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Textos para uso geral de domínio público.

Décima

Se amor vive além da morte, Eterno o meu há de ser;
Se amor dura só na vida, Hei de amar-te até morrer.
Glosa Que um peito, Analia, sensível, Desses teus olhos ferido Não te caia aos pés rendido, Me parece um impossível.
Antes só tenho por crível Que todo a ti se transporte, E te preste amor tão forte, Em teu serviço jucundo, Que te ame além do mundo, Se amor vive além da morte.
Por essa força atrativa, Que em ti pôs a natureza, Minha alma d'antes ilesa Já de ti se vê cativa.
De amor n'uma chama viva O peito sinto-me arder;
E se posso hoje prever Os sucessos do futuro, Entre os fogos de amor puro Eterno o meu há de ser.
Mais forte que o gordiano, É o nó que a ti me prende;
Fica certa, que o não fende Da morte o ferro tirano;
Por que trazer-te-hei de ufano No fundo d'alma esculpida, Ou ao nada reduzida Deve ser a minha essência;
Que nego a sobrevivência, Se amor dura só na vida.
Em ambas suposições Não és de mim separada;
Que me estais amalgamada Da mente nas sensações:
E pois modificações Só por si não podem ser, Hás de eterna em mim viver, Se eu tenho uma alma imortal;
Ou, se ela é material, Hei de amar-te até morrer.


Domínio Público Gov.BR


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