Borboleta
Borboleta dos amores, Como a outra sobre as flores, Porque és volúvel assim?
Porque deixas, caprichosa, Porque deixas tu a rosa E vais beijar o jasmim?
Pois essa alma é tão sedenta Que um só amor não contenta E louca quer variar?
Se já tens amores belos, P'ra que vais dar teus desvelos Aos goivos da beira-mar?
Não sabes que a flor traída Na débil haste pendida Em breve murcha será?
Que de ciúmes fenece E nunca mais estremece Aos beijos que a brisa dá?...
Borboleta dos amores, Como a outra sobre as flores, Porque és volúvel assim?
Porque deixas, caprichosa, Porque deixas tu a rosa E vais beijar o jasmim?!
Tu vês a flor da campina, E bela e terna e divina, Tu dás-lhe o que essa alma tem;
Depois, passado o delírio, Esqueces o pobre lírio Em troca duma cecém!
Mas tu não sabes, louquinha, Que a flor que pobre definha Merece mais compaixão?
Que a desgraçada precisa, Como do sopro da brisa, Os ais do teu coração?
Borboleta dos amores, Como a outra sobre as flores, Porque és volúvel assim?
Porque deixas, caprichosa, Porque deixas tu a rosa E vais beijar o jasmim?
Se a borboleta dourada Esquece a rosa encarnada Em troca duma outra flor;
Ela - a triste, molemente Pendida sobre a corrente, Falece à míngua d'amor.
Tu também minha inconstante Tens tido mais dum amante E nunca amaste a um só!
Eles morrem de saudade, Mas tu na variedade Vais vivendo e não tens dó!
Ai! és muito caprichosa!
Sem pena deixas a rosa E vais beijar outras flores;
Esqueces os que te amam...
Por isso todos te chamam:
- Borboleta dos amores!
Rio - 1858.