A valsa
Tu, ontem, Na dança Que cansa, Voavas Co'as faces Em rosas Formosas De vivo, Lascivo Carmim;
Na valsa Tão falsa, Corrias, Fugias, Ardente, Contente, Tranqüila, Serena, Sem pena De mim!
Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti!
Quem dera Que sintas!
- Não negues Não mintas...
— Eu vi!...
Valsavas:
- Teus belos Cabelos, Já soltos, Revoltos, Saltavam, Voavam, Brincavam No colo Que é meu;
E os olhos Escuros Tão puros, Os olhos Perjuros Volvias, Tremias, Sorrias P'ra outro Não eu!
Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti!
Quem dera Que sintas!...
- Não negues, Não mintas...
- Eu vi!...
Meu Deus!
Eras bela Donzela, Valsando, Sorrindo, Fugindo, Qual silfo Risonho Que em sonho Nos vem!
Mas esse Sorriso Tão liso Que tinhas Nos lábios De rosa, Formosa, Tu davas, Mandavas A quem?!
Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti!
Quem dera Que sintas!...
- Não negues, Não mintas...
- Eu vi!...
Calado, Sozinho, Mesquinho, Em zelos Ardendo, Eu vi-te Correndo Tão falsa Na valsa Veloz!
Eu triste Vi tudo!
Mas mudo Não tive Nas galas Das salas, Nem falas, Nem cantos, Nem prantos Nem voz!
Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti!
Quem dera Que sintas!
- Não negues, Não mintas...
- Eu vi!...
Na valsa Cansaste;
Ficaste Prostrada, Turbada!
Pensavas, Cismavas, E estavas Tão pálida Então;
Qual pálida Rosa Mimosa, No vale Do vento Cruento Batida, Caída Sem vida No chão!
Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti!
Quem dera Que sintas!...
- Não negues, Não mintas...
- Eu vi!...
Rio - 1858.