Anteu forte se levanta.
XXVI
Corre o monstro com tal ferocidade, Que vai partindo o úmido Elemento, E lá do pego na concavidade Parece mostrar Tétis sentimento:
Leva a lancha com tal velocidade, E com tão apressado movimento, Que cá de longe apenas aparece, Sem que em alguma parte se escondesse.
XXVII
Qual o ligeiro pássaro amarrado Com um fio sutil, em cuja ponta Vai um papel pequeno pendurado, Voa veloz sentindo aquela afronta, E apenas o papel, que vai atado, Se vê pela presteza, com que monta, Tal o peixe afrntado vai correndo Em seus membros atada a lancha tendo.
XXVIII
Depois que com o curso dilatado Algum tanto já vai desfalecendo, Eles então com força e com cuidado A corda pouco a pouco vão colhendo;
E tanto que se sente mais chegado, Ainda com fúria os mares combatendo, Nos membros moles lhe abre uma rotura Um novo Aquiles c'uma lança dura.
XXIX
De golpe sai de sangue uma espadana, Que vai tingindo o Oceano ambiente, Com o qual se quebranta a fúria insana Daquele horrível peixe, ou besta ingente;
E sem que pela plaga Americana Passado tenha de Israel a gente, A experiência e vista certifica Que é o mar vermelho o mar de Itaparica.
XXX
Aos repetidos rasgos desta lança A vital aura vai desamparando, 'Té que fenece o monstro sem tardança, Que antes andava os mares açoitando:
Eles puxando a corda com pujança O vão da lancha mais perto arrastando, Que se lhe fiou Cloto o longo fio, Agora o colhe Láquesis com brio.
XXXI
Eis agora também no mar saltando O que de Glauco tem a habilidade, Com um agudo ferro vai furando Dos queixos a voraz monstruosidade:
Com um cordel depois, grosso e não brando, Da boca cerra-lhe a concavidade, Que se o mar sorve no gasnate fundo Busca logo as entranhas do profundo.
XXXII
Tanto que a presa tem bem subjugada Um sinal branco lançam vitoriosos, E outra lancha para isto decretada Vem socorrer com cabos mais forçosos:
Uma e outra se parte emparelhada, Indo à vela, ou c'os remos furiosos, E pelo mar serenas navegando Para terra se vão endireitando.
XXXIII
Cada um se mostra no remar constante, Se lhe não tem o Zéfiro assoprado, E com fadigas e suor bastante Vem a tomar o porto desjado.
Deste em espaço não muito distante, Em o terreno mais acomodado Uma Trusátil máquina esta posta Só para esta função aqui deposta.
XXXIV
O pé surge da terra para fora Uma versátil roda sustentando, Em cujo âmbito longo se encoscora Uma amarra, que a vai arrodeando:
A esta mesma roda cá de fora Homens dez vezes cinco estão virando, E quanto mais a corda se repuxa, Tanto mais para a terra o peixe puxa.
XXXV
Assim com esta indústria vão fazendo Que se chegue ao lugar determinado, E as enchentes Netuno recolhendo, Vão subindo por um e outro lado:
Outros em borbotão já vêm trazendo Facas luzidas e o braçal machado, E cada qual ligeiro se aparelha Para o que seu ofício lhe aconselha.
XXXVI
Assim dispostos uns, que África cria, Dos membros nus, o couro denegrido, Os quais queimou Faeton, quando descia Do terrífico raio submergido, Com algazarra muita e gritaria, Fazendo os instrumentos grão ruído, Uns aos outros em ordem vão seguindo, E os adiposos lombos dividindo.
XXXVII
O povo que se ajunta é infinito, E ali têm muitos sua dignidade, Os outros vêm do Comarcão distrito, E despovoam parte da Cidade:
Retumba o ar com o contínuo grito, Soa das penhas a concavidade, E entre eles todos tal furor se acende, Que às vezes um ao outro não se entende.
XXXVIII
Qual em Babel o povo, que atrevido Tentou subir ao Olimpo transparente, Cujo idioma próprio pervertido Foi uma confusão balbuciante, Tal nesta torre, ou monstro desmedido, Levanta as vozes a confusa gente, Que seguindo cad'um diverso dogma Falar parece então noutro idioma.
XXXIX
Desta maneira o peixe se reparte Por toda aquela cobiçosa gente, Cabendo a cada qual aquela parte, Que lhe foi consignada do regente:
As banhas todas se depõem à parte, Que juntas formam um acervo ingente, Das quais se faz azeite em grande cópia, Do que esta Terra não padece inópia.
