Prosa de Circunstância
LUCINDA SIMÕES
Para quem escreve estas linhas não pode haver missão mais difícil do que falar de um artista de teatro. Mais difícil ainda quando tal artista traz, apensa ao nome, a glorificação consagrada unanimemente.
É o caso de Lucinda Simões. Que impressão poderá produzir no espírito público e no próprio espírito de Lucinda, uma palavra a mais, que se venha ajuntar ao vocabulário já por demais completo de encômios, que se tem organizado, de apoteose em apoteose, durante toda a sua trajetória cênica, para a perpetuação definitiva do seu nome? E esta dificuldade que existiria para quem quer que se abalançasse agora a dizer sobre Lucinda Simões, em mim é prófundamente aumentada pela ausência absoluta de hábitos de crítica teatral, que só se adquire com muita assiduidade à vida das platéias e dos bastidores.
Ora, eu me considero neste terreno um perfeito catecúmeno. Faltará provavelmente nestas linhas que por aqui correm, esse amaneirado característico, essa fluência típica dos críticos de ribalta, em que todos mais ou menos se parecem pela incongruência dos conceitos, pela linguagem quase de gíria e sobretudo pela absoluta falta de sinceridade e de emoção.
Há muito que não via Lucinda. Um incidente imprevisto me aproximou um destes dias da eminente artista, com quem falei pela primeira vez, e nesse dia abjurei dos meus princípios e lá fui ao "Arara".
Havia qualquer coisa de saudoso em mim, ao penetrar outra vez, depois de longos anos, o teatrinho da rua do Espírito Santo. Como que me sentia numa vaga sensação de iniciado, ao ir rever em cena a genial reencarnadora de "Baron e D'Ange", "Princesse Falconiere"; "Duquesa de Reville", "Fedora", "Georgette", e tantos outros padrões de sua glória cênica, dos quais não precisava mais do que um para fazer a reputação invejável de que goza com tanto desprendimento, tanta modéstia e sobretudo com essa suave melancolia com que envolve a narração dos seus sofrimentos e das suas desilusões, sem a menor referência aos seus triunfos e às suas apoteoses.
Que me permita Lucinda, dizer-lhe aqui com a maior sinceridade a impressão que me produziu o seu papel, escabrosíssimo, na peça de Feydau, dificilmente se encontraria, estou certo, quem tivesse coragem de abordá-lo e não se encontraria talvez, quem o levasse de vencida, com tanto talento e com tal perfeição. Não vai portanto nisto a menor alusão ao desempenho impecável que dá a esse papel. Como porém, isto não é um artigo de crítica, e apenas uma impressão toda pessoal, como não vejo o papel com o olhar arguto de profissional, e sim com o olhar bisonho do espectador ingênuo, devo dizer, que ao revê-la no palco, todo o meu desejo era que fosse numa dessas assombrosas criações que lhe aureolaram, o nome. Esse papel antipático, dificílimo, é certo, por melhor que seja interpretado pela genial artista, desloca-a completamente, da atmosfera de simpatia e estima com que sempre é recebida em cena.
Espero pois para o dia da sua festa artística para encontrar de novo a Lucinda que eu compreendo, a Lucinda que eu conheço.
Ao terminar estas heresias, que outras coisas não podem ser as afirmações de um profano, tenho fé ao menos em que a gloriosa cultivadora da prosódia portuguesa, haverá de ver nessas impressões a sinceridade de uma pena que ainda não quebrou o bico ao tropeçar de um elogio desmerecido, o que, durante doze anos de vida de imprensa no Rio de Janeiro, é a primeira vez que se refere, no mal que escreve, a uma individualidade do teatro. Que isto lhe sirva de consolo ao sacrifício de ter lido - se é que se deu ao trabalho de o fazer - este acervo de sinceridade e de ignorâncias, de admirações reais e de incapacidade para as exprimir.
NEÓFITO
O Rebate, Rio de Janeiro, 29 ago. 1900.
O ÚLTIMO CORVO DE CÉSAR
Estes "Salpicos", em geral são rimados, mas a rima, coisa de poeta, participa da natureza deste. É inconstante e indolente. Até a última hora, não nos chegaram os versos esperados e resolvemos preencher a seção de qualquer maneira. Há sempre numa redação coisas inúteis, insultas e malvernaculizadas, que ficam a entulhar gavetas e armários para os dias fatais de falta de matéria. (Falta rara, felizmente, cá por casa). São colaborações anônimas e gratuitas de vários gêneros e sabores vários.
Numa devassa pelos móveis, com todos os rigores de busca e apreensão com que Aurelino costuma arranjar as provas de uma conspirata, resolvemos tudo e demos com essas tiras que aí vão, em súmula, já amarelentas, como as faces semitapuias do Sr.
Pires Ferreira 0 que aí segue perdeu em graça o que julgou ganhar em filosofia e perdeu em filosofia o mesmo que deixou de ganhar em graça. É uma velha anedota de cunho autenticamente histórico e que, apesar da falta de graça e ausência de filosofia, talvez possa, com retoques, ter uma aplicação de atualidade.
Vamos resumí-la. Como sabem, o corvo, na Europa, só tem de comum com o nosso urubu, malandro ou não-malandro, a cor. É um conirostro palrador que, dentro da plumagem hemeterícamente escura, e sem os tons verde-amarelos da alma jacobina do Sr. Lopes Trovão e do nosso papagaio, fala como este e como este aprende coisas.
Quando César voltava triunfalmente das Gálias, um patriota qualquer, desses que amam o oportuno fio da espada, conseguiu ensinar o seu corvo predileto que, por sinal, não era de todo negro, a dizer esta frase: "Eu te saúdo, César vencedor!" César, ao passar ficou maravilhado ante o prodígio e fez imediatamente adquirir o plumitivo exaltador da sua onipotência e da sua vaidade. Foi uma praga. Quem tivesse corvo à mão, entrava logo a ensinar-lhe aquelas palavras excelentemente glorificadoras. E César começou a comprar corvos, mas tantos comprou que já se lhe entupiam as oiças com o coro infernal das glorificações.
Um mísero sapateiro, cuja vida lhe corria pior que a do Sr. Cunha Vasconcelos nos tempos de hoje, concentrou todas as esperanças de salvação financeira, tal qual Pernambuco, num corvo que filha amorosa lhe mandara de longes terras. Todos os dias, por vinte ou cem vezes, pacientemente repetia as palavras sagradas e o corvo moita.
Mantinha-se fúnebre, no seu crocitar primitivo, sem mostras de entender patavina daquilo, na mesma pirronice com que o Bezerra não quer entender de agricultura.
De todas as vezes, o velho sapateiro se erguia desolado, abandonava a sovela e o cerol e exclamava: "Perdi meu tempo e meu trabalho!" e o corvo moita. Passam-se as semanas, correm os meses. "Eu te saúdo, César vencedor!" - "Perdi meu tempo e meu trabalho!
Acontece, porém, que César, passando certo dia pela tenda do gaspeador de botas, com o ruído das aclamações, o corvo, até então mudo como o índio no Senado, despertou e, por singular coincidência, pronunciou inconscientemente a saudação por tanto tempo ouvida.
César, já cansado de comprar corvos, não ligou. Mas o corvo tinha decorado também o resto e grasnou: "Perdi meu tempo e meu trabalho!" 0 vencedor das Gálias retrocedeu e foi esse o último corvo que adquiriu.
Quem será o último corvo de César?
Gazeta de Notícias, seção Salpicos.
O PRINCIPE E A ACADEMIA
(A opinião de Emílio de Menezes)
Não sei se já me é dado ter opinião sobre esses casos de eleição na Academia. Se o ilustre Sr. José Veríssimo "já" se não considera acadêmico, eu estou a pensar que "ainda"
não o sou. Há quem pense de modo diverso e afirme, talvez com razao, que o sou tanto quanto os Srs. Lauro Müller, Conselheiro Lafayette, Vicente de Carvalho e Oliveira Lima, que até hoje não preencheram a formalidade da posse e têm o direito a voto. Também há quem pense, aliás com muita razão, que o mesmo eminente Sr. José Veríssimo continua e continuará a ser acadêmico, visto independer da sua vontade o deixar de ser imortal.
Seria isso conceber o absurdo de uma imortalidade interina ou provisória. Com os que assim pensam estou eu, pois, já agora me não conformo com a simples transitoriedade da vida terrena e cada dia que passa mais me apego a essa deliciosa imortalidade da qual me convenceram e que, se me não remoça, não me faz emagrecer.
Mas isto é divagação e o amigo quer apenas saber se o príncipe é ou não elegível. Isso não é comigo. Não degluti as Ordenacões de Reino, nem a Constituição da República que, apesar de tão afastadas uma da outra, dizem, são as comadres dos tradutores e interpretadores disso que se define: jus est ars boni et aequi Estes resolverão o caso. Não discuto por isso se o príncipe pode ou não ser eleito. Seio uma figura de alto relevo decorativo e digna. por mais de um título, do acatamento não só dos espíritos genuinamente literários como daqueles que também o são e que, além disso, já têm ou desejam ter... um condado.
Ora, é um homem com tais requisitos que se apresenta concorrendo com o poeta Goulart de Andrade e, portanto, eu não vacilo. Se me for permitido o voto nessa eleição, eu votarei pelo príncipe... do "Canto Real" e da "Balada no Brasil"
Mais tarde e depois de satisfazer um outro compromisso íntimo, não digo que persista em não votar em Sua Alteza, quando mais não seja para evitar uma penada do meu querido mestre Carlos de Laet, penada que, como sabem, é alguma coisa mais incômoda e de temer que a varíola ou que uma promissória a vencer-se, incontestavelmente as duas coisas mais temíveis... depois do ridículo.
A Rua, Rio de Janeiro, 1915.
VIAGEM A APARECIDA DO NORTE
(Impressões)
"Já que entramos nesse detalhe das refeições, justo é fazer uma referência à boa qualidade e à abundância dos pratos servidos aos peregrinos pelo Hotel. Andrade. Uma nota que não pode deixar de ser registrada aqui abona grandemente a comissão da imprensa que esteve naquele hotel.
Creio que raramente se poderá observar fato idêntico. 0 vinho, para todos os peregrinos, era pago como extraordinário. Pois bem, tendo os jornalistas presentes ordens francas da respectiva comissão e apesar de o vinho ser ali vendido a 2$ a garrafa (vinho nacional!) as despesas extraordinárias de vinho e águas minerais, para cinco jornalistas e mais seis pessoas agregadas à comissão geral, montaram à fabulosa soma de 34$500! ...
E ainda dizem que os jornalistas são chupistas!. .
Mas, volvendo ao Cônego Andrade- Era de esperar, como dissemos apesar de sua idade, um dos esplêndidos triunfos oratórios a que ele, de há muito, habituou os nossos fiéis. É um consagrado do púlpito, e não raros são os que o preferem, e nesse caso estamos nós, ao atual bispo de Olinda, Monsenhor Brito, uma das figuras mais sugestivas da tribuna sagrada.
0 seu sermão foi, portanto, brilhantíssimo admirável de dialética, sóbrio de gestos, conciso, mas não foi uma surpresa. Todos esperavam por isso.
Uma verdadeira revelação, para nós, foi o discurso do Padre Ricardino Séve. Não o conhecíamos em pessoa.
0 seu nome no entanto, nos passara diversas vezes pelo bico da pena, pois não poucas foram as objurgatórias que paroquianos de São Cristóvão nos vieram trazer contra o eminente sacerdote, sob forma de reclamações. Nessas reclamações o Padre Séve era dado em geral, como um desvairado, um energúmeno, sem o menor senso sacerdotal, sem o menor critério de. homem, sem mesmo a mínima intuição moral.
Tinha de falar, à noite, na despedida dos romeiros, um outro sacerdote, que não sabemos bem por que motivo se escusou à última hora.
Soubemos, então, que o Sr. Arcebispo mandara chamar um outro padre e lhe pedira que subisse ao púlpito. Não sabíamos qual fosse o padre. A certeza, porém, de que nenhum dos pregadores presentes poderia exceder Monsenhor Andrade, fez com que deixássemos igreja, finda a cerimônia, em busca das acomodações no "especial" Mal ganháramos o pátio e uma voz forte, clara, vibrante, se ouvir. Paramos.
- É fulano, dissera quase imperceptivelmente um nosso companheiro.
- Quem?
Não tivemos resposta.
O companheiro reentrara na igreja Reentramos. Todas as faces voltadas para o púlpito.
Erguemos os olhos. A nossa primeira exclamação, sopitada, te sido esta:
- Que belo padre!
Ouvíamos. Queríamos ao mesmo tempo observar na grande mas dos fiéis a impressão produzida por aquela palavra estranha que nos arrebatava, também. Vimos e ouvimos.
Terminada a estupenda peça oratória, esperamos o padre escada do púlpito.
Queríamos dizer-lhe qualquer coisa, mesmo no atrapalhamento da emoção, saber-lhe o nome, felicitá-lo.
Qual! O homem curvou-se como quem não quer ver e disparou para a sacristia- Lá lhe fomos ao encalço. Suava, risonho, mudando as vestes.
Um redentorista alemão nos embargava o passo, teutonicamente comovido, e nos explicava na sua meia-língua, trôpega como um ébrio e áspera como um cardo bravio:
- Tifino! Tifino! jamados última horas, badre Zefe, faz tisgursa zuplime!...
Afastamos o redentorista e nos precipitamos para o pregador:
- Reverendo, somos da imprensa. Em nome dela viemos felicitá-lo pelo seu brilhante sermão.
- Discurso, volveu ele, discursinho...
- Quis tomar notas, lhe disse Oscar Dermeval, mas...
- Difícil, difícil! Quando preparo os meus sermões, ainda pode ser apanhados, mas assim, pegado de improviso, como fui, o me desejo é terminar, acelero sem o querer, deixo-me levar na corrente e se estou feliz, não me sei refrear na impetuosidade que levo.
Abandono-me ao impulso adquirido.
- Pois, reverendo, em nome da imprensa...
- Da imprensa? Que jornais? Tenho sido muito vitimado por ela, acrescentou risonho.
Correio, Tribuna, Paiz, jornais caricatos todos enfim me têm atacado.
Isto dizia sem ódios sem rancores, mas numa afirmação de superioridade, em que se lhe sentiam o vigor, a energia, a aptidão para a luta. Afinal, não nos contivemos:
- Mas reverendo, o seu nome. Não sabemos de padre assim tão atacado.
- Ricardino Séve! ...
- O Padre Séve?! o de São Cristóvão?! ...
- Esse mesmo!
- Pois então reverendo! Batemos o nosso mea culpa, porque também o temos descomposto à vontade! ...
- Já sei, é natural, não me conhecem, informações. . .
- Chegamos com Vossa Reverendíssima até à torpeza do trocadilho.
- Sim? Qual foi?
- Dissemos alhures que os dois padres mais dignos. . . de nota eram o Séve e o Seve...
riano! - Riu. Disse-nos então todo o motivo dessa luta em que tem estado na paróquia, mas sem recriminações, sem ressentimentos.
Sente-se nele o homem superior, tenaz, enérgico, que pode vencer todas as campanhas, pois para isso não lhe faltam qualidades físicas e intelectuais.
É um forte na melhor acepção da palavra.
Alto, varonil, de uma inexcedível beleza máscula, olhos de uma mobilidade inenarrável, insinuantíssimo, e depois com aquele poder mágico da palavra, estamos convencidos de que ele há de, em breve, chamar a si as boas graças de todos os seus paroquianos.
Nós pelo menos, consideramos uma verdadeira felicidade o acaso que nos proporcionou o conhecimento desse belo espírito que se chama Ricardino Séve!
O remate, que esse estupendo senhor da tribuna sagrada deu aos festejos propriamente rituais da Aparecida, foi em tudo digno dos prodígios de eloqüência que fez nessa piedosa romaria o excepcional talento de Afonso Celso Júnior.
E se isso foi um bem, se tivemos a felicidade de embalar o espírito, durante horas, ao acalentador carinho da fé católica e da hitelectualidade brasileira, devemos esse bem, devemos essa felicidade à gentileza, ante a qual todos os agradecimentos são poucos, do Sr. Com. José Pereira de Sousa.
Com meia dúzia de crentes da ordem desse digno cavalheiro, cremos que muitas conversões se fariam no nosso meio.
A ele, pois, todas estas linhas."
GASTON D`ARGY
COLMEIA*
Luiz Guimarães conta-nos no seu excelente livro sobre o Japão que, nesse país, as viúvas raramente casam-se de novo. Andam tão desprezadas que os oficiais japoneses, quando partiam para a guerra com a Rússia, divorciavam-se das mulheres, porque, nessa qualidade, elas encontrariam logo marido, o que lhes seria impossível, se fossem viúvas.
A coisa explica-se: rivalidade de opereta. O Japão, para manter a superioridade a Geisha, não admite de modo algum que vinguem, em seu solo, Viúvas Alegres...
Dizem os jornais que a conferência entre os srs. ministros da Fazenda do Brasil, e da Argentina versou sobre farinhas e foi muito cordial.
Já sei: enfarinharam-se mutuamente para enganar o tio Sam. Quem com tudo isso vai se ver enfarinhado é o sr. Da Gama. Apronta-te, telégrafo!
Encontrei ontem um comissário da Armada à porta da Escola Berlitz.
- Então, como vai?
O homem abre um livro e responde como pode:
- Well And you?
Que é isso, filho?
E o homem furioso:
- Isso, isso é a missão inglesa que vocês estão arranjando! Estou eu nesses assados, sem adiantar nada! Bem me diz minha mulher, que papagaio velho não aprende a falar...
inglês!
Anúncio de um jornal de ontem:
"Mme. F. mudou-se para a rua tal número tanto: ensina praticamente a língua francesa."
Não comento esse anúncio por medo da polícia do dr. Távora, Mas sempre direi que a escola agora não é na rua anunciada, nem na antiga: é ali na rua do Passeio. Se o dr.
Távora quiser aprender a falar francês, a aula é depois das dez da noite. E muito freqüentada sobretudo pelas... professoras.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1289, 3 jul. 1911, p. 1.
A Gazeta da Tarde manifestou, ontem, a esperança de que, "desta vez, o conselheiro Rosa e Silva tem de lutar". A Gazeta é danada para ter esperanças! Pois não está ela vendo logo que este negócio de lutar não é coisa que se aprenda no monde où 1'ons s ´amuse.
Telegrama que chegou tarde para ser incluído na seção respectiva "Lisboa, 3 - Houve, hoje, um combate terrível no largo do Rocio.
O rei d. José desceu, afinal, de seu cavalo de bronze, pôs-se à testa dos portugueses monarquistas do Rio de Janeiro e, apoiado pela esquadra comandada pelo infante d.
Henrique, desceu do seu nicho dos Jerônimos, reduziu o Teófilo Braga mais o Beernardino a bife de cebolada.
Estamos esperando o Alberto Estanislau e o Eugênio da Silveira para tomarem o governo. Pode incluir este no serviço especialíssimo do jornal do Brasil e do Correio da Manhã. Quem duvidar da verdade dele, venha cá ver."
Ao ler a notícia da retirada iminente do almirante Marques de Leão de pasta da Marinha, um deputado que estava muito entusiasmado com o relatório, saiu-se com esta:
- É tal qual aquele general, que, à face do inimigo, gritava às tropas:
- Preparemo-nos... e marchem!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.11 1290, 4 jul. 1911, p. 1.
"O sr. Da Gama partiu, ontem, dos Estados Unidos para a Europa, em gozo de licença."
Já? Apenas empossado e já de licença? O sr. Da Gama, então, não se entendeu com os brancos da América?
Discurso de fundo do Estado do sr. Barbosa Lima:
- "Os mais nobres estímulos morreram. Não há iniciativa que vingue. 0 egoísmo reina sem rivais... Há uma vaga expectativa feita de apreensões. Ninguém está tranqüilo. . .
Uff! Que homem sinistro. É calamidade que te parto ...
E lembrar-se a gente de que tudo isso seria tão facilmente evitável, só com a eleição do sr. Rui Barbosa! 0 céu seria sempre azul; os mais nobres estímulos floresceriam como as rosas de maio; o altruísmo dominaria todos os corações e o Estado nem sequer teria aparecido para fazer esse papel de Jeremias...
0 sr. Rodolfo Miranda afirmou, em telegrama ao sr. Pedro de Toledo, que o presidente da República não é como o imperador Tarquínio: não corta as cabeças das papoulas!
Sabemos que o sr. Pedro de Toledo teve um grande alívio ao saber disso.
O sr. almirante Belfort Vieira foi requisitado ao Ministério da Marinha pelo Ministério da Viação.
- Bem, pensei comigo, qual será a comissão do seu Ministério, que o sr. Seabra vai dar ao almirante Belfort?
- A comissão de comandar a esquadra que vai acompanhar o presidente à Bahia Então é o Ministério da Viação que dá aos almirantes a comissão de comando de esquadras!
Essa cá me fica!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1291, 5 jul. 1911, p.1.
Agora, estão fritos os operários! Não bastava que o Jornal do Cominercio os combatesse; que o Senado pusesse uma pedra em cima do projeto da Câmara; que o governo deixasse passar o tempo sem dar as informações pedidas. Tudo isso era nada.
Mas agora, que o Oto Prazeres puxou da durindana e acutilou-os, está tudo morto! Venha a Assistência carregar esses cadáveres...
Um telegrama expedido pela Liga Monárquica D. Manuel, o Venturoso, estabelecida em Lisboa, informa-nos de que os conspiradores monárquicos atravessaram, afinal, a fronteira espanhola e entraram em Portugal; mas, apenas viram os marinheiros republicanos a marchar contra eles, deram às de Vila Diogo, com um heroísmo digno d'Aljubarrota.
Posso acrescentar que amanhã o Eugênio da Silveira contestará valentemente este telegrama. A verdade é que os marinheiros republicanos não estavam em terra e os conspiradores puxavam as orelhas do Teófilo Braga, não fazendo pior porque, enfim, ele é uma glória literária lusitana.
A Alemanha está sobressaltando o mundo com a questão de Marrocos. Os senhores já entenderam essa questão que está fazendo os jornais gastarem tanto dinheiro em telegramas? Não? Pois não há nada mais simples: Marrocos não pertence à Alemanha, mas, come a Alemanha precisa de ter aí uma estação de carvão para sua marinha mercante, e tem força para fazê-lo, vai e toma Agadir que está mesmo a calhar para isso.
E como toda a gente grita, mas não vai além da gritaria, a Alemanha responde: Toca a andar! Corra o marfim! "
E, depois disso, falem-me da paz e do desarmamento universal.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1292, 6 jul. 1911, p. 1.
Viram o passe de mágica do Paraguai? A Argentina gritou: um dois! três! e tudo foi feito: o ditador todo-poderoso da véspera foi preso por um major e zás! instalou-se um governo "liberal"! E a Alemanha está com tantas hesitações em Marrocos! Venha aprender cá na América do Sul como se fazem as coisas limpamente...
O Jornal, na edição moeda fraca, tem uma seção com este título: "Coisas que não, se compreendem". Ontem, lia-se nessa seção o seguinte: "A única preocupação dos homens políticos deve ser a educação do povo e a agricultura."
Título bem achado! Eis aí, efetivamente, uma coisa que não se compreende.
"Isto é uma terra onde não há pobres, onde todo mundo tem trabalho à farta, bem remunerado e feliz. Só os mujiques são miseráveis, só os envenenados pelo Sebastien Faure e pelo Kropatkine podem dizer o contrário." (jornal do Conimercio, edição de ontem, 2ª página).
"Houve hoje mais uma grande distribuição de socorros aos pobres mantidos pelo Dispensário da Irmã Paula.
O fato em si não encerra uma novidade. Diariamente ali se amparam dezenas e dezenas de necessitados que, através essa figura simpática, carinhosa e boa da Irmã Paula, recebem o influxo das almas caridosas.
Mas é que a distribuição de hoje teve a presença do general prefeito e do dr. presidente do Conselho Municipal.
As duas altas autoridades tiveram ocasião de ver a dedicação e o amor com que a Irmã Paula trabalha e faz trabalhar em bem dos que sofrem, dos que precisam e dos que, pela contingência da vida, tombaram das altas posições e se viram na emergência de implorar a caridade pública." (jornal do Cominercio, edição de ontem, 2ª página).
Como a verdade se impõe!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1293, 7 jul. 1911, p. 1.
Não sei para que o patrão andou mais de uma semana a discutir com o jornal esta questão da intervenção do Estado. Desde que eu nasci que a coisa está perfeitamente regulada. Um exemplo: o Banco da República arrebenta? É dever do Estado intervir e dar-lhe dinheiro para os capitalistas não se arruinarem.
O Correio da Manhã comunica-nos, ontem, que "não houve confirmação do combate de Lisboa".
Oh! homem! Leia o serviço telegráfico d'A Imprensa, que é o melhor que aqui se publica, e verá que houve confirmação positiva de que tal combate nunca existiu senão na vontade do Alberto Estanislau. Ou do Eugênio da Silveira, como queiram. . .
O Diário de Notícias publicou, ontem, um artigo com este título: "A nota do Catete".
Um civilista enragé, atirando fora o jornal:
- Já sei. É uma nota falsa!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1294, 8 jul. 1911, p.1.
O Medeiros disse-nos ontem que a farda da Academia Francesa é feia.
Naturalmente. Bonita é a que ele inventou para a nossa. Tão bonita quase como a ortografia: as questões e as palavras ficam desconhecidas.
A Notícia falando ontem da reforma iminente da instrução pública nesta cidade emite esta opinião: "O que desejamos muito sinceramente é que a reforma corresponda às necessidades reais de serviço, encaradas de um ponto de vista prático."
De acordo com esta opinião estão, que o saibamos, até agora:
o sr. Prefeito;
o sr. Diretor de Instrução;
o Conselho Municipal;
os professores;
nós;
vós;
eles.
Consta que o coronel Albino Jara não vai à Europa como ministro, diplomático: vai percorrer o mundo para tirar patente da invenção do novo método de ser vítima de revolução Ah! se o rei D. Manuel já o conhecesse!
O Lage mandou do Porto ordem ao País, para desmentir a revolução em Lisboa.
O que eu desminto aqui, porém, no telegrama do Lage, é a notícia dos 25 milhões de francos mandados pela colônia portuguesa do Brasil.
Como se a colônia não tivesse mais que fazer!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1295, 9 jul. 1911, p. 1.
Ouvimos dizer - e damos a notícia com todas as reservas que o Senado está disposto a dar andamento aos códigos que lá estão há muitos anos aguardando parecer. Por mais incrível que seja a notícia, ela terá algum fundamento porque alguns senadores descobriram que o Senado foi inventado para legislar. E parece que têm razão.
Perguntas a prêmio:
- A polícia do Distrito Federal tem jurisdição em todos os Estados da União?
- A polícia desta cidade é uma instituição federal ou local?
- O inspetor geral dos agentes pode agir em todos os Estados da União?
Não respondam, não respondam, que é melhor.
Telegrama de Lisboa:
"LISBOA, 9 - Assim nunca mais teremos calma! Depois do grande combate travado nas ruas desta cidade entre marinheiros monarquistas e comendadores republicanos, estávamos vivendo numa paz relativa quando telegrafaram para cá na íntegra terrível artigo de Eugênio da Silveira no Correio da Manhã de ontem. Foi uma calamidade! Os republicanos apavorados largaram as armas e os monarquistas dispararam, quer dizer, dispararam as armas. Morreram todos. Só fiquei eu para proclamar de novo a monarquia.
Abraça por nós o Silveira - Teófilo."
Epígrafe do noticiário do Correio da Manhã de ontem:
O CADÁVER AGUARDA A AUTóPSIA.
Cadáver bem-educado!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1295, 9 jul. 1911, p. 1.
O sr. dr. chefe de Polícia recebeu ontem muitos parabéns por ter ficado resolvido, no despacho coletivo, que a reforma da polícia talvez venha a ser assinada um dia; e se não for assinada algum dia, não quer dizer nada - será mais tarde.
O instinto de imitação é o diabo. Enquanto o falecido Conselho Municipal de bobagem dava funções no largo da Mãe do Bispo, nós fomos aqui noticiando todos esses alegres espetáculos, da mesma maneira que relatamos as récitas dos outros circos da cidade. O
jornalismo civilista, obrigado a fingir sério, pelo partidarismo, resistia. Como agora os correligionários não podem mais sofrer com os seus remoques, vivem a reeditar as lérias, sem reparar que o mambembe já se dissolveu. Mas, oh! pessoal original, os seus amigos foram tão egoístas que levaram para o túmulo toda a pilhéria de que eram tão abundantes?
Uma folha da tarde acha que o sr. presidente da República não pode, antes de partir para a Bahia, pedir ao Congresso a adoção do novo sistema de hora universal. Os motivos não foram declarados.
Será porque, adotada agora, embora, não será, ainda assim, adotada à última hora?
Ora, ora!
Cartaz de ontem, à porta de uma redação:
"O sr. senador... não comparecerá hoje ao Senado."
Se começam a noticiar tudo que não vai acontecer, vão ter um noticiário supimpa!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.. 1297, 11 jul. 1911, p. 1.
O sr. Giolitti, presidente do Conselho de Ministros na Itália, apresentou um projeto de lei social: punha exclusivamente nas mãos do Estado os seguros de vida e com os lucros deles ia fazer face a uma série de necessidades sociais. Pois teve de abrir mão do projeto. Por que o acharam mau? Por que o analisaram e o julgaram errado? Nada disso!
Por mera politicagem. A discussão foi meramente política, isto é, aproveitaram a monção e quiseram derrotar o ministério... Parece que definitivamente as assembléias não sabem fazer outra coisa...
Temos, graças a Deus! um Instituto Poliartístico.
Agora, só nos fica faltando... a Arte.
O Correio da Manhã publicou ontem, na seção telegráfica, em letras garrafais:
"Portugal continua em sossego."
Não há de ser por muito tempo, descanse: o Eugênio da Silveira não é homem para se conformar com isso.
A Comissão de Agricultura da Câmara propõe que se dê a garantia de juros de 5 por cento ao ano a quem se propuser a explorar a borracha do Amazonas. Eu sei de uma pessoa que faz isto muito mais barato. Não quer saber de garantia nenhuma: pede só que se lhe dê... um seringal.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1298, 12 jul. 1911, p. 1.
De um jornal da tarde de ontem:
"A história registra diariamente fatos interessantes no que diz respeito às crenças de cada um."
Ahn! ... Palavra que não sabia que a história fizesse semelhante asneira.
O sr. Bittencourt, dono do Amazonas, comunicou ao sr. Ministro da Agricultura que leu perante o Congresso a sua mensagem.
S. Ex. dirigiu essa comunicação ao sr. Ministro da Agricultura - e não ao do Interior -
porque é aquele a quem interesse o aumento da produção de batatas.
O sr. Percival Farqhuar escreveu, ontem, um artigo, no jornal do Comércio. Como este clima é propício ao desabrochar do talento jornalístico! E o que tem graça é que o jornalista Farqhuar tem carradas de razão, quando diz que o que entrava os negócios aqui não são as dificuldades deles, mas a seção do governo que avança logo, cobrando impostos formidáveis. Lavre lá um tento o sr. Farqhuar...
Os jornais andam num formidável steeple-chase- Cada qual quer fornecer maior cópia de informações ao público. Quem bateu o record porém, foi o Jornal do Commercio, que ontem publicou este sensacional telegrama: "Porto Alegre, 11. Faleceu o sr. Fulano de Tal, pai do sr. Cicrano."
O leitor não pode fazer senão repetir comigo:
- Sinto muito de minha parte.
Refere o órgão da campanha contra o jogo que só no dia de anteontem a polícia fechou três casas de tavolagem, onde se bancava o dado e o monte, no centro da cidade, a dois passos da Avenida Central.
Há de ser engano. Há muitos meses que o colega está a proclamar que o jogo está morto e enterrado.
- Consta que o Távora, à guisa de corretivo, vai mandar prender, pôr no estaleiro e vender o Bahia, logo que chegue da Bahia!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1299, 13 jul. 1911, p. 1.
- Que frio - Isto não é nada. Que dirão os senhores Schill & C., que foram gelados em 300 contos pelo bacharel Telmo!
- Bem fez o Rivadávia em acabar com os títulos acadêmicos, Olhem esse bacharel Telmo....
- Mas ele não é bacharel. É doutor de borla e capelo na malandragem. Esse é um título que ninguém lhe tira...
Ou oito, ou oitenta.
Agora, para dar combate à crise da borracha, querem que os Estados eliminem o imposto de exportação, o imposto de importação, o imposto de indústria e profissão, o imposto de transmissão de propriedades, etc., etc.
Depois dessas eliminações todas, dêem uma muleta e uma escarcela ao governo do Para, para que ele possa viver:
- Uma esmola para o Pedro Sem, que já teve e hoje não tem!
- Que diabo! Isto não é terra. Acabou a chuva e veio a ressaca!
- Então, está regulando.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1295, 9 jul. 1911, p. 1.
A propriedade vale mais do que a vida. Prova: os automóveis matam todos os dias gente nesta cidade o ninguém se queixa à polícia.,, os automóveis da "Anglo Brasília Motor" azularam com uns contos de réis de mercadorias e foi um dilúvio de queixas em todas as delegacias, que não lhes digo nada!
De um panegírico do sr. Irineu Machado. . . "é o político que não fez a sua popularidade por meio de estipêndios secretos."
Dá-se um doce a quem descobrir o que isso quer dizer, O País dá, ontem, este conselho ao Congresso e ao governo: -É preciso dar o bom exemplo não se comprometendo em aventuras perigosas, sem, todavia, renunciar à política de expansão e progresso, que vimos realizando há dois quadriênios."
É assim como quem diz ao governo e ao Congresso:
- Olhem, vocês arrumem-se: façam-se a Avenida Central, mas não me gastem um vintém do tesouro!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1295, 9 jul. 1911, p. 1.
O Jornal, edição da tarde, deu, ontem, um furo sensacional: noticiou que, quando o sr.
Saddock de Sã, na festa do Círculo dos Operários da União, fez a chamada dos Galardoados, não apareceu ninguém, porque ali só estava um repórter do jornal.
Ora, veja o colega a edição de ontem da A Imprensa, e faca-nos o favor-. tire o seu cavalinho da chuva!
Os jornalistas ultrajam a língua vergonhosamente. O Jornal protestou porque Coelho Neto escreveu numa moção na Câmara o vocábulo paredro, que é português de lei.
Entretanto, ontem, nos seus "tópicos do dia", ele escreveu: o dr. Fulano "encabulou", que é "gíria" de lei que ainda não tinha tido entrada solene nos domínios da língua escrita. De agora em diante fará companhia ao "homenageado", ao -aniversariante" e tutti quanti. . . "
O Correio da Manhã deu-nos, ontem, uma notícia gravíssima: afirmou que ---océu é civilista". Ora, toda a gente sabe que o sr. arcebispo é hermista! E agora? Como é que se vai deslindar esta... esta... esta encrenca! (Não nos encabule o Jornal por usarmos desta gíria: os maus exemplos pegam).
"O sr. Ministro da Fazenda exigiu o título declaratório de aposentadoria do sr. Hilário. . .
" (Do noticiário dos jornais).
Ora, até que afinal cumpre-se o fado, do Hilário!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1295, 9 jul. 1911, p. 1.
De um escritor judicioso de ontem:
"Muito judicioso e originalmente José Burnichon constata na cidade carioca, como uma redução do Brasil, aliás, produzida por idênticas causas: -uma população escassa, disseminada por vastíssimo território, Haverá o núcleo central, onde as edificações se acham condensadas, em diminuto perímetro, os arrabaldes são constituídos por extensos troncos de viação, habitados, apenas nas margens e proximidades com grandes lapsos de terrenos vagos, aguardando do futuro a afluência de população."
Arrabaldes construídos por extensos troncos de viação, habitados apenas nas margens, etc., com grandes lapsos de terrenos vagos, aguardando população - é objeto.
Isto intitula-se.
"Análise da cidade carioca por estrangeiros-" E é um esplêndido trecho para análise em aulas de linguagem elementar.
O Senado paraguaio concendeu anistia a todos os implicados nas últimas aventuras políticas. Das outras aventuras, o Jara, ao que parece, obtivera já anistia da atrizita brasileira que raptou, conforme os telegramas. E as futuras? Acha o Senado que ainda é pouco e convém estimular aquelas imitações à vista de cinematógrafo sem fim?
Recebi a seguinte carta:
"Sr. Zangão - Tenho notado que você não se interessa bastante pelos negócios públicos- O sr. chefe de polícia por exemplo, está se fatigando, para matar o bicho e você sim, você, positivamente, nada. É o jeito? Você não tem visto que ele tem escrito sobre o jogo?"
