A Volta da Primavera
Aime et tu renaítras fais-toi fleur pour éclore, Après avoir soufferi, il faul souffrir encore;
Il faut aimer sans cesse après avoir aimé.
A. DE MUSSET
AI! Não maldigas minha fronte pálida, E o peito gasto ao referver de amores.
Vegetam louros — na caveira esquálida E a sepultura se reveste em flores.
Bem sei que um dia o vendaval da sorte Do mar lançou-me na gelada areia.
Serei... que importa? o D. Juan da morte Dá-me o teu seio-e tu serás Haidéia!
Pousa esta mão-nos meus cabelos úmidos!...
Ensina à brisa ondulações suaves!
Dá-me um abrigo dos teus seios túmidos!
Fala!... que eu ouço o pipilar das aves!
Já viste às vezes, quando o sol de maio Inunda o vale, o matagal e a veiga?
Murmura a relva: "Que suave raio!"
Responde o ramo: "Como a luz é meiga!"
E, ao doce influxo do clarão do dia, O junco exausto, que cedera à enchente, Levanta a fronte da lagoa fria...
Mergulha a fronte na lagoa ardente...
Se a natureza apaixonada acorda Ao quente afago do celeste amante, Diz!... Quando em fogo o teu olhar transborda, Não vês minh'alma reviver ovante?
É que teu riso me penetra n'alma — Como a harmonia de uma orquestra santa — É que teu riso tanta dor acalma...
Tanta descrença!... Tanta angústia!... Tanta!
Que eu digo ao ver tua celeste fronte:
"O céu consola toda dor que existe.
Deus fez a neve — para o negro monte!
Deus fez a virgem — para o bardo triste!"