A canoa fantástica
Pelas sombras temerosas Onde vai esta canoa?
Vai tripulada ou perdida?
Vai ao certo ou vai à toa?
Semelha um tronco gigante De palmeira, que s'escoa...
No dorso da correnteza, Como bóia esta canoa!...
Mas não branqueja-lhe a vela!
N'água o remo não ressoa!
Serão fantasmas que descem Na solitária canoa?
Que vulto é este sombrio Gelado, imóvel, na proa?
Dir-se-ia o gênio das sombras Do inferno sobre a canoa!...
Foi visão? Pobre criança!
À luz, que dos astros coa, É teu, Maria, o cadáver, Que desce nesta canoa?
Caída, pálida, branca!...
Não há quem dela se doa?!...
Vão-lhe os cabelos a rastos Pela esteira da canoa!...
E as flores róseas dos golfos, — Pobres flores da lagoa, Enrolam-se em seus cabelos E vão seguindo a canoa!...
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