Respondo ao pé da letra: jogo? Não, apenas fita.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1303, 17 jul. 1911, p. 1.
Umas das coisas que mais têm impressionado é ver como os jornais sérios invocam a opinião de uma conçonetista de Montmartre para nos corrigir os desvios de educação.
Estou aqui, estou propondo ao sr. Ministro da Agricultura que nomeie uma comissão dos homens mais graves que este país possui, para irem aprender a savoir vivre... nas ceiatas do Rat Mort... Será uma delícia vê-los voltar, não mais abraçando os amigos, mas cantando em coro, como no bar Assyrio;
Ça va...
Ça va...
Celle à Isto é um país sui generis. Está bem assentado que o analfabetismo nos flagela e que os que sabem ler não o fazem. Entretanto morre um homem que nunca fez outra coisa senão vender livros e deixa ... uma fortuna de mais de sete mil contos. Palavra que não percebo!
Um telegrama de Buenos Aires dá-nos esta notícia estupenda; que o presidente da República não tem candidato à presidência da Câmara e que deixa à maioria o direito de escolhê-lo!
Felizmente o mesmo telegrama informa-nos de que a dita maioria, à vista disso, está hesitante, não sabendo, positivamente não sabendo, quem para tanto lhe mereça confiança.
Um bom movimento do Saenz Penã: tire a pobrezinha dessa perplexidade Consta que os ilustres cavalheiros, hermistas decididos que os jornais da oposição declaram desiludidos, vão pedir habeas-corpus para terem a liberdade de se iludirem e desiludirem quando bem quiserem, sem a coação dessa campanha jornalística. . .
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1304, 18 jul. 1911, p. 1.
A Liga Monárquica D. Manuel 11, por decreto de ontem. estabeleceu a boicotagem geral e intransigente de todos os gêneros portugueses, e ordenou que, "se não mandasse sob qualquer pretexto quantia alguma para Portugal, ainda mesmo que sejam as pensões de suas famílias."
Agora é que eu quero ver como é que a República se agüenta! Assim é que eu gosto de vê-los. É ali, no duro; morram à fome as famílias, mas volte a política dos adiantamentos. Raça de Coriolanos!
Não há nada, palavra de honra, que me divirta tanto como a política! O Diário de Notícias, ontem, dizia-nos que a manifestação de que o sr. Seabra foi vítima na Bahia, foi descrita em cinqüenta linhas no seu homônimo naquele Estado. É assim como quem diz:-
- Nunca se viu coisa tão chué.
Linhas abaixo escreve: "A comissão eleita para as festas da chegada do senador Marcelino continua os preparativos." É assim como quem diz:
- Vocês nunca verão coisa tão pomposa! Metemos a coroação de Jorge V num chinelo...
Muito engraçado, palavra!
Trecho do discurso do caixeiro, que perpetrou o retrato a óleo contra o sr. Irineu Machado:
"Ela (a manifestação) é pequena no número dos presentes de corpo, porém, tomando em conta o número dos manifestantes presentes de alma, ela é a maior prova de apreço que até hoje tem sido levada a efeito na nossa Pátria . . . "
Como o espiritismo se tem desenvolvido entre nós!
Este Correio da Manhã, decididamente, não se corrige do hábito inveterado de injuriar os presidentes da República! Ainda ontem refere-se ao sr. marechal Hermes, qualificando-o de... homenageado!
Homem, tenha, ao menos ' estilo! Chame o paredro, que também parece desaforo e é português lídimo!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1305, 19 jul. 1911, p. 1.
A Notícia informou, ontem, que o Rio de Janeiro possui, atualmente, entre folhas da manhã, da tarde e da noite, vinte jornais, vinte diários. Copiamos a nota para passar adiante a informação.
Quem percorrer a estatística do nosso analfabetismo, custará a acreditar que os nossos analfabetos leiam tanto...
O sr. Domício da Gama já entrou no gozo de três meses de licença. A viagem a Washington foi tão longa e, ao mesmo tempo, tão rápida, que S. Ex. devia se sentir fatigado e doente de tantas emoções.
Ontem, um órgão político inseriu artigo de fundo com este título: Moeda falsa.
A seguir, dará outro, debaixo desta epígrafe: INFANTICíDIO.
História de uma candidatura que nasceu morta?!
A correspondência de um colega que apareceu anteontem -di-lo ele próprio - anda já por "quase uma meia-dúzia de cartas." Uma, duas ou três cartas, ao todo?
Cartas na mesa e não se incomode. Pelo mesmo caminho foram muitos que hoje dão as cartas.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1306, 20 juI. 1911, p. 1.
Um dos nossos colegas da tarde, que são também colegas d'A Im-prensa, da tarde, pois que nós trabalhamos por partidas dobradas, como é sabido, censurou, ontem, o hábito de dar o Congresso Nacional licenças por um ano para ir revigorar a saúde em Montmartre. A prevalecer o que pretende o austero confrade, uma pessoa não terá mais a licença de ficar doente, se for empregado público, ou não poderá mais ficar doente com licença, ou ter licença e ficar doente, ao mesmo tempo. É uma grande maçada, porque em certos empregos, se o sujeito nem ao menos fica doente, não sabe realmente o que há de fazer. Além de que Montmartre não é tão feio como se pinta.
Uma autoridade de polícia, muito zelosa, amanheceu ontem na porta de um jornal que começava seu número anterior, com esta epígrafe na 1ª coluna -Moeda falsa- Ia saber onde era o fogo, quer dizer, o crime. Explicado o equívoco, saiu convencida de que às vezes, até a epígrafe é falsa.
O meu correio é sempre pitoresco e imprevisto. Ontem, o seguinte recado: "Sr. Zangão, V. que dá tantos telegramas da atualidade portuguesa, não me saberá dizer quando voltará aquele país a ser reino?"
A quem perguntas! 0 que posso garantir é que se isso sucedesse. . . acabariam as reinações ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1307, 21 jul. 1911, p. 1.
O nosso jovem e ardorosíssimo colega d'A Noite está-se a cansar, fazendo uma grande campanha para obter que se liberte a cidade dos quiosques. Espere um pouco. Olhe, em novembro acaba o prazo do contrato e no dia seguinte a sua campanha está vitoriosa- A
Noite dirá como César: cheguei, vi e venci!
Mas para arrombar uma porta aberta, creia, não vale a pena cansar-se mais. . .
Deus me livre de querer implicar com A Noite; mas a verdade manda Deus que se diga.
O homem da Ordem do Dia da Notícia comentou, anteontem, uma notícia que ela deu e fez-lhe o reclame dando a entender que em matéria de informação é ali que bate o pontoNão digo que não; mas sempre hei de dizer que a tal notícia tinha cabelos brancos: A
Imprensa publicara-a no dia 13 e por sinal que a publicara completa e certa, qualidades que ela perdeu na reedição.
A Tribuna e a Folha do Dia andam empenhadas em altas escavações históricas para demonstrarem que o sr. Rui Barbosa disse o que o Diário de Notícias disse que não disse. Ora, quem sabe o que ele disse é ele mesmo. Se ele disse que não disse, como querem vocês afirmar que ele disse o que não disse? Quem disse? Mas se disse que não disse? Então? Ainda disse?
Acabou-se! Pobre do sr. Rio Branco' Tem jaça! 0 Século afirmou-o: está acabado, quer dizer, está jaçado. Que joça!
"Franz Schaden, quando preso, foi agredido por um companheiro de xadrez. Em legítima defesa, desferiu um golpe de faca contra seu agressor, mas a arma foi atingir a um terceiro, que se interpôs na luta.
O júri, por unanimidade, absolveu o réu."
Até aqui a notícia d'A Noite. A reportagem d'A Imprensa acrescenta que o júri resolveu mais que o golpe, desferido por engano, fosse considerado como não recebido.
Os jornalistas da comitiva presidencial, ora em Vitória, acham-se todos hospedados na Casa Mascote. Depois do belo passeio à Bahia, isentos dos plantões por uma semana, uma hospedagem tão protetora, já é ter muita sorte!
Epígrafe da nossa edição da tarde, ontem: QUEDA DE UM HOMEM. Caso grave, evidentemente; mas muito mais grave seria a queda de uma mulher, que, além do mais, pelo verso célebre, não podia ser insultada. Há gente muito bem-educada por este mundo de Cristo.
À saída do Municipal:
- Que tal a Isabeau?
- .... desabou! ...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1308, 22 jul. 1911, p. 1.
Descompostura do Diário de Notícias ao Marechal: "É- a República que os desterra por um lado e por outro a morte oficial rondando sobre suas cabeças onde a esperança de uma vida melhor assentava o predomínio de um completo Nirvana!"
Coitado do Marechal! Depois disso, francamente, só lhe resta resignar. Ou resignar-se.
- Então, qual é a sua impressão da Isabeau?
- Péssima! Falsificaram a história! Embalde, grelei: não vi nenhuma lady Godiva só vestida com os cabelos- Se eu soubesse desse logro, não caía com os cobres ao cambista.
Isabeau? Nem francês sabe, meu amigo: é Isa... belle! ...
Tanto quiseram Montmartre que ontem se fartaram dele no Palace. Quando Cambrono apareceu às de Vila Diogo alguns aficionados. E podem acreditar que era tempo. . .
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1309, 23 jul. 1911, p. 1.
O Diário de Notícias também deu as Boas-vindas, marecehal! Muita zanga, muita rezinga, já se vê, mas alguns achados de estilo que precisam ser engastados, como o seguinte: "... e o Pão de Açúcar e a Urca, atônitos de espanto e boquiabertos de admiração, confiaram aos delfins e aos tritões, que lhes trouxeram esta notícia, que jamais lhe fora dado assistir, -em toda a sua longa existência, a façanha tão gloriosa."
Havia de ser curiosa a narrativa dessa conversa, mais um diálogo de grandezas do Brasil entre o Diário de Notícias, o Pão de Açúcar e a Urca.
Não há nada como um grande pensador para ver longe. O dr. Gama Rosa, a propósito das Virtudes e defeitos dos povos, já está enxergando os aeroplanos a fazerem diabruras no Brasil. Leiam o trecho:
“As nossas sociedades brasileiras, após a abolição da escravatura, experimentaram evidentes mudanças, desenvolvendo aptidões absolutamente desconhecidas em tempos anteriores.
E, dissipada a segregação de populações disseminadas em gigantesco território, por variadas comunicações que o progresso a cada dia mais amplia, inclusive o recente e promissor invento da aeronáutica - ressurgirão pujantemente todos esses elementos, detidos por obs-táculos insuperáveis."
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n. 1310, 24 jul. 1911, p. 1.
"O Estado deve apertar sua vigilância ainda muito frouxa e desconjuntada sobre a alimentação pública...
A habitação insalubre é outro fator direto ou indireto da tuberculização, a ser mais detidamente considerado entre nós...
Foi pelo combate encarniçado e constante a estas três grandes causas predisponentes da moléstia, que o governo inglês, auxiliado por particulares, já conseguiu o evidente recito que, na Grã-Bretanha, está fazendo a tuberculose."
Sabem os senhores quem escreveu estes períodos? Dou-lhes uma, dou-lhes duas...
Pois creio que foi o Jornal do Commercio, o próprio, o mesmíssimo Jornal do Commercio, edição da tarde, que outro dia sustentava, contra nós, as teorias opostas. Não há nada como um dia depois do outro ...
O Diário de Notícias afirma que os "fósforos de duas cabeças são os do povo".
Compreende-se: é uma alusão aos fósforos do Bittencourt da Silva, que votavam em duas seções.
Não há nada como a oposição!
O Diário de Notícias publicou, ontem, uma entrevista com um soi-di-sant oficial da marinha, sobre a viagem do marechal. O Oficial disse que só houve dissabores.
— Sim, hein! esfrega as mãos o Diário.
Conte-me isso.
— "Pois não. Logo de saída tivemos que enfrentar um mar terrível. O vento era extraordinário... "
Por força! Se o presidente fosse o sr. Rui é que vocês veriam, o que era um mar de rosas e um vento brando... Mas, com um presidente militar, que diabos queriam vocês que fizessem o mar e o vento?
Damos os parabéns à reportagem do Correio da Manhã, mas protestamos contra a concorrência desleal.
Ontem, deu ele notícia minuciosa da chegada do corpo do general Marciano de Magalhães, deu nomes das pessoas que lhe velaram o cadáver, etc., etc., — coisas que hão de suceder amanhã se entrar hoje, de Santos, o rebocador que o conduz.
É muito bonito como imprensa moderna: mas, se os furos começam a ser assim vocês vão ver se alguém me leva as lampas! Não, que imaginação tenho eu!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1311, 25 jul. 1911, p. 1.
O Diário de Notícias informa-nos de que "não há em Portugal ninguém que acredite possível a estabilidade republicana e muito menos os governantes..."
Enfonoé, o Alberto Estanislau! O Diário atirou a barra adiante de todos! Sim, senhor! Se agora a Liga Monárquica D. Manuel II não lhe alugar quatro páginas por dia, é que dos ingratos está o mundo cheio...
Quanto mais se vive, mais se aprende.
Gil Vidal ensinou-nos ontem que "se o parlamento erra na plenínitude do seu poder, ao menos é o único (poder) que tem o direito de errar."
De agora por diante, se o presidente não entender do mesmo modo e vetar alguma resolução do Congresso, já se sabe: é requerer hábeas-corpus para garantia do direito parlamentar ao erro...
— A Noite quer a todo pano que a viagem do presidente à Bahia fosse paga pelo Tesouro.
— Está regulando. Pois você não vê logo que para A Noite não há viagens que não sejam mais ou menos custeadas pelo Tesouro?
Espírito alheio. (Do Excelsior).
Banqueiros nas praias.
O Filho — Sabes, papai? A maré baixa...
O Pai (muito distraído) — Pois compre, compre...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1312, 26 jul. 1911, p. 1.
A conhecida esquina do Watson, entre Avenida e Ouvídor, gozava justa fama como foco de politiquice. Dali tem partido (sem calembour) muita mudança, muita trapalhada no governo dos povos daqui e dos Estados, pois ali se encontram e conferenciam pais da pátria e candidatos a pais da pátria, das mais variadas origens. Ontem estreou no crime sensacional. Um cidadão, vindo de Mato Grosso, foi atirado por outro cavalheiro, que foi oficial de gabinete de um dos governadores daquele Estado.
A calçada do Watson, quando ainda na rua do Ouvidor, mais adiante, já produzira urna espécie de crise governamental, com a saída do chefe de polícia, em tempos que lá vão.
Querem ver que é ali que fica o tal abismo, de que tanto se fala nos discursos parlamentares, para o qual o país caminha e que ninguém soube nunca onde se encontra?
Uma folha descreve o mesmo caso, com este título: "Um crime no coração da cidade!"
Não creias. A cidade não tem coração, e se o tivesse, era todo amor, todo dengues, não dava para crimes. Não caluniem a boa velhota remoçada.
Aborrecidos com os nossos furos sobre a peste bubônica, alguns colegas estão muito interessados em sustentar que não há nada e vai tudo bem, muito obrigado. É o caso do saloio.
— Com que, então, tudo em paz? Todos de casa iam passando bem?
— Perfeitamente. Apenas a casa ardeu toda há dias, com um incêndio.
— Que me diz?
— Ah! Esquecia-me. E, além do incêndio, morreu a sra. sua mãe. Mas, tirando tudo, vai tudo muito bem.
— Então a minha mãe morreu no incêndio?
— Não senhor. Morreu do coração, quando soube que o senhor seu irmão tinha sido assassinado no mesmo dia do incêndio. Fora isso, vai tudo muito bem.
É tal qual: a peste bubônica não era bubônica, mas já lá se foram três pestosos.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1313, 27 jul. 1911. p. 1.
O Correio da Manhã publicou um telegrama de Lisboa informando que o Ministro da Guerra proibiu que os soldados cantassem a Portuguesa.
— Histórias! comentou o Estanislau. Isto é mais uma opressão republicana. Cantar a Portuguesa! Não faltava mais nada! O que os soldados sempre cantaram e hão de cantar é o Hino da Carta!
Prevenção à polícia.
Corre perigo a vida do dr. João Batista de Lacerda, que escreveu que a grande maioria dos brasileiros é de mulatos. Uma tão grande calúnia não pode ficar impune. Quando ele chegar, os brancóides desta terra lincham-no e os netos dos negros comem-lhes os fígados. Provarão assim que são loiros e têm os olhos azuis...
De Gil Vidal:
"Fatalmente, a missão estrangeira para a armada tem que vir. Pois que venha de uma vez."
É assim como quem tem que tomar óleo de rícino: fecha os olhos e engole logo.
Como se sabe, até hoje, no que toca ao assassinato da Sara da rua do Espírito Santo, a polícia só fez duas proezas: prendeu o repórter d'A Imprensa e arrecadou um chapéu.
Está provado que o repórter redigiu o assassinato, mas não o perpetrou. Resta o chapéu.
A polícia vai ver se há alguma cabeça em que ele caiba e essa será forçosamente a do assassino. Nem Salornão era capaz de um achado deste!
Em prol dos animais pronunciava-se um cavalheiro em certa folha da tarde:
"Embora espíritos esclarecidos como Flamarion afirmem ser o homem carnívoro, já pela conformação do estômago, já pela disposição e forma dos dentes, o certo é que o espírito, soberano como é pode perfeitamente remodelar a matéria, ajeitando-a às condições mais convenientes ao seu progresso. Aquele que se dispuser a abolir do seu alimento essa tão repugnante iguaria — a carne — conseguilo-a sem abalo na sua saúde física, desde que esteja suficientemente compenetrado da imortalidade da alma, de seu destino e haja alcançado a compreensão de que a elevação humana não se faz de um modo isolado, visto como cada ser é parte integrante do grande Todo e que não pode uma parte, por mínima que seja, sofrer prejuízo sem ser prejudicado esse mesmo Todo."
Todos que comem carne atentam contra a imortalidade da alma. Atentam também contra o grande Todo.
E esta, padre?
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1314, 28 jul- 1911, p.1.
Em Buenos Aires, "está encontrando grande resistência a nova regulamentação do descanso semanal obrigatório". É o que diz um telegrama.
Estamos a ver daqui a cena: o governo a querer impor o descanso obrigatório e o pessoal indignado, a torcer o corpo.
— Vadiarmos, nós? Nem por um decreto!
E antigamente se dizia que quem desdenha quer comprar!
E mal acabo de ler esse telegrama encantador, abro, ao acaso, a literatura de um jornal da roça:
"Domingo. Não saio de casa: quero gozar no recolhimento as doze horas deste dia, consagrado a um reconfortante descanso das mil e uma labutas da semana. Tenho muito que ler e é pouco o tempo que em outros dias me sobra."
Ninguém está contente com a sua sorte. Este, conta as labutas por mil e uma e as horas de repouso por doze. Desde que pensou em não fazer nada, até o dia se lhe reduziu à mais estrita medida. Não seria dele que qualquer regulamentação do descanso semanal, nova velha, provocaria resistência, desde que fosse obrigatória.
É talvez que os telegramas ontem andavam de azar- Daqui passaram para uma folha de São Paulo:
"A polícia contínua a pesquisar, embora debalde, quern. seja o assassino da meteriz Sara."
Qual debalde, qual de jarro! A polícia abriu rigoroso inquérito. Não há pilhérias, não há deduções, não há desaforos que a atinjam. Se ela abriu rigorosíssimo inquérito, se logo no momento do crime, ela prendeu o crirninoso, que querem mais que ela faça com criminosos tão inconscientes que não respeitam as autoridades constituídas e fogem das suas mãos?
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1315, 29 jul. 1911, p. 1.
Notícia sensacional:
O Diário das ditas acaba de contratar para chefe de sua reportagem o sr. barão de Munckausen. O infatigável mentiroso estreou, ontem, na primeira página, com este título sensacional: "Excursão Presidencial, o furo dos furos, e a ancoragem em Abrolhos", etc. e tal.
Está roubando o Diário. Como imaginação o seu Munckausen não vale dois caracóis.
O Correio da Manhã escreveu ontem:
"Está contratada a construção de mais dois vasos de guerra para a nossa esquadra. A
Noite afirma que esse contrato foi feito..."
O sr. Ministro da Marinha também fez uma afirmativa sobre o assunto: não está contratada a construção de navio algum. No mais, a grande informação d'A Noite é perfeita, e o comentário do Correio maravilhoso.
A nossa inefável polícia:
Há um conflito. Dão-se tiros de revólver- Chegam os repórteres.
— Que houve aqui?
— Nada. Uns tirozinhos à-toa...
— Mas vocês prenderam?
— Sim, decerto. Prendemos este revólver.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1316, 30 jul. 1911, p. 1.
Alguns cidadãos do Estado do Rio pediram ao Supremo Tribunal "habeas-corpus", para serem considerados deputados. Mas, quem os impede de se considerarem deputados?
Cada indivíduo tem direito às suas manias e devemos nos dar por felizes que tenham limitado as suas ambições.
Tal como a nova classe dos pedreiros de Campinas. O seu ofício é fazer paredes.
Há dias porém, desavieram-se com os patrões e resolveram não trabalhar. Vão daí e fazem parede.
Se os pedreiros têm um grão de filosofia haviam de pensar consigo: Plus ça chang e plus c'ste la même chose.
O sr. Amaro Cavalcanti asseverou ao Supremo Tribunal que "foi ministro da Justiça e fazia assim: lia a Constituição ao Presidente da República".
Deve ser por isso que o sr. Prudente de Morais fez todas as brilhantinas conhecidas.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1317, 31 jul. 1911, p. 1.
Gil Vidal escreveu, ontem, verdades tão absolutas, tão perfeitas, que nos fazemos um dever transcrever — sem comentários:
"Como vastíssimo país que é, o Brasil tem extensas fronteiras terrestres e marítimas. A
proteção de umas e outras exige, portanto, exército e marinha fortes, capazes de acudir a qualquer ponto atacado do nosso enorme território."
Na coluna ao lado, outro doutrinador pondera:
"Dirão que o meio é acanhado e insuficiente e que as boas letras não chegaram ainda por cá. E enquanto não tratarmos de ter boas letras, mandamos vir da França, em brochuras de dois francos e cinqüenta, sensaborias onde sistematicamente aparecem adultérios e maridos complacentes...
Ó homem, leia, ao menos, a capa dos volumes, que declara o preço de três francos e cinqüenta.
Notícia de um diário das ditas, de ontem:
"Corre como certo que será posto em disponibilidade, num destes dias, o dr. Oliveira Lima, nosso ministro plenipotenciário em Bruxelas.
O motivo dessa disponibilidade é a carta escrita por esse nosso diplomata em defesa do dr. Gabriel de Piza."
Há nestas linhas, malvelada censura. E, de fato, sobra razão ao noticiarista. Quem devia ser posto em disponibilidade, por ter recebido as reprimendas dos sr. de Lima e de Piza, é, naturalmente, o barão do Rio Branco.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1318, 1 ago. 1911, p. 1.
O patrão saiu-se ontem, dos seus cuidados e mandou-me passear, pouco satisfeito com o serviço que eu, com os olhos postos na síntese histórica e no sr. Teixeira Mendes, há mais de três meses lhe venho prestando. Eu, também, não estive com uma, nem duas.
Peguei da pena e chimpei-lhe esse telegrama, de que mandei cópia ao Diário de Notícias:
"Patrão — A Imprensa — O senhor sempre me saiu um canalha de marca maior! Não conhece a doutrina positivista, é um rabiscador de meia-tigela, venalíssimo, amoral, ordinário, peste, pulha e tem o desaforo de mandar-me bugiar, a mim que sou a integridade, a inteligência, a formosura, a moral, a física, a história, a estética em pessoa!
Demita-se, já; senão tomo o bonde e vou meter-lhe o pau!"
A esta hora, o patrão está que não há água-de-flor que lhe baste. Aprenda! Não faltava mais nada, senão que numa República que eu ajudei a fundar, os chefes pudessem, impunimente dispensar os serviços dos subalternos...
— Abaixo a Turquia!
* Espécie de Abdul Hamid!
* Catar ina da Rússia!
* Tzar moscovita!
Que é isso? A quem é que estás insultando deste modo?
— Insultando?! Este país está perdido! Insultador, eu? Eu sou um pobre pregador aos peixinhos. Eu sou um homem franco, que diz blandiciosamente a verdade. E chamam-me insultador! Este país está perdido!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1319, 2 ago. 1911, p. 1.
Soube-se ontem, pelo telégrafo, que se acha em Vidago o sr. Camilo Castelo Branco, que, há pouco, esteve preso como conspirador contra a República Portuguesa.
Pobre Camilo! Vai ter agora de escrever, de além túmulo; outra série de Memórias do Cárcere.
Algumas senhoras resolveram criar uma linha de tiro. É evidente que os canhões não serão admitidos para os exercícios.
O dr. Carlos de Laet escreveu no último Microcosmo:
"Tem muita graça o que a respeito do Pregel, pequeno rio prussiano, se oferece no livrinho do dr. Maisonuette.
"Este rio (diz s. s. em uma nota erudita à pag. 30) é o conduto de uma boa parte das águas da região lacustre do oriente prussiano e origina-se da junção do Angerapp, do Inster e de um outro cujo nome não devo escrever...
Tais reticências e a inibição em que se achou o sr. professor para escrever o terrível nome hão de fazer com que mais de um estudante maligno vá pressuroso aos bons livros de geografia para saber de que se trata. Uma vez que o escrupuloso autor da Tese malsinou como indecoroso o nome do pobre rio, não me posso também resolver a escrevê-lo; mas sempre direi que isso é levar muito longe, não direi a pudicícia, mas a pundibundice."
É a primeira voz que se levanta em defesa do nosso ex-ministro em Paris.
A Noite diz que o sr. Piza foi posto em disponibilidade porque não ofereceu ao Marechal Hermes o seu automóvel quando S. Ex.ª chegou a Paris. Precisamos de restabelecer a verdade histórica. O sr. Piza não foi à gare em nenhum automóvel: foi num fiacre de praça. Carreira: 1 franco e 25.
Nada! que em economia nunca ninguém o venceu!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1320, 3 ago. 1911, p. 1.
A República de Cunany é um assombro que está a embasbacar os jornalistas de Londres; pelas narrativas do intrépido presidente Bre-zet, o qual junta à qualidade de chefe dessa nação o emprego muito mais prático de... prático de farmácia na capital inglesa. É isso: o mérito é muitas vezes desconhecido e o talento — o talento de engazupar a humanidade — não chega a ser bem apreciado senão depois da morte do herói. Na entrevista disse Brezet:
"Quanto à constituição do Cunany, é muito democrática: os seus presidentes são eleitos por dez anos."
Como o prazo, não se conta senão da tomada de posse, o decênio pode ser, de fato, a expressão de uma tremenda democracia, tão liberal que nem tenha existência objetiva.
O que está mais interessando o público no escândalo diplomático, é saber se foi o sr.
de Piza quem pagou o preço de todas aquelas arengas do telégrafo. Olhem que aquilo pode andar por algumas centenas de mil-réis. Teria tido essa coragem o sr. de Piza? A
postos, reportagem, descubramos esse mistério.
ZANGÃO
Imprensa, Rio de Janeiro, n n.º 1321, 4 ago. 1911, p. 1.
O sr. Leão Balseiro, numa carta que A Imprensa hoje publica estranha que nós estranhemos que um homem pobre como ele queira fundar uma "créche" para receber crianças. Ora, sou um seu criado! Se o sr. Balseiro fosse milionário e nós estranhássemos que ele quisesse assim distribuir o seu dinheiro, é que seria estranhável a nossa estranheza. Mas assim? Estranhamos muito bem; que criança pobre não é material para balsas...
O Diário de Notícias chamou ontem o dr. Rui Barbosa — chefe do civilismo.
Mas... onde estão os soldados?
Gil Vidal ensinou-nos ontem, a propósito do projeto João Luiz, mandando pôr em execução o projeto do Código Civil com as emendas da Câmara, que quando o Senado aprova as emendas da outra casa não legisla. Quanto mais se vive, mais se aprende.
Agora, não há mais dúvida alguma: a Liga Monárquica D. Manuel restitui-lhe o trono de seus avós! Com o apoio do Diário de Notícias, civilista e monarquista em Portugal, quem duvidar disso é porque não quer ver. Até não sei como a rainha d. Maria Pia não ressuscitou...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1322, 5 ago. 1911, p. 1.
A coisa marcha... O sr. deputado José Carlos pensa que devem ser trasladados para aqui não só os restos mortais dos ex-imperadores, mas também o de D. Pedro I que foi o fundador da nossa nacionalidade. Apoiado! O que não vejo é por que devamos parar aí.
Sou de opinião que se devem trasladar também os de D. João VI, que o sr. Oliveira Lima já descobriu que fez o Brasil e daí para trás até os de D. Manuel, o Venturoso, que nos descobriu. Peço ao sr. Bernardino Machado que não impeça essa emigração de reis defuntos. Estamos tão precisados de reis que, mesmo mortos, servem...
A Noite insinua a possibilidade de serem apócrifos os telegramas do sr. de Piza. Eu nunca tive dúvidas sobre isso. Quando vi que ele engolia em silêncio o chicote telegráfico do sr. Teffé, concluí logo como A Noite: são apócrifos os telegramas atribuídos ao sr.
Piza. Está claro que se não fossem ele responderia logo:
"Teffé — Palácio Catete — Recebi a chicotada. Considere-se com uma bala na cabeça."
Um jornal de ontem, referindo-se à Câmara, escreveu esta barbaridade: "Estamos em agosto e nada se tem feito." Como nada se tem feito? Então querem mais? Realmente não há nada que os contente!
D'O País de ontem:
"O périplo presidencial."
Decididamente os paredros deram para falar difícil...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro. n.° 1323, 6 ago. 1911, p. 1.
O inspetor dos índios em Goiás mandou dizer à Diretoria do serviço de Proteção que houve incursões de índios Catetés em Triunfo, povoado de caucheiros, 50 léguas aquém do rio Fresco e que os caucheiros tinham ido buscar armas a Conceição do Araguay, para rechaçá-los. E termina ponderando que "não lhe sendo possível agora atender à situação dos infelizes Catetés, talvez já trucidados pelos caucheiros no seu regresso a Triunfo, o comunica, pedindo providências por intermédio da inspetoria do Pará."
"Infelizes Catetés", não é mal achada. Eles invadem as terras alheias, expelem os moradores e, quando estes procuram se defender...
Não lhes parece que estamos ficando sentimentais em excesso? Ai, rimas, a quanto obrigas, que fazes serem brancas as formigas!
Por falar em poesia. Um vate apresentou a sua candidatura à Academia Paulista de Letras. Concorria com outro bardo. Censuraram-no, porém, por ser apenas versificador, e que faz ele, para sustentar a sua candidatura? Em quinze dias, colige um livro de prosa e oferece aos malévolos críticos. O outro ficou atarantado. Como havia de demonstrar que também caminhava tanto em terra como no céu (o céu da poesia)? Reuniu em volume os juízos dos jornais sobre as suas obras poéticas e mandou-o ao cenáculo. Foi derrotado, evidentemente, mas, não há dúvida de que deu uma amostra da melhor graça acadêmica.
Foi bastante prosa, como era preciso, embora não escrevesse uma linha.
— Mas, como será que o Piza virá mover essa guerra de morte ao barão?
* Fundando um jornal oposicionista, daqueles rubros como o outro que está indignado porque o barão não fez eleger o presidente da República que ele queria. Achas pouco?
* Qual! Por esse modelo, ele, quando muito, destroçará a língua portuguesa.
Queixam-se os norte-americanos de que as demoiselles, que concorrem com os homens nos empregos, pensam mais no casamento que no trabalho. Não é tanto assim:
um olho na missa, outro no padre. E, se fosse refazer o Amor por anexins, eu acrescentaria: "Um pão por um olho (porque, realmente, são desculpas de mau pagador).
Houve, ontem, uma greve no pessoal da Praia do Peixe. Todos aqueles maganões querem, a viva força, entrar para a diplomacia.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1324, 7 ago. 1911. p. 1.
Estamos perdendo o respeito das coisas mais respeitáveis. E por isso, a Colmeia de hoje vai em tom de artigo de fundo, defendendo as autoridades constituídas. E sabeis por que, cidadãos? Por causa de alguns grandes desaforos que fizeram à nossa polícia. O
mais antigo foi o do tipo que se fardou de guarda civil e andou por aí além a praticar chantagens contra a humanidade. Depois, e só no dia de ontem, desabaram de sopetão diversas chacotas contra a veneranda instituição. Um sujeito veste-se de praça de polícia e aparece a rondar a rua de Santa Alexandrina. Mas, como ia mais para lá do que para cá, tem-te não caias, desconfiaram do mantenedor da ordem, e levado à delegacia do distrito apurou-se que era um ébrio muito conhecido na zona. O outro armou um conto-dovigário na Avenida Gomes Freire e deu rendez-vous na 2.ª delegacia auxiliar. Um dos mais cruéis, porém, foi o nosso colega da tarde que estampou comprida notícia de conferência entre o sr. dr. chefe e cavalheiros de alta importância política, dando a entender que tinham estado á se ocupar da decantada reforma policial. Mas, na página em que reúne os fatos de última hora, garante peremptoriamente que reforma policial é coisa de que, presentemente, ninguém se ocupa. A audácia do desrespeito chegou a este diálogo, que a nossa reportagem surpreendeu:
* Sabes que os postos policiais vão ser privados do xadrez?
* Homessa. Do xadrez? Por quê?
— Porque a polícia não admite jogo e não pode dar o exemplo de manter o xadrez.
Isto é um grande país!
O Supremo Tribunal elege assembléias políticas e o Conselho Superior de Ensino faz as leis que melhor lhe sabem. Tão bom como tão bom. Falta só que a meninada suba às cátedras e mande passar o professorado a bolos.
Já chegou por aqui a dérapage e, o que é mais, até para os auto-taxis. Vogamos em plena civilização. Já é um consolo que um homem possa morrer civilizadamente.
Pelo telefone. O chefe a um dos delegados:
* E não se esqueça de mandar, com urgência, uns dados para o meu relatório...
* Dados? Por quem me toma V. Ex.ª?
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1325, 8 ago. 1911, p. 1.
Na Bahia estão se dando coisas do arco da Velha. Da velha e também da mulata velha.
O pessoal civilista escolhe um candidato e comunica-o ao chefe por excelência. Todo mundo esperava que o sr. Rui Barbosa respondesse:
— "Agradeço a comunicação e desejo muitas felicidades ao amigo," não é verdade?
Pois a Águia de Haia desferiu esta bicada: "Ciente. Espero que o vosso candidato tenha juízo." Ficaram todos de cara à banda.
Mas, como meio de evitar, de modo certo, a vitória do sr. Seabra, só lhes acudiu declará-lo incompatível. Ora, uma de duas: ou essa inelegibilidade está na Constituição, e não era preciso o adendo de última hora; ou não está, e as leis pessoais são nulas, incontestavelmente. Mas apresentar a lei era pouco; o principal é fazê-la passar. E como o número de membros da maioria é escasso, aprovam-na, ditatorialmente, por decreto da mesa, à viva força. Assim procedem os adversários do militarismo, os advogados civis das liberdades civilíssimas.
Pelo que leio nas folhas, o João Cândido está respondendo a dois conselhos. Se desta vez ele não criar tanto juízo que satisfaça ao mais exigente chefe civilista, é de propósito, por teimosia, para ter o direito de sustentar que água fria e conselho só se dão a quem pede.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n º 1326, 9 ago. 1911, p. 1.
A edição da tarde, d'A Imprensa, contou-nos, ontem, que Santo Antônio, tenentecoronel do exército brasileiro, desde 1816, reclamara, por intermédio da delegacia fiscal no Estado da Bahia, o seu soldo, que não lhe é pago desde 1908. Realmente! Pelo tempo, Santo Antônio já devia ser, pelo menos, general, e o fato de o não ser, atesta as suas virtudes, aliás indiscutíveis, pois ser-lhe-ia fácil fazer em seu próprio interesse o que faz todos os dias pelas moças solteiras, que lhe dão um vintém, um único. Agora, porém, não há remédio. É preciso reformá-lo, compulsoriamente, do que se consolará porque, tendo mais de 35 anos de serviços, aposenta-se em excelentes condições, Viva Santo Antônio!
