De joelhos
Qual reza o irmão pelas irmãs queridas, Ou a mãe que sofre pela filha bela, Eu - de joelhos - com as mãos erguidas, Suplico ao céu a felicidade dela.
- "Senhor meu Deus, que sois clemente e justo, Que dais voz às brisas e perfume à rosa, Oh! protegei-a com o manto augusto A doce virgem que sorri medrosa!
Lançai os olhos sobre a linda filha, Dai-lhe o sossego no seu casto ninho, E da vereda que seu pé já trilha Tirai a pedra e desviai o espinho!
Senhor! livrai-a da rajada dura A flor mimosa que desponta agora;
Deitai-lhe orvalho na corola pura, Dai-lhe bafejos, prolongai-lhe a aurora!
A doce virgem como a tenra planta Nunca floresce sobre terra ingrata;
- Bem como a rola - qualquer folha a espanta, - Bem como o lírio - qualquer vento a mata.
Ela é a rola que a floresta cria, Ela é o lírio que a manhã descerra...
Senhor, amai-a! - a sua voz macia Como a das aves, a inocência encerra!
Sua alma pura na novel vertigem Pede ao amor o seu futuro inteiro...
- Senhor! ouvi o suspirar da virgem, Dourai-lhe os sonhos no sonhar primeiro!
A mocidade, como a deusa antiga, Na fronte virgem lhe derrama flores...
- Abri-lhe as rosas da grinalda amiga, Na mocidade derramai-lhe amores!
Cercai-a sempre de bondade terna, Lançai orvalho sobre a flor querida;
Fazei-lhe oh Deus! a primavera eterna, Dai-lhe bafejos - prolongai-lhe a vida!
Depois - de joelhos - eu direi sois justo, Senhor! mil graças eu vos rendo agora!
Vós protegestes com o manto augusto A doce virgem que a minh'alma adora! -
Dezembro - 1858.