Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta
Escrito em 11-3-1914.
Às vezes, em dias de luz perfeita e exata, Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter, Pergunto a mim próprio devagar Por que sequer atribuo eu Beleza às cousas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver, Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens Perante as cousas, Perante as cousas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!
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