Talvez em homenagem ao aniversário da coroação de Pio X, o assunto religioso impõe-se. Onze romeiros que tinham ido ao Bom Jesus de Pirapora, não acharam onde acolher-se, porque os hotéis estavam cheios, e, dormindo ao relento, sob um frio siberiano, passaram desta para o que se costuma chamar de melhor, mas a que ninguém aspira. Foi pena. Porque, se não tivessem morrido, a vida lhes decorria entre mil venturas sob o patrocínio do milagroso Bom Jesus do Pirapora.
E, a propósito, comenta o Jornal do Commercio, altíloquo, e sublimado:
"Com esses romeiros fina-se também a generalizada presunção de que "no Brasil não se morre de frio". Talvez seja enterrada na mesma sepultura em que foi inumada a sua enganadora irmã: "— no Brasil não se morre de fome."
Quem dissesse isto, há um mês, ao mesmo Jornal do Commercio, da carde, seria xingado de socialista.
"Os partidos, como os exércitos, não se honram só com os triunfos." Bravos! Venha de lá o exemplo desse exército que se: honrou da derrota!
Esta é do Comércio de São Paulo:
"Por motivos de força maior, não será festejado este ano o dia de S. Bartolomeu (24 de agosto)..."
Que teria acontecido a S. Bartolomeu?
ZANGÃO
.4 Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1327, 10 ago. 1911, p. 1.
O comissário de polícia de um distrito qualquer concedeu a um solicitador que levasse um preso para dar um pequeno passeio até a venda próxima. Era uma coisa à-toa. E, todavia, já era um crime terrível: iam matar o bicho! Ou por outra, era um trabalho de hercúlea benemerência. (A gente com a polícia do dr. Távora nunca sabe a quantas anda, apesar de querer ela ser oposta a tudo que é vacilante, aleatório, em uma palavra —
semelhante ao jogo). Fosse como fosse, o preso saiu com licença do comissário e também não esteve com cerimônias. Uma vez que era com consentimento da autoridade, seria tolice voltar, pelos próprios pés (salvo seja) para a cadeia. Pois bem. Sabem qual foi o remédio que acharam para esta facilidade ou que pior nome tenha? Proibiram a entrada do solicitador na delegacia. Papagaio come milho, periquito leva a fama. O comissário consente; o solicitador responde. E dê-se por feliz que a zona estivesse sossegada, naquele dia, que, se o caso sucedesse algum tempo antes, eram capazes de considerá-lo o assassino de Sara:
Aliás, o assassinato de Sara parece averiguado que é uma blague. O relatório, que não pode demorar muito, estabelecerá, de modo irrefutável, que nunca houve, nem podia haver, nem ninguém se atreveria a fazer com que houvesse um assassinato; de mais a mais, de Sara, de mais a mais indo o assassino, por assim dizer, entregar-se à polícia, de mais a mais soltando-o, esta, para depois se dar ao fatigante trabalho de não o encontrar mais.
Deixemo-nos de coisas tristes. Hoje anda a roda. Elege-se a Academia d'A Imprensa.
Há candidatos, chi! mais que as areias do céu e as estrelas do mar, oh diabo! que as areias do mar e as estrelas do céu!
Quando eu me resolver a ter uma outra idéia, criarei outra academia nos mesmos moldes, com vinte milhões de lugares. Farei uma propaganda terrível pelo Universo e aposto que não haverá quem não seja candidato.
A humanidade gosta que se péla de tudo que empresta um aspecto de grandeza. Nós todos nascemos "para crescer, criar, subir". E, além disso, o vate já percebera que "o Novo Mundo nos músculos sente a seiva do porvir".
Parabéns e felicidades.
# O Piza pisa?
# O Piza não pisa?
É o jogo do dia. As apostas fervem. Como não se pode, teoricamente, jogar nenhum dos jogos conhecidos, os jogadores, que, desgraçadamente, jogam e hão de jogar, inventaram estes e outros estratagemas.
Aposta-se muito dinheiro, para saber se o sr. Piza pisara, ou não, terras brasileiras.
Oferecemos o caso a algum colega, que queira abrir um plebiscito.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1328, 11 ago. 1911, p. 1.
Em Belém há um jornal chamado A Noite. Em subtítulo lê-se órgão diário vespertino e independente. Se em vez de "diário", tivesse dito "matutino", estava para todos os paladares, e muito na cor local da terra de onde nos vem a borracha.
O sr. Oliveira de Lima não é apenas um grande diplomata: é também um longo escritor.
E, então, já se sabe, escreve coisas, coisas que nunca mais se acabam. Não é por mal. É que não pode conter a eloqüência. Ontem, no Estado de São Paulo, veio com esta:
"O Ministério das Relações Exteriores teria muito melhor empregado umas migalhas de sua dotação num serviço benéfico como o que ideou e realizou o sr. Schuler, do que em lucubrações de outra espécie."
O leitor dessa seção, o único (que, aqui entre nós, sou eu mesmo) achará que, desta vez, o homem foi sucinto. Puro engano. Nessas cinco linhas está todo um programa.
Façam do sr. Oliveira Lima o ministro das relações exteriores e verão o que é diplomacia moderna.
A Câmara dos Comuns acaba de dar um grande passo para a democratização da Inglaterra: acabou com a função gratuita de deputado e votou para cada um o subsídio anual de 400 libras!
Ora, sempre quero ver quem é que agora ousa dizer que os 75 dos nossos são excessivos! Nada de cerimônias mais: venha de lá esse argumentozinho para a infeliz e desprotegida classe dos membros do Congresso...
"Seria similia similibus o que sucedeu com o sr. Cândido Rodrígues" —escreveu, ontem, o Correio da Manhã.
Ah! a traição do latinório... O que o homem queria dizer era o contrário "seria mutatis mutandis, etc."
Enfim, como o latim afronta até l'honneteté...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1329, 12 ago. 1911, p. 1.
Reclamo energicamente contra quem quer que esteja escondendo a Sociedade dos Homens de Letras. Que se dirá de nós, na Europa, quando souberem que esteve para ser constituída aqui uma Sociedade de Homens de Letras e não houve disso?
Homens de Letras não faltam, graças a Deus. Podemos até fazer, não uma, mas várias sociedades de Homens de Letras. De maneira que não compreendo, o que não obsta que eu também seja candidato a entrar em todas elas.
"Em Limoges, efetua-se todos os anos, a 23, 24 e25 de junho, uma feira deveras curiosa: o mercado do cabelo. Todos os comerciantes de cabeleiras e os representantes de cabeleireiros da França e até do estrangeiro ali afluem."
E quando aparecem as mais raras madeixas, que são as brancas e as loiras, muitos desses comerciantes perdem a cabeça admirando-as pelos preços que podem dar. Os outros, que foram vencidos, ficam pelos cabelos, — principalmente porque deixaram escapar a ocasião, que, como é sabido, tem um único fio de cabelo.
Em um dos nossos cinemas representa-se agora uma fita intitulada A queda da mulher (O abismo).
Com quem é a indireta? É a queda que é o abismo ou a mulher?
Em nome da cortesia, impreterível uma explicação.
O sr. Gama Rosa termina assim um artigo da Folha do Dia:
"As nossas precárias, aleatórias e flutuantes exportações se opulentariam com um elemento, sempre valioso e indispensável, ao consumo mundial."
Esse negócio das nossas "precárias, aleatórias e flutuantes exportações" deve ser desaforo grande, se não for coisa pior. Oh! homem! por quem é! não se deite a perder. O
case não vale essas aforismações.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1330, 13 ago. 1911, p. 1.
O primeiro artigo do Diário de Notícias, ontem, trouxe estes títulos e sub-títulos: Monte Carlo; a lepra do vivo, o jogo e o roubo; Revelações gravíssimas; aviso aos viajantes, trente-e-quarante. Não se trata de uma oposição muito fina e delicada ao sr. chefe de polícia: é um estudo estranho à nossa situação interna e visando apenas à moral e aos bons costumes. Leitura de domingo para uma sociedade que precisa ser edificada.
Por falar nisso, ontem, pela madrugada, havia polícia em Copacabana que era um horror! Bem averiguadas as coisas, não se procedia a nenhuma diligência sobre o jogo.
Pela primeira vez mobilizava-se a polícia por causa do boato de um ato capitulado de crime e que não chegou a ser praticado. Aliás, o duelo é um jogo, e por isso merecia toda a solicitude da autoridade.
Título de uma notícia de ontem: Caiu a Bastilha e o delegado fica. É exato. O delegado ficou, não só depois de ter caído a Bastilha, mas, e antes disso, depois de ter havido o dilúvio, e sido criado o mundo em seis dias, além de Fatos Menores.
Zangão A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1331. 14 age. 1911, p. 1.
Vão ser destacados agentes de polícia para fazerem a fiscalização dos estabelecimentos bancários, evitando que o dinheiro recebido pelos fregueses se evole, sem ser pressentido o meio. É o que consta de uma ordem de quem pode. Mas, como?
Onde vão encontrar os agentes necessários? Há por aí tanta casa de jogo que ainda não está ocupada policialmente! E o pessoal é tão escasso para prevenir este crime nefando, que, realmente, os ladrões podem ficar tranqüilos. Dali não lhes virão dissabores.
O Ritz, nome de reputação mundial, fundou dois hotéis em Londres, o Savoy e o Carlton, que acaba de ser incendiado. A propósito desse fato, e resumindo-lhe o biografia, refere um colega vespertino:
"O próprio Ritz, não contente com as palmas que ganhou em Londres, foi a Paris estabelecer o hotel que traz o seu nome, na place Vendôme, e que neste momento está sendo aumentado. Infelizmente, devido ao seu incessante labor mental, o pobre do Ritz está ecluso a um hospital particular."
Naturalmente, se fosse escritor, o infeliz Ritz acabaria com uma tremenda dispepsia.
"BUENOS AIRES, 14 — A Nación continua a tratar do descanso dominical, condenando-o pelos prejuízos que, no seu entender, vem causar à sociedade em geral.
Acha essa lei simplesmente execrável, observando que ela toma um caráter de regime autoritário e intolerante. E, para provar que essas medidas odiosas são sempre contraproducentes, aponta o fato de, no hipódromo de Palermo, ter ontem a venda de poules subido à enorme importância de 1.873 contos de réis. Assim, a lei do descanso dominical surte esse efeito de fomentar o jogo..."
Isto não é um telegrama. É uma colmeia escrita pelo telégrafo. O jornalismo carioca está ficando tão adiantado que já recebe colaboração alegre pelos tic-tacs do alfabeto Morse...
ZANGÃO
A Imprensa Rio de Janeiro, n.° 1332, 15 age. 1911, p. 1.
O Equador está dando que falar. O ex-presidente general Eloi Alfaro, fizera eleger seu sucessor o sr. Emílio Estrada. Quando, porém, ia este a tomar posse do cargo, o sr. Luiz Dillon vai ao grande eleitor e faz-lhe ver a precipitação com que agiu: Se ele, Dillon, fosse o eleito, havia para ser colocado um empréstimo de 200 milhões de pesos, papel. O argumento era irresistível e de peso —
de muitos pesos. Alfaro arrepende-se, mas tarde. Apesar das aparências, faltara-lhe o faro.
# Tão alegre... De onde vens tão satisfeito?
# Venho da festa da Glória. Ali estive com os banqueiros X e Y.
# Oh, desgraçado! Tu não sabes que é terminantemente proibido levar a banca à glória?
Celebrou-se, ontem, na Capela da Humanidade, a festa da mulher. A entrada era franca a positivistas; mas, de entre os positivistas foram excluídos de entrar os diplomatas não arrependidos.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1333, 16 ago. 1911, p. 1.
Os nossos saltitantes colegas do Jornal do Commercio, da tarde, tiveram, ontem, a delicadeza de tratar, no seu grifo (uma seção internacional em itálico: até faz-me lembrar... a Itália) a questão, sempre interessantíssima, do divórcio:
"O sr. Roosevelt, como presidente, construiu parte de sua robusta popularidade atual, combatendo nas suas mensagens oficiais e nos seus discursos de metting (meeting no sentido inglês da palavra), o vício e o mal do divórcio, que graças à legislação adrede preparada de alguns Estados se desenvolveu de um modo desconcertante. Os ministros de todas as religiões compreenderam o alcance da propaganda e convergiram seus esforços para dar combate à desenvoltura, às ações de separação completa. Mas se sob o ponto de vista social propriamente dito, o número de divórcios chegou a assombrar, a situação moral dos divorciados ainda é tão incômoda, que prova que o meio familiar detesta o seu contato."
Vejam só quanta desgraça junta! Os ministros de todas as religiões, perante um desenvolvimento que os desconcertava, convergindo os esforços ou os fogos, contra a desenvoltura, em linguagem vulgar — a pouca-vergonha. E o meio familiar, que me dizem vocês do meio familiar, que "detesta o contato do divórcio"?
Telegrama de Cascas de Rolha, 16:
"Partiu desta capital o desembargador Três Estrelinhas."
Como um raio. Quando chegar avisem. (Est-il bête?)
Ainda nos telegramas:
"AUSTRÁLIA — Morte do cardeal Moran."
Preparem-se que lá vem obra:
"SIDNEY, 16 — Faleceu com 81 anos de idade Sua Eminência Cardeal Patrício Francisco Moran, arcebispo de Sidney, que era de origem irlandesa e possuía o chapéu de cardeal há vinte e seis anos."
Coitado! Era o único meio de comprar outro chapéu.
Uma epígrafe —, de ontem, em tipos gordos e tremendos: Uma questão muito grave.
Grave très grave, excessivement grave!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1334, 17 ago. 1911, p. 1.
O Mundo, o novo diário a aparecer, terá como diretor o dr. Lopes Trovão e como secretário o sr. Henríque Marinho. Um elemento celeste: o Trovão. Um índice oceânico: o Marinho. Entre outros componentes, Luz (Fábio), Fontes (Hermes), e até Lisboa (Coelho).
É um mundo bastante completo. Bem-vindo seja.
Assevera um vespertino que ontem "um automóvel virou e cuspiu ao chão os passageiros". Péssimo sistema! Quando é que se hão de capacitar todos que o escarro é o veículo da tuberculose?
Um sucesso, os guardas civis de casse-têtes!
Podem bater com ele em toda a parte, menos na cabeça do paciente, informaram os guardas-civilizados. Se os desordeiros não se compenetraram desta regra de boa luta, é que vai ser o diabo! Vira-se o feitiço contra o feiticeiro e os homens dos casse-têtes ficam de sinagoga rachada. Talvez fosse preferível tivessem começado por ensinar aos vagabundos a servirem-se deles, não diplomaticamente (Deus nos livre!), mas conforme os princípios da arte.
Os grevistas de Londres andam pela cidade exibindo bandeiras vermelhas que levam este dístico:
— Abaixo o regime do terror!
Acrescenta o telegrama que a população está alarmadíssima. É o eterno espírito de contradição. Se os grevistas proclamassem:
— Guerra aos águias!
A população... qual população! o dr. Távora seguia daqui no aeroplano do Planchut, pensando que era um palpite do bicho.
# E quando ele for governador do Ceará?
— Até a terra muda de nome. Ceará é o aleatório, o incerto, o futuro, o azar, em uma palavra, o jogo. Ele só admite Ceia ou Ceou. Isso mesmo é conforme. Ceia só às sete horas da tarde e às dez, todo o mundo na cama, como quer a nossa sagrada religião.
O Jornal do Commercio faz umas contazinhas modestas e acha que gastando com ele mais uns desprezíveis contos de réis do que gasta atualmente pelo mesmo serviço, o Conselho Municipal faz urna grande economia.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1335, 18 ago. 1911, p. 1.
A Argentina curva-se ante o Brasil... Foi inaugurado em Buenos Aires o Palace Théatre.
Mas, então, de onde é que veio esse nome para aqui?
Nós descobrimos isso sozinhos?
Por falar em Argentina. Continua a nossa vizinha de mal com a Itália. Mais ou menos como entre os colegiais:
— Se tiver um pingo de seriedade, não fale mais comigo. E assim foi feito. Agora querem fazer as pazes. Mas... o melhor é ler o telegrama do serviço especial d'A
Imprensa:
"Roma, 17 — os jornais, sob várias formas voltam a ocupar-se da pendência entre a Itália e a Argentina, que, afinal, continua no mesmo pé, parecendo que o governo da República platina espera que o governo italiano se resolva a dar o primeiro passo para a conciliação, o que, aliás, não será muito provável."
Vamos ver quem é que se chega mais primeiro. Quem se chegar mais primeiro...
Um telegrama supimpa (este, ainda que não fosse do nosso serviço especial, eu não diria):
"LISBOA, 17 — Na sessão de hoje da Assembléia Constituinte, foi aprovada por grande maioria a eliminação de alguns artigos da Constituição, ainda não discutidos, considerados inúteis."
Que me diz, homem? Foram considerados inúteis? isso de ser considerado inútil é mal de muitas coisas e mesmo de alguns telegramas.
"Tendo os habitantes do município de Jataí no Estado S. Paulo reclamado contra a falta ali de estampilhas, o respectivo delegado fiscal do Tesouro Nacional, Turíbio Guerra, propôs a de uma coletoria das rendas federais naquele município, podendo equiparado ao de Jambeiro."
Jataí era assim... Equiparado ao Jambeiro assim... E, por isso, é que o país está perdido...!
ZANGÃO
A Imprensa Rio de Janeiro, n.° 1336, 19 ago. 1911, p.1.
— Então, a Assembléia Fluminense vai salvar as finanças do Estado do Rio, pagando a cem réis a linha o que podia obter por vinte e cinco réis a linha, de maior número de quadratins?
— Não só as do Estado, como as do jornal favorecido, acrescendo, o que já fazem três proveitos em um saco, que se o Edwiges, por milagre, se apoderar do governo, ainda a Assembléia ganha, de choro descomposturas que te parto:
# E o jornal?
— Esse ganha um novo contrato. Desde que os índios povoaram o Brasil que ele o possui e, se os governos mudam, a atitude dele perante os contratos é imperturbável:
sova nos que caem e economias para ele, da parte dos que sobem. (D'Escuridão, de anteontem).
Diversos colegas estranham que o padre Antônio Marcelino, tivesse dado que falar de si, em assuntos escabrosos, em Porto Alegre e que, por cúmulo de religiosidade (cuidado, srs. Revisores: não é licenciosidade), o padre a que ele substituía já lhe houvesse mostrado o caminho, por sinal que o caminho...
Vejamos: vocês querem proibir um padre de pintar o padre?
O Templo da Umanidade (umanidade, sim senhores, confundir com humildade) saiu-se com esta, do Rio, 6 de Gutemberg de 57/123 — o que é um erro evidente, porque só aqui no Rio as filhas de Gutemberg, com perdão da palavra, são mais de vinte, sem contar O
Mundo:
"Havendo saído, nas Várias Notícias, do Jornal do Commercio, de ontem (19 de agosto) a carta em que o Sr. barão do Rio Branco, com tamanha benevolência para comigo, comunicou-me em resposta, à que lhe dirigira, a 24 de Dante próximo passado de agosto corrente), a sua mui cordial aceitação da justa reparação que me autorizou a fazer-lhe o meu prezado correligionário e amigo sr. Gabriel de Piza, é meu dever tornar também público o testemunho do meu eterno reconhecimento."
Aí, turuna! No rasgar sedas, ficará o positivismo com a última palavra? O positivismo é uma grande doutrina: Tem para os grandes erros, grandes remédios.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1337, 20 ago. 1911, p. 1.
Os domingos são dias da mais estapafúrdia fantasia. Lêem-se os jornais, interpoladamente, saltando colunas, fazendo o possível para matar um tempo que não quer se acabar. Foi assim que cheguei, ontem, a este pedaço:
"Do mesmo modo que no politeísmo e cristianismo, o Panteon será origem da religião do futuro, assinalando-se por consagrações, ainda mais grandiosas, persistentes e intensas — porquanto derivarão, não de meras tradições e lendas, mais ou menos vacilantes, mas de fatos grandiosos, incontestáveis, impressionantes, enchendo o mundo."
— Bom, disse comigo. Deve ser nova carta do Piza ao barão do Rio Branco. E
continuei a ler:
"O que existe até agora, nas sociedades atuais, são, apenas, tênues tendências de glorificação aos fundadores e cooperadores da presente civilização, fase inicial, adequada a repetir, em maior escala, o espetáculo de apoteoses e divinizações concretizadas em monumentos, templos e comemorações, excelsas, elevadas, profundamente mentais e psíquicas, universais e gigantescas, totalmente desconhecidas pelas religiões antigas."
— Não, isto já não é da carta. Isto há de ser de algum dos telegramas diplomáticos, anteriores ao arrependimento.
E corri à assinatura. Qual não havia de ser o meu desapontamento! Era do infalível artigo do sr. Gama Rosa. Dar-se-á o caso que o ilustre sr. Gama Rosa está ficando cada vez mais positivista?
"Informam de Ceringne constar ali que o Comitê pró Albânia oferecerá ao rei Montenegro uma espada de honra em homenagem ao apoio moral que lhe prestou no recente movimento em prol dos interesses dos albaneses."
Se o auxílio se traduzisse em pancada de criar bicho (sem intuitos subversivos à moralização dos costumes cariocas), haviam de lhe ofertar um retrato a óleo ou coisa equivalente.
Comunicam de Valparaíso que "vai ser feito um empréstimo de 15 milhões de pesos, papel, para concluir as obras de reconstrução da cidade".
Tanto papel deve ser para o empapelamento das ruas da cidade. É uma idéia-mãe.
O sr. Juarés admirou-se de encontrar a Câmara dos Deputados na Cadeia Velha. O sr.
Juarés é um felizardo.
Basta dizer que chegou aqui nas vésperas desse grande melhoramento que se chama o sr. Benedito. E, verdadeiramente, não sei quem lhe serviu de cicerone e o instruiu nos costumes nacionais. Se foi um bom mestre, há de ter-lhe ensinado o amanhã e aquela locução eminentemente filosófica — "podia ser pior".
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1338, 21 ago. 1911, p. 1.
Refere a Agência Americana:
BUENOS AIRES, 21 — Devido à confusão de ordens e contraordens que se deu ontem sobre o fechamento das casas comerciais, um proprietário de confeitaria, sr. Barattucci, que foi obrigado a fechar a sua casa ao meio-dia, quando na véspera recebera autorização para a conservar aberta todo o dia, mandou ao ministro do Interior, sr.
Indalécio Gomez, por ordem de quem a casa foi fechada, diversas qualidades de massa, ainda crua, acompanhadas de uma atenciosa carta em que pedia que as vendesse para não se perderem.
O sr. ministro, que compreendeu a crítica ao seu ato, devolveu as massas, agradecendo a lembrança e declarando não ter, àquela hora, onde vendê-las."
O ministro é pasteleiro. Se as massas viessem mais cedo, punha-as à venda. Pois, meu caro senhor, aqui há muita gente que nunca recusa massa... nem se dá por massado.
A Inglaterra faz parede e a Alemanha procura aproveitar-se para fazer guerra, em vez de fazer outra parede — a da guerra. Duro com duro não faz bom muro.
Zangão A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1339, 22 ago. 1911, p. 1.
Não é por estar na sua presença, mas o noticiário d'A Imprensa, da tarde, carece de ser lido pelos leitores d'A Imprensa da manhã.
Ontem à tarde, demos este telegrama:
SÃO LUÍS, 21 (retardado) — Hoje, à 1 hora da tarde, na Avenida Maranhense, os srs.
dr. Antônio Bonifácio de Carvalho e Mário de Carvalho, irmão e primo do tenente João Bonifácio de Carvalho, que está servindo de capitão do porto, encontrando-se, com o comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros capitão-tenente Rogério de Siqueira, por motivo de prevenções antigas, agrediram esse comandante, contra o qual o sr.
Ignácio de Carvalho desfechou o seu revólver, sendo presos pelo chefe de polícia.
Avisado do ocorrido, o capitão do porto, acompanhado de quatro marinheiros, foi ao encontro do capitão-tenente Rogério, agredindo-o ainda em companhia da polícia."
Três Carvalhos e quatro marinheiros, e mais a polícia do Maranhão, contra um só homem! Teria o Hércules mitológico ressurgido na Atenas brasileira?
Estão presos uns indivíduos pronunciados por terem introduzido charutos de Havana em contrabando. Será verdade? Em toda a parte, se oferecem à venda charutos de Havana contrabandeados; mas, em verdade vos digo que eles podem ser de contrabando, — o que nunca foram nem serão é de Havana.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1340, 23 ago. 1911, p. 1.
Bravos! O Brasil é um país em que se cultivam as belas-artes. Toda a imprensa vestiu luto pelo roubo da Gioconda, do Museu do Louvre.
Não se poderá, de ora em diante, dizer que os artistas morrem de fome... salvo se guardamos toda a nossa admiração para o que vai lá por fora e dentro de casa prescindimos de mostrar bom gosto.
Mas, isto é, evidentemente, uma blasfêmia. Vejam a última recepção da Academia.
Quase sai uma turumbamba igual ao da Bahia, por causa do discurso do ilustre sr.
Afrânio.
Como diz o outro: o Rio civiliza-se!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1341, 24 ago. 1911, p. 1.
O ilustre Jaurés foi recebido brilhantemente em São Paulo. E de sua conferência, realizada anteontem, sobre "A revolução francesa e a evolução americana", o São Paulo refere as seguintes curiosas particularidades.
"O tema da conferência com que Jaurés se estreara, há pouco dias, no Rio, era idêntico e supúnhamos que o orador não nos adiantasse, novidades àquela.
Engano, porém. Jaurés desenvolveu o tema sob um aspecto mais ou menos particular a estas regiões, tratando com verdadeiro interesse e conhecimento de causa da importantíssima questão de emigração e imigracão aplicada ao Brasil.
É difícil descrever os acentos vibrantes de Jaurés na sua conferência de ontem.
Ele é um predestinado para dominar nas grandes tempestade parlamentares.
Acostumado a esse gênero de lutas, os seus pulmões já ganhara uma capacidade formidável de emissão de voz, a ponto de, às vezes chegar quase a atordoar o auditório.
Às 9 horas da noite, apareceu no palco a figura simpática de Jean Jaurés, trajando très a son aise.
Uma particularidade: não lhe notamos nenhuma jóia.
A assistência, infelizmente para os nossos créditos, era diminuta, embora seleta."
Reparem quanta coisa interessante fez o grande orador em tão pouco tempo: tratou com conhecimento de causa (quem havia de dizer!) da imigração no Brasil, chegou quase a atordoar o auditório (pobre auditório! ou pobre Juarés!), trajou três a son aise, sem nenhuma jóia, e, ainda por cima, obteve o maganão um auditório que, embora seleto, era diminuto, quando, sendo seleto o auditório, um homem do comum o teria a transbordar!
(Já agora, conquanto escape ao, gênero desta seção, completemos aqui mesmo a notícia. Jaurés falará amanhã, a preços populares, na cidade de São Paulo, sobre este tema: "Les idées de Euclides da Cunha sur la révolution française et le socialisme").
O Peru está pondo as manguinhas de fora. Num só telegrama, mandou todas essas originalidades:
"LIMA, 24 — Apesar de ter funcionado secretamente o conselho de guerra que julgou os acusados políticos, os jornais de hoje publicam o discurso proferido pelo sr. Llosa em sua defesa.
O sr. Llosa ataca com a maior veemência as autoridades do país, a cujos manejos se deveu o estarem aqueles acusados dois anos à espera de julgamento. E, historiando as últimas revoluções, enaltece os sentimentos patrióticos e a ação dos caudilhos.
O público, que esperava na rua a terminação da audiência, fez ao sr. Llosa entusiástica manifestação.
- O sr. Ganoza, que se acha enfermo, não tem podido, por isso, tratar da organização do novo Gabinete Ministerial.
- O sr. Aspillaga, candidato à presidência da República, está reunindo os seus correligionários em banquetes realizados quinzenalmente."
O conselho de guerra secreto. O público cá de fora, porém, sabe instantaneamente o que o Llosa glosa lá dentro e, mal ele aparece, rompe em manifestações. Por isso é que se conta que as paredes têm ouvidos.
O outro, o Ganoza, de certo o que, na política, ganhou o Llosa, arranjou-se de modo que o país todo espera que ele se cure para ter um governo que o dirija. Enquanto isso, o Aspillaga oferece de comer - o que é todo um programa - por turmas quinzenais, aos seus correligionários; isto é, segue o sistema do Ganoza: - para conseguir, não recua ante o perigo das indigestões-. Os perus estão sem garantias no Peru (nem as limas à Lima).
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1342, 25 ago. 1911, p. 1.
Na Câmara do Chile propôs-se um remédio ao déficit: o empréstimo. O presidente da República, porém, discorda e prefere mandar vender alguns terrenos salitreiros. Mais tarde, quando precisar, em outra emergência, destes terrenos, eles virão a fazer falta, haverá déficit deles. De maneira que é preso por ter cão e preso por não ter cão. O déficit é uma praga que ninguém sabe explicar nem curar definitivamente. Desaparece e reaparece. Antigamente, havia aquela definição - o império é o déficit - mas essa definição fez pior do que o déficit, faliu miseravelmente. E uma seção como esta, que só comporta finanças alegres, não pode ir além.
O José Barbosa acaba de ser nomeado ministro das colônias, em Portugal. Deve estar bastante habilitado, pois já foi um membro das colônias daqui e de São Paulo.
O casse-tête está servindo, na praça Onze de junho, para os guardas civis acordarem os pretos velhos que ressonam, atirados pelos bancos. Nem ao menos podem exclamar: Valha-nos São Benedito! *
Em Lisboa, festejou-se a eleição do presidente com uma parada militar. Mas a República Portuguesa ainda está muito atrasada: - não houve ponto facultativo.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1343, 26 ago. 1911, p. 1 Não, tenham paciência, não pode ser. O Belisário não pode sair. Como, então? E
a reforma da polícia, que está apenas em meio? já temos esse novo instrumento de atrapalhação que é o S. Benedito, mas ainda não temos, de fato, (não falando nas pilhérias dos jornais) o S. Belisário Depois, o que o pessoal que trabalha de graça aguarda, é a reforma da polícia, não a reforma do chefe de polícia.
*
A Imprensa da tarde deu ontem o grande furo, noticiando que o tiro da Caixa de Amortização, ao que se propala, talvez monte em mil contos de réis. Bonito tiro, hein. E
amortizar, cada um amortiza como pode.
*
Chegaram a Buenos Aires, de uma vez, as sras. Olga Sarmento e Catulle Mendés e o professor francês Vidal: todos vão fazer conferências públicas. É como aqui. Não faltam conferências. E, ainda por cima, todo o mundo, mais ou menos, conferencia. Só faltam convites.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1344, 27 ago. 1911, p.1 Há certas notícias de polícia que são eminentemente sugestivas, ao menos, nos títulos. Em uma folha da manhã, lia-se. ontem, em letras gordas: "Triste epílogo de um drama." E logo abaixo: `Um marido, abandonado pela mulher, depois de em vão tentar uma reconciliação, esfaqueia-a em plena rua."
E se houvesse a reconciliação? (Um inocente como eu percebe logo que não haveria o crime).
Anúncio de ontem:
"Precisa-se alugar uma casa mobiliada, em lugar alto, para pequena família estrangeira; exige-se abundância de água, ilurninação e serviço de bondes perto."
Abundância de água? Então, não há de ser em lugar alto; deve ser no mar alto.
(Porque, se existe alguma casa, mesmo em lugar baixo, com uma pouca de água, aqui está outro pretendente).
O Paris journal instituiu um prêmio de 50.000 francos para quem descobrir a Gioconda, roubada do Louvre. Porém, só vale até I de setembro. Tem o pessoal quatro dias para quebrar a cabeça. Parece que o mais importante para o Paris Journal não é achar o quadro, é achá-lo depressa. Pois, olhe, podia dobrar a parada (honni soit qui mal y pense ... ) e pôr o dinheirame, absolutamente sereno, sobre o assassino de Sara, até a consumação dos séculos. Faria um bonito, sem o perigo do susto.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.º 1345, 28 ago. 1911, p. 1.
O Jornal do commercio, da tarde, traz uma notícia com estas epígrafes: Encontro de um cadáver, e No armazém nº 1 do cais do Porto.
É uma alusão de péssimo efeito. A Comissão Fiscal e Administrativa das Obras do Porto ainda esperneia.
*
La Argentina acha que rastaqueres é uma expressão que se aplica aos brasileiros, porque foi criada por Brasseur, na peça El Brasileño de Henri Meilhac.
Isto vem escrito em um telegrama d'A Escuridão... perdão, de um dos nossos colegas do cair da tarde.
Mas, certamente! Meilhac, como um dos melhores dramaturgos espanhóis, deve ser o autor de uma peça intitulada El brasileño O sr. Saenz Peña, ao que comunicam pelo telégrafo, pensa em ir a Assunção convalescer de sua enfermidade. Em Assunção... Não é à toa que ele é de uma só vez, saenz (no plural) e, ao mesmo tempo, peña. Que pena!
Notícia de ontem:
"A falência da justiça".
Perdão! A justiça trata habitualmente da falência, mas não é capaz de cair nisso. E as custas? Então as custas não valem nada?
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1346, 29 ago. 1911, p. 1-
Telegrafam de... onde? de Madrid, está visto que de Madrid:
"O governo recebeu notícias de Mellila assegurando que a jarka inimiga, que nas margens do Xert via os preparativos a que procediam as forças espanholas, a fim de ir castigá-la duramente pelo ataque sofrido há dias, começa a dissolver-se."
Viram só? As forças espanholas são tão fortes, tão fortes, e os preparativos para castigar duramente eram tão ferozes que os marroquinos espiaram aquilo de longe e...
pernas prá que vos quero!
Eu não disse? Contam de Paris que a polícia já apurou alguma coisa sobre o roubo da Gioconda, do Museu do Louvre (Quem há de estar em transe é o Paris Journal, com os seus prometidos cinqüenta mil francos). Não descobriu o ladrão. Mas, "chegou à convicção de que o ladrão do quadro Gioconda terá (está escrito no telegrama terá) um ou vários cúmplices". Perspicácia até ali: terá um ou terá vários. Terá, naturalmente, quando ela encontrar. O Paris journal, se esta maravilha se der até 1º de setembro, tem de cavar e desencavar cinqüenta mil francos. Oh! eu não posso admitir que ninguém me passe adiante! Eu vou mais longe: ofereço ali, a tinir - não sou eu a tinir, é o arame - cento e cinqüenta mil francos e ainda, de choro, cento e cinqüenta réis em moeda brasileira, para a polícia de Paris explicar-me, por miúdo, se os vários cúmplices serão também ladrões ou se não passam de desprezíveis cúmplices do homem da capa preta. E não será mau avisar quando haja de suceder esse novo roubo da Gioconda, em que o meliante terá um ou (se acham pouco) vários cúmplices.
É verdade, e enquanto estou com a mão na massa: se precisam do auxilio da polícia do nosso Belisário, não façam cerimônias... Ela só pergunta - onde é o jogo? e em cinco minutos põe aquilo raso.
Aliás, os nossos larápios levam a palma aos de Paris. Leiam esta:
"O diretor do Observatório Astronômico oficiou ao chefe de polícia pedindo-lhe providências para ser conhecido o indivíduo que arrombou uma porta daquela repartição e a substituiu por uma tosca portinhola.
O sr. delegado auxiliar foi encarregado de deslindar o caso."
E as autoridades também não se deixam ficar na sombra. O inquérito ainda não está aberto e já ouvi, ontem, de uma, que sabe onde tem o nariz (e vocês? vocês sabem?) que a porta não foi somente arrombada, foi também subtraída; depois é que um ou vários gatunos aplicaram a portinhola. A polícia moderna é uma ciência.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.º 1347, 30 ago. 1911, p. 1.
Sancionado, anteontem, o aumento de vencimentos dos funcionários municipais, tomou a lei nº 1.338 e deu o coelho, que corresponde ao tal final. Prova evidente de que daquele mato saiu coelho.
Muitos explicam as zangas do sr. Leite Ribeiro pela eterna contradição dos nomes. Não é raro encontrar-se um Leão manso, um Cordeiro indignado, um Branco preto, um Carneiro brabo. Brabos não sejam. Por isso, talvez um ribeiro de leite pode ser um homem terrível.
E a reforma da polícia? Que é que vocês querem que eu diga?
Eu sou francamente partidário da reforma, com ou sem ele. Ele também é. Todos nós somos. Por que é então que ela está tão demorada? Era no que eu matutava, quando recebi a carta que aqui transcrevo:
"Sr. Zangão, Você sabe a causa da demora da decantada reforma da polícia?
