Ao Cair da Noite
A Maria Emília Loureiro Não sei que paz imensa Envolve a Natureza, N’ess’hora de tristeza, De dor e de pesar.
Minh’alma, rindo, pensa Que a sombra é um grande véu Que a Virgem traz do Céu Num raio de luar.
Eu junto as mãos, serena, A murmurar contrita, A saudação bendita Do Anjo do Senhor;
Enquanto a lua plena No azul, formosa e casta, Um longo manto arrasta De lúrido esplendor.
Minhas saudades todas Se vão mudando em astros...
A mágoa vai de rastros Morrer na escuridão...
As amarguras doidas Fogem como um lamento Longe do Pensamento, Longe do Coração.
E a noite desce, desce Como um sorriso doce, Que em sonhos desfolhou-se Na voz cheia de amor, Da mãe que ensina a Prece Ao filho pequenino, De olhar meigo e divino E lábio aberto em flor.
Ah! como a Noite encanta!
Parece um Santuário, Com o lindo lampadário De estrelas que ela tem!
Recorda-me a luz santa, Imaculada e pura, Da grande noite escura Do olhar de minha mãe!
Ó noite embalsamada De castas ambrósias...
No mar das harmonias Meu ser deixa boiar.
Afasta, ó noite amada, A dúvida e o receio, Embala-me no seio E deixa-me sonhar!