XL
Em vasos de metal largos e fundos O estão com fortes chamas derretendo De uns pedaços pequenos e fecundos, Que o fluido licor vão escorrendo:
São uns feios Etíopes e imundos, Os que estão este ofício vil fazendo, Cujos membros de azeite andam untados, Daquelas cirandagens salpicados.
XLI
Este peixe, este monstro agigantado Por ser tão grande tem valia tanta, Que o valor a que chega costumado Até quase mil áureos se levanta.
Quem de ouvir tanto não sai admirado?
Quem de um peixe tão grande não se espanta?
Mas enquanto o Leitor fica pasmando, Eu vou diversas cousas relatando.
XLII
Em um extremo desta mesma Terra Está um forte soberbo fabricado, Cuja bombarda, ou máquina de guerra, Abala a Ilha de um e outro lado:
Tão grande fortaleza em si encerra De artilharia e esforço tão sobrado, Que retumbando o bronze furibundo Faz ameaço á terra, ao mar, ao Mundo.
XLIII
Não há nesta Ilha engenho fabricado Dos que o açúcar fazem saboroso, Porque um, que ainda estava levantado, Fez nele o seu oficio o tempo iroso:
Outros houve também, que o duro fado Por terra pôs, cruel e rigoroso, E ainda hoje um, que foi mais soberano, Pendura as cinzas por painel Troiano.
XLIV
Claras as águas são e transparentes, Que de si manam copiosas fontes, Umas regam os vales adjacentes, Outras descendo vêm dos altos montes;
E quando com seus raios refulgentes, As doura Febo abrindo os Horizontes, Tão cristalinas são, que aqui difusa Parece nasce a fonte da Aretusa.
XLV
Pela relva do campo mais viçoso O gado junto e pingue anda pastando, O roubador de Europa furioso, E o que deu o véu de ouro em outro bando, O bruto de Netuno generoso Vai as areias soltas levantando, E nos bosques as leras Ateonéias A República trilham das Napéias.
XLVI
Aqui o campo florido se semeia De brancas açucenas e boninas, Ali no prado a rosa mais franqueia Olorizando as horas matutinas:
E quando Clóris mais se galanteia, Dando da face exalações divinas, Dos ramos no regaço vai colhendo O Clavel e o jasmim, que está pendendo.
XLVII
As frutas se produzem copiosas, De várias castas e de várias cores, Umas se estimam muito por cheirosas, Outras levam vantagem nos sabores:
São tão belas, tão lindas e formosas, Que estão causando à vista mil amores, E se nos prados Flora mais blasona, São os pomares glória de Pomona.
XLVIII
Entre elas todas têm lugar subido As uvas doces, que esta Terra cria, De tal sorte, que em número crescido Participa de muitas a Bahia:
Este fruto se gera apetecido Duas vezes no ano sem profia, E por isso e do povo celebrado, E em toda a parte sempre nomeado.
XLIX
Os coqueiros compridos e vistosos Estão por reta série ali plantados, Criam cocos galhardos e formosos, E por maiores são mais estimados:
Produzem-se nas praias copiosos, E por isso os daqui mais procurados, Cedem na vastidão à bananeira, A qual cresce e produz desta maneira.
L
De uma lança ao tamanho se levanta, Estúpeo e roliço o tronco tendo, As lisas folhas têm grandeza tanta, Que até mais de onze palmos vão crescendo:
Da raiz se lhe erige nova planta, Que está o parto futuro prometendo, E assim que o fruto lhe sazona e cresce, Como das plantas víbora fenece.
LI
Os limões doces muito apetecidos Estão Virgíneas tetas imitando, E quando se vêem crespos e crescidos, Vão as mãos curiosas incitando:
Em árvores copadas, que estendidos Os galhos têm, e as ramas arrastando, Se produzem as cidras amarelas, Sendo tão presumidas como belas.
LII
A laranjeira tem no fruto louro A imitação dos pomos de Atalanta, E pela cor, que em si conserva de ouro, Por isso estimação merece tanta:
Abre a romã da casca o seu tesouro, Que do rubi a cor flamante espanta, E quanto mais os bagos vai fendendo, Tanto vai mais formosa parecendo.
LIII
Os melões excelentes e olorosos Fazem dos próprios ramos galaria.
