Cantai
A Edwiges de Sá Pereira
Ó vós, que guardais no seio Com tanto amor e carinho, - Com o mesmo doce receio De um’ave que guarda o ninho:
As ilusões mais douradas Que um’alma de moça encerra: -
Cantai as crenças nevadas Que divinizam a terra;
Cantai a meiga harmonia Das esperanças em flor, Cantai a vida, a alegria, Na lira santa do amor.
Cantai a vida, a alegria, - Dizei-o nos vossos cantos -
É uma aurora querida Que desabrocha sem prantos.
Expatriai a saudade, - O espinho do coração -
Cantai a felicidade De uma existência em botão.
É para vós a ventura, A glória que o mundo tem...
Que vos importa a amargura De um’alma que chora além?
Eu também irei cantando, Como vós, meus pensamentos, Vivendo sempre sonhando Sem dores e sem tormentos.
E, já que não tenho amores, E nem embalo esperanças...
Canto o perfume das flores, Canto o riso das crianças.