Disseram-me que e porque se cria o lugar de capelão, para rezar missa todos os domingos, rio palácio da polícia, e corno lá não existe capela, é preciso ainda, pedir verba para este fim. Todo seu Q. Rubim."
Se assim é, os candidatos desesperados devem se queixar ao arcebispo.
O Século discorda do aumento dos vencimentos do funcionalismo municipal. E
acrescenta que se sente bem, pois essa melhora atinge empregados. d'O Século.
Empregados d'O Século, não senhor: a melhora atinge a empregados da municipalidade. Mas, não guarde tão em segredo a boa ação. Já sabemos que, para manter os princípios, vai correr, pela sua bolsinha, com essa diferençazinha de vencimentos relativa aos tais empregados.
O Ernesto Senna acaba de ser agraciado com o grau de oficial da Academia.
Com vistas ao jornal do Commercio, para tomar nota, como mais uma das conseqüências da Academia d'A Imprensa.
Um dos nossos colegas da tarde publica um artigo de fundo, assim epigrafado: "Vamos lá, senador... "
O eminente pai da pátria deve ter respondido:
- Vá ele...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1348, 31 ago. 1911, p.1.
A pressa com que se fazem as folhas da tarde, dá resultados como este do jornal do Commercio, de ontem:
"O sr. Ministro da Marinha chegou hoje a Angra dos Reis.
O sr. capitão-de-fragata Thedein Costa, comandante do cruzador "Barroso", a cujo bordo se acha o sr. almirante Leão, ministro da da marinha, chegou hoje sem novidade a Angra dos Reis, tendo aquele oficial telegrafado nesse sentido às autoridades superiores da Armada.
Uma trapalhada que ninguém entende.
Há gente que complica a vida de uma maneira extraordinária, Leiam este telegrama de Londres:
"Diz o Times que, se o destino da expedição clandestinamente preparada fosse à Bahia e não a Bahia Blanca; a Idéia de se atribuir aos navios aprisionados o intuito de restaurar a monarquia em Portugal seria mais provável!"
Se o destino da expedição é a Bahia, deve ser alguma idéia perigosa do sr. José Marcelíno.
Comenta um colega da noite.
" - Um horror!
As notícias publicadas diariamente com a lista de criminosos presos pelos agentes dão a impressão de que o Rio de Janeiro está pleno de ladrões, de assassinos, de estelionatários, de estupradores, de toda a série de criminosos.
Todavia os roubos multiplicam-se e a situação de quem tem dinheiro é cada vez mais melindrosa e arriscada ..."
Já é caiporismo! A polícia cheia de boas intenções, a prender uns e outros, e a gente que tem o que perder a ser roubada! Parece que não fazer nada ainda é o melhor que a polícia tem a fazer.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1349, set. 1911, p. 1 A Colmeia também tem o seu "É preciso..." dedicado, está visto, às necessidades inadiáveis.
Assim, É PRECISO
... que o Belisário dê um lugar efetivo ao Querubim. (Claro. Uma polícia apostólica não pode dispensar o regenerador, por essência, de costumes públicos, degenerados pela jogatina. A República é, ou não, como diria o outro, o regime da virtude? Além da máxima do José Bonifácio - a sã política... Portanto, urrah pelo Cherubin!); ... que, à proporção que aparecem mais jornais, apareça também gente para os ler. (Naturalmente. As escolas estão ameaçadas de passar a estabelecimentos de assistência; mas, nem só de pão vive o homem... E de que vivem os jornais?);
... que o sr. Oliveira Lima! ... oh! que o sr. Oliveira Lima escreva mais dois volumes sobre D. João VI, e que o Sr. Barão do Rio Branco os leia - e estaremos todos vingados.
Ontem veio o mundo abaixo. Sabeis por quê, cidadãos? Nem eu.
O Código Civil deu lugar, no Senado, a uma troca de explicações ... muito civil!
Está regulando.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1350, 2 set. 1911, p. 1.
Anúncio de ontem:
"BOM EMPREGO
Precisa-se de um rapaz que dê as melhores referências de sua pessoa, conhecendo máquinas de escrever, principalmente o teclado Universal. Dar-se-á preferência a quem reunir às condições acima, a prática comercial.
Cartas indicando o salário que espera e referência, para etc."
Enfim, o principal é ser boa pessoa. Quanto às máquinas de escrever, é suficiente já têlas visto. Ah! esquecia-me dizer que condição também da máxima importância é avisar quanto quer ganhar. Mas, para que as referências satisfaçam por inteiro, o melhor é declarar logo que não exige ordenado. Bom emprego? Excelente emprego.
A polícia prendeu um repórter porque, dando batida numa sessão secreta, encontrou o seu nome escrito numa folha de papel.
Claro, claríssimo! O homem deve ser revolucionário perigoso, pois vai a uma reunião clandestina e, quando qualquer pessoa trataria de não deixar vestígios de sua presença, é o primeiro a firmar todos os seus distintivos. Os presentes não se lembraram disso, que seria uma precaução instintiva. Nem tudo acode.
Agora não é o Rio, é a Bolívia, que se civiliza. Olhem este despacho:
"La PAZ, 2 - A Universidade de La Paz resolveu a demissão do sr. Thioux, diretor da Escola do Comércio, o qual, conforme em tempo comuniquei, enviara a um jornal belga uma correspondência contendo certos conceitos desfavoráveis a este país.
- A Câmara dos Deputados pediu ao governo severas medidas contra o vigário capitular de La Paz, que lançou uma circular francamente subversiva, aconselhando o povo a revoltar-se, a propósito da lei do casamento civil.
- Foi preso, pelo crime de difamação, o sr. Ricardo Lembcke, que exerceu o cargo de secretário do ministro peruano nesta capital.
Quanta severidade! Brabos não sejam!
- Que semelhança existe entre um casse-têtes e um velocímetro?
- Não compreendo.
- É que os casse-têtes, antes de adquiridos, precisam ter um mapa publicado no Diário Oficial, conforme ordem do governo, e os velocímetros ... também.
- Desta vez, ainda fiquei mais burro, com licença da palavra.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1351, 3 set. 1911, p. 1 Um dos nossos jovens colegas abri u, ontem, a sua edição desta maneira:
"CRÔNICA
Dois fatos na semana me assombraram. O primeiro consistiu numa fita cinematográfica, representando os trabalhos de abertura do canal do Panamá.
Para mim, o espetáculo daquele prodígio foi uma nota vibrante, vascolejou-me a emoção e o entendimento, com um exagero convizinho do arrebatamento.
Sou um curioso das cenas geográficas."
Talvez o confrade, por muito novo. não saiba. Escrever assim é proibido. Por muito menos, já tem ido gente entender-se com o sr.dr. 3 º delegado auxiliar. Não me pergunte o motivo. Será uma arbitrariedade, se quiser, mas é um fato, Escrever crônica, fatos, cenas, em um jornal diário, não! A polícia não o permite. Atenta talvez contra o sossego público.
Em outra coluna, admiramos este trecho:
"Tivemos a guarda nacional, que nunca se tomou a sério: e temos o corpo de atiradores. . . que, passada a primeira hora de entusiasmo entrou, ao que nos consta, no período de declínio reservado a todas as coisas que nascem, vivem e morrem artificialmente, porque nunca existiram fundamentalmente."
Não creias. Quem foi que contou que a Guarda Nacional nunca se tomou a sério e que o corpo de atiradores entra em declínio?
Mas, o fim do artigo é perfeitamente Marcial:
"O projeto do deputado Barbosa Lima visa esse, fim; e nós o aplaudimos... tanto mais incondicionalmente quanto ele o fere nas suas próprias conveniências de militar que é o que há de voltar ao exército coberto das glórias alcançadas nos Prélios da tribuna do Congresso Nacional por ter defendido com o vigor fulgurante do seu talento aclamado os interesses sagrados da Pátria."
E o Começo é extraordinariamente Poético:
"Realmente custa a compreender que militares acomodados em funções retribuídas sem exercício, remunerados copiosamente em comissões que dão recamo e ócios, subsidiados liberalmente em posições políticas que garantem poder e imunidades, sobrevenham, nas ocasiões oportunas, para interromper o acesso aos seus camaradas que curtiram as asperezas da vida de caserna; e que, mesmo dentre estes, os que amenizam as agruras da profissão nas distrações da nossa capital prejudiquem aqueles que andaram a afrontar as bravezas da nossa natureza nas florestas ínvias das montanhas e nos pantanais empestantes da planície. - É o vôo oblíquo da águia soberana sobre a migalha em que pascem os seres humildes da terra."
O sr. Barbosa Lima pode voltar para o exército, como militar, glorioso das batalhas da palavra - mas não atrapalha a carreira aos que "andaram a afrontar as bravezas da nossa natureza nas florestas ínvias das montanhas e nos pantanais empestantes da planície.”
Não tenha o vôo da águia. Aliás, é o que S. Ex.a quer. Parabéns a todos.
(Mas, fica-me uma dúvida: é sério ou é caçoada?)
Do mesmíssimo contemporâneo, anunciando uma campanha contra o contrabando (não se agradece a réclame Cazuza?):
"Espere o comércio honrado que a nossa reportagem será sensacional. Muitas firmas tidas como honradas nós provaremos serem contrabandistas."
Quem é que espera: o comércio honrado ou o comércio tido como honrado? E como é que o comércio tido como honrado há de saber já que não é honrado para não esperar e abrir o chambre? *
Um cronista da Gazeta, falando da zona do vício e do crime, do bordel ao ar livre em frente do Passeio Público:
"Nós estávamos a uma pequena mesinha do fundo, Pelas demais mesas havia grupos de rapazes bêbados a fazer alarido. E as mulhe- res - polacas gordas de rostos cheios, francesas de talhe esbelto e pé pequeno..."
Não eram francesas, prícipe devem ser chinesas.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro. nº 1352, 4 set. 1911, p. 1.
Decididamente, o Rio civiliza-se, mais do que isso, o Rio hiperciviliza-se. Uma folha da tarde (a menos conhecida) noticiou, ontem, com títulos na primeira página, que a Assistência Municipal fora chamada para acudir a uma pessoa que estava com cólicas.
Daqui a dias, registrará os indivíduos que foram tratar calos a um calista. E não vai nisso nenhuma alusão.
O que não se pode negar e que esse terrível colega tem uma reportagem de primeira ordem. As folhas da manhã e da tarde de ontem narraram com pormenores a remessa de motorneiros para a Colônia Correcional dos Dois Rios, por ordem do dr. chefe de polícia.
Pois, esse fato, sabido, confessado, proclamado, com aquele soberano desembaraço da inocência que não e raro no dr. Távora, aparece nestas linhas esgrouviadas:
"À última hora constou-nos que a polícia, arbitrária e violentamente, fez seguir para a Colônia Correcional dos Dois Rios 17 motorneiros e condutores da Light."
Escuta, e à última hora também, você não ouviu dizer que, há uma semana, esteve para rebentar uma greve na Cantareira? Cuidado, não vá ser furado.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1353, 5 sei. 1911, p. 1.
Há ocasiões em que é grande espiga pertencer um sujeito à alta sociedade, ou mesmo uma senhora. Anteontem, em Montevidéu, ocorreu este exemplo elucidativo:
"MONTEVIDÉU, 4 - (Americana) - No final do espetáculo de ontem, no teatro Cibils, deu-se um grave incidente entre muitas senhoras e cavalheiros da primeira sociedade, por causa da interpretação da peça. Mais tarde, nos vestiários, as cenas repetiram-se, havendo encontrões, bofetadas e repelões entre as senhoras mais exaltadas.
Foi necessário que a polícia interviesse para pôr fim a esse escândalo."
Esta gente bem-educada tem um modo de manifestar as suas opiniões que deixa a perder de vista os carroceiros.
Agora é epidemia. Arquivem mais os seguintes "PARIS, 5 - Telegrama da cidade de Verdum, no departamento de Meuse, noticia ter-se descoberto o roubo de três quadros de grande valor, que ornamentavam a capela da igreja de São Salvador, daquela cidade."
Como o gosto vai se apurando, os gatunos viraram amadores das belas-artes.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1354, 6 sei. 1911, p. 1 Já dissemos que A Colmeia tem também o seu "É preciso ...que aparece unicamente ...
quando é preciso. Hoje, por exemplo.
É PRECISO. . .
... que o Papa volte atrás, e, para satisfazer as aspirações gerais, decrete dias santos em dobro, que substituam os que suprimiu por motu-proprio (antes fosse aconselhado);
... que ninguém negocie nem pague letras nem despachos amanhã, que é para o comércio, os bancos e a Alfândega se capacitarem de que não vale a pena abrir as portas, nesses dias;
... que sujeitos que se presumem muito finos não se metam a ler o "É preciso..." de verdade, como se fosse composto de hieróglifos, emprestando-lhe intenções que lhe falecem:
...que se pinte de branco o São Benedito e... viva a República;
... que não haja equívocos: o arcebispo não publicou o motuproprio do Papa; logo, não há alterações no calendário e amanhã é muito bom dia santo (e eu, apesar de toda esta cantiga, tenho de trabalhar! Isto é que deixa um homem furioso!)
E, por falar em São Benedito. Murmura-se que houve desfalque na caixa da irmandade.
Na caixa da Irmandade de São Benedito?
Mas, então, para quem apelar? Para o Belisário ou para o arcebispo, é quase a mesma coisa... questão de nomes.
O Estado rompeu "contra o mundo. Vai o mundo ter enseja de lhe atirar para cima com o Trovão. lh! que trovoada! Santa Bárbara!
São Jerônimo!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1355, 7 set. 1911, p. 1.
A maior cifra mortuária da semana passada, depois da tuberculose pulmonar, pertence às moléstias do aparelho circulatório. Em bem da verdade, pede-nos a Saúde Pública para declarar que não influiu para este efeito e estupefaciente, a piramidal, e incomensurável circulação do decano do nosso jornalismo.
Que também tem órgão, como referiu, ontem, desembaraçadamente aos povos que doutrina, do Rio de Janeiro,do Brasil, da América, da Terra, do Sistema Planetário e de todos os mundos por onde circula em inúmeros exemplares. Mas, também, em bem da verdade, solicita-nos a Assembléia Fluminense informar que esse grande órgão, que vai ser inaugurado no salão de concertos e festas, não é o seu órgão oficial. É secreto, por enquanto, ou é segredo, se acham mais português.
- E a idoneidade, meu amigo, a idoneidade não vale nada?
- Que idoneidade, homem?
- A importância circuncisfláutica, o peso formidoloso...
- Se é pelo peso, sem dúvida; o vendeiro da esquina paga mais caro.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1356, 8 set. 1911, p. 1.
A Tribuna, que tem estado ao lado do dr. chefe de polícia, protesta, com a Gazeta, contra a impunidade e segurança com que a população é enganada pelos táxis viciados, e contra o desrespeito constante da tabela de veículos de praça. E concluiu:
"Tudo isso se disse aqui, refletindo queixas. a espoliação geral - e foi inútil.
Conformamo-nos, apelando para melhores tempos, convencidos de que, no momento, era impossível à polícia olhar com severidade para esses abusos diários, que, de resto, eram e são amplamente conhecidos de toda a gente e dela própria.
Praza aos céus que não tenha a Gazeta a mesma desilusão,"
Não somos nós quem o proclama, é a Tribuna. Mas, ao menos, uma coisa não pode negar: é que os jogadores não jogam mais em alguns dos clubes que existiam - agora jogam nas espeluncas e nas batotas sórdida.
Por que os guardas civis não usam para retirar os entraves ao tráfego das ruas, uma fórmula assim como - Façam o favor de circular - acabando com os grupos de mais de um?
- Deus te livre' O órgão privilegiado da Assembléia Fluminense pegava fogo. Suporia que era uma alusão maliciosa a sua enorme circulação.
Notícia de polícia:
"Junto do cadáver encontrou-se uma carta em que explicava ter sido levado ao suicídio por não ter podido adquirir um número do dia do Jornal do Commercio, cujas edições se tinham esgotado, como quase sempre acontece. Paz à sua alma."
Coitada! ela bem merece isso.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1357, 9 set. 1911, p. 1.
Das Várias da tarde (variando sempre):
"A Ordem Social é uma revista da qual, se não fosse o justo horror ao chavão, bem poderíamos dizer que veio preencher uma lacuna.
O seu título é o seu programa e logo se vê, por aí, quanto brilhava pela ausência uma revista dessa natureza em nosso meio infiltrado de magazzinismo.
Algumas tentativas têm sido feitas, mas todas foram anuladas pelo fracasso mais desanimador.
Parecia que uma leveza excessivamente despreocupada não permitia a aceitação de uma revista que, somente, se preocupasse com os problemas de alcance social."
Por que não? A leveza excessivamente despreocupada não tem impedido outros também preocupados com os problemas de alcance social de não brilharem pela ausência nem somente pelas sonoridades do órgão, que ainda não foi inaugurado, Talvez questão de idoneidade.
No mesmo ultrapopularíssímo, a notícia do alarma da polícia com a denúncia de greve iminente traz este título - "Esperando a parede.”
Erro de revisão. Leia-se "Escorando a parede". E, aproveitando a ocasião, onde se lê:
"Diabo a quatro" (que é - título de uma modéstia comprometedora), emende-se: "Diabo coxo". "A quatro" seria desaforo, se não fosse calúnia.
Elizabeth raptou Virgínia. Que grande pouca-vergonha!
- Mas, então, o Diabo alterou a Colmeia?
- E tu te espantas! Tal qual os Preços nas concorrências do Conselho Municipal.
Questão apenas de idoneidade.
Papai, filho de Vovô (isto é, o jornal do Commercio, da tarde) saiu se hoje com uma grande novidade: o recumo sucinto, conciso, rápido de tudo quanto há dois anos todas as revistas européias e os magazzines americanos e os grandes diários brasileiros, bem como tudo quanto todos os jornalecos que se publicam por esse mundo de Deus, têm publicado sobre os Doukhobors.
Bravos! É um furo de arromba! -É uma novidade épica! Portanto como estranhar a imensa, a copiosa, a alagadora circulação de Papai, que em matéria de novidades chega a encontrar o diabo a quatro?
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1358, 10 set. 1911, p. 1.
O grande órgão (não o que toca: aquele da perfeita idoneidade para os contratos sem concorrência pública), deu ontem a seguinte vária:
"Adquiriram propriedades:
Leonor Emília Aquino de Andrade, o prédio à rua Dr. Souza Naves, nº 28, por 5.000$000.
Antonio M o prédio e terreno à rua Senhor dos Passos nº 61, pela importância de 12.500$000.”
Se “ M está em lugar de alguma palavra inconveniente, era preferível deixar a notícia fazendo companhia ao cambalacho com a Assembléia Fluminense.
- Que me diz? ainda este ano descompunha o pessoal fluminense e já lhe foi solicitar contratos?
- Que quer você? Um órgão de enorme circulação! Faz quinhentas mil rotações por segundo! Agora está orientado num sentido, daqui a pouco noutro.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1359, 11 set. 1911, p. 1.
Estava eu lendo isto:
"De há muito que alimentávamos o desejo de visitar uma das grandes fábricas de fumo do Rio de Janeiro. A curiosidade era natural, em se tratando de uma indústria genuinamente nacional.
O fumo nasceu com o homem.
Alimentávamos o desejo... Se eu tivesse estudado na escola que eles abriram, diria que o fumo não alimenta. (Esta é para chorar).
Mas, quanto a avançar que o fumo nasceu com o homem ... A recíproca talvez fosse mais verdadeira.
Como foi a festa do órgão:
"Em suma, uma festa deliciosa que deixou a melhor impressão, saindo todos os convidados encantados com duas horas de música que passaram velozes."
Velozes, hein? Pois para fazer uma análise, que A Imprensa da tarde concertou ontem em um relance, ele levou três dias.
Telegrama do serviço particular:
"LISBOA, 11 - Os jornais sustentam a opinião de que o fim dos conspiradores da fronteira é alarmar, provocar boatos sobre boatos, manter, em suma, o desassossego no país e perturbar assim a ação dos governantes. Mas tais manejos não poderão dar por muito tempo ainda o seu efeito alarmante; e o chefe Paiva Couceiro está desorientado e, positivamente, "não sabe que mais fazer"."
Aí está um que seria dificílimo de passar pelo telégrafo sem fio.
Do mesmo artigo sobre o fumo:
"Segundo se afirma, foi em 1559 que o fumo fez a sua entrada a França."
É verdade, corre esse boato, que, aliás, no circulou n'A Imprensa.
Enquanto estão com a mão na massa, convém mandarem tirar a limpo.
Quem sabe se é calúnia?
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.º 1360, 12 set. 1911, p. 1.
Eu estava crente que era A Imprensa quem sustentava e repetia que os jogadores jogam e hão de jogar, mas, estou vendo que me enganei.
A Gazeta de Notícias informou ontem que, com a devida vênia e textualmente:
"Em todos os clubes joga-se atualmente, de novo. Não os jogos permitidos, mas a roleta, o dado, o bacará. Vão cessando os escrúpulos, ou já cessaram de todo.
Joga-se e joga-se, apesar de muitos deles terem dois guardas civis na sua sede...
Eu não dizia ao colega que não se tratava de repressão do vício nem de -coisa que com isso se parecesse?
Jogo? Não; apenas fita; porque, quanto aos jogadores, os jogadores jogam e hão de jogar.
Uma folha da tarde lembrou ontem que em sua edição de sábado publicara:
"informações a que o público ligou muito interesse sobre o telégrafo sem fio, isto é, sobre a utilização do telégrafo sem fio."
Para diferenciar, outros existem que publicam informações transmitidas pelo próprio telégrafo sem fio e até, às vezes, sem telégrafo.
E às vezes, acertam com os acontecimentos.
- Reparem o que é um jornal de enorme circulação (quinhentas mil rotações por segundo). Agora parece-lhe que o Osório foi nomeado ...
- E quando ele foi eleito?
- Ainda havia a esperança do contrato com o Conselho. Foi dado como eleito e mais votado.
- Idoneidade até ali!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.º 1361, 13 set. 1911, p. 1.
Se ficar provado que os frades de ordens estrangeiras estão a se insinuar em ordens extintas, para lhes desviarem os patrimônios, como, a respeito do Convento de Santo Antônio, narrou o sr. consultor-geral da República (que precisa pagar a patente de se ver hoje incluído na Colmeia - proponho que, em vez de "conto do- vigário", promovase a trapalhada a ""conto de frade".
-Daquele, sabes quando é que a Alemanha responde ao ultimatum da França?
- Também há disso?
- Sim, senhor. Responderá um dia depois daquele em que você explicar como é que, considerando a Assembléia Fluminense ilegal, está pronto a ser subvencionado por ela, impedindo ponha em pública concorrência a publicação dos debates.
- Você já começou a iluminar o espírito?
- Mais ou menos. Leio todos os dias o órgão da circulação e da idoneidade.
- E quando começarás a cultivá-lo?
Pois, então, você entende que há diferença entre comer e alimentar-se -quando não se tem e felicidade de obter contratos sem concorrência.
Recebi a seguinte carta:
Sr. Zangão. Você podia inserir na Colmeia, para delícia dos leitores, alguns trechos de certos debates legislativos, a sem ou a quarenta réis por linha, conforme o freguês estivesse ou não prevenido."
Passa fora, Satanás. E a idoneidade para semelhante circula ( ?) acão?
À força de circular quinhentas mil vezes por minuto pode se chegar ao ponto de, em telegramas próprios, descobrir a circulação na bolsa parisiense de títulos públicos alemães. A mesma força da para insistir em quantos tipos há, que o sr. Jaurés se chama hoje James. De nome de família francês fazer um nome popular inglês, isto só sem contrato, por especial graça do arcebispo.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de janeiro, 1362, 14 set. 1911, p.1.
- E o ultimatum?
- Está aí. E o contrato da Assembléia Fluminense?
- E a peste bubônica?
- Está aí. E o contrato da Assembléia Fluminense?
- Quando a esmola é muita, o pobre desconfia.
- Conforme. Há os que aceitam os onze contos de réis e nem por isso xingam os adversários.
- Que idéia é essa dos uhlanos darem um passeio em terra estrangeira, para os lados de Luneville?
- Que quer você, a cidade da Lua ... Talvez influência do astro vagabundo.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.º 1363, 15 set. 1911, p. 1.
- Você viu o que diz o outro colega: que foi o venerando que levantou a candidatura e agora recebe telegramas enigmáticos da Bahia, pelo telégrafo sem fio?
- Nada de mais. Tal qual o caso do cheque do milhão.
- Também não digo que é demais. Pode até ser de menos.
- E agora mesmo tens o caso da Assembléia, É ilegal, é exploradora, é tudo, mas venha o contrato.
- E você a dar-lhe! Deixá-lo ser idôneo e rever-se enraivecido na sua obra.
-E o ultimatum!?
- Está por pouco, para o dia seguinte ao em que for publicado o contrato.
Parabéns ao sr. delegado que nos impingiu aquilo.
Automóveis foram feitos para rodar. Como admitir ficassem o dia inteiro estatelados na Avenida? E quem. precisar de tomar algum tem uma saída fácil: tome um bonde e vá buscar o automóvel na garagem. Ou peça pelo telefone:
- Central.
- 56.731.
- 5, 6, 7, 3, 1 ?
- (Aí, talento!) Isso mesmo.
Pausa.
- Está em comunicação.
Nova pausa, mais longa.
- Central.
- 56.731.
- 5, 6, 7, 3 , 1 ?
- Tal qual mIle. (Que memória!)
Pausa - Não respondem.
Se o ambicioso sujeito não tiver o automóvel dali a três horas, não desanime, Talvez no dia seguinte possa arranjar.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1364, 16 set. 1911, p. 1.
- E o órgão vai agora obter, sem concorrência, o contrato das publicações que a Imprensa Nacional não pode fazer? Ou vamos ter uma fita igual à oferecida ao Conselho Municipal, com dois preços, um para quando está só e, outro quando vai acompanhado ?
É impossível. Isto aqui não é a Assembléia Fluminense.
- E por falar em Assembléia Fluminense. Como é que ela derruba a Constituição, deixa a moralidade guardada em casa numa gaveta, faz aquele presente ao circularíssimo?
- Puro patriotismo.
- Mas, então, é preciso levantar-lhe uma estátua.
- Sabe da novidade? O órgão vai reclamar a concorrência da Assembléia Fluminense.
- Quem te disse, homem?
Para demonstrar a sua idoneidade e porque não tem receio, à vista da sua enorme circulação.
- Que circulação, a da manhã ou a da tarde?
- Ambas são maiores uma do que a outra.
- E você acredita?
- Nem eu, nem você, nem a Assembléia, nem o velho Passos, nem o Backer, nem o Botelho. Todos o conhecem muito bem e asbem do que é capaz.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.º 1365, 17 set. 1911, p. 1.
O incêndio da Imprensa Nacional vai trazer uma grande refor- ma ao jogo das nossas instituições.
- Hom'essa! Como assim?
- É simples. Vai estabelecer a rolha oficial. Não será mais possível, de pronto, publicar, na íntegra, toda a discurseira com que se preenche o tempo das sessões da Câmara e, embora não sejam lidas, tais arengas são proferidas, na maioria dos casos, para serem estam padas, no dia seguinte, nas colunas oficiais.
- Pois, sim. Era preciso não estivesse ali o órgão de pianola, para correr atrás dos oradores, a ver se obtém os destampatórios para aumentar de tantos leitores, quantos forem os oradores, a sua circulação, absolutamente imprevista!
- E o preço?
- Malicioso! já vem você para o terreno da idoneidade ... Saiba que ninguém o julga mais idôneo que ele mesmo.
- ... Mas quando é que julga assim, hoje ou amanhã?
-Hoje, amanhã e depois. É a única coisa em que não muda.
-Bravos! Para alguma coisa havia de dar a idoneidade.
O Botelho está sustentado firmemente pelo órgão.
- Firmemente? Seria o primeiro.
- Sim, ele viu o exemplo do Passos e...
- Isso é história antiga. Mas por que você acredita que ele está firmemente apoiado?
- Porque ainda tem alguns anos de governo.
- Você é uma língua viperina. E depois que ele deixar o poder? ...
- Depois que ele deixar o poder? Depois que ele deixar o poder, fie-se na Virgem e não corra ...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de janeiro, nº 1366, 18 set. 1911, p. 1.
O Jornal do Commercio quer uma concorrência em que seja condição de preferência a menor circulação...
- Ah! ele disse isso?
- É verdade.
-Ah! Isso agora é mais sério, porque, neste ponto de vista, pode muito bem ser que ele vença. Apesar de ter a idade de Matusalém, só consegue que uma das suas seções seja lida. É justamente a que ele não escreve: a dos pedidos.
-Tribuna acha que se podem fazer contratos com respeito à moralidade administrativa sem abrir concorrência.
- Claro, claríssimo. E a moralidade refina se a gente com ela conquista e amansa o inimigo?
- Mas então que é que é imoral?
- Não sei, mas não me admira se amanhã vier dizendo que imoral é a concorrência pública.
ZANGÃO
A Imprensa. Rio de Janeiro nº 1367, 19 sei. 1911, p. 1.
-Que esquisito título vocês deram ao artigo de ontem. Advogado do Diabo! Por que advogado do diabo?
- Realmente, parecia melhor: diabo de advogado'
- Ou advogado dos diabos!
Na administração de um jornal:
-Pois foi para isso, para termos de nos sujeitar algum dia à concorrência pública, que andamos a acender uma vela ao sr. Edeviges e outra ao sr. Botelho.
-Não senhor! Foi justamente para apanhar de qualquer deles o contrato sem concorrência, isto é, pelos Preços que nos conviessem: e o Estado que se deixa governar por tais sujeitos, que se arranje, peça a Deus que o mate e ao diabo que o carregue.
-E como é que o jornal pode obter o contrato sem concorrência pública?
-Porque ninguém como ele para saber logo quem venceu e ser o primeiro a abraçá-lo.
Puseste o contrato em ordem?
- Botei-o -Botei-o, em botei-lh'o!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro. nº 1368, 20 sei. 1911, p. 1.
O Diário Oficial noticia hoje que foi criada um brigada da Guarda Nacional da Comarca do Assovio. É talvez a única bem colocada.
Há quem se queixe de que o teatro entre nós vai por águas abaixo.
Não é por falta de atores.
Ainda ontem, heroicamente, o Brício fez de pai nobre:
-Antes de tocarem na filha, hão de passar por cima do meu cadáver!
E a patuléia recuou, como toda a patuléia bem ensaiada. . .
No Corpo de Bombeiros:
-Mas por que não se substituem essa. carroças por automóveis como os que há em São Paulo?
- Não pode ser, não pode ser... Que é que se havia de fazer dessas pobres bestinhas tão educadas que ao toque da corneta se vão colocar nos varais?
- Homem, nem havia pensado nisso'.
-De sorte que o jornal conserva sempre a sua independência...
-Independência não é o termo; idoneidade.
-É para obter que os contratos de onze contos sejam pagos vinte e dois, vinte e cinco e trinta, conforme a maré.
Não sai da linha: conserva sempre a mesma idoneidade. E quando não há mais dúvida sobre a vitória das municipalidades e assembléias legítimas, tira-se de ao pé das loterias e dá-lhes as seções competentes.
- E a isso se chama...
- Idoneidade.
Na Assembléia Fluminense:
Mas que fúria de contratos pela calada, sem que ninguém saiba nem veja. Que é isso?
- Comércio ... Pois ele não é o Jornal do Commercio?
Da circulação do órgão:
"Fazemos votos para que os ministros da defesa nacional reúnam seus esforços para a execução do serviço militar obrigatório, como igualmente pensam o general Mena Barreto e o sr. almirante Leão."
Felizmente, os militares apenas pensam, se também se pusessem a fazer votos a frase sairia certo, mas seria uma catástrofe eleitoral.
Reaparece o nosso "É preciso. . . " só para uma questão.
É PRECISO...
- ...que o sr. João Guimarães, presidente da Assembléia Fluminense, achando que esta ganha três contos de reis, pagando onze contos por mês ao Jornal do Commercio, informe quantos desses contos ganharia se continuasse a fazer as suas publicaçõees como estava fazendo no Diário Oficial.
(Diz a arraia miúda que o Diário Oficial cobrava apenas um conto e tanto por mês).
Ordem de serviço interna - Oh sr. chefe das Oficinas, este É preciso ... é permanente até que o homem se explique. Tem você de aumentar a circulação do jornal comprando um número todos os dias, até que chegue este dia de S.
Nunca.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1369, 21 Set. 1911, p. 1.
- O Manuel Duarte disse, ontem, que para o futuro, quando A Imprensa sustentar alguma causa política, "os seus partidários poderão entrar aqui para perguntar qual é o preço".
- Não. Isto, aqui, graças a Deus, não é a Tribuna ...
Os bondes de Berlim não puderam utilizar as mulas sul-americanas, porque são pequenas. Vejam como somos exagerados! A todo o instante, ouve-se aqui esta amabilidade:
- Fulano? Que grande besta!
Os fiteiros! Leiam isto:
"Sr. general. Aderi à vossa candidatura e, por isso, estou ameaçado de desacato.
Fulano dos Anzóis."
O general está livre de uma penhora com a adesão; mas o fiteiro teve a glória de ter o'
nome nos jornais do Rio...
O Século deu, ontem, uma gravura do grupo que o tentou assaltar. Com certeza, ainda estava indignado e carregou a mão, pois ela retrata os instintos os mais negros. Preto que nem breu! Quem sabe se os arruaceiros já haviam debandado?
Avenida, esquina do Ouvidor:
- Fundada a casa, é preciso circular ...
O redator do órgão pianola que passa:
- Como o jornal, com a diferença que não confessamos.
- Que história é essa de "vivo combate"?
- "Vivo combate" ao Nilo?
-Conseqüências da circulação. É tanta que tem bicho carpinteiro. Mas, como além de circulação, tem idoneidade...
-Depois de procelosa tempestade, percebe o "fato consumado", do contrato.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1370, 22 Set. 1911, p. 1.
Eu tenho um colega da tarde que se acredita mais republicano e bem-pensante, e talvez com mais serviços à situação política aqui e fora daqui, mas do qual faz parte um jornalista educado na Escola do Correio da Manhã e que, por isso, quando entende de discutir, descompõe, embora as descompostura passem longe dos visados. Anteontem, eu tinha lido que a campanha da pudibunda Gazeta e do chefe contra o jogo, dera em água de barrela; ontem, li que produzira resultados esplêndidos. Então em que ficamos? Foi fita ou não foi fita? Se lhe pespego os textos é capaz de dizer que sofismo.
O Cherobin é que não pode mais. Se o jogo for regulamentado, expatria-se. Não pode deixar as asas se contaminarem em um país onde, etc., etc. etc.
A Gazeta... Com a Gazeta o caso é simples. Sucedendo essa desgraça, recolhe-se a um convento de freiras.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1371, 23 set. 1911, p. 1.
-Quem foi que disse a você que a Gazeta era contra a regulamentação do jogo?
-Eu li isso em março naquelas mesmas colunas, quando você dizia ao dr. chefe que não se iludisse, porque não conseguia nada ...
-E o chefe embasbacava a Gazeta contando que aos quinze dias de campanha tinha feito mundos e fundos ...
-É verdade. Porque pusera dois guardas civis em cada sede do clube, uma continuava a funcionar à vontade, no segundo andar, enquanto a polícia prestava plantão.
- Que gente esperta!
-A Gazeta, então, proclamou que o jogo estava acabado, morto e enterrado; não lhe restava nem a alma.
- Pois, agora leia o que opinou há vinte e quatro horas:
"Dos males o menor. O sr. Felisbelo Freire, apresentou ontem à Câmara um projeto regulamentado o jogo. Não há dúvida que o projeto é bom. É de fato uma resolução para o problema, muito mais terrível que shakespeariano, pois não se trata de ser ou não ser, mas de uma existência renitente, como é o jogo.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Como se vê, é um bmo projeto, feito com as melhores intenções, e é pena que ele fosse dirigido à Câmara, uma casa não excessivamente cheia de boas intenções."
-Quem foi que disse que a Gazeta, há seis meses, assegurou que o jogo tinha terminado e que não havia necessidade de regulamento?
-Mentira. A Gazeta sempre afirmou que os jogadores jogavam e hão de jogar (Ah!
Belisário!).
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1372, 24 set. 1911, p. 1.
- Como é que se vai regulamentar uma coisa que morreu?
- Não entendo.
- Pois o jogo não tinha morrido? Eu li isso na Gazeta na Tribuna, etc., que, graças à atividade etc., do chefe, o jogo estava suprimido por completo.
- Pilhéria, meu amigo; ou melhor, fita.
