Canção do Exílio
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo Os gozos do meu lar!
O país estrangeiro mais belezas Do que a pátria, não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos Tão doces duma mãe!
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, O céu do meu Brasil!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá!
Quero ver esse céu da minha terra Tão lindo e tão azul!
E a nuvem cor de rosa que passava Correndo lá do sul!
Quero dormir à sombra dos coqueiros, As folhas por dossel;
E ver se apanho a borboleta branca, Que voa no vergel!
Quero sentar-me à beira do riacho Das tardes ao cair, E sozinho cismando no crepúsculo Os sonhos do porvir!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, A voz do sabiá!
Quero morrer cercado dos perfumes Dum clima tropical, E sentir, expirando, as harmonias Do meu berço natal!
Minha campa será entre as mangueiras Banhada do luar, E eu contente dormirei tranqüilo À sombra do meu lar!
As cachoeiras chorarão sentidas Porque cedo morri, E eu sonho no sepulcro os meus amores Na terra onde nasci!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! não seja já Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá!
Lisboa — 1857