Também estende os seus muito viçosos A pevidosa e doce melancia:
Os figos de cor roxa graciosos Poucos se logram, salvo se à porfia Se defendem de que com os biquinhos Os vão picando os leves passarinhos.
LIV
No ananás se vê como formada Uma coroa de espinhos graciosa, A superfície tendo matizada Da cor, que Citeréia deu à rosa:
E sustentando a c’roa levantada Junto co'a vestidura decorosa, Está mostrando tanta gravidade, Que as frutas lhe tributam Majestade.
LV
Também entre as mais frutas as jaqueiras Dão pelo tronco a jaca adocicada, Que vindo lá de partes estrangeiras Nesta Província é fruta desejada:
Não fiquem esquecidas as mangueiras, Que dão a manga muito celebrada, Pomo não só ao gosto delicioso, Mas para o cheiro almíscar oloroso.
LVI
Inumeráveis são os cajus belos, Que estão dando prazer por rubicundos, Na cor também há muitos amarelos, E uns e outros ao gosto são jucundos;
E só bastava para apetecê-los Serem além de doces tão fecundos, Que em si têm a Brasílica castanha Mais saborosa que a que cria Espanha.
LVII
Os araçás diversos e silvestres, Uns são pequenos, outros são maiores:
Oitis, cajás, pitangas, por agrestes, Estimadas não são dos moradores:
Aos mar'cujás chamar quero celestes, Porque contêm no gosto tais primores, Que se os Antigos na Ásia os encontraram, Que era o néctar de Jove imaginaram.
LVIII
Outras frutas dissera, mas agora Têm lugar os legumes saborosos, Porém por não fazer nisto demora Deixo esta explicação aos curiosos;
Mas, contudo, dizer quero por ora Que produz esta Terra copiosos Mandioca, inhames, favas e carás, Batatas, milho, arroz e mangarás.
LIX
O arvoredo desta Ilha rica e bela Em circuito toda a vai ornando, De tal maneira, que só basta vê-la Quando já está alegrias convidando:
Os passarinhos que se criam nela De raminho em raminho andam cantando, E nos bosques e brenhas não se engana Quem exercita o oficio de Diana.
LX
Tem duas Freguesias muito extensas, Das quais uma Matriz mais soberana Se dedica ao Redentor, que a expensas De seu Sangue remiu a prole humana;
E ainda que do tempo sinta ofensas A devoção com ela não se engana, Porque tem uma Imagem milagrosa Da Santa Vera-Cruz para ditosa.
LXI
A Santo Amaro a outra se dedica, A quem venerações o povo rende, Sendo tão grande a Ilha Itaparica, Que a uma só Paróquia não se estende:
Mas com estas Igrejas só não fica, Porque Capelas muitas compreende, E nisto mostram seus habitadores Como dos Santos são veneradores.
LXII
Dedica-se a primeira àquele Santo Mártir, que em vivas chamas foi aflito, E ao Tirano causou terror e espanto, Quando por Cristo foi assado e frito.
Também não fique fora de meu canto Uma, que se consagra a João bendito, E outra (correndo a Costa para baixo)
Que à Senhora se dá do Bom Despacho.
LXIII
Outra a Antônio Santo e glorioso Tem por seu Padroeiro e Advogado, Está fundada num sitio delicioso, Quer por esta Capela é mais amado.
Em um terreno alegre e gracioso Outra se fabricou de muito agrado.
Das Mercês à Senhora verdadeira É desta Capelinha a Padroeira.
LXIV
Também outra se vê, que é dedicada À Senhora da penha milagrosa, A qual airosamente situada Está numa planície especiosa.
Uma também de São José chamada Há nesta Ilha, por certo gloriosa, Junta com outra de João, que sendo Duas, se vai de todo engrandecendo.
LXV
Até aqui, Musa; não me é permitido Que passe mais avante a veloz pena, A minha Pátria tenho definido Com esta descrição breve e pequena;
E se o tê-la tão pouco engrandecido Não me louva, mas antes me condena, Não usei termos de Poeta esperto, Fui historiador em tudo certo.
Fonte:
ITAPARICA, Manuel de Santa Maria. Descrição da Ilha de Itaparica. In: BRAYNER, Sônia
(Org.). A Poesia no Brasil 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981. p.48-62.
Texto proveniente de:
A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
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Texto-base digitalizado por:
José Leonardo Sousa Buzelli – Itatiba/SP
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