-E o Cherubin, que se dedicou como um apóstolo, e os outros legionários da "santa cruzada"? (Você se lembra a pilhéria da Gazeta... muito a sério, muito metida no seu papel de adversária intransigente do vício ignóbil).
-Você ainda quer mais? Já ganharam o retrato nas folhas e alguns adjetivos banais; e atropelaram os direitos individuais, e nada lhes sucede, nem um arranhão. Dêem-se por satisfeitos.
Vai ser fundada uma sociedade de Filosofia e Ciência do povo da lira. Os assuntos técnicos serão tratados muito a sério, com uma interminável argumentação, durante meses. Quando, porém. chegar o momento de se votar, fecha-se o tempo.
(É verdade que, por isso, não precisavam se incomodar os valentes da Saúde e adjacências. Já possuímos melhor em graves institutos).
É conhecido mesmo o primeiro tema a ser tratado: - "Influência dos chaufleurs sobre o prestígio da autoridade." As sessões começarão sob a invocação de S. Benedito, padroeiro dos cabeças quebradas.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro. nº 1373. 25 sei. 1911, p. 1.
Um jornal da noite (não referimos o nome, porque talvez não nos agradecesse o reclame) inseriu o retrato da Arsène Houssaye, que teria falecido ontem. Deve ser isto, se este ontem significa o ano de 1.896 em que morreu o cintilante cronista.
O mesmo colega narra coisas do arco da velha ocorridas em Piratininga. Piratininga é hoje a cidade de São Paulo. Talvez quisesse aludir aos distúrbios de Piratininga, próximo ao forte Imbuhy, ali assim à entrada da barra.
Telegrama de ontem, o único fornecido aos seus leitores por uma folha da tarde considerável:
"MARSELHA, 25 - Consta ter se dado uma grande explosão a bordo do Couraçado "Liberté", o qual se terá afundado, perecendo quinhentas pessoas."
Era bom mandarem verificar. Quem sabe se é apenas um boato alarmante?
Oh! povos, vocês já repararam uma evolução curiosa no jornalismo carioca? Desde algum tempo discutem-se vários assuntos e entretanto, desapareceu aquele vocabulário de roubalheiras, etc...
com que era hábito de alguns se mimosearem. É que ficou provado, pela carreira de certos camaradas, que não é indispensável ser insolente para ganhar a vida.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1374, 26 set. 1911, p.1.
Estava a ler ontem a secão de esporte dos nossos jornais como se fosse um puro vencido da vida e encontrei:
"- O dr. X que teve anteontem a infelicidade de perder o valoroso potro N. N. etc."
É um caso muito justificado, de se lhe apresentar sentidos pêsames.
Telegrama de ontem:
"MADRI, 26 - Dizem de Toledo que no lugar de Bagas, abateu a praça de touros que ali se improvisara para a ocasião da feira anual.
Em conseqüência do desastre ficaram feridas quarenta pessoas."
E os touros ficaram a rir (salvo seja), a menos que, no meio desse agrupamento, haja algum. não referido pelo telégrafo.
Está anunciada em um dos teatros, uma peca com este título:
Ele (Lui). Naturalmente é engano. Deve ser Alelluia ou então Ele, Luiz, E daí bem pode ser que Lui não seja. mais do que Ele.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1375, 27 set. 1911, p. 1 É preciso... que reapareça hoje o "É preciso..." da Colmeia: É PRECISO...
... que o "Diabo a quatro" quando copia a nossa seção, cite o autor.
(Não é preciso... parar, para isto, de sua enorme circulação de quinhentas mil rotações por segundo).
Os jornalistas não-me-toques, inimigos acérrimos do jogo e outras desgraças, os mesmos que, quando vão às batotas, nunca deixam de jogar - não por gosto, para se mortificarem - estão aparentemente danados com o recrudescimento do horror.
Aparentemente, porque as razões são muito outras. Querem ver se demoram a vitória impreterível da A Imprensa, mas é perder tempo. Podem continuar as trepolias mais dois, mais três, mais seis meses, o tempo que quiserem. Hão de recolher-se à modéstia de que nunca deviam ter saído. Os jogadores jogaram, jogam e hão de jogar; assim como virtuosos pecam e hão de pecar, muito embora as lorotas de que fazem praça.
A agricultura argentina a pedir braços! Aqui está uma reclamação que não se pode dizer sem pés nem cabeça.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de janeiro, n.º 1376, 28 set. 1911, p. 1 A Itália, na gestão da Tripolitânia, está disposta a fazer da Turquia... cabeça de turco.
Para quem apelar?
Qual a semelhança que há entre o arcebispo e o ministro da marinha?
?—
— É que o ministro quer a vinda da missão estrangeira e o arcebispo, a das missões estrangeiras.
— Já sabes o que viram os peritos da. Imprensa Nacional? — Naturalmente viram tudo claro ...
— Qual! Desconfiam apenas da causa. Suspeitam dos discursos inflamados e do patriotismo ardente do Diário do Congressso.
Depois de certa informação prestada pela polícia aos nossos tribunais, começa a ser apontada a Colônia Correcional como um dos lugares de vilegiatura, no próximo verão.
Seria para desejar que os cavalheiros que o indicaram dessem o exemplo.
— Então a Tribuna foi ouvir o Prefeito sobre o arbitramento Paraná-Santa Catarina?
— Eu também segui-lhe o exemplo e fui ouvir o sr. Arcebispo — E que é que disses.
Eminência?
— Olhou para mim, encolheu os ombros e perguntou-me — Que é que tem o. . .
sagrado com o profano?.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1377, 29 set. 1911, p. 1.
Pode muito bem ser que a polícia ainda resolva quebrar a cabeça dois ou três meses, na fita da repressão ao jogo. Como, por fim, terá de chegar ao rego, reconhecendo-se incapaz de o suprimir, bien rira que rira le dernier.
Enquanto isso, o pessoal miúdo vai vivendo à tripa forra para consentir na transgressão. Chama-se a isso regenerar os costumes, defender a sociedade e salvar a moral. Diabo de virtude de que são apóstolos os viciosos.
— Oh! Manuel, Manuel, você não é deputado mirim? — Os meus companheiros me reconhecem como tal.
— Como é então que você sabe que o grande homem vai fazer acusações à Assembléia, e logo no dia seguinte àquele em que proclamara a independência da Assembléia?
— Um esquecimento, quem não tem esquecimentos?
— É pena. Se isso é ser amigo, Deus me livre dos amigos.
O dr. Flores da Cunha - que é uma autoridade de mão cheia, enérgica, franca, decidida e, de mais a mais, sensata, o que é difícil de conciliar, e ele concilia - ordenou providências que garantissem a segurança pública nos cinematógrafos, abolindo a possibilidade de incêndio por defeito da instalação elétrica. S. Ex., porém, não soube ou não pôde fazer tudo, lembrava, ontem, o colega da tarde. E saiu-se com esta, que é de primeira ordem:
"Uma outra coisa, entretanto, nos nossos cinematógrafos reclama a atenção da autoridade competente - é a linguagem em que são. escritas as legendas das diferentes fitas e explicadas as situações dos diferentes quadros expostos e menos facilmentecompreensíveis à simples vista. O português é em tais legendas e inscrições barbaramente tratado. O pouco-caso pela correção da frase. o desrespeito pela língua, toca quase o inadmissível.
Há períodos inteiros, onde as impropriedades de palavras e sintáticas se aglomeram de tal modo que tais períodos ficam ininteligíveis. Algumas vezes produzem-se, pelos erros de grafia ou de construção, verdadeiros disparates, outras vezes ásperos cacófatos e não raro duras pornografias. Tudo isso é, como se vê, muito pernicioso. A língua, na sua correção correntia, na sua possível pureza é alguma coisa que merece o respeito de todos e exige a defesa do poder público.
E extraordinariamente desagradável ao patriotismo de todos nós vermos que fregueses que somos tão bons como os demais das fitas cinematográficas, não merecemos dos importadores desse gênero de mercadorias nem sequer a consideração de as termos em linguagem escoimada de grosserias sintáticas e até de erros palmares quanto à própria significação das palavras.
Sobe de ponto, entretanto, esse mal se considera que os cinematógrafos. são extraordinariamente freqüentados por crianças.
Agora que o dr. Álvaro Batista pretende dar, pela nova lei, uma feição absolutamente prática à direção do ensino primário municipal é talvez excelente oportunidade para solicitar as suas vistas para esse ponto. Parece-nos, aliás: que mesmo sem nenhuma disposição especial de lei, as autoridades do ensino municipal podem intervir para que cesse esse abuso de serem exibidas fitas cinematográficas nas quais o que há escrito em português está tão inçado de erros e absurdos que freqüentes vezes, provoca o riso;
quando não provoca a indignação.
Eu também não sei se devo rir ou ficar indignado. O dr. Flores da Cunha porém, poderá bem arranjar um lugarzinho no xadrez para as "grosserias sintáticas".
aproximados), vão tomar lições. Se os jornais também aceitassem o conselho, seria ouro sobre azul.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1378. 30 set. 1911, p. 1.
— E esta agora, de quererem obrigar as padarias a empregar máquinas no fabrico do pão!
— Vão revogar as disposições da Bíblia.
— Já não comeremos o pão amassado com o suor... dos padeiros.
*Ah! é verdade. Em tempo. Deixem-me dar-lhes o final do artigo "Seguramente em nenhum outro país do mundo se admitiria semelhante coisa, sobretudo prejudicial -
repetimos - desde que são os cinematógrafos considerados uma verdadeira escola que deve ser aproveitada habilmente para a difusão dos conhecimentos práticos à infância e à parte da população arredia dos livros."
Em todo caso, qualquer que seja a opinião sobre o assunto, aí fica a nossa sugestão.
Se me for lícito externar o meu pensamento, acho que não se pode permitir duas opiniões. Os cinemas carecem de respeitar a língua - desde que - como ele lá diz - é ali que a pequenada os marmanjos arredios apenas dos livros (no mais, são muito aproximados), vão tomar lições. Se os jornais também aceitassem o conselho, seria ouro sobre azul.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.º 1378. 300set. 1911, p. 1.
— E esta agora, de quererem obrigar as padarias a empregar máquinas no fabrico de pão!
— Vão revogar as disposições da Bíblia.
—?
— Vai ser o diabo se a Academia de Letras se resolve a aceitar senhoras no seu seio;
imagina que a minha esposa tem veleidades literárias e se apresentará candidata à primeira vaga.
— E que tem isso? se conseguir ser eleita será até cima grande honra para ti.
— Não digo que não, meu caro. mas há uma coisa que me preocupa muito seriamente . . .
— O discurso de apresentação?
— Qual! o número de fardas que tenho que pagar por ano aos tailleurs pour dames.
Continuam ameaçadas de fogo as ruínas da Imprensa Nacional Em vista disso, os peritos, que não conseguiram determinar a casualidade ou não do incêndio, estão propensos a crer que se trata de um vulcão, há muitos séculos adormecido e que agora entra em franca erupção.
Sobre o fato vai ser consultado o Serviço Geológico do Brasil.
O Banco dos Funcionários suspendeu as transações com os empregados da Central.
O motivo desta medida é estar a importante ferrovia com os seus pagamentos regulando com os trens, isto é, em atraso.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.º 1384. 5 out. 1911, p.1.
E por que é que as contas de gás sobem?
— Natural. O gás tende sempre a subir.
Telegrama de ontem:
"Lisboa, 30. Os carbonários descobriram no Porto uma conspiração monárquica.
Os conspiradores eram na totalidade católicos.
O Centro Católico era seu quartel-general, que foi assaltado pelos carbonários, que ali encontraram umas trinta pessoas e grande quantidade de armas e munições."
Católicos e com armas? Talvez as armas de São Francisco.
A Gazeta promoveu uma exposição de cães, que se realiza no velho campo de Santa Ana, hoje, praça da República.
A apostar em como lá não se encontrarão todos os mordedores da cidade; e é pena.
Um grande jornal turco acha que os italianos são poetas, porque as suas peças de vinte soldos são liras. Não the lembrou que as de vinte soldados dão tiros.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1379, 1 out. 1911, p. 1.
Ao ler a notícia da queda de um aerólito, nas costas de Santa Catarina, exclamou um paranaense exaltado:
— Estou a apostar que foi o Paraná quem o jogou.
Entre jogadores:
— Que me dizes da regulamentação do jogo?
— Homem, francamente não vejo nisto nada de extraordinário; o que há de novo é o nos chamarem ao rego; quanto à lamentação, esta é antiquíssima nos jogadores que perdem.
As últimas notícias de Portugal dizem que a revolução restaurada está conflagrando todo o país, acrescentando que reina inteira paz de norte a sul da República.
Em vista disto, os títulos portugueses. . . de barões, viscondes, etc., subiram e desceram à vontade, conservando-se estacionários.
Graças ao acaso, um assassino caiu, ontem, nas mãos da polícia. E o governo que não se lembra de fazer o Acaso, pelo menos, 1 ° delegado auxiliar! Ninguém até hoje tem prestado mais relevantes serviços à polícia!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.º 1385, 7 out. 1911, p. 1.
Diz um telegrama de Roma que o paquete francês "Níger", quando atravessava o Dardanelos, foi alvejado pelos fortes turcos.
Mas, senhora, isto não é guerra, é uma tinturaria! Os turcos já fazem do preto branco.
Há duas noites que se conserva apagado o relógio da Glória; um amigo nosso, que reside na Pensão Suíça, bem em frente ao relógio, pede-nos para reclamar contra este fato aos poderes competentes.
É o caso que a sua esposa, acostumada a saber exatamente a que horas ale se recolhe, pela hora oficial (sem que lhe seja possível atrasar o tempo de um segundo sequer), atribui-lhe cumplicidade no apagamento do relógio.
E tem havido por isto em casa do meu amigo uma formidável encrenca familiar.
O Sr. Mackenzie voltou a conferenciar com o Sr. Seabra sobre a questão dos injetores.
Ufa! mas que injeção.
A legação portuguesa comunicou aos jornais o seguinte telegrama do ministro das relações exteriores, de Lisboa:
"Causa admiração como jornais publicam tantas falsidades. Seria bom fazer sentir que todas as notícias alarmantes publicadas no estrangeiro, desde a proclamação da República, são falsas. Devem ser de futuro menos crédulos."
Seremos, não há dúvida; e muito intrigados estamos por ter caído no bluff da Constituinte, do ministério Chagas, do reconhecimento das potências e outras tantas notícias alarmantes... para os monarquistas, que nos foram transmitidas. Que araras temos nós sido!
Entre as rigorosas condições que a nossa colega A Noite estabelece para o seu concurso de aviação, figura esta: realizar o vôo no menor espaço de tempo possível.
Imaginem agora que o Planchut é bastante "águia" para levar um ano a voar de Santa Cruz à Ilha do Governador. Está perfeitamente dentro do contrato, desde que lhe não foi possível realizar o vôo em menos tempo.
Isto até parece cláusula do contrato da Light!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1386, 8 out. 1911, p. 1.
Continua apagado o relógio da Glória.
Segundo ouvimos, esta medida foi tomada por princípio de economia. A municipalidade pretende atender às suas contas de luz, agravadas este mês com a iluminação extraordinária da Avenida para as festas do primeiro aniversário da República Portuguesa.
Por isso, mandou apagar o relógio; há muitas contas a pagar.
Ontem, espalhou-se pela cidade a notícia de ter Caído no morro do Castelo um aerólito.
Telefonamos para o Observatório; nada sabiam a respeito; de onde se conclui que o aerólito não passava de um aero...mito. Antes assim.
"Seguiram para Trípoli, diz um telegrama da Gazeta, alguns aviadores militares, que empregarão no serviço da guerra apenas duas espécies de aeroplanos: monoplanos e biplanos."
Quanto aos biplanos, tetraplanos e outros planos serão todos empregados em terra firme.
Sem reclame:
— O Paiva Couceiro tomará o Porto mais tarde ou mais cedo. . .
— Pois olha, eu mais tarde é que tomarei o porto Macedo.
Deis tabaréus mineiros passaram, ontem, um conto-do-vigário, dos clássicos, em um sabidório carioca. Minas civiliza-se: e, vinga-se.
Está se vendo em palpos de aranha o alemão que, com a belíssima intenção de melhorar a nossa raça, deu-se de corpo e alma à preta moreninha.
Não valeu a pena o sacrifício antropológico; volte o súdito de Guilherme à porter; deixese Guiness.
De uma entrevista com o Sr. Lauro Sodré:
— E que me diz V. Ex. dos lemistas do Pará.
— Não há mais lemistas; o único sou eu...
— Sim; sou eu quem está no leme.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1387, 9 out. 1911, p. 1.
Foi nomeado, como se previa, o sr. Heitor Modesto redator de debates da Câmara.
S. S. está disposto a não redigir, nem digerir os debates suscitados pela sua nomeação.
Refere o telégrafo que em uma pequena desordem, em ChangToung, na China, morreram dez mil pessoas.
Sim, senhor! o Celeste Império é uma terra extraordinária: até a morte, quando chega por lá, faz "negócios da China"!
Ainda a propósito da China; os celestes vão cortar .os rabichos e vendê-los para com o produto da venda, comprar dreadnoughts.
Não será de admirar que em breve vejamos deliciosas criaturinhas carregando à cabeça bandos de chichis no valor de um dreadnoughts chinês: quanto ao tamanho já não causarão admiração.
Telegrama do Paraguai:
Está absolutamente confirmado que o governo deu ao coronel Jara uma forte soma para que abandonasse os seus projetos de revolução. Bem nos estava parecendo que este Jara era homem de "peso": com ele é ali, no "duro".
O Jara vale ouro.
Numa relojoaria:
Venho reclamar sobre o relógio que o senhor me vendeu.
— Que tem ele?
— Adianta meia hora em cada vinte minutos; parece até um relógio de gás!
— Essa banda alemã também é da Light?
— Por que o perguntas?
— Pois não vês como eles cobram a injeção dos seus "injetores"?
A justiça começa por casa: é pensando assim que a Colmeia não deixa passar sem uma ferroada o telegrama d'A Imprensa da tarde, em que se anuncia a visita do sr.
Euclides Malta a Alagoas.
Que o sr. Rosa visitasse Pernambuco seria digno de um telegrama: mas o sr. Euclides visitar a terra onde mora...
Segundo um telegrama d'A Noite as forças realistas portuguesas passaram a fronteira brandindo garrafas de champagne.
Mas que idéia a dos restauradores! invadir o Porto a champagne!
É a questão dos vinhos que recomeça.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1388, 10 out. 1911, p. 1.
Lembram-se os leitores do relatório do ministro da Marinha?
Dizia nele o Almirante Leão que no dia da turumbamba naval ninguém sabia da própria cabeça nem das cabeças do torpedo. Pois, agora, em plena paz foram estas roubadas da Ilha do Boqueirão.
É tempo do governo mandar guardar as outras...
O Moreno que há tempos assassinou a amásia com onze punhaladas foi absolvido pelo tribunal do júri.
E ainda há em nosso país quem não seja assassino!
Dizem telegramas de Constantinopla que os italianos residentes em Malta estão preparados para a fuga.
Hom'essa! fugir de Malta? Esses italianos até parecem oposicionistas alagoanos.
Os socialistas italianos são contra a guerra.
A propósito ouviu-se ontem o Goulart de Andrade preparar o seguinte trocadilho turco:
na Itália "só se alista" quem não for socialista...
Diz um telegrama de Milão que foram mandados fornecer às tropas italianas combatentes um provimento de dez milhões de cigarros e sessenta mil charutos.
O que o despacho não diz, mas é fácil de concluir, é que o fumo era todo "caperal": os italianos atualmente não fumam "turco" e os turcos, estes, nem "fumam".
Foi convidado para ministro dos estrangeiros da Turquia o sr. Mustafá Assim Bey; o sultão aprova a escolha, acrescentam os telegramas.
E todos nós a aprovamos; queremos um bey Assim..
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.º 1389, 11 out. 1911, p. 1.
Dizem notícias de Portugal que as forças realistas deixaram o Corvo e seguiram para a fronteira.
Fizeram muito bem: isto de Corvo em véspera de batalha não é la de muito bom agúrio.
Encontramos, ontem, o sr. Alzôr Prata, o elegante jovem turco.
— Então, que tal o novo ministro da guerra Assim bey?
— Assim, assim! respondeu-nos simpático mulçulmano.
Comunica-nos o nosso companheiro Antônio Simples ter sido galhardamente recebido em Pernambuco por ambas as facções partidárias.
Vão ver que o nosso Zeca volta do Recife com as comendas da Rosa e da Espada.
Será uma linda barretada no nosso representante.
Reza um despacho de Washington:
"Dizem da cidade de Bellingham, que, em discurso que o presidente Taft ali proferiu, declarou que, embora a abertura do canal do Panamá esteja fixada para o dia 10 de julho de 1915, pode se contar ver o primeiro navio atravessar o canal em primeiro de julho de 1913."
Leram bem: o canal será aberto em 1915, mas desde 1913 os navios o atravessarão;
provavelmente os navios serão conduzidos em aeroplanos.
Seria de espantar a notícia se não nos viesse da América.
As águas do Uruguai descem em Pozadas e sobem em Salto, diz um despacho d'A
Noite.
— Águas que descem e sobem em Salto devem ter muito pouco de Pozadas, comentou o Raul.
MÁXIMAS ... e mínimas Mais valem cem mil-réis no bolso que um conto num banco...falido.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1390, 12 out. 1911, p. 1.
Entre políticos:
— A Bahia deve estar furiosa!
— Por quê?
— O caso de Pernambuco está ficando muito mais interessante.
Telegrama de Vigo:
Os republicanos obrigaram em Aveiro e em Calvário os conspiradores presos a erguer vivas à República.
Felizmente, o Homem Cristo não estava entre os conspiradores; não seria muito agradável ao Cristo aquele Calvário.
As enchentes do sul estão pavorosas; segundo um telegrama de Montevidéu as águas do Uruguai cresceram nas últimas 24 horas 12 metros.
Observação de um carioca:
Oh! Se eles vissem as nossas contas do gás! ...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.º 1391, 13 out. 1911, p. 1.
Não se realizou a profecia do Múcio; segundo nos comunica o Barão Ergente a restauração da monarquia em Portugal foi adiada por causa do mau tempo no Rio de Janeiro.
Realmente os tempos andam bicudos, por aqui.
O Mr. Falliéres ofereceu ao Piza um serviço de chá. Por engano os jornais disseram que o serviço era de café; explica-se o engano; o serviço era pequeno para ser de chá e aí é que estava toda a ironia do presidente francês: o Piza nunca tomara chá em pequeno... serviço.
Em nota oficial, a um dos nossos vespertinos, o Ministério da Agricultura comunicou que no dia da inauguração da Exposição de Turismo pavilhões brasileiros se achavam prontos. Dada a especial significação que se costuma dar no slang carioca, à expressão "pronto", força concluir que o ministério tem razão: — os pavilhões não tinham nada para mostrar.
A China em revolta, pretende proclamar a República; agora é que se vai ver no Império do Meio o que é um negócio da China; e a China é que irá "nomeio" em tal negócio.
— Quando partes para Minas?
— Não sei bem; estou à espera do tal concurso de aviação d'A Noite.
— E que faz a noite?
— "Adia'... o concurso.
"A Rússia vai pedir à Turquia como compensação da sua neutralidade o direito exclusivo de passagem dos seus navios no Bósforo." Há uma infinidade de leitores que, por simples preguiça mental, exige do mísero autor desta seção o trabalho de mostrar onde está a pilhéria da neutralidade e do pedido russo.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1392, 14 out. 1911, p. 1.
Em Alcaforges, diz um despacho de Lisboa, as mulheres armadas, em grande número, combateram contra o regimento de infantaria 21, manejando as armas com admirável perícia e precisão.
A professora Daltro, entusiasmada com o fato, vai mandar buscar em Alcaforges instrutoras para sua Linha de Tiro Feminino.
Entre homens de letras.
— Sou absolutamente pela admissão do sexo gentil na Academia de Letras.
— Tens algum motivo bastante forte?
Tenho um fortíssimo; as mulheres em geral muito antes dos acadêmicos, já haviam adotado a falta de ortografia na linguagem escrita.
*Constou ter havido um caso suspeito de cólera a bordo do vapor "Brasile".
Magnífica ocasião para a prensa de Buenos Aires declarar infeccionados os portos brasileiros, em vista da igualdade dos nomes.
— Hoje, mais do que nunca, o governo da Turquia tem o direito de intitular-se Porta.
— Por quê?
— Porque é "com batente".
Os chineses estão dispostos a transformar o celeste império em República Celeste.
Com a invasão das idéias ocidentais, os chineses perderão o "rabicho" que tinham pelo imperador e estão dispostos a proclamar presidente da República um Chin-Chan-Fó qualquer.
Segundo dizia-nos ontem um monarquista enragé, com os maus exemplos do ocidente, os orientais estão desorientados.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1393, 15 nov. 1911, p. 1.
Um deputado uruguaio fugiu com a atriz Gabina; naturalmente o parlamentar foi organizar um gabinete para daqui a nove meses.
O Tribunal de Justiça de *. Paulo julgou hoje a antiga questão de Pilões. Ainda bem;
essa questão de Pilões já estava muito repisada.
Diz um telegrama de Portugal:
"Os trens que transpõem a fronteira portuguesa com destino a Paris, são rigorosamente revistados pela polícia espanhola, que chega a apalpar as senhoras que viajam nesses trens."
Ai está um magnífico emprego para os nossos bolinas em disponibilidade; parece-nos mesmo que alguns deles já seguiram para a Espanha; tem-se-lhes notado a falta nitidamente.
Os jornais publicaram a tabela proposta por uma comissão de negociantes à Assembléia do Estado do Rio para os impostos sobre os produtos de pequena lavoura.
Os gêneros são classificados por portadas: perus por cada... gansos por cada... etc.;
mas há na lista um item contra o qual protestamos; é o que diz filhotes de cada um. . . 300 réis.
Filhotes de cada um é desaforo! Registre-se o nosso protesto.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1394, 16 out. 1911, p. 1.
A propósito do atual projeto do aumento do subsídio dos Pais da Pátria, ouvimos ontem de um: para nós, deputados pobres, o aumento é uma questão capital; só os ricos a consideram subsidiária.
Telegrafam de Londres que a província de Trás-os-Montes está em completo sossego.
— Ora, dessas notícias o Telégrafo nos tras os montes, comentou Goulart.
Na manifestação do barão do Rio Branco, o dr. Leôncio Corrêa recriou um soneto que termina com o seguinte terceto:
"A história - essa cantora olímpica - enteatre-a.
Em um templo o Futuro e, nele, Tu - radioso.
Expoente do poder e das glórias da Pátria!"
Ouvimos, ontem, no Garnier, dois poetas a comentar a obra do colega:
— Homem, viste? o Leôncio cavou uma rima pára "pátria" e conseguiu-a.
— Também, já era tempo; ele tem cavado tanta coisa sem sucesso...
Noticiando a chegada do Arcebispo, dizem os vespertinos de ontem, ter sido muito cordial o encontro do barão do Rio Branco com sua Eminência.
O contrário é que seria de admirar: o encontro com um Cardeal deve ser forçosamente cordial; muito, porém, a pretexto de receber o cardeal foram ao encontro de um cordial que a bordo costuma ser excelente.
E quem não percebeu o trocadilho queixe-se ao arcebispo.
Diz um telegrama de Viena que o Oesterreichieche Runderes se havia pronunciado contra a expansão política da Itália na Albânid.
Fez bem o Oesterreichieche, etc., em prounciar-se. Isto é coisa que só ele mesmo podia fazer: nós o estamos tentando há uma hora e a língua não nos ajuda.
Realizou-se há pouco tempo, nos Estados Unidos, um casamento em aeroplano.
Está-se a imaginar daqui a alguns meses, por ocasião da primeira rusga, a explosão da esposa: maldita a hora em que casei com o senhor: estava de cabeça no ar!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1395, 17 out. 1911, p. 1.
Um telegrama noticiou haver desembarcado em Trípoli as tripulações de alguns vasos de guerra italianos.
—Agora sim, disse o Goulart de Andrade: Trípoli está... tripolado!
O Raul não desmaiou.
A Noite deu, ontem, uma voz "maviosa" ao barítono-amador Joaquim Amaral.
E nós que pensávamos que isso de voz maviosa era somente com o jovem deputado Mangabeira!
Na Secretaria da Polícia falava-se sobre as belezas da Guanabara. Diz um chaleira:
— A ilha mais bonita é das Cobras...
Não se sabe o que respondeu o dr. Cunha das mesmas.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1396, 18 out. 1911, p. 1.
Foi apresentado um projeto isentando de impostos os preparados medicinais de um estudante.
Os jornais não dizem de que preparado se trata; sendo, porém. o seu inventor um estudante, não admira que o remédio seja algum preparado de cola...
O deputado Nelson Sena escreveu uma sinopse das quedas d'água existentes no Estado de Minas.
O nosso Lulú de Almeira está há tempo, organizando um trabalho excêntrico: uma sinopse das quedas de paus-d'água no Rio de Janeeiro. A obra é volumosa.
Um súdito austríaco reclamou da Saúde Pública uma indenização de 2:000$000 de réis por uma trouxa sua que se extraviou por culpa daquela repartição.
O dono da trouxa não é trouxa, nem nada; mas a Saúde Pública é que não vai no embrulho; o homem fica sem a trouxa e sem os dois pacotes.
A França está estudando com ardor o problema da carestia da vida.
Tal qual como nós; seria conveniente que o nosso governo se entendesse por via diplomática com a França, propondo-lhe um negócio; ela nos manda os seus preços dos gêneros de primeira necessidade e nós lhe enviaremos os nossos e ainda damos alguma lambugem.
Que lhe parece?
Fala-se sobre a carestia da vida:
— Sabes qual a diferença que há entre a carne de vaca e a carne de marrequinhas?
— Qual é?
— É que a de vaca enriquece marchantes e a outra leva-os à penúria.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1397, 19 out. 1911, p. 1.
Epitácio, o sócio de Roca e Carleto no assassinato dos irmãos Fuoco, acaba de morrer no Acre, devorado pelas feras.
É mais um provérbio que se desmente: lobo também como lobo.
No Casino de Buenos Aires um elefante atacou um popular que o acariciava deixandoo muito ferido.
Isso, felizmente, não acontece entre nós: temos um Elefante Marrom que dirige uma troupe no *. José e não ataca o público que o acaricia, enchendo-lhe o teatro; muito antes, pelo contrário.
Há dias, foi o dr. Antônio Carlos procurado por um importuno que lhe solicitava um emprego; o simpático parlamentar afastou-o com sua habitual gentileza e depois, comentando o fato com um amigo, observou:
— Ora, vê você, que cacete: é isto todos os dias!
— A culpa é sua, tomou-lhe esteá quem lhe manda ser "pistolão"?
— É verdade; em certas ocasiões é preferível ser-se pistola. . . carregada; ninguém se aproxima.
E digam que os homens austeros não fazem, às vezes, concorrência desleal ao humorista...
*— Nessa questão de anexação do Egito sou inteiramente pelos ingleses.
— Que diabo! Até pareces açougueiro!
— Açougueiro?
— Sim. Estás encarecendo o beef.
A Imprensa, da tarde, de ontem, dá uma interessante foto sobre a arte de predizer o futuro pela maneira de beber.
Convém acrescentar uma que não vem no "clichê":
— Ingerir toda a bebida (exceção de água, chá, café e outras perfumarias) de um gole e pedir outra significa pronunciada disposição para "pau-d'água".
O resto está certo.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.º 1398, 20 out. 1911, p. 1.
Foi nomeada uma comissão para proceder a um inquérito sobre as causas da carestia da vida nesta capital.
Dessa comissão faz parte o dr. Moura Brasil.
Procurando indagar aqui e ali, por que motivo fora o ilustre oculista escolhido para tal comissão, conseguimos sabê-lo afinal.
É que a carestia da vida é uma questão de ponto... de vista; e ainda mais, porque os gêneros de primeira necessidade estão custando os olhos da cara.
A Jardim Botânico, sempre bem-intencionada, pôs bondes especiais às 4 horas da tarde, à disposição dos funcionários do Ministério da Agricultura.
Tais bondes param em todos os postos e, ordinariamente, chegam à cidade dez minutos depois dos ordinários.
A sua especialidade consiste em só cobrar passagens inteiras, de 300 réis; os bondes são de grande vantagem para quem não faz o caso de um tostão, nem tem pressa de chegar em casa.
Diz um telegrama de Lisboa que o governo, notando uma pronunciada corrente de má vontade contra a sua administração, está disposto a ceder o lugar à oposição.
Uhm! ... Quando o governo se dispõe a ceder o lugar à oposição é que o tal lugar não é lá para que digamos em matéria de comodidades...
A mulher de uma praça de Bombeiros suicidou-se, ontem, por ciúmes, lançando fogo aos vestidos.
Observação do viúvo: — qual! fogo de ciúme! não há ninguém que o apague! nem mesmo sendo bombeiro!
O sr. Manoel Madruga queixou-se às folhas do aumento das contas do gás. Diz o queixoso que, em setembro, pagou 63$700 pelo precioso fluido.
É um absurdo; um senhor que se chama Madruga deve forçosamente deitar-se cedo e gastar pouco gás.
Os Novos? — Quero ler-te o meu último poema...
Oh, filho! Uma injeção? por que não te apresentas ao dr. Otto Alencar? Ele está precisando de novos injetores.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1399, 21 out. 1911, p. 1.
O calor de ontem foi pavoroso. De ananezes! Como diria o Eça. Aqui em casa, o Da Costa, de olhos ao revés, atirava frases de fogo ao sol causticante.
— Ah! se eu pudesse, disse, afinal, num dia assim, andava vestido de sorvete!
— Nada adiantarias, diz o Otávio; o calor te transformaria a "toillette" em trajes adâmicos; eu, se pudesse, compraria um terno de ventarolas!
A Noite, de ontem, noticiando a falecimento de um desembargador de Niterói, salientava o fato de ter o finado deixado "apenas" dois filhos.
Fiquem avisados os candidatos a falecimento: A Noite considera dois filhos uma coisa de nomada; é que o autor da notícia é, com certeza, empregado do Povoamento do Solo, nas horas vagas.
Houve uma reforma no Instituto Nacional de Música. O quadro primitivo, quadro A, compunha-se de 29 professores; o novo quadro, o B, tem 42 (não confundir o quadro B
com o Bequadro).
O novo regulamento acaba com o ponto obrigatório: neste ponto todos os professores estão em "harmonia": são "contra pontos".
No grande órgão O Repórter, lemos um soneto a Florença, assinado pelo sr. Argemiro Greco, em que o poeta, referindo-se à luta entre os Guelfos e Gibelinos, chama Piza de "odienta".
Oh! pelo amor de Deus, Greco amigo! você confunde, deploravelmente, a Piza com o Piza; uma é a da célebre torre; o outro, o odiento, é o da célebre turra.
O senador Irala foi encarregado de ir a Plicomaio informar ao Gontira de que pode vir à capital.
Resta saber, dizia, ontem, o Goulart, se o Irala irá lá.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1400, 22 Out. 1911, p. 1.
Diz um telegrama que a assembléia nacional chinesa esteve reunida durante 15 minutos e não tratou absolutamente da revolução.
Fizeram bem os parlamentares chins; não falta quem, no resto do mundo, perca o tempo em discutir os seus casos. Até entre nós, seus longínquos antípodas, há muita gente que vive preocupada com os "negócios da China".
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1402, 24 Out. 1911, p. 2.
De um tópico do Jornal, da tarde, de ontem:
"Em contraposição, o teatro nacional agoniza; a estas horas talvez mesmo já tenha morrido. Coitado!"
Coitado! repetimos nós; morreu enforcado com um "nó cego", no patíbulo do Da Rosa!
...
Numa entrevista que teve com um jornalista americano, Sung Tsen, chefe republicano chinês, declarou que a tomada do Hung Yang deu aos revolucionários as "chaves" do Oeste.
A república chinesa muito se parece com a monarquia portuguesa;
— ambas começaram a luta tomando "chaves"...
O ministro da fazenda adquiriu, para o serviço externo da Diretoria Geral do Gabinete, uma "barata" da força de 60 cavalos.
Admira que tenha feito semelhante aquisição um financeiro como o sr. Xico Salles.
Por que não adquiriu s. ex.ª um landaulet? Pois não sabe s. ex.ª que a "barata" sai cara?
Tem havido grosso "bate-boca", na imprensa e no parlamento alemães a propósito da carestia da vida...
Homem, venham para cá, não façam cerimônia! e vão ver como a Europa se curva ante o Brasil, nisto, como em muitas outras coisas.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1403, 25 Out. 1911, p. 1.
Diz um telegrama de Pequim que o ministro da guerra se recusa a atacar os revolucionários antes de lhe serem fornecidos reforços e dinheiro.
Aí está um ministro cheio de juízo; quer primeiro avançar no cobre para depois avançar contra os revolucionários.
Pas d’argent, pas de suisses; isto é verdade até na China.
Um pobre louco foi preso e recolhido ao Hospício quando, na "Brigada Policial", andava à procura do cardeal Arcoverde.
Quem sabe se não se trata de algum reclamante contra o preço do gás e a carestia da carne a quem aconselhassem a todo o instante que fosse se queixar ao bispo?
"CRISTIANIA, 23 — O milionário Carnegie fez um donativo de 120.000 dólares, para criação de um fundo para premiar os atos e sentimentos de humanidade." (Telegrama).
Constituindo este donativo, incontestavelmente, um ato que prova altos sentimentos de humanidade, votamos para que o Carnegie seja o primeiro a abiscoitar o prêmio. E se o não o quiser, que o mande para nós que também somos capazes de sentimentos de muita humanidade.
— Acho-te triste, sorumbático, que diabo é isto?
— Meu caro, estou atravessando crises horrorosas; crise de dinheiro, crise de saúde, crise de família.
— Pois toma um conselho similia similibus curantur não é verdade?
— Assim o dizem.
— Pois, para combater a tua crise, vai ver a "Crise do Amor", no Recreio.
Comentário de um membro da Liga D. Manuel II sobre a perda do "São Rafael":
— Vêem vocês? Em Portugal até as pedras do mar são monarquistas.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1404, 26 out. 1911, p. 1.
O rutilante João Barreto foi promovido a chefe da redação dos debates da Câmara de Deputados.
E o supremo estoicismo, o Barreto redigindo debate-bocas e rolos de línguas!
Ele preferia ser redator de um grande jornal, na Tripolitânia, ou em Sergipe, onde os debates são sérios, ou filosóficos.
Laconismo e justiça:
Da seção fúnebre de um dos nossos colegas da manhã:
"Faleceu ontem o comendador F.; o finado contava com 72 anos de idade e estava enfermo há duas semanas."
Foi tudo quanto de mais importante se deu naquela longa existência!
O dr. Júlio Brandão, hidroterapista ilustre, viu, uma bela manhã, os seus instrumentos de clínica destruídos pelas águas transbordantes do rio Banana Podre.
Que diabo! A um hidroterapista, o auxílio de uma inundação deve ser uma consagração e um belo prenúncio.
O Tesouro vai pagar 12:446$ ao American Bank Nort Co- de notas que este forneceu ao nosso governo.
Por que o Bank Nort Co. não descontou logo as notas, quando nos mandou o fornecimento? E ainda dizem que os americanos são práticos. Tomem nota.
Em Londres, os anúncios por telefone estão fazendo furor. Felizmente, este é um suplício que não podemos temer; o público não ligaria os anúncios: tal como as mocinhas da Telefônica, que nunca ligam.
Vai hoje ser feita a trasladação dos restos de diversos membros da família imperial de Bragança, do Convento da Ajuda para o de Santo Antônio.
A trasladação se realizará sem nenhuma cerimônia.
Que é feito dos nossos monarquistas?
Pois será possível que não haja nem semente?
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1405, 27 out. 1911, p. 1.
Um professor ordinário, mas muito ordinário, explicava a etimologia da palavra "parente":
— Parentes, a falar com propriedade, são o pai e á mãe, que vêm de parens-parentis;
em última análise, o verdadeiro parente é a mãe, que foi parturiente ou parente.
E ainda há quem queira reformar a Instrução.
Afinal! Pôde, ontem, o povo visitar o Convento dá Ajuda: todas as salas estavam completamente às claras; já não havia lá frades nem freiras.
O Gotlazzo é um rapaz admiravelmente cortês. Por exemplo, ao jogo ele é incapaz de baralhar as cartas, para não machucar as damas do baralho.
E também para não brigar com os valetes...
Eis aí uma imprevidência imperdoável.
O Grêmio Republicano Português abriu uma subscrição para a compra de um navio de guerra que, com o andar dos tempos, acabará nas mãos dos monarquistas. Estes ainda não compraram armas unicamente para não vê-las às mãos dos Republicanos.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1406, 28 out. 1911, p. 1.
— Então, o Convento foi franqueado ao público?
— É verdade; é um franco a entrada: e não fosse da Ajuda, o convento.
O Conselho Municipal trata de aumentar o imposto sobre os cinematógrafos.
Francamente, não compreendemos; se o Conselho não admite que os cinematógrafos ganhem muito, por que não multa os bolinas?
Teófilo de Albuquerque, em um artigo do O País, sobre a instrução do Brasil, diz esta coisa sugestiva e de ouro:
"A República. . . tem gestos louváveis no sentido da cultura nacional".
Feio gesto, mas abundante: vem às pencas.
— Dizem que o Cunha Vasconcelos rejeitou o lugar de inspetor escolar.
— Perdão, não foi ele; as crianças é que rejeitaram.
Depois do desastre do navio de guerra português São Rafael os espanhóis bem avisados organizaram sinais luminosos para determinar a presença de rochas. O sinal traduz-se: rocha a Ia zona!
Para nós, isto não é novidade nenhuma; há muito tempo que usamos sinais convencionais para dar aviso de Rocha Alazão.
O cardeal Arcoverde aderiu religiosamente à candidatura Dantas. O prelado continua regularmente a sua política secular e representa no emocionante período atual a ordem Cruz da Espada.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1407, 29 out. 1911, p. 1.
A Dama russa pediu ao governo medidas urgentes para combater a fome reinante em diversas províncias.
Um chefe de gabinete inteligente e humanitário como o falecido Stelypine não se atrapalharia com as medidas a tomar: mandava veranear para a Sibéria alguns milhares de famintos a quem o frio se encarregaria de livrar da fome; e assim haveria mais pão para os famintos restantes.
Santos vai ter o estabelecimento balneário modelo. Uma empresa com 4.000 contos de capital vai transformar a praia de José Menino em um magnífico summer resort.
Ao ler esta notícia, os cariocas devem moer-se de inveja; e nós que temos Copacabana e o Leme e o Leblon e Jacarepaguá! contentemo-nos com os banhos de mar em casa e, em matéria de elegância, trotoirs da Avenida e o chá da Cavé.
Impressão de rua.
O pobre petiz, no largo do Paço, vende uma droga qualquer para tirar nódoas;
comprime-o um largo círculo de basbaques. "Se as nódoas não saírem, devolve-se a importância!" cameloteia o pequeno.
Mas eis que surge um guarda municipal; o vendedor não tem licença e o defensor dos interesses do fisco leva-o ao primeiro posto a explicar-se.
Bobo de camelo! que tão mal roubas o fisco! Por que diabo não te fazes contrabandista de sedas, jóias e elefantes? Ganharias muito mais e não te levariam preso!
O General Dantas Barreto disse, respondendo à manifestação dos negociantes do Recife, que o comércio era o termômetro do povo; e acrescentou que o comércio asfixiava.
Por isto o termômetro subiu: Mercúrio não pode ser indiferente à sorte do comércio.
O Padre Coelho, da tribo dos Coreados, intentou a catequese da esposa do sr.
Fulano de Tal. O marido insurge-se contra o sermão do padre e aplica-lhe os cinco mandamentos, para ensinar-lhe que nem nem sempre é agradável atentar contra o nono.
Bem feito.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1408, 30 out. 1911, p. 1.
Para que foste, ontem, ao Convento da Ajuda?
Simples curiosidade; fui ver o "chafariz das saracuras".
Autêntica:
O rapaz pilhérico, olhando o alfinete de pérola do amigo, observa-lhe:
— Homem, eu ia jurar que este alfinete era o meu. E bem possível; comprei-o num leilão de penhores.
— É verdade que os terrenos do Convento da Ajuda estavam cheios de cobras?
— Não sei. Por que o perguntas?
— Porque ouvi dizer que muita gente que lá foi tem sido "mordida".
Não é pequena a idéia que, na Gazeta, se faz da tonelada, ou, antes, do homem.
Noticiando que a bordo do "Espagne" vinham 2.203 pessoas, diz: "A carga humana do "Espagne". que desloca 2.478 toneladas..."
Mais de uma tonelada pesava, pois, cada pessoa.
Os elegantes que redigem o Binóculo preocuparam-se muito, ontem, com o caso de se deixar, na sepultura dos amigos e parentes, o cartão de visita, e arranjaram umas razões profundamente comovedoras. Não precisava tão grande esforço para provar a excelência de um sistema universalmente adotado; bastava lembrar o interesse que todos têm em enviar felicitações aos cadáveres.
De um telegrama de Roma sobre a guerra: "Artilharia grossa continuou a varejar os oásis".
Isto é que se chama guerra a grosso e a varejo.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1409, 31 out. 1911, p. 1.
Um telegrama de Bagé relata o seguinte fato escandaloso: um sr. Alcides Cortes depois de tomar banho no rio, quis lavar o seu cavalo. Em trajes de Arquimedes quando descobriu o princípio célebre, montou o bucéfalo e tentou entrar n'água. Mas o animal, que não estava para bansos, disparou com o cavalheiro, que atravessou nu as ruas da cidade e em vez de gritar Eureka, como o grego, reclamava em altos brados um biombo.
O fato causou escândalo e o público, lamentando que o nosso Godiva fosse marmanjo, gozou entretanto um espetáculo inédito e só para homem.
Declara um ilustre jurisconculto que as normalistas não estão sujeitas à nova lei do ensino.
Mas se elas nunca estiveram sujeitas a nenhum ensino de lei.
- Toda a gente vive a queixar-se de que a vida está caríssima: quanto a mim, julgo-a razoável.
- Que fazes para isso?
- Nada mais simples, almoço e janto com os parente e amigos.
- Mas, mesmo assim ela não te deve sair completamente barata.
- Sim, há os presentes...
- Não é isso, é viver de “meia” cara...
Telegramas do Recife dão o general Dantas em caminho de Pesqueira, onde lhe preparam uma doce recepção.
Segundo assegura o Juca Mata-Borrão, s. exª terá a goiabada da simpatia dos pesqueirenses, que reservam para o Rosa a "lata" do abandono político.
Os rosistas garantem justamente o contrário.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n° 1410, 01 nov. 1911, p. 1.
Um advogado, o dr. Hilário Freire, inventou um aparelho de aviação.
Estão bem aviados os autos...
Acha-se em estudos na subdiretoria do expediente um concurso para carteiros.
já se deixa ver que os escolhidos serão os que apresentarem melhores cartas.
- Não foste à repartição?
- Não. O ponto era facultativo...
- Por quê?
- Pois não sabes que os médicos festejam de véspera o dia monástico da classe.
Amanhã é o dia de finados.
À comissão de tarifa da Alfândega foram enviadas, para dar parecer, as amostras dos tecidos fabricados pela São Paulo Alpercatas Company.
Este luxo de alpercatas junto do company é só para dar força à expressão e convencer ao governo de que o produto é nacional.
Aliás, como todas as outras indústrias.
Na reforma realizada no Instituto Nacional de Música não foi aproveitado o professor Cavalier, que em requerimento ao sr. ministro da justiça, pediu ser incluído na lista dos professores.
Estende-se ao Instituto de Música a desarmonia de todas as reformas; o sr. Cavalier, porém, surgiu tarde, com o seu protesto; foi mau chevalier.
Ontem; à porta de um cemitério:
- Qual é a diferença que existe entre os sinos e a banda alemã?
- É que os sinos estão tocando a finados.
Diz a Razon, de Buenos Aires, que o Brasil precisará, nos anos próximos, de 400.000 toneladas de trigo argentino.
É possível que a razão esteja com a dita; tão grande peso de trigo, entretanto, não iguala à tonelagem de intriga com que seremos mimoseados em 1912 como nos anos passados e futuros.
O general chinês Jichong está tratando de expurgar o exército dos elementos maus.
Eis uma boa medida de elementar disciplina... chinesa.
- Conheces? É a mulher do Properoso: É uma santa...
- Já ouvi dizer: Por isso é que os amigos do marido a chamam Nossa Senhora.
Progressos do feminismo:
- Minha mulher dedica-se agora ao foot-ball: no domingo último fez doze pontos no ground do Feminil Foot-Club.
- Sim? meus cumprimentos.
- Qual cumprimentos, meu amigo: em compensação durante a semana inteira não faz um ponto sequer na minha roupa branca.
- Foste ver o chafariz das saracuras no Convento da Ajuda?
- Fui e peguei 2$000 para ver a cera do Santíssimo.
- De forma que, para ver a saracura, pagaste cara e cera?
- Você entende desta coisa de marcas de animais?
- Mais ou menos; é assim: você compra um cavalo e marca com o seu nome; depois verifica que o cavalo é cego,surdo e cocho; você fica sendo um burro de marca.
- Meu caro, assim como me vêz, de cabelos brancos, não sou tão velho como pareço, dão-me o dobro da idade que tenho - Sou.
- Ah! é por isto: tempo de guerra, conta-se dobrado.
O Observatório Astronômico constatou a existência de dois cometas no céu.
Ao saber da presença dos dois astros vagabundos, o delegado Cunha e Vasconcellos logo pensou em tomar providências para a prisão dos mesmos e conseqüente remoção para Dois Rios.
Não é de estranhar que seja encarregado da diligência o M. Querubim.
Foi muito cumprimentado o representante do Japão, por motivo do aniversário do Imperador Motshuito.
Ouvimos dizer que o ministro daquele país, o sr. Uchida, ficou um tanto aborrecido com um dos nossos jornais, que aproveitou a ocasião para dizer que o Mikado atual fora o iniciador dos processos da política ocidental em seu país.
O sr. Uchida considera tal asserção uma grosseria: NÌotshuito tem sido, ao contrário, um administrador moralizador, liberal, respeitador das leis, o que há de menos político ocidental neste mundo.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1414, S nov. 1911, p. l.
Ecos de Finados:
O Malagutti chega à Colombo com o seu modo rebelaisiano e anuncia:
- Sabem? Vi-os panúrgios dos cemitérios.
- Os .tratadores de carneiros.
Fala-se da pretidão do amor:
- Não era só Camões que se dava a este esporte: vocês vêem, em nossos tempos Baudelaire cantou a Vênus Hottentote, diz o Marcelo Gama.
- É verdade, interrompeu o Emílio, a Vênus que tem de Bode l'air.
Em Londres continuam em greve os chaufferrs de autotáxis.
Como conseqüência da parede, têm fechado diversos hospitais e grande número de médicos operadores resolveu emigrar.
Baixou consideravelmente o preço da arnica e pontos falsos.
Entre as concessões feitas pelo trono chinês aos seus súditos com o intuito de retardar o advento da República Celeste, figura este monstruoso absurdo: a faculdade do rabicho.
- Como, estão? já não serão obrigados os chins a se enraibicharem? e não entra logo pelos olhos que, sem rabicho, se desmorona o império do Meio?
- Grande coisa o avi-plano, dizia a um paciente Rocha Alazão: eu há muito tempo descobri o "plano-ave".
Para evitar um bolina, é tática dos chefes de família tomarem as extremidades das filas de cadeiras dos cinematógrafos e porem as senhoras no centro.
Vejam os senhores bolinas a que extremidades levaram os pais extremosos.
D. Sebastião Leme é o novo arcebispo coadjutor do Rio de Janeiro. Os cavalheiros da invicta Sebastianópolis estão muito satisfeitos com esse Sebastião ao "leme" da barca de S. Pedro em excursão pela Guanabara.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1415, 6 nov. 1911, p. l.
Ao ler a notícia da- vitória dos caixeiros na questão de horas de trabalho um pobrediabo, que há seis meses procura um emprego moraturou*: - não há meio de eu obter uma diminuição das minhas horas de descanso!
Continuam as visitas ao Convento da Ajuda; a irmã Paula tem sido muito visitada, por mordedores regulares e seculares.
O Rocha, que é irmão de Caridade - propôs-se a fazer a coleta, mediante metade, irmãmente.
Proposta clara e incisiva.
Os resultados até agora fornecidos da eleição de Pernambuco dão o sr. Rosa e Silva com 18.223 votos e o general Dantas Barreto com 428. A versão dantista diverge um pouco deste resultado: dá 18.223 ao general Dantas e 423 ao sr. Rosa e Silva. O apuro vai ser na apuração.
A eleição para governador de Pernambuco teria corrido muito bem se não fossem os tumultos de Bom Conselho.
Quem diabo teria tão mal aconselhado os BONS CONSELHEIROS.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n° 1416, 7 nov. 1911, p. 1.
O Meireles, candidato a secretário de legação, mais entusiasta do Rio Branco que o próprio coronel Ernesto Senna, imagina que desmanchou o casamento com uma moça rica e bonita porque descobriu que tinha uma voz "argentina".. .
Entre funcionários:
- A minha repartição é um verdadeiro Mar Morto.
- Por quê?
- Faltam-me "vagas".
O Rosa teve maioria na cidade de Canhotinho.
-É que os dantistas não foram.
Observação de um rosista:
- Vêem vocês? o Rosa teve maioria em todos os distritos de nomes simpáticos: Bom Jardim, Õ Nada, Rua Formosa, Águas Belas, Velha Delta, Triunfo, Flores, etc.
- O Dantas venceu no Cabo.
- Pudera! o "cabo" é o que há de mais militar!
Dizem os telegramas de Roma que os italianos tomaram o porto 3e Acaba.
A crer na verdade das palavras deve ser esse o fim da luta.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1417, 8 nov. 1911, p. 1.
A república chinesa tem 'despertado a atenção de todo o mundo. - E não é só isto; a sua influência tem sido universal; já chegou até o Rio.
- Como assim?
- Pois não viste a derrubada dos quiosques?
Os dantistas em Pernambuco pintaram de pvce o quartel da Força Policial.
Como estamos longe dos tempos de Floriano! Ele mandaria pintar de verde e dar vivas à República.
Mma. Curie, heroína de um romance passional que está fazendo escândalo no mundo científico, foi contemplada com o prêmio Nobel de química.
Parece-nos que o prêmio que lhe devia caber era o de mecânica realmente, a douta senhora acaba de fazer belos estudos experimentais de colaboração com o prof.
Lougevin, sobre a lei de atração dos corpos.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1418, 9 nov. 1911, p. 1.
Parece que devido ao fato de ter sido encontrada água em grande abundância nas fundações do Municipal, o governo da cidade pensa em aproveitar o Elefante Branco para aumentar o abastecimento da cidade.
Queixa-se um negociante do aumento das contas do gas.
- Ora, diz-lhe um amigo. Você a chorar misérias, você, um capitalista!
- Sim, meu caro! mas o gás liquida o mais sólido capital.
O maestro Amicio Costabile vai casar com a jovem primadona Maria Ricci, da Companhia Infantil: nada valeram as tramóias desse terrível empresário Guerra, que no drama passional, fez papel de madrasta intrigante. O cav. Amicio vai colocar no dedinho da atriz seu anel matrimonial e tudo se harmoniza. Bravo, maestro! com a sua mágica batuta, em forma de serra de cupido, até os futuros sogros entraram na afinação e consentiram o casamento.
Instrui-nos o Malagutti sobre a nova mímica fiduciária em vigor nas ruas Gonçalves Dias, Ouvidor e Avenida.
O patacão de dois é representado pela forquilha, os dedos em Y, e o semipatacão de mil, por um dedo só ou espegue, o 1.
É admirável o sistema de caçada semafórica: não há fera que resista à espada e à forquilha. O velho Plutão, se não me engano, usa o tridente, mas isso nos tempos mitológicos, quando havia patacões de três, que obrigavam os sujeitos a cair de quatro aos cinco, Foi preso em São Paulo o japonês Suez, acusado de furto de 30 contos do Comissário Kranze.
O processo de Suez será feito pelo canal competente.
Esse Suez, metendo-se em tais Áfricas, mostrou ser das Arábias.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1419, 10 nov. 1911, p. 1.
Autêntica.
Fala-se de um dos nossos mais conhecidos elegantes colombianos, grande bilontra, e cuja esposa é muito ciumenta:
- Sabes? o S. tem agora uma deliciosa amante.
- Já me disseram; por sinal que há um ponto de semelhança entre ela e a esposa legítima, observa o Domingos. -Qual?
- É que a amante é deliciosa e a esposa é dele ciosa. O agredido fugiu.
Na Colombo:
- Ora, vamos para casa; você parece esquecer-se das horas. - É verdade; é a palestra.
A gente fica embebido.
- Hein! ...
- Bebido.
Está assinada a reforma do serviço do Povoamento do Solo. Naturalmente porque o sistema antigo provou mal.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n ° 1420, 11 nov. 1911, p. 1.
Tratou-se no horto da Penha do melhor meio de extinguir-se os gafanhotos. A patriótica medida não ficou definitivamente assentada, porque é impossível achar o meio termo entre matar todos que apacerem ou evitar o nascimento de novos, deixando os atuais morrerem de velhos.
Anuncia o telégrafo o naufrágio de um vapor no Banco Inglês, em Montevidéu.
Apressamo-nos em declarar que não se trata do English Bank. Neste ninguém naufraga; o que pode acontecer é afogar-se em ouro, se lhe quiser penetrar a fundo...
Não há nada como o telégrafo para trazer a gente a par dos grandes sucessos mundiais. Ontem, a Havas deu-nos este telegrama sensacional: Berlim, 9 - O chanceler do Império jantou hoje em companhia dos soberanos.
A Havas não nos diz se o chanceler gostou da bóia, e é pena; é tão bom a gente andar bem-informada!
Dizem notícias de Pernambuco que o aspirante Cavalcante seguira para Glória de Goitá, chefiado por cangaceiros.
Aspirante só? Um homem que assim conduz as eleições à Glória?!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1421, 12 nov. 1911. p. 1 Um operário da Marinha requereu ao respectivo ministro licença para aumentar o nome de mais um apelido. É realmente digno de nota esse operário que, nestes tempos de reivindicações operárias, quando todos querem aumento de salários, vencimentos e subsídios, se contenta em aumentar o nome!
O exemplo é digno de imitação.
- Os poetas modernos já não bebem inspiração no álcool; já não são os paus-d'água dos tempos românticos, pregava na Colombo o Carlito Magalhães.
- Não sabes por quê? indaga o Goulart - é que o legislador moderno do Parnaso era o mais sóbrio dos poetas.
- Chamavam-no o Boi-Leau.
Entre parlamentares.
- Ouvi dizer que alguns colegas são contra o aumento do subsídio.
- Ora, são uns despeitados; como receiam não voltar ao seio da Representação Nacional, não querem que os outros mamem os 100 por dia.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1422, 13 nov. 1911, p. 1.
O governo argentino trata de criar uma certa raça de moscas para acabar com os gafanhotos. Depois inventarão uma pulga especial para acabar com as moscas e por fim abrirão um ginásio em que as mulheres aprenderão o meio mais hábil de apanhar pulgas.
Com título Transação Financeira dão os jornais notícias telegráficas do empréstimo que o sr. Visconde de Ouro Preto Júnior realizou para a pátria paraguaia.
Não consta, porém, que esse dinheiro seja destinado ao pagamento do que nos deve aquele país, dívida que o sr. Teixeira Mendes perdoou, num dia de desprendimento positivista pelo dinheiro dos outros.
A Colmeia está autorizada a garantir que o capitão Jaime Pessoa, que acaba de pôr o Espírito Santo em pé de guerra, não é absolutamente candidato a governador do referido Estado.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1423, 14 nov. 191 r, p. 1.
Ontem, na Câmara, o sr. Farias Neves quase se ia engalfinhando com o sr. Arthur Orlando.
Vejam como são as coisas: com o tempo quente que fez ontem, era de esperar que o Neves refrescasse o ambiente.
Um deputado alegou que era muito necessário o aumento do subsídio, porque só em atender aos pedidos de dinheiro ia-se-lhe metade dos cobres.
E dente por dente, olho por olho.
A Noite publica o retrato de um cadáver, recomposto no Gabinete de Identificação.
Será possível que o Elísio pense em recompor todos os seus "cadáveres"? Já é coragem!
Dizem notícias de Pernambuco que os tiros disparados para a ponte da Boa Vista partiram de alvarengas.
Tal qual os "tiros" teatrais disparados aqui no Rio contra o público; partem do Alvarenga Fonseca.
- Mas, afinal de contas, o Dantas foi um bom ministro de guerra.
- Sim, mas depois que se fez político já não é quem " Dantas" era.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeir, n° 1425, 16 nov. 1911, p. 1.
- Mas o Arthur Orlando não era Rosista?
- Era, desde que abandonou o partido autonomista do José Mariano.
- E agora...
- Passa-se para os Dantistas; não admira; eu sempre conheci o Arthur "Rolando".
Em telegrama dirigido pelo sr. Glicério ao dr. Campos Sales, em 12 de novembro de 1880, pedia o velho republicano campineiro: "Mande notícia penhor agrícola" o que no código revolucionário significava "notícia do regimento de cavalaria".
Mal escolhida palavra; esse "penhor" encabulou a República, que tem vivido, coitadinha, de penhora em penhora eternamente xingada de essencialmente "agrícola".
Não se permitiu que a Sociedade Sossego do Lar, com sede no Recife, encerrasse as suas operações. Mas que redundância! Como se fosse possível um só lar sossegado naquelas terras medievais.
Há ainda muita gente no Rio de Janeiro que se impressiona com aquela estátua da Praia do Botafogo: "a Poesia das Ruínas"! É que essa gente nunca ouviu o Coelho Lisboa falando sobre as oligarquias.
- É a política de Pernambuco?
- Ah! não interessa a política.
- Mas é o assunto palpitante...
- Sei; o Leão do Norte. É realmente um bom palpite...
MÁXIMAS E MÍNIMAS
A natação é um exercício utilíssimo para as mulheres; habitua-nas a conservar a boca fechada.
O ultramodernismo na luta pela vida é passar um "ave-plano" no comandante de um submarino, por um telegrama sem fio.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1426, 17 nov. 1911, p. 1.
O senador Rosa e Silva tem conferenciado com o Marechal Hermes sobre a solução do caso de Pernambuco. O general Dantas, assim que chegar, conferenciará sobre a dissolução do dito Estado.
Trocadilho execrável, que não temos coragem de atribuir ao autor. - Sabes? B. Lopes vai ser reintegrado no Correio.
- Sim? Vai então voltar aos envelopes?
Oh! não! tenham paciência! Leiam este trecho do telegrama do engenheiro Novaes, encarregado da construção do trecho da, Central, entre Pirapora e Belém:
"... Leito da grande ponte sobre o rio, ponte que pelo novo traçado tem 414 metros cúbicos de cumprimento e que muito merecidamente terá o nome do Marechal Hermes, segundo a indicação de v. ex ª".
Esta é, positivamente, incomensurável. Tem quatro dimensões.
E essa? O Irineu desligou-se da bancada?
- Homem, ouvi dizer que ele se desligou do Barbosa...
- - Sim?
- Levando-lhe todos os votos do 1° distrito.
Diz telegrama de Lisboa qeu o Paiva Couceiro reduziu o pré de suas tropas.
Então, o Couceiro não tinha um pré fixo!
Com que elementos se vai ele bater de agora em diante?
A época é das coisas em pratos limpos. Falou o Rosa, fez declarações o Pinheiro, abriu-se o Glicério, externou-se o Lauro.
Quanto ao Zé Povinho: aprecia o bon mouvement e conhee: ora há muito tempo que tenho a vida em pratos limpos: ela está tão cara, que não há com que sujá-la.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1427, 18 nov. 1911, p. 1.
Noticiando o baile ontem oferecido no Club dos Diários, ao senador Azeredo, informa a Notícia:
"O carnet constará de valsas, polcas, shotes, e uma quadrilha de honra à francesa na qual só tomarão parte as pessoas mais gradas." Estamos a imaginar esta cena do baile:
um elegante par prepara-se para dançar a quadrilha; o mestre-sala dirige-se a ele e observa respeitosamente: - perdão cavalheiro, perdão minha senhora: Vv. Exs. não podem tomar parte: não são das pessoas "mais gradas". Desagradável, não acham?
De um telegrama do Sr. Delmiro Gouvea, explicando o caso da fotografia das metralhadoras:
Por troça mandei pôr um pedaço de pano sobre duas carroças, fazendo uma espécie de artilharia chinesa com trincheiras de saco de caroços de algodão".
Artilharia chinesa de troça? Alto lá! não é o que diz o Yuan-chiKai da dos republicanos celestes...
Soubemos que vai ser brevemente criada uma Liga com o fim de combater a Liga antioligárquica; esta última será chamada Liga antiHgárquica.
- Qual disse o Domingos Magalhães ao saber dos fatos: estamos perdidos! Política com tais caudilhos ...
Já se sabe por que motivo o Irineu se desligou da bancada do Distrito Federal.
O fogo parlamentar não admite nas hostes do civilismo nomes belicosos como Bulhões Marcial, por exemplo.
- Que vem fazer no Rio o Dantas Barreto? - A sua oraçãozinha na "capela"..
- Que diferença existe entre o Rego Medeiros e o Rocha Alamio?
- É que um é pró-Dantas e o outro, é ex-dantas.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1428, 19 nov. 1911, p. 1.
Trecho de um discurso patriótico, ontem pronunciado por uma professora suburbana:
- A nossa bandeira é verde-amarela!
Nós temos dever de amar ela!
A Gazeta, noticiando o triste fato do falecimento do dr. Murtinho, diz que o grande médico e estadista, faleceu na avançada idade de 63 anos.
Tratando-se de um homem que todos nós desejávamos que vivesse cem anos, esta "avançada idade" não é tão avançada assim.
" A Gazeta perdeu uma boa ocasião de economizar um adjetivo.
Um empresário trará brevemente dos Estados Unidos um grupo de aviadores, que irão efetuar vôos no Rio de Janeiro.
Depois do sucesso dos conferencistas e descobridores do Brasil aves estrangeiras estão se animando em visitar as nossas terras de lábas.
Discutia-se o caso da explosão do Liberté e o almirante José Carlos assegurava com a prática de seus cruzeiros por terra que ela fora devido à má qualidade da pólvora.
- Qual! comenta um dos circunstantes: foi o fogo a causa da explosão; a pólvora só é ruim quando não arde.
Telegrama de Roma:
"O general Caneva fez evitar possíveis perturbações aos seus planos, probindo que os fotógrafos apanhem fotografias !ta gúerra. Muito bem, comenta o Domingos; o Caneva não quer que a objetiva revele seu objetivo...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1429, 20 nov. 1911, p. 1.
Ontem, por causa de uma mulher, pegaram-se na Avenida Mem de Sá dois José Fernandes, um dos quais foi metido no xadrez.
Os deuses vão-se! A que se reduziram os Zé Fernandes de Noronha e Sande, do Eça!
Está acamado, com um resfriamento, ao que informa um telegrama, o presidente Taft dos Estados Unidos.
O Taft sempre foi muito sujeito a resfriados; não se lembram como ele recusou a oferta do Pólo Norte, que lhe fez há tempos o Cook?
A Câmara francesa vai votar uma lei para coibir a invasão dos criados estrangeiros nos hotéis franceses.
Os ditos garções estrangeiros vão protestar, dizendo que é verdade que não nasceram em França, mas foram criados lá, e ainda o são.
Está é de um bom e adiantado filósofo moderno:
- Há ainda gloriosas e heróicas ações a fazer sobre a terra!
- E, por que não as realizas?
- Para não cair no ridículo.
Vai ser publicado por estes dias o regulamento da Repartição Geral de Estatística.
Um dos primeiros trabalhos da repartição, depois da reforma, vai ser a organização de estatística das reformas realizadas na dita repartição e agriculturas correlativas.
O Dr. Nogueira Paranaguá prega a mudança da capital para o planalto central, entre outras razões de Estado, porque por aquelas alturas não há varíola, tuberculose e febre amarela.
Mas, meu caro doutor, isso parece-nos até um motivo para que não se faça tal mudança. Que seria do mísero funcionalismo sem as epidemias? Como arranjar vagas?
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1430, 21 nov. 1911, p. 1.
Foi promulgada a lei do Conselho Municipal relativa à profissão de vendedor de jornais.
Os pequenos precisam saber, pelo menos, ler e escrever, embora sejam mudos.
Os vendedores vão adotar o título de jornalistas e não temerão a concorrência dos senhores intendentes.
O comandante Faber tem dito graves coisas da marinha britânica. O almirantado inglês vai responder-lhe cabalmente com um lápis de borracha. O Faber, embora afronte os canivetes, acabará fatalmente apagado.
Lisboa continua ameaçada de greve dos padeiros.
Se a greve rebenta é que se vai ver o fermento das paixões; e será difícil separar o trigo do joio.
Fac-símile da capa de Mortalhas.
Apesar da agitação política contra a oligarquia da Bolívia, a cidade de La Paz não faz ainda parte da oligarquia do Piuí.
Está felizmente anunciada para janeiro de 1912 a invasão com que o capitão-general Paiva Couceiro ameaça a juvenil República portuguesa.
Acolhido por amável fidalgo espanhol, o herói do rei espera a entrada crua do inverno para derreter as neves com o duplo fogo do seu patriotismo e de seus canhões.
ZANGÃO
A Imprensa. Rio de Janeiro, n.° 1431, 22 nov. 1911, p. 1.
Conta, a Gazeta da Tarde, que, em Pernambuco, um pequerrucho, de quatro anos disse ao pai: - Papai, eu queria ser dantista... Lá na escola todos os meninos são dantistas e só eu não sou... Você deixa? ...
Grande terra! Em Pernambuco as crianças de quatro anos já andam ria Escola e já têm idéias políticas! Que diabo querem então fazer em Pernambuco, em matéria de progresso! Ainda acham pouco?
Da mesma Gazeta: "Deus! é um vocativo que até os ímpios pronunciam insensivelmente. Dantas Barreto em Pernambuco é uma das exclamações que até as crianças pronunciam sem saber porquê!"
Não! assim também é demais. Nem a célebre polianteia chegou a tanto ...
Houve um tremor de terra em Salvaterra, narra um telegrama. "É a terra que salva!"
disseram os mais corajosos, ouvindo o estrondo. Apesar disto os de Salvaterra ficaram aterrados.
Esta série não é do Goulart.
- Que é que dizes da mudança da capital para o planalto?
- Acho que é um alto plano.
Ainda sobre a mudança da capital, refletia um mordedor: - Está bem; contanto que se mudem também os capitalistas ...
Telegrama de Assunção; "É evidente que se prepara uma nova revolução."
Que se prepara? Pois nós pensávamos que as revoluções estivessem sempre preparadas no Paraguai; que fosse só pedir por boca.
De um jornal sobre a chegada do general Dantas Barreto: "O Préstito percorreu as ruas Primeiro de Março, Visconde de Inhaúma, Avenida Central... Praia de Botafogo, Voluntários da Pátria e "rua Marechal Hermes".
Foi por um bom caminho, não há dúvida...
Informam, do Recife, ter sido nomeado instrutor da polícia o major Cavalcante, administrador da cadeia.
O governo pretende ter a polícia presa à disciplina.
Diz o Jornal, da tarde, que o Barbosa Lima atacou os tenentes por ser Feniano.
Qual! Histórias! O Barbosa sempre foi um espírito profundamente democrático.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1432, 23 nov. 1911, p. 1 Ao dr. Abdon Milanez foi mandado para pagar 700$, ouro, pela propaganda, no estrangeiro, do cará nacional.
Não é pilhéria. O aviso veio do Diário Oficial de 3 do corrente, sob o n.° 3.142.
Senhores da Propaganda! Mais uma sílaba no cará e toca a trabalhar; propague-se o cará... ter brasileiro!
A propósito da nova lei sobre os vendedores de jornais:
O pirralho de 14 anos apresenta-se na agência da Prefeitura a tirar a sua licença:
- Sabe ler? indagam-lhe. - Não, senhor.
- Então, não pode vender jornais.
- Mas, seu doutô, os fregueses sabem...
Filosofia moderna.
- O homem prático deve tratar de conseguir o máximo com o esforço mínimo.. . Olha, eu ando sem dinheiro e...
- Basta, já despendeste vinte palavras; toma lá cinco tostões; é o máximo.
Os painéis da Candelária estão ficando estragados. Não será oportuno que o governo abra uma nova conta corrente com os arcebispado, para indenizá-lo dos males que a humidade causou aos frescos da Candeláría?
Entre literatos:
- Estou escrevendo um romance. - Que gênero?
- Passional; contém episódios de fazer chorar o leitor de coração mais duro; tanto assim ue já contratei com o editor vender, com cada exemplar um lenço, entre as páginas ...
Chegou um cruzador alemão a Chefú conforme anunciam de TsingTong. A banda alemã do cruzador vai pôr em música de Wagner as notas dispersas do tsing-tortg, chef ú, tara-ra-chim, do hino nacional republicano chinês.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1433, 24 nov. 1911, p. t.
O Jornal de ontem transcreve duas quadrinhas sentimentais, que diz ter encontrado na parede de um "WC".
Qual, histórias! E angu, como dizem as crianças!
As duas quadrinhas são da lavra do redator dos Tóicops, que andava doido por impingi-las; mas está tudo cheio. Até as tais paredes!
Explodiu uma bomba de dinamite em Lisboa.
Vão ver as conseqüências... nos telegramas da revolução...
O Solfieri foi transferido do 19.0 distrito para o 20.0 Um amigo encontra-o na Avenida:
- Então, Soneto amigo, como vai a vida?
- Bem, muito bem; a polícia foi sempre a minha vocação: tanto trabalhei que acabo de dar no "vinte"...
Ontem, numa "terrasse" da Avenida, a banda alemã, sem as menores honras de guerra, "executava" a Princesa dos Dólars.
Fugiram todos os circunstantes; apenas um marinheiro do Nueve de Julio parou e foi testemunha do delito.
Um transeunte, que de longe presenciava o sacrifício, observou; ainda bem; os argentinos vão saber que nós também estamos bem armados! Diante de tais violinos, quem não abrirá o arco? ...
Há cinco pretendentes ao trono de Portugal.
- Cinco pretendentes?! dizia ontem o José Cândido! Ainda se se tratasse de alguma rapariguita nova! Mas o velho Portugal! ... Autêntica!
- Nessa história de fazer Pernambuco "eriçar a coma", dizia ontem na sala do café o sr.
Barbosa Lima, o Dantas não é o primeiro. E quem foi, então? indaga o sr. Irineu Machado.
- Eu! Perguntem ao Artur Orlando, que nesta ocasião abandonou o José Mariano para se conservar de acordo com os "fins" dos seus princípios ...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro. n.° 1434, 25 nov. 1911, p. 1.
Parece resolvido que o Benjamin Constant não tocará no Recife. A razão é clara: estão com medo que o patrono deste vaso de guerra exclame do fundo da imortalidade: - "não foi esta a República de meus sonhos!"
Os jornais publicam um telegrama de Recife, assinado Odorico (chefe do importante estabelecimento Odorico & C.)
Estava - se a ver que Odorico era o do rico. . . estabelecimento; não precisava pôr no despacho.
Requereu matrícula no Posto zootécnico Federal o menor João Fleury, residente em Frutal, Minas.
Conceda-a, sr. ministre; um pequeno que é fleuri e é de Frutal representa uma risonha esperança para um país essencialmente agrícola florido e frutável como o nosso.
A Imprensa da tarde de ontem publica v retrato do jovem Xá da Pérsia Abmad Shat: é um belo menino de treze anos.
Quando formos velhos, podemo-nos gabar de ver conhecido, pelo menos de retrato, o Xá, em pequeno.
O sr. Corrêa Defreitas apresentou uma emenda, na Câmara dos Deputados, gravando com 25000 o álcool desnaturado.
A propósito comentava um pau-d'água:
É, o Defreitas, puxa brasas para a sua sardinha; desnaturado é ele!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1436, 27 nov. 1911, p. 1.
Ouvimos dizer que o ministro da marinha vai vender em hasta pública as 30 toneladas de pólvora do S. Paulo, visto ela ter atingido a temperatura de 30 graus, o que constitui sério perigo para o dreadnought.
Entre os pretendentes a toda a pólvora ou pelo menos a uma grande parte, sabemos que está o Pascoal Segreto, que pretende adquiri-la para fabricar foguetes que sirvam a futuras manifestações.
- Então o S. Paulo vai ou não vai a Pernambuco?
- Dizem que sim, caso a cordite o permita ...
- E ocaso antes não se faça um "acordito" político.
O "Jornal do Commercio" sugere que as eleições de Pernambuco sejam apuradas por uma espécie de Tribunal arbitral.. .
Não nos saberão dizer para que diabo se fizeram os Congressos estaduais?
Não tem havido sessão no júri por falta de mobiliário; ontem, co, mentando o fato dizia conhecido advogado: imaginem que nos falta até "banco dos réus"!
- Ora, isto sempre faltou! observa outro que no assunto falava de cadeira.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1435, 26 nov. 1911, p. 1.
-Que diabo, Portugal em luta por causa de chins? Que tem afinal, os portugueses com o rabicho?
- É que a China também se está republicanizando.
Queixa-se o Júri da falta de mobiliário; agora é a Corte de Apelação que ameaça desabar.Decididamente a nossa justiça está sendo muito injustamente tratada; até a Corte de Apelação! Para quem apelar?
O general Caetano de Faria está organizando o regulamento para o jogo de guerra.
Diversos "jogadores velhos de guerra" estão satisfeitíssimos com a idéia.
Observação de um rio-grandense do sul sobre os últimos distúrbios de Lisboa.
- Ora, os portugueses brigando por causa de chinas! ... Ainda se fosse na campanha! ...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1437, 28 nov. 1911, p. 1.
O chefe de polícia proibiu a exibição de fitas relativas a um funeral ultimamente havido.
Fez bem o sr. Belizário; com a Morte não se faz fita!
Em Pernambuco, um garoto que fez uma proeza à Gavroche foi batizado pelos companheiros com o nome de "Chico Cândido"
O almirante José Carlos está aí, está sendo nomeado interventor.
. . e o José Mariano, o Milet, o José Bezerra, o Simões Barbosa, o Lucena, por que não vão a Pernambuco?
- Estão esperando que o Rosa se resolva a partir, com o Faria Neves a tiracolo. . .
Anunciando uma "serata" musical, em honra ao Liszt, diz o jornal da tarde, que é deveras contristador o desinteresse do público pelo interesse dos empresários.
Mais adiante diz o mesmo jornal: "dada essa harmonia de sentimentos, etc., etc., quem não percebe que este festival se vai tornar memorável em -nossa crônica artística?"
Quem? Nós. - Não percebemos como se possa tornar memorável uma festa em que a única coisa interessante, na opinião do Jornal, é o desinteresse do público.
Ou será memorável... por isso mesmo?
Uma outra emenda do sr. Defreitas, manda reduzir a 20 réis o imposto sobre o arame.
Esta sim, dizia um pronto; o arame é gênero de primeira necessidade; deve estar ao alcance de todas as bolsas.
Depois de um lauto jantar, diz o apatacado burguês ao seu convidado: agora vamos fazer as nossas 1.000 gramas?
- Quê? exercício de halteres?
- Não senhor; vamos fazer o Kilo...
Querem acabar com o último quiosque existente no Rio: um que se acha plantado na Copacabana.
É uma injustiça; se por aquelas bandas não admitem quiosques também não se devem consentir "pagodes". Acabe-se com a Mère Louise.
Em uma roda de críticos de teatro:
- Por que o André Brun não faz uma conferência sobre a revolução?
- Revolução? Não é o "forte do Brun".
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1438, 29 nov. 1911, p. 1.
No Recife, foi ferido um estudante com estilhaços de uma bomba. Isto em fim de ano, em vésperas de exame, é lamentável, mas é natural.
Os conspiradores Conceiros, diz um telegrama de Lisboa, pretenderam levantar em Paris um empréstimo de cinqüenta milhões, garantidas por algumas cabeças coroadas.
Nem havia melhor garantia para arranjar alguns milhões de "soberanos", muito necessários, aliás, para a cerca de "arame" que os realistas querem construir na fronteira.
Os Justiniano de Serpa apresentou à Câmara um projeto mandando erigir um monumento da Justiça na Suíça... O Justiniano faz questão de naturalizar a justiça cidadã Suíça; é assim como quem diz que ela não funciona sem dinheiro. Pas d'argent.. .
- Que idéia essa do Justiniano erigir uma estátua à justiça Suíça?
- Isso me cheira a propaganda do café na Europa!
- ?!
- A Justiça tem uma "venda".
- A idéia do Justiniano Serpa ...
- Que queres? o homem é todo Suíça: tem "Berne" na cabeça, ...
Redigindo o discurso que o sr. Esmeraldino Bandeira pronunciou ontem, na Câmara, e Goulart de Andrade pensou em arranjar um trocadilho entre o Augusto Comte, os acontecimentos do Recife e o Esmeraldino.
Mas não arranjou a frase em que devia fazer a seguinte citação, atribuível ao orador:
" ... segunto A. Comte, cimento armado. . . "
Como o acontecimento armado é o primeiro o calembour só vale pela intenção.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1439, 30 nova 1911, p. .1.
Os jornais aludem à indiferença geral e especialmente dos políticos pela memória do dr. David Campista; não chegou a 200 o número de pessoas que foram à Candelária prestar homenagem ao finado estadista.
Sirva isto de exemplo e aviso aos políticos que acreditam na imortalidade da alma, na ressurreição da carne e na constância da bajulação humana.
A bancada pernambucana rompeu com o governo federal. Que excelente ocasião para os senhores representantes de Pernambuco, per amor de suas convicções federais, abandonarem o chefe estadual! Alerta, pessoal! Oportunidades como esta agarram-se pelos cabelos.
Queixaram-se os italianos, de que os turcos têm cometido barbaridades com os cadáveres dos inimigos.
Vamos e venhamos: podia ser muito pior. As atrocidades podiam ser cometidas contra os vivos . .
Está conjurada a crise da polícia; segundo informações de bua fonte, o sr. Belizário foi ao Castelo e lá arranjou uma benzedura em regra.
E graças ao esconjuro do frade está felizmente conjurada a crise. Ainda bem.
O jornal do Recife elogia calorosamente o general Carlos Pinto. Depois de sua imparcial atitude eis o prêmio que querem dar ao general: transformá-lo em passarelle.
- Então é verdade que o governo não terá orçamento? - Ora, console-se comigo...
- Também não tens?
- Nunca tive orçamento que chegasse... à minha mulher.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1442, 3 dez. 1911, p. 1.
Diz um telegrama do Chile que a polícia proibiu o jogo das serpentinas.
Ora, vejam só essa! aqui, entre nós, são as "serpentes" da polícia que proíbem o jogo...
Por que é que o Rosa encarregou ao Aníbal Freire de dar o primeiro combate na Câmara?
- Homem, pois não vê logo que se tratava de uma luta contra o conquistador das Gálias? Contra um César só mesmo um Aníbal.
A polícia paraense promete tomar novos e interessantes aspectos. O caso de uma certa excursão a Paquetá, tem dado muitas esperanças aos lemistas e muitos aborrecimentos aos lauristas.
Dar-se-á que a pedra da Moreninha se vá tornar em pedra no sapato dos antioligárquicos?
- Então, doutor, não quer comprar o automóvel?
- Não, agora é impossível; estou atravessando uma crise política...
- Estou com o meu orçamento obstruído...
- Qual a diferença que existe entre a nossa política e o nosso povo?
- É que a nossa política é de muitos "casos" e o povo é de muito "pouco-caso" pela dita.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1443, 4 dez. 1911, p. 1.
Em vista da grita que se tem levantado nesta cidade, contra a missão Rondon junto aos caingangues vai s. exª dirigir uma proclamação a esta e a outras tribos, concitando-as a virem ao Rio catequizar os selvagens.
A professora Daltro, coroada honorária, prepara aos silvícolas uma festiva recepção.
Piauí falou. Há um telegrama de Teresina em que o sr. Ribeiro Gonçalves declara apoiar o senador Rosa e Silva.
Agora é que vamos ver as coisas feias.
Piauí que se dá ao luxo de ter um partido clerical, vai mostrar aos povos como se vinga de ter sido sempre no banquete político a má ração.
Fait.s divers:
Avelino Lima Costa, aproveitando-se da ausência do seu confrade Francisco Dias Braga, conduziu para o quintal da casa deste móveis, jóias no valor de 12 contos, um gramofone e 1001 chapas e fez de tudo uma enorme fogueira.
Bem feito. Um homem que tem a coragem de possuir 1001 chapas de gramofone e o dito gramofone, merecia um compadre como o Avelino.
O general Mena Barreto vai fazer uma melhor distribuição dos dentistas do Exército.
Esta notícia causou apreensões nas rodas políticas; é que alguns percebendo mal, pensaram tratar-se não de dentistas, mas de dantistas: daí o alarme, pois que tal distribuição seria o deslocamento do pólo da política do norte, que está muito longe de ser o pólo norte da política. Muito antes pelo contrário.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1444, 5 dez. 1911, p. 1 "Ocupou a tribuna o sr. Farias Neves, para discutir a receita" (Dos jornais).
Da gravidade do mal. O Faria nem suspeita;
Pois, vendo o caso mortal, Inda discute... a receita?!
Um pronto, trajando ontem, rigoroso luto, tinha lágrimas nos olhos, lamentando a morte do barão de Rothschild.
- Era teu parente? indagou um amigo.
- Não... fez o outro em soluços.
- Então por que choras?
- Por isso mesmo...
Um farmacêutico, entrevistado pela A Imprensa, declarou que a classe está numa pendura, alugando os títulos a 30$000 por mês.
Eis o que pode se chamar uma lamentável declaração: a farmácia deu em droga. Ora "pílulas"!
O ministro da Fazenda providenciou sobre a falsificação da manteiga.
Segundo a sua última resolução, a dita manteiga tem de ser examinada no Laboratório de Análises.
Isto quer dizer que, de ora em diante, não se espera mais pelo Frigir dos Ovos para verificar se a manteiga é de banha ou de cebo puro.
O editor do livro da princesa Eulália escreveu uma atenciosa carta ao rei Afonso XIII, agradecendo-lhe o magnífico reclame que fez da obra literária de sua tia, dele Afonso.
Foi um reclame real o real reclame.
Protesta o jornal porque próximo à amendoeira do Amor, na Avenida de Ligação, exista uma oficina de carvão, espécie de trapiche de Vulcano, que enfeia o local.
Pois olhem; parece-nos caso de elogios que Vulcano, previdente, depositasse ali. bem perto, o comestível com que forja as setas de Cupido.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1445, 6 dez. 1911, p. 1.
A Saúde Pública andou limpando o chafariz do largo da Carioca. Serviço incompleto; o que devia ser feito, não pela Saúde, mas pelas Obras Públicas, era uma limpeza em regra e radical, em que não ficasse pedra sobre pedra. Isto sim.
Pedem-nos os nossos impagáveis colegas do Gato para agradecer ao dedicado chaleira que mandou destruir os seus cartazes, o magnífico reclame que fez no excelente semanário.
O próximo número está aí, está esgotado. Com que cara vai ficar o chaleira!
O telegrama transmite-nos a frase pronunciada ontem em Plymouth pelo Sr. Edvard Grecy, ministro dos Estrangeiros da Inglaterra. "Muito proximamente reinará uma nova aurora do horizonte da política européia." Mas que idéia essa do conselheiro Acácio!
Naturalizar-se, depois de velhão, cidadão inglês! ...
O Diário Oficial noticiou a partida do contratorpedeiro Santa Catarina para Assunção.
O Santa Catarina acha-se firme, em nosso porto. O Diário levou uma barriga ... verde.
A bancada de Pernambuco, pelo verbo inflamado do gênio do governo estadual, continua a dizer cobras e lagartos do governo federal.
O sr. Aníbal Freire acha que há em Pernambuco uma onda avassaladora que a tudo ameaça tragar.
É a tal onda popular de que falam os artigos de fundo...
Houve uma cena cômica no Teatro Municipal, cena que apesar de não anunciada, teve sucesso de arromba.
O ajudante de diretor demitiu três serventes, que não quiseram fazer o papel de capangas e cozinheiros do dito ajudante.
Ora, apuradas as coisas, o ajudante tem toda razão; o Municipal desde a sua abertura tem servido para dois fins principais, a saber: foco de intrigas pessoais e salão de banquetes políticos; logo os empregados devem ter prática dos dois misteres: enfisários e capangais.
O Sr. Barbosa Lima protestou ontem na Câmara contra a falta de pontualidade na distribuição do Diário Oficial aos srs. deputados.
Nós leitores assíduos do interessante órgão, protestamos igualmente, mas contra pontualidade excessiva na chegada de vapores, segundo referido Diário. Aquela da viagem do "Santa Catarina" ao Paraguai não nos saíra da cabeça!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1447, 8 dez. 1911. p, 1.
A Noite chama de "fiteiro" um desgostoso senhor que, por desgosto íntimo, deu um tiro na virilha.
Fiteiro? Que diabo queria A Noite que o pobre-diabo fizesse, em matéria de estrago geral?
Se o sujeito escapar da morte, ainda assim é um homem morto...
Diz um telegrama de Pequim que foi publicado um edital. imperial autorizando os chineses a cortarem o rabicho.
Eis o rabicho facultativo, como entre nós o ponto das repartições públicas.
Entretanto, o rabicho aqui continua a ser obrigatório, para os apaixonados.
Um outro telegrama de Pequim anuncia a adoção do Calendário Gregoriano.
Aí está. O governo imperial chinês, sabendo ter o seus dias contados, tratou de mudar o calendário, para atrapalhar o tempo...
A Prensa continua a atribuir a um formicida brasileiro, os últimos incêndios da Alfândega de Buenos Aires.
Meus senhores! A droga é para matar formigas; nada tem que ver com a vida dos ratos...
O Sr. Luiz Viana propõe que se faça, depois da apuração das eleições municipais da Bahia, uma contagem de votos.
Aí está uma boa receita para o Sr. Rosa e Silva. Apurada a eleição, mande contar os votos e está livre de apuros...
Está limpo o porto de Buenos Aires.
Incendiou-se uma barcaça de nafta, dizem os telegramas.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1448, 9 dez. 1911, p. 1.
Aos Pequenos Écos, da Notícia:
"Foi hoje rezada na igreja de * uma missa em ação de graças pelo restabelecimento de mlle.* etc., que há dias foi vítima de sério desastre que a prostrou no leito; o ato teve numerosa assistência de pessoas amigas".
É realmente de admirar que as pessoas amigas, que assistiram ao desastre, não o tivessem evitado a tempo.
Ou então o noticiarista é que foi desastrado.
- Já sei por que motivo está havendo revolução no Paraguai.
- Por quê?
- É que o micróbio da bernarda encontrou meio propício e se está desenvolvendo prodigiosamente.
Também íamos mandar para lá o monitor Pernambuco!
O diretor dos Correios ameaçou de demissão, por circular, os carteiros que se pregarem à prática humilhante e indecorosa de desejar boas festas ao público.
Discordamos do sr.diretor; a prática de desejar boas festas ao público nada tem de indecorosa, ao nosso ver: o que é feio é tudo o mais que o diretor diz, é o fato de os carteiros desejarem dinheiro em troca dos seus bons desejos...
O Conselho de Ministros da França fez aplicar uma severa pena a um funcionário, por ter solicitado aumento de vencimentos.
Imaginem se a moda pega entre nós! Estava o Felisbelo Freire arranjado!
Repetem-se as queixas contra a demora dos telegramas.
Pois senhores, não há nada que a justifique: há muito tempo que o coronel Rondon não telegrafa... Não há, portanto, excesso de serviço.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n°1449, 10dez. 1911, p. 1.
Diz a Gazeta que o sr.Irineu Machado pretende, com a emenda que apresentou na Câmara, matar a indústria nacional do sal.
Não cremos: não há deputado que maior gasto faça de sal nos seus discursos; e se, às vezes, o sal é ático, de outras é sal grosso de Mossoró. O governo que o diga.
Não chegaram os aviadores americanos esperados no Vasari, conforme todos os jornais foram os primeiros a anunciar. A barriga geral encheu de satisfação o sr. Jouvin, que assim se vingou da troça que lhe fizeram sobre o caso do Santa Catarina, no Paraguai, Parece que a pedido do diretor do Diário, os aeronautas resolveram vir por ar.
O governo federal mandou cercar de todas as garantias os congressistas de Pernambuco, para que possam eles apurar livremente o pleito eleitoral de novembro.
O general Carlos Pinto vai Providenciar para que sejam eles cercados na Paraíba e no Rio Grande do Norte, para onde muitos se retiraram precipitadamente.
Temos aqui sobre a mesa um sapatinho de verniz nº 21; o minúsculo proprietário deixou-o cair à porta de nossa redação, talvez para que nele depositássemos um dos três mil brinquedos que Papai Noel nos para distribuirmos pelas crianças. Apressamo-nos em declarar que para obtenção do brinquedo não há necessidade do sapatinho; ele aqui fica à disposição do petiz que o deixou cair.
Os nossos colegas do Fon-fon fazem jus a uma leve ferroada que lhes não doa muito.
Em seu número de sábado, estampa o interessante semanário a fotografia de uma feira em Joazeiro do Crato (Paraíba do Norte...)
Antes que o sr. Accioly proteste contra esse avanço nos seus domínios, pedimos ao Fon-fon que deixe a terra do padre Cícero lá mesmo no Ceará, evitando alguma futura complicação interestadual...
Por falta de comparecimento não houve anteontem, sessão noturna na Câmara.
Bonito! Agora é a maioria que está obstruindo!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n 1450, 11 dez. 1911, p. 1.
Diz uma local dos jornais que no mês de novembro foram encadernados 1049 volumes no Instituto dos Surdos e Mudos, produzindo a renda de 2.050$200, sendo de particulares 1.888$200 e de repartições públicas 162$000.
Um economista amador tirou deste simples fato um corolário importante:
O governo prefere contratar fora as suas encadernações, porque tem muito amor ao cobre do povo; o particular, que não liga ao seu próprio cobre, manda os livros para os mudos e paga, para encaderná-los, um dinheirão surdo.
Se isto não é verdade, a recíproca é que está certa.
Homem, acho que nada adianta; não acaba com os advogados de porta de xadrez...
Entre o pessoal escovado:
- Antonce, o seu Defreita qué reduzi o júri a nove juíz?
- Tanto mió; quando a gente fizé um estrago a absorvição unânime vai sê mais facia.
- Em que ficou a história do formicida brasileiro na Alfândega Buenos Aires?
- Deu em droga: os homens convenceram-se de que formicida não provoca incêndio;
mata formigas e não ratos de aduanas.
- Então o Felisbelo quer taxar a renda!
- É exato; excetuando apenas os bicos dos deputados.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1451, 12 dez. 1911, p. 1.
Devido aos altos preços a que chegou a gasolina, graças à organização do trust, diversos proprietários de garagens estão adquirindo cavalos de tilbury para puxar os seus carros.
Há grande entusiasmo na classe muar.
- E aquela do Estácio, hein?
- O Estácio não quis "estacionar", foi saindo a toda velocidade.
Fazendo a crítica do novo livro do Alcides Maia, diz, no Jornal, o João Luso: "Dessa exuberância, resulta, as vezes, parece-nos, que demais e a linha de ação, se prejudique demais e a linha de ação se prejudique na superabundância pictural e descritiva.
Francamente, e sem querer criticar o crítico, parece-nos que a linha demais quem introduziu foi o autor ou a revisão; e esta prejudicou a superabundância descritiva.
Quando o Pomada se dedicava à ciência, foi chamado a uma farmácia para acudir a um pobre-diabo que acabara de cair fulminado por uma apoplexia. Verificada a morte, o Doutor atestou que não pudera conhecer a "causa-mortis" porque o sujeito morrera tão repentinamente, que lhe foi impossível verificar o mal que o vitimou.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1452, 13 dez. 1911, p- 1, O sr. Aires Belos, diz um telegrama do Recife, comunica ter chegado a Barreiros o sr.
Estácio Coimbra, governador fugido.
Logo vimos que o sr. Estácio, retirando-se de Recife por causa do calor, iria à procura dos ayres belos de Barreiros.
- Então o Estácio foi para Barreiros em barcaça?
- Naturalmente. Ele disse que não embarcava em canoa furada.
Abriu-se inquérito no Recife sobre o caso do lançamento de cadáveres nos fornos de incineração.
Para quê inquérito? Nada mais natural que no estado de exacerbação de espírito em que Pernambuco se encontra, até os cadáveres ficassem queimados...
A polícia resolveu mandar apreender a edição do "Gato". É justificável o pavor que o chefe tem do irreverente animal; a polícia produz tantas ... ratas que a presença de um gato é sempre uma coisa perigosa.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1453, 14 dez. 1911, p. 1.
O general Dantas aplaudiu, em Maceió, a oligarquia dos Maltas.
É sempre bom estar de bem com os vizinhos; de mais a mais, pimenta nos olhos dos outros não arde e os alagoanos estão convencidos de que a oligarquia do Rosa era um céu aberto.
Diversos amigos do alheio, ao saber que havia assumido o governo de Pernambuco o vigário Bezerra, resolveram ir operar naquele Estado, - Não nos faltarão garantias, disse um deles; nós somos todos vigaristas.
- Que tal aquela do guarda, proibindo que os jornaleiros andem descalços?
- Natural; aquele guarda é um sapateiro...
Consta-nos que tem trabalhado muito, estes últimos dias, a comissão encarregada de providenciar sobre a carestia da vida; segundo soube a ativa reportagem da Colmeia, foi resolvido em sessão secreta apoiar o projeto de imposto sobre rendimentos do sr.
Felisbelo e enviar uma moção ao Conselho, felicitando-o pelo aumento dos ditos municipais no orçamento do ano próximo.
Vamos ter agora vida barata.
Em um meeting realizado em Maceió o sr. Agripino Ether fez a propaganda da candidatura do Clodoaldo.
O sr. Ether elevou além das nuvens, o nome do seu candidato ...
Pudera!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1454, 15 dez. 1911, p- I.
- Diz um telegrama de Pernambuco...
- Diz, não; reza...
- É a mesma coisa.
- Não, senhor; pois não sabes que o atual governador é padre?
Anuncia-se para hoje a proclamação da república chinesa, em Nankin.
O dr. Sun Yat Sem assinará o seu manifesto na dita cidade, o que será uma maneira simbólica de mostrar que a República na China é preto no branco ou melhor, no amarelo.
É do Jornal da tarde, noticiando um crime, este pedacinho de ouro: "a vítima ficou com o corpo cortado ao meio e muito maltratado".
É realmente de lamentar que, depois de semelhante estrago, não tivesse ficado o corpo bem tratado...
De um telegrama de Recife:
"O deputado sr. Arthur Muniz fez um discurso declarando ter votado no nome do sr. dr.
Rosa e Silva, tendo fiscalizado a sua eleição. Por isso, estava convencido de ter correspondido à sua confiança. Agora, venha desempenhar o mandato que lhe fora outorgado pelo povo, reconhecendo o general Dantas Barreto, que é o verdadeiro candidato popular."
Sim, senhor; Isto é que se chama ligeireza na mudança da casaca! Assim nem o Fregoli!
No foro:
- Então o sr. escrivão, estes autos... estão muito demorados; não podia apressá-los um pouco?
- Quê! os autos? pois o senhor não sabe que organizaram o trust da gasolina?
Entre "paus-d'água":
- Que me dizes desse projeto do Defreitas contra o álcool?
- Pois não vês logo? o que ele quer é fornecer para o país inteiro as sobras das águas que inundaram o Paraná para serem aproveitadas como bebida...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1455, 16 dez. 1911, p. 1.
O projeto de boicotage dos produtos portugueses, fez-nos saber, entre outras coisas interessantes, que o Brasil importa... 252:289$000 de... palitos.
E ainda há quem se admire de que entre nós haja mordedores! Com tantos dentes a palitar!
Informa-nos o Jornal, da tarde, da fundação de um Sindicato Lírico em S. Paulo, sem fito de lucro.
Que?! Sindicato Lírico sem lucro? vão ver que são mais. as vozes que as nozes.
Vamos sindicar.
O sr. André Brum tem-se visto em palpos de aranha por causa de uma crônica humorística que mandou para Portugal. E que ele nunca imaginou que aqui se levasse tanto a sério o homorismo.
Pois fique sabendo o tenente de revista que é ainda a única coisa que levamos muito a sério aqui na terra.
Houve ontem, no Encantado, um crime de morte, em frente à delegacia do 20º distrito.
O assassino fugiu.
Era natural; a polícia estava na zona "encantada".
Falou ontem, na Câmara, sobre a política de Pernambuco, o sr. Arthur Orlando.
S.ex. atacou os adesistas de última hora, com a autoridade que todos lhe reconhecemos, de adesista de "primeira" ...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1456, 17 dez. 19.11, p. 1.
O coronel Rabelo declarou não aceitar a apresentação de sua candidatura à presidência do Ceará.
Faz muito bem: a eleição de um coronel não tem uma absoluta segurança; espere a promoção a general e apresente-se.
Ninguém sabe o que é feito da comissão encarregada de providenciar sobre a carestia de vida; entretanto, ouvimos dizer que aos membros da referida comissão tem faltado tempo para cuidar dessas coisas, viste andarem todos tratando de suas ocupações pessoais, a fim de poderem arcar com a vida, que está muito cara.
Da nossa seção Na polícia e nas ruas, de ontem:
"O estivador Jesuíno Albino dos Santos, trabalhava a bordo do paquete Tibor, quando foi "acolhido" por uma caixa que lhe esmagou o pé direito."
Diabo leve o tal acolhimento! O pobre homem entrou com o pé esquerdo.
Ainda não se sabe ao certo qual o dreadnought que o governo brasileiro vai vender ao paraguaio para que este consiga debelar a atual revolução; dizem uns que será o Tamandaré, outros afirmam que o brigue Recife ou o monitor Pernambuco.
- Ouvimos que não é estranha à transação uma conferência ultimamente realizada entre o ministro do exterior e a diretoria da Cantareira.
No jardim Zoológico de Buenos Aires, foi colocada uma placa pedindo ao público que proteja os animais. Como estes não sabem ler, foram colocadas, em vez de placas, umas fortes grades de ferro em forma de jaulas, para que os ditos animais protejam o público.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1457, 18 dez. 1911, p. 1.
O governo vai premiar com uma viagem à Europa o pintor que impingiu nas paredes do Correio aqueles anjinhos papudos e aquelas pombinhas com envelopes no bico.
Realmente, como trabalho de arte, nem o pano de boca do Municipal passa a perna no chefe d’obra!
Diversos sujeitos, fingindo de empregados dos Telégrafos e do Correio, andam por aí a desejar boas festas ao público, em troca de gorjetas.
Ficam os leitores avisados da exploração dos tipos que fazem de distribuidores de cartas, sem sê-lo.
Fundou-se em Pernambuco um novo batalhão patriótico para apoiar o governo do general Dantas.
É o 1º caçadores de empregos.
- Nestas coisas da política atual há uma coisa que me preocupa muito seriamente.
- Que é?
- A possibilidade de uma guerra; imagina os generais chamados a comandar brigadas;
ficavam os Estados sem governadores, nem senadores, nem nada...
Um escândalo na Avenida.
Um automóvel atropela um transeunte. A Inspetoria de Veículos intervém; os chauffeurs protestam e... metem o pau nos inspetores.
Um espectador pára e reflete; é a Inspetoria de Ridículos, não há dúvida...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1459, 20 dez. 1911, p. 1.
Diz um despacho de Alagoas terem aderido à candidatura Clodoaldo Fernandes Lima, os municípios de Penedo, Pão de Açúcar, Pedra, etc.
Sim senhor! É o que pode se chamar uma candidatura firme, de pedra e cal, ali no duro!
Ao passar em frente ao Convento da Ajuda, pergunta o Joaquim Vianna a um amigo, companheiro de bonde.
- Você já visitou o Convento?
- Não; torna este - disseram-me que era tudo muito banal, muito lugar-comum.
- Nada; lugar-comum vai ser agora; vão fazer aí um hotel... agrediu o Joaquim, impunemente.
O sr. Corrêa Defreitas justificou dois projetos: um relativo à instrução pública, e outro à caça e à pesca no Brasil, - Mas, que relação há entre uma coisa e outra? indaga um cidadão.
- Muita; torna outro - é que para se pescar exames caçam-se pistolões.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 146O, 21 dez. 1911, p. 1.
Um elétrico atropelou, ontem, um carregador que conduzia ovos e galinhas, matando estas e esborrachando aqueles. É o menos que pode fazer um elétrico que se preza; uma silveira de galinhas.
A Argentina continua a implicar conosco; depois das questões das farinhas, surgiu a dos formicidas e agora aparece a do mate.
Comentava, ontem, um enxadrista: - questão de mate! o Paraná está em xeque!
A "A Cidade de Teresina", diz um telegrama do Piauí, não respondeu à provocação do "Monitor" e do "Piauí", que a intimavam a decidir-se entre o senador Rosa e Silva e o governo federal.
Fizeste muito bem, ó "Cidade", isto de discursos à beira do túmulo já passou da moda.
Anuncia-se a vinda de uma "companhia portuguesa, modesta, organizada especialmente para o Brasil", onde vem representar revistas portuguesas.
Para que tanto circunlóquio? por que não dizer logo mambembe?
A reforma da Casa da Moeda não criou novos lugares.
Observação de um pretendente desolado: - Ora, vejam só; e logo aquela repartição onde se fabrica dinheiro...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1463, 24 dez. 1911, p. 1.
O Sr. José Carlos de Carvalho falou, na Câmara, declarando-se contrário à intervenção nos Estados. Aí está uma opinião insuspeita; ninguém mais do que o almirante tem invadido estes Estados, todos por terra e mar...
O vapor nacional Natal ia-se, ontem, incendiando no Cais do Porto. Que precipitação!
fogo no Natal? Ainda é cedo!
O cabo Gregório, comandante do São Paulo, na revolta do dreadnought, é agente da polícia do dr. Belizario.
Aí está a razão por que a polícia tem feito tantas coisas de esquadra.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1464, 25 dez. 1911, p. 1.
Um pernambucano indaga do Rego Medeiros:
- Então, você é candidato a deputado?
- Sim. E que tem isto?
- É que o não sabia com influência política.
- Isto não vem ao caso, conquistei a candidatura com o suor... dos meus pulmões.
Parece que vai haver um acordo entre o governo e os revolucionários paraguaios.
Entre outras coisas que se acordarão, ficará fixada a data do novo pronunciamento, sendo respeitados os direitos de ambas as partes acordantes.
Teve uma festiva recepção em Curitiba o Sr. Corrêa Defreitas.
A única nota desafinada foi a tentativa de uma manifestação de desagrado por parte dos paus-d'água locais.
Prepara-se em Pernambuco uma grande manifestação ao novo prefeito.
Plus ça change plus ça c’est la même chose, já dizia não sei quem.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1465, 26 dez. 1911, p. 1.
Dizem telegramas de Trípoli que não há novidades por lá. É assustador. Que novidades poderá haver mais que a guerra? Só a paz, que seria o desequilíbrio europeu e a bancarrota da Conferência de Haya...
Telegrama de uma cidade do interior:
"A Câmara de X... votou uma moção de apoio à candidatura do desembargador Y, à presidência do Estado."
Como é possível que estes eminentes patriotas municipais, apesar de estarem tão longe do Rio, não tenham descoberto um modo mais primitivo e mais provinciano de empossar?
Os barbeiros dirigiram-se ao Conselho Municipal, pedindo um regime especial para o funcionamento de suas casas.
Alegam eles, entre outras razões, a seguinte:
"Porque, quando o feriado coincidir com a segunda-feira, ninguém que se preza e que honra a representação ir; a uma festa de gala, perante o chefe da Nação, com a barba dois dias por fazer."
Têm toda a razão os barbeiros, e razão do Estado. Em caso tal, ficaria o manifestante abarbado e, talvez, bogodeado em suas pretensões...
- Os argentinos, nesta questão de congonila, estão com os catarinenses: - "Mate paranaense"!
A intervenção no Espírito Santo cresce, segundo assegura A Noite.
Não haverá nisto intervenção do São José... Gomes ... Pinheiro, etc. etc.?
Informa um telegrama de Portugal:
O conselheiro Castelo Branco passou muito bem o Natal em casa do seu filho, o sr.
João Castelo Branco."
Mas que temos nós com isto! eles são "brancos", lá se entendam; eles são castelos, lá se derrubem e nos deixem em paz, que também temos as nossas encrencas pátrias.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1467, 28 dez. 1911, pv. 1.
Diz um telegrama de Montevidéu ter encalhado em San Rafael a draga "Lauro Muller".
Ontem mesmo, porém, o tenente coronel Lauro Muller foi graduado ao posto de coronel de engenheiros.
S. ex. não encalhou. Antes, pelo contrário.
Ameaça-nos uma formidável crise política, dizem os jornais espavoridos; o almirante José Carlos chegava, ontem, a adiantar numa roda de amigos que a marinha ia pronunciar-se.
A Colmeia está, porém, autorizada a declarar que não há nada; o Brasil continua a ser o país onde todos mandam, ninguém obedece e por isto mesmo, vive e viverá excelentemente bem. Ainda bem.
- É verdade que o Rego saiu da chapa?
- Diz ele que a chapa é que saiu do rego.
A política do Rio Grande do Sul está tomando novos aspectos; o general Mena Barreto declara que não será candidato partidário... e só aceitará a presidência se esta lhe for imposta pelo POVO, em versal.
Tal qual o homônimo Dantas em Pernambuco...
E não é que o Leão do Norte voltou a ditar leis na política nacional!
Entre gaúchos:
- Como vai a política dos pampas?
- Afetada do sinal "Menas".
- Que pensará o Barão de todas estas complicações políticas dos Estados desunidos do Brasil?
- S. ex. pensa... na política paraguaia.
Do inquérito sobre a reforma judiciária, aberto pelo Jornal do Commercio edição civilista, opina o dr. Rodrigo Octavio que se deve conservar o Júri, embora ache que ele está decadente.
"Dê cá dente"? Mas se foi coisa que ele nunca pediu? "Dente" para morder é o que não falta no Júri.
Mais um quadro célebre roubado!
Seria uma sorte célebre que chegasse a vez de roubarem os quadros ou as estátuas do Bernadelli ...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1469, 30 dez. 1911, p. 1.
Com a notícia de que o sr. Álvaro de Teffé ia ocupar a chefia da polícia, os guardas civis mostraram-se satisfeitíssimos: - "Agora, disse um deles, é que nós podemos ter belas maneiras diplomáticas".
Os chauffeurs é que ficaram indignados: - Qual; agora não se piza mais ninguém, diziam eles.
- Por que é que se chama de ano bom o ano que se começa?
- Porque se tem a impressão de que ele não poderá ser igual ao que se acabou.
Algumas das principais profecias do Múcio, que serão brevemente publicadas no Almanaque do Barão Ergonte a sair à luz:
- O ano de 1912 terá 365 dias, repartidos em quatro trimestres de três meses cada um.
- Haverá neste ano diversos fatos de grande importância, outros de importância menor;
a maior parte não valerá nada.
- O ano será fértil em desastres de automóveis e descarrilamentos na Central.
- Morrerá neste ano um cidadão de avançada idade, muito estimado por seus amigos e a quem todos os seus netos chamam de vovô, exceto um, que ainda não sabe falar.
- Haverá diversas reclamações sobre a falta d'água e sobre o aumento das contas do gás.
- Os telegramas da Europa referir-se-ão amiudadas vezes à questão do Oriente e à polícia imperialista da Alemanha.
- Morrerão na Europa três pessoas importantes que estiveram vivas durante este ano inteiro.
- Fará intenso frio na ilha de Spitzberg e o calor no Sahara será insuportável no verão.
- O Brasil continuará à beira de um abismo.
- Haverá diversas reformas em diversas repartições de diversos ministérios.
– O ano terminará impreterìvelmente a 31 de dezembro.
–
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1471, 1 jan. 1912, P. 1.
Telegramas de Fortaleza:
- A situação continua gravíssima; todo o comércio conserva-se fechado.
- A praça do Ferreira está transformada numa praça de guerra.
- Consta que o batalhão de polícia está revoltado.
Etc., etc.
- A capital acha-se em paz.
Diante destas informações telegráficas, só uma resolução o governo deve tomar e é não tomar resolução alguma.
Em Maceió, depois de uma calorosa manifestação popular contra o governo do Estado, foi uma comissão ao palácio pedir ao Sr. Malta que renunciasse ao poder.
S. ex. respondeu à comissão, sensivelmente comovido, agradecendo a honra do convite mas escusando-se de não poder aceitá-lo por ir de encontro aos seus princípios.
A comissão resignou-se.
Frases de Guepin, citada pelo Sr. Arthur Orlando, a propósito de sua candidatura a deputado por Pernambuco:
"Quem recebeu, deve; quem deve, paga. Aquele que recebeu, no meio em que nasceu, uma certa soma de benefícios, constitui-se devedor, e deve pagar aos vindouros aquilo que deve aos antepassados."
Muita gente não decifrou a charada; entretanto, o sr. Rosa e Silva, que é forte em quebra-cabeças, disse a um amigo: - Já sei, o Orlando quer dizer com esta que me vai restituir a cadeira do deputado que lhe dei.
Do Ceará anunciam que o município de Jardim aderiu ao coronel Rabello.
Ainda bem; não faltarão flores na vitória da rebelião.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1472, 3 jan. 1912, p. 1.
O ex-ajudante-de-ordens do general Dantas Barreto, é candidato a deputado pelo 2º
distrito da capital.
Não haverá por ai um lugarzinho de intendente para o cabo ordenança...
- Então, o Pio mutilou a peça do Coisa?
É verdade; e o Coisa?
- Nem pio; s’en fichore.
Foi aberto o primeiro rombo na parede do Convento da Ajuda.
Os operários que trabalham no interior do prédio apanharam uma lufada de ar que os constipou a todos; um deles exclamou entre espirros: - isto agora é que está convento!
Está fazendo sucesso na Europa o novo sistema pedagógico da dra. Montessori, que permite às crianças aprenderem a escrever antes de saber ler.
Olhem a grande novidade! Nós conhecemos no jornalismo muita gente que nunca aprendeu a ler e que escreve que é uma beleza!
O tal Urbano de Mello deu três tiros na cabeça e nenhum acertou.
Já é sorte do homenzinho; o tiro que ele quis dar no Banco do Brasil também errou o alvo...
O banquete em honra ao sr. Rodrigues Alves, realizar-se-á no teatro Municipal de São Paulo.
Sim, senhor; por lá pela paulicéia, o Municipal também serve para estas coisas político-mastigantes.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1474, 5 jan. 1912, p. 1.
S. Ingênua Santidade Pio X, vai enviar um ultimato ao governo de Portugal, exigindo a anulação do decreto de expulsão das congregações religiosas, sob pena de retirar de Lisboa o Núncio.
Mas isto é justamente o que deseja o governo português. O Santíssimo Padre! Vossa Santidade livra-o assim do trabalho de expulsar o dito Núncio.
A "Argentina" continua em fúria, a atacar o mate brasileiro, cobrindo-nos de injúrias.
Vejam só que injustiça: o mate substitui perfeitamente o chá que os brasileiros não tomaram em pequenos.
Os pedreiros paulistas estão tratando da fundação de uma sociedade para unificação das classes operárias.
Aí está um passo avançado do socialismo: a união feita pelos pedreiros será trabalho concreto, bem cimentado, firme, de pedra e cal.
Não vá daí resultar alguma parede.
Acha-se no Rio o advogado e publicista argentino dr. Carranza. A presença do ilustre visitante, entre nós, nada tem que ver, ao que estamos informados, com a lei do fechamento das portas e os seus opositores. Estes são carrancas sem c cedilhado.
Diz um telegrama de Nova Iorque: reina frio intensíssimo; em Chicago o termômetro registrou 32 e 40 graus abaixo de zero.
Há certos telegramas cuja publicação deve ser proibida pela Saúde Pública o citado, por exemplo. Lendo-o num dia de calor como o de ontem, pode acontecer a qualquer cidadão o que sucedeu comigo: dei trinta espirros e constipei-me por quinze dias.
Foi preso ontem como gatuno, um pobre-diabo encontrado na caixa-d'água de uma casa de família.
Indagando o guarda que o prendeu o que fazia ele ali, nada respondeu o suposto gatuno.
E fez bem: tal indagação era simplesmente idiota; com 36 graus à sombra não se pergunta a um homem o que faz numa caixa-d'água; refresca-se, naturalmente:
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1476, 7 jan. 1912, p. 1.
Chegou a Assunção o sr. Carlos Casado que foi reclamar ao governo paraguaio uma indenização pelos prejuízos sofridos.
Deve o governo atender ao casado que talvez tenha mulher e filhos.
No Porto um bonde elétrico foi de encontro a um carro de bois.
Não parece até um símbolo da colisão de dois regimes?
- Afinal os cozinheiros ainda não estão vitoriosos porque não querem.
- Que podem eles fazer?
- Ora, pouca coisa; apenas ameaçar os patrões de explicar ao público como é que se fazem os picadinhos em nossos hotéis...
Continuam em greve os restaurantes. Aí está uma excelente ocasião dos políticos porem a atual situação "em pratos limpos".
É o que não falta.
Temos sob vista o sétimo número da Estação Teatral, que estampa uma pequenina cabeça da Rejane com a seguinte legenda: - "Rejane, uma das figuras de grande realce no palco francês".
Gratíssimos pela informação.
Corre em Maceió que o sr. Araújo Góes romperá com o sr. Euclydes Malta.
O Rego Medeiros que nas horas vagas é professor de inglês, exclamou satisfeito, ao ler a notícia: he goes all right.
O sr. Ramos Mexia, ministro das obras públicas da Argentina, ainda não conseguiu debelar a greve dos empregados de estradas de ferro.
Os jornais acusaram-no de inação diante do movimento paredista.
Seu Mexia, mexa-se! aconselha a imprensa.
- O Cunha foi a Pernambuco com três meses de licença para tratamento de saúde; de que sofrerá ele?
– De alguma "prisão" de ventre, naturalmente.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1479, 10 jan. 1912, p. 1.
- O Bernadelli tem levado pela imprensa bordoada de criar bicho, deve estar com uma cara...
- Qual nada: o Bernadelli não liga; tem cara de bronze, duríssima.
Entre políticos:
- Está passada a crise; ainda bem. O Albuquerque Lins declarou que S. Paulo dá todo apoio ao governo federal.
- É verdade; mas com a condição do governo federal dar todo o apoio ao Rodrigues Alves...
Os gatunos andam soltos em Botofogo; são diários ou melhor, noturnos, os ataques à propriedade...
Os habitantes dos bairros, em vista da inutilidade da polícia e da Guarda Noturna, resolveram aderir ao fechamento das portas ... com trancas, aldrabas, trincos etc.
Dos faits divers.
Foi atendido Manuel Pinto da Cruz, fabricante de bebidas, no pedido que fez para serem reunidos em um só os processos lavrados contra ele, por infração do regulamento do imposto de consumo.
Bom fabricante de bebidas que é, o Manuel Pinto, arranjou um cock-tail de processos...
O burguês pacato ao sentar-se à mesa, reclama à esposa:
- Oh! filhinha, o jantar está todo frio...
- Que queres? é a moda.
Vai ser aprovada a modificação feita no parágrafo 5º da Albergia Versigerungs Aktiengeseltsehafft, com sede em Hamburgo.
Com certeza este artigo só é o que se refere à situação da companhia em caso da pronúncia... do nome.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1480, 11 jan. 1912, p- 1.
O general Mendes Barreto foi convidado pelo P.R.C. para presidente de S. Paulo.
S. ex. vai declarar-se gordo demais para palito, incompetente para gato morto e pouco disposto ao papel de escorva de revoluções.
O sr. conde de Afonso Celso realizou no Club Militar uma conferência sobre o seguinte tema: "O sangue de nossos avós criou o Brasil." E o Brasil saiu muito bem criadinho, graças a Deus; o diabo é que tomou gosto pelo primeiro sangue que bebeu e não se aquieta sem que lh'o dêem.
- Então, o ministro da agricultura renunciou?
- Duas vezes.
- Como assim?
- De certo: renunciou à pasta e renunciou à renúncia...
Frutos da Estação:
De um jornal do Amazonas transcrevemos o seguinte projeto da Intendência Municipal:
"Projeto nº 55 - A Intendência Municipal de Manaus decreta:
Art. 1º Fica concedido um auxílio de dois contos de réis ao estudante Francisco Dejard de Mendonça para concluir seus estudos onde lhe convier.
Art. 2º Para ocorrer a esse pagamento fica aberto no orçamento o respectivo crédito.
Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.
Sala das sessões do Conselho Municipal de Manaus, 6 de dezembro de 1911.
a) Marçal Ferreira da Silva.
(Redator do Diário do Amazonas).
(O jovem Francisco Dejard é secretário do chefe de polícia de Manaus.)
O Amazonas está em maré de enchente; se há por aqui estudantes prontos tratem de fazer as malas e abalar para aquela terra da promissão.
Observação dolorosa de um artista sobre o suicídio de Puga Garcia:
- E o Bernardelli continua em liberdade! falha justiça humana que não estabeleceu penas para os assassinatos morais!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1484, 15 jan. 1912, p. 1.
Parece que este ano, Novelli Guitry e Maria Guerrero irão a S. Paulo, sem parar no Rio de Janeiro.
Aí está um caso em que somos francamente pela intervenção; o Rio precisa transformar o Restaurante Municipal em um teatro e obrigar S. Paulo a nos emprestar os artistas que o visitam.
J. Brito acha extraordinário que a greve dos marmoristas rebentasse ao mesmo tempo que a dos cozinheiros, como um movimento de solidariedade.
Não vimos razão para espanto; afinal, as duas classes se completam; se não houvesse cozinheiro, ninguém morria de moléstias gástricas e os pobres marmoristas ficariam em crise de trabalho; daí, é natural a solidariedade.
À porta de uma padaria:
- Então, entras na greve ou não entras?
- Não quero saber de greve (s); vou levar o meu pão à freguesia.
- Pois fazes mal; se o pessoal te agarra, em vez de pão levas bolachas.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1485, 16 jan. 1912, p.
Reza um telegrama de Paris.
"Declarou-se em greve o corpo de baile da ópera."
Pobre Paris! Era só o que faltava: ver-se a braços com uma greve de pernas!...
Os republicanos chineses organizaram um atentado sem conseqüências, contra o sr.
Yuan-Chi-Kay.
Que falta a dos chineses, em matéria de democracia...
A República chinesa tem muito que aprender conosco em matéria de matar patrícios...
O sr. Severino Vieira, em viagem para a Bahia, não saltou; olhou os acontecimentos e seguiu para o Norte ...
Nunca s. ex. espiou a maré com tanta atenção...
Diz um jornal da tarde: "se bem que menos rigoroso é, contudo, ainda extraordinário o policiamento da cidade", Ainda? É extraordinário.
Não há nada mais ordinário que o tal policiamento.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1486, 18 jan. 1912, p. 1.
Há na rua Sete de Setembro um restaurante que se denomina pomposamente Restaurant Marconis, indagamos, há dias, do proprietário o motivo por que escolhera tal nome...
- É que o Marconi inventou o telégrafo sem fio.
- Sei; mas a que vem isto?
- É que eu também "não fio"...
Impagável o nosso sistema policial.
Ainda ontem os jornais narraram o caso de um furto de jóias, cuja autoria é atribuída a um criado que fugiu para S. Paulo.
E os jornais acrescentam: "para aquela cidade devem seguir hoje agentes do Corpo de Segurança, encarregados de sua captura".
Tem, pois, o gatuno, se não for cego, surdo, paralítico e idiota, tempo de sobra para preparar as malas e buscar refúgio mais seguro; a polícia avisa-o com toda a antecedência pelos órgãos de maior circulação...
Houve um temporal em S. Luís do Maranhão, causando grandes estragos.
Vá o sr. Luiz Domingues se habilitando à luta contra os elementos naturais, enquanto não arrebenta pelos seus domínios a borrasca política. O vento continua norte.
O sr. Alexandre Braga apresentou um projeto à Câmara Portuguesa, concedendo direitos às mulheres.
Depois que os homens perderam todos os que tinham, é interessante ver o que as mulheres farão dos que lhes forem concedidos...
O dr. João de Siqueira adoeceu a bordo e volta ao Rio; parece que s.ex. foi acometido de uma vontade de brigar recolhida; não havia a bordo quem quisesse levar pancada de s. ex.
Telegrama de Recife:
- O governo nomeou uma comissão de sindicância de proceder no Tesouro do Estado um exame da "aplicação", "regularidade", "legalidade" e "veracidade" das operações realizadas pelo governo passado.
Não precisa tanta coisa; para sindicância bastava ver a cidade: a absoluta falta de melhoramentos, mostra, depois de tirada a "prova" que as operações foram todas erradas.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1479, 20 jan. 1912, p. 1.
Diz a Prensa que não existe nem pode existir nenhuma inteligência entre o Brasil e a Argentina, no caso ao Paraguai.
Nem neste nem em outro qualquer afirmamos: o que há, é falta de inteligência para burro.
O sr. Boto Machado vai ser substituído pelo sr. Abel. Botelho, na legação de Portugal, em Buenos Aires.
Os argentinos não vão gostar muito da substituição: isto de passar de Boto a Botelho, talvez não seja, mas parece uma diminuição de importância diplomática.
E para os argentinos que são tão sensíveis ...
- Então, o governo mandou garantir o Aurélio? - Decerto; e agora S. Marcelo tem de falar... - E que meios empregará o Sotero?. . .
- Só tiro.
A Imprensa publica um telegrama sobre os roubos feitos nos fornecimentos de víveres às tropas italianas em operações; o telegrama traz este título:
Roubo mais que sacrílego.
Sim senhor! lá achei um nome para classificar o que me faz todos os dias o vendeiro que me fornece o gênero.
lá amanhã, ele leva com o mais que sacrílego pela cara.
Três deputados ao Congresso da Bahia telegrafaram ao Supremo Tribunal, declarando que não haviam autorizado o pedido de habeas-corpus em seu nome e que já se achavam rodeados de todas as garantias constitucionais.
Queremos ver agora, na hora das reposições, se estes três garantidos recusam um habeas-corpusinhos...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1481, 22 jan. 1912, p. 1.
De um telegrama de Fortaleza para A Noite, de ontem: tavam intransitáveis, como é que havia seqüência dos Contínuos tiroteios travados entre a polícia e os transeuntes?
O diabo que entenda isto; se as ruas estavam intransitáveis como é que havia transeuntes?
- Sabes que há de novo sobre a revolução do Paraguai?
- Oh, filho! pois se eu não tenho tempo de saber o que há sobre as nossas!
No Ceará o povo tomou diversas repartições públicas, às quais está montando guarda.
É o primeiro caso de governo do povo pelo povo que conhecemos. O Ceará acaba proclamando a República.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1483, 24 jan. 1912, p. 1.
Um funcionário do Tesouro foi ontem procurar o sr. Francisco Salles e pedir-lhe informações sobre certa dúvida existente na interpretação do orçamento da despesa.
- Meu caro. disse-lhe s. ex., eu estou doente; agora só me preocupo com o orçamento das "receitas" médicas.
Fomos ontem buscar lã e saímos tosquiados.
É o caso que A Noite dera um telegrama do seu correspondente no Ceará, dizendo que as ruas estavam intransitáveis, devido aos contínuos tiroteios entre a polícia e os transeuntes. A Colmeia troçou o telegrama, estranhando que houvesse transeuntes nas ruas intransitáveis.
A revisão, porém, troçou a Colmeia, fazendo do comentário um embrulho indecifrável e obrigando-nos a uma "rata" e à presente errata.
O correspondente d'Noite está bem vingado. Telegrama de Teresina:
Regressou do interior o dr. Miguel Rosa, que foi alvo de muitas manifestações populares.
Não se vá fiando muito o dr. Miguel; olhe que o tempo não está muito bom para Rosas.
Os jornais noticiaram a tentativa de suicídio de uma senhora, a quem a falta de meios levou a ingerir sulfato de zinco.
Zinco contra a falta de arame? é a primeira vez que vemos.
Animado pelo sucesso de sua propaganda para o plantio de árvores nas praias de límpidas areias de Copacabana, Leme e Ipanema, vai o dr. José Mariano Filho pleitear perante os poderes municipais que se mande espalhar areia do mar nas matas da Tijuca.
*
Diversos comentadores inscreveram-se como sócios do Club de Aviação.
Por ora o Club está se fornecendo de combustível para os futuros vôos.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1484, 25 jan. 1912, p. 1.
Apesar da chuva, de todos os casos graves e complicados que per-turbam a paz da República, a noite de ontem foi, na Avenida, uma encantadora entusiástica festa carnavalesca. Conclui-se daí que o público carioca, como aquele célebre Pio da censura teatral, s'en fiche no que dizem os jornais; que Momo s'en fiche da política e que o Brasil não é um país essencialmente agrícola, mas essencialmente carnavalesco.
*
Por ocasião do embarque do 51 ° batalhão de caçadores, caiu ao mar um cavalo, que foi salvo pelo estivador João Bispo. Observação de um jogador de xadrez: "O Bispo salvou o cavalo? não conhecia esse lance"!
*
Telegrama de Pequim:
"Vários generais do exército enviaram uma nota ao trono, insis-tindo pelo estabelecimento de regime republicano na China."
Ah! se os nossos generais tivessem a mesma idéia...
*
- Com essa história do Rafael meter-se nas lutas políticas da Bahia vai o Lloyd perder o seu orador de cabotagem.
- Sim, mas ganha o país um orador de cabotinagem política.
*
- O Accioly escapou incólume ao atentado?
- Era de prever: o velho pajé cearense está curado pelo padre Cícero.
*
Parece que na Bahia estará tudo brevemente acabado - em plena paz: além da intervenção evangélica do sr. arcebispo, fala-nos o telégrafo da intervenção do dr.
"Pacífico" Pereira, que também. é pelo pax hominibus bona voluntatis. Amém.
*
Os últimos telegramas dão como foragido o presidente Malta, de Alagoas. Isto é que é homem de juízo: foi tratando de se pôr a panos antes do bombardeio.
*
Até a hora em que escrevemos, ainda não estava marcada a data da reposição do sr.
Euclides Malta, presidente coacto de Alagoas.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1488, 29 jan. 1912, p. 1.
O sr. Euclides Malta, que se acha atualmente no Recife, partirá depois da indispensável demora, como os vapores de carga, para esta capital.
Não o trazem aqui negócios políticos. S. ex. vem apenas assistir ao alegre carnaval carioca que, apesar da coação da falta de dinheiro, promete ser mais divertido que o de Jaraguá.
Bons ventos o tragam.
*
O Senador Macário, atual governador de Alagoas, telegrafou ao marechal Hermes, pedindo-lhe uma ordem de reposição.
- Não faça isto, aconselhara-lhe um amigo, quando s. ex. redigia o despacho - o senhor ainda não foi reposto...
- É, mas quero tratar de ser reposto; enquanto não vem a reposta sei lá o que me vão fazer?.. .
*
Ouvimos que o Brasil não intervirá absolutamente nos negócios do Paraguai, nem bombardeará Assunção, como andaram espalhando boateiros desocupados.
O Paraguai não é Estado autômato da Federação Brasileira...
*
O Victor Marcks, candidato a deputado, andava ontem, radiante;
- Conto com uma votação colossal...
- Em que sessão? indaga um amigo.
- Na da sala de despachos do Catete; o Mário garantiu- me...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1489, 30 jan. 1912, p. 1.
Telegrama de Cetigne: "O príncipe Danilo, herdeiro do trono de Montenegro, acha-se atualmente em Sofia, onde foi assistir às festas que se estão realizando na capital búlgara, comemorando a maioridade do príncipe Boris."
Podemos acrescentar que o amável e popular Danilo aí se encontrou com mme. veuve Anna de Glavary, a cujos milhões fez uma corte escandalosa, com escândalo de toda a corte. A viúva continua desmentindo a opereta, na preferência que dá a um banqueiro judeu, octogenário e cheio de dinheiro.
O príncipe Danilo terá que esperar a segunda viuvez, não há dúvida.
*
De Buenos Aires telegrafam sobre a revolução do Paraguai: Partiu para a Vila del Pilar uma comissão de comerciantes, a fim de negociar a paz.
Muito acertado; ninguém mais apto para negociar a paz que os homens de negócio.
Vejamos o resultado do balanço.
*
- Então, o Hemetério teve grande votação?
- Nem tanto quanto era de esperar; não houve eleição em muitas "pretorias" ...
*
O sr. Euclydes Malta seguiu para Pernambuco licenciado.
S. ex. virá a esta capital tratar-se de um ameaço de coação, mal que tem ultimamente tomado no Norte um caráter epidêmico, assustador.
*
- E as eleições correram em paz.
- Homem, em muitas seções não correram; voaram em paz e às moscas...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1490, 31 jan. 1912, p. 1.
Continuam escondidos os governadores da Bahia, ultimamente depostos, repostos e repostos.
Mas, senhores, que gente para ter medo de garantias!
*
O Diário del Atlântico, publicado a bordo dos vapores do Lloyd Holandês, estampou em seu número de 21 de janeiro um radiograma em que se noticia um grande movimento contra os estrangeiros aqui do Rio.
A formidável potoca foi desmentida; para evitar, porém, a repro-dução de tão prejudiciais balelas, seria de desejar que o governo criasse um corpo de propagandistas viajantes a bordo dos transatlânticos.
A Argentina não dorme, mesmo em alto-mar.
*
Diz um telegrama que o Sr. Aurélio Viana marcou uma entre-vista com o general Vespasiano em casa do dr. Lago.
Prevenido, esse Aurélio foi logo procurando a casa do Lago... Em caso de perigo, bumba! cai n'água que ninguém o apanha.
*
O sr. Pascoal Segreto requereu ao prefeito licença para transformar o nosso lindo Passeio Público em uma ignomínia, gênero Maison Moderne.
*
O requerimento é redigido em estilo cassange; daí é fácil concluir o estilo das diversões elegantes com que o sr. Paschoal nos ameaça.
Felizmente temos na Prefeitura um homem de bem e de bom senso que, decerto, a estas horas já terá mandado o Pascoal cultivar as batatas do seu requerimento.
Graças vos sejam dadas, o N. S. do Bom Gosto!
*
A guarnição militar do Peru ameaça revoltar-se porque há cerca de dois meses não recebe pagamento.
E com razão pode admitir guarnição do Peru sem recheio...
*
Entrou a funcionar a nova escola da polícia, sob a competentíssi-ma direção do sr.
Elisio de Carvalho.
Não sabemos se por simples coincidência, por pilhéria do acaso ou se muito propositalmente ganharam ontem os bichos mais esperta-mente policiais da lista: o coelho, a água e gato, em três dos sistemas Homenagem ao sistema do Elísio?. . .
"A Rússia vai pedir à Turquia como compensação da sua neutralidade, o direito exclusivo de passagem dos seus navios no Bósforo". Há uma infinidade de leitores que, por simples preguiça mental, exige do mísero autor desta seção o trabalho de mostrar onde está a pilhéria da neutralidade e do pedido russo.
O Brício declara pelo seu jornal que não é candidato a deputado pelo 10 distrito desta Capital e mais, que se o fosse não seria eleito; se fosse eleito não seria reconhecido e se reconhecido fosse não acei-taria o mandato.
Faltou apenas o finalzinho. Se aceitasse o mandato não receberia os cem bagos diários...
*
Da Notícia de ontem:.
No Palácio do Catete esteve o Dr. Frederico Carlos da Cunha Jú-nior, que foi apresentar as suas despedidas, por ter de partir para o Espírito Santo, onde assumir vai as funções de delegado fiscal do Tesouro Nacional.
O "assumir vai" é de primeira; nesta época em que tudo anda às avessas é uma necessidade. A inversão do estilo do noticiário.
*
- Então, o Garros negou-se a subir com os oficiais do exército? - É verdade. diz ele que não veio no Brasil para dar lições de aeronáutica nos brasileiros; o que tinha a fazer já fez brilhantemente. - Como?
- Voou com os cinqüenta contos do prêmio...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1494, 4 fev. 1912, p. 1.
Telegrama da Argentina noticia que a junta Comercial "protestou" contra a proibição do meeting contra o serviço das estradas de ferro, considerando essa proibição um atentado contra a constituição.
- Tratando-se de serviços da estrada de ferro, não seria mais prático um "contravapor"?
*
A propósito da evasão do Capitão Luz diz a imprensa parisiense que o prisioneiro da fortaleza de Glatz, uma das mais bem guarda-das da Alemanha, recebia, diariamente, uma correspondência em tinta simpática.
- Tinta simpática? os jornais alemães não podem ser da mesma opinião.
*
O milionário Patiño fez doação de 30.000 pesos para as escavações arqueológicas que vão ser feitas no Peru.
Se for alguma "cavação" é mais um que cai como um patinho!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.0 1495, 5 fev. 1912, p. 1.
Trecho de uma carta do sr. Goran Bjorkman, tradutor das obras do sr. Oliveira Lima para o sueco, ao nosso ministro da agricultura: "Junto tenho a honra de oferecer a V. Ex., , o primeiro "fruto sueco" das relações intelectuais entre os nossos países."
O fruto sueco não sabemos bem qual seja; mas, se não for "seco" deve ser de muito suco.
*
Faleceu no Equador o ex-presidente Cordero.
Parece que o homem não foi linchado; mas, no estado em que as coisas andam por lá, era de esperar que um ex-presidente Cordero não resistisse muito tempo.
*
De um artigo da Notícia, de ontem:
"Diante das declarações positivas dos srs. Aurélio Vianna e Gaivão, pode o presidente da República hesitar ainda?"
Alto lá! positivas é que não; não conhecemos nada de mais negativo que as referidas declarações: pois se ambos se negam a ser repostos...
*
Continuam os temporais em Portugal a provocar grandes prejuízos. Observação de um monárquico impenitente:
Aí estão os resultados da proclamação da maldita República.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1498, 8 fev. 1912, p. 1.
Sobre o caso do milionário Marques Braga, que tem dado um des-bragado escândalo há agora uma nota interessante: um Sr. José Caires e mais um Sr. José Pereira, que agora pelo carnaval vem muito a propósito, protestam contra o procedimento do enfermeiro do Marques Braga, por terem sido postos de lado na viagem à Europa e no resto.
O Zé Pereira já está um tanto consolado e ainda ontem zabumbou ao Caires.
- Ó colega! Caires numa destas! ... Eu não embarquei...
Nem eu, infelizmente! Quem embarcou foi o outro, tornou o Caires desconsolado.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1499, 9 fev. 1912, p. 1.
A uma de suas camaradas daqui, a "Cara chata", escreveu o milionário Marques Braga uma carta em que lhe pede que lhe escreva sempre, com boa letra senão, não adianta nada!
Bem se vê que o pobre milionário não era um homem prático. Se o fosse, em vez de comendação, mandar-lhe-ia uma máquina de escrever.
*
Gato; assim assinava o milionário Marques Braga as suas missivas amorosas, às camaradinhas aqui do Rio.
- Entretanto, pobre rapaz! não conseguiu defender-se dos ratos que lhe avançaram no queixo da fortuna!...
*
Sempre seguido do sr. Raimundo de Miranda, o sr. Euclides Malta continua a lastimar -
Caso de Alagoas.
É o caso de dizer como o sr. barão de Traípu: - Ó clides, mata está briba!
*
Telegrama de Buenos Aires:
Os estudantes argentinos em Nova Iorque têm feito diversas conferências de propaganda de seu país pelas principais cidades dos Estados Unidos: O governo mandou-lhes remeter folhetos com dados sobre a nação argentina.
Folhetos com dados? Devem ser dados cachorros; o Brasil é que vai perder no jogo...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1500, 10 fev. 1912, p. 1.
A questão do carnaval preocupa atualmente todos os espíritos; o carnaval será ou não adiado?
O Brasil, tem-se dito e repetido: é um país essencialmente carnavalesco; de forma que muitos cidadãos precavidos já resolveram retirar-se para o interior, receosos de uma revolução.
Já se fala de uma organização de ligas pró-Momo, pró-Zé Pereira, etc.
*
Vai ser criada uma nova diocese na cidade de Itú, sendo-lhe instituído um patrimônio de 300 contos, oferecido integralmente pelo cônego Ezequias Galvão, arcipreste do Cabido.
O padre Ezequias nada tem de "exéquias" nem de "ar cipreste"; com tanto "arame", o ar deve ser outro.
*
- O sr. Bezerril é candidato do marechal. Pelo menos foi o que disse no manifestotelegrama que dirigiu ao povo cearense.
-Não há tal. O general disse apenas que era candidato a "sentinela da paz e da honra nacional". O Hermes não é sentinela; é marechal e presidente da República.
*
O sr. Belisário Távora foi um dos "espremidos" no conflito provocado pela polícia, no cemitério de S. Francisco Xavier.
- E que mais?
- Nada.
- É espantoso! Nem mesmo espremido Távora deu nada! ...
*
O sr. Benedito entrou deveras para a ordem de S. Belisário. Por dá cá aquela palha, lá vai obra.
- Obra, não; pau. A tradução brasileira de casse-tête é cacete.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1506, 16 fev. 1912, p. 1.
Trecho de uma carta do dr. Domício da Gama ao sr. Thoma Lopes sobre o seu livro "A
vida":
"Eu sou dos que tem admiração e uma secreta inveja dos que são capazes de produzir livros. Por fraco que se um livro, nunca ele é feito só de asneiras ou coisas cediças;
sempre há nele algum traço da alma do seu autor, com todo o interesse que ela não pode deixar de inspirar-nos. Falo dos livros de imaginação, como esse que você teve a felicidade de poder escrever e publicar."
Que lhe agradeça o elogio o talentoso escritor. São coisas da ... vida...
*
O sr. Belisário Távora conformou-se com a nomeação do sr. Mário de Gusmão. O sr.
Rivadávia entrou com o seu jogo" e o sr. Capote Valente passou de delegado a adido ao gabinete do chefe de polícia.
- Foi mesmo um "capote valente"!
- Uma rolha, se me faz favor!
- Que significa aquela história de ponto no fim do telegrama do nosso ministro do exterior?
- Não percebi.
- Na ortografia ministerial, o Lauro Müller só pode ser ponto de admiração.
O sr. Propício declarou que combateu ao lado do povo baiano, mas, como cidadão despido de sua farda, e que ninguém jamais teve ocasião de vê-lo acompanhado de soldados.
- Coisas do Carnaval. O sr. Propício é um "tenente" de princípios "democráticos".
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1507, 17 fev. 1912, p. 1.
O guarda civil nº 696 prendeu ontem uma marrequinha e levou-a para a delegacia do bairro da bordoada.
A marrequinha dispensava bem a ação do 696. Ainda se o nº fosse outro...
*
Volta da Bahia o general Vespasiano. S. Ex. teve pouco a fazer por lá: tudo já estava feito pelo general Sotero, segundo sua declaração ao caboclo amigo J.J. Seabra.
*
-Agora é que eu receio uma guerra com a Argentina.
- Por quê?
-Ora, se não há generais coronéis nas fileiras...
- Que tem isto? O governo, no caso de necessidade, mandará mobilizar os governadores e o Congresso.
- Afinal de contas não se pode compreender o critério do luto nacional...
- Em que ponto?
- Neste que ora fazem o ponto facultativo em sinal de pesar, ora o fazem obrigatório pelo mesmo motivo...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1508, 18 fev. 1912, p. 1.
Fala-se insistentemente na escolha do sr. Belisário Távora para diretor dos Correios.
Assim se explica o caso; há muito que se ouvem queixas contra a má administração da polícia, os jornais todos gritavam ao governo:
- Correio da administração!
O governo entendeu mal e zás, manda o homem para a administração do Correio. Aí está.
*
O Euclides Malta parte para Alagoas.
- Leva alguma esperança?
- É possível; o Malta é fino; não fez oração na capela...
*
Alguns jornais, censurando a polícia, salientam o fato de termos agora dois meses de carnaval.
E que mal há nisto; o ideal seria um ano inteiro de pândega carnavalesca, com três dias apenas para levar-se a vida a sério.
*
A um repórter, que o entrevistou sobre sua nomeação para ministro em Paris, declarou o conselheiro Rosa e Silva:
- Eu agora não cuido de coleta alguma.
No caso de S. Ex.a quem não daria a mesma resposta?...
*
Ontem, na Avenida:
- Firme, hein, meu velho! Apesar dos cabelos brancos e do reumatismo, metido na pândega carnavalesca!
- Que queres? O carnaval em mim constitui uma "momorragia''...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1509, 19 fev. 1912, p.1.
Diz a Notícia que muita gente, privada do concurso das bandas marciais nos festejos carnavalescos, recorreu ao fonógrafo, a que o colega chama instrumento edisonino ou edisoniano.
Nem uma, nem outra; o fonógrafo é instrumento... é de sonino.
*
Diz A Noite, referindo-se ao policiamento de Niterói:
"A polícia teve que fazer, isto é, coibir-se, pois na faina de encher xadrez, prendeu cerca de 50 turbulentos por dar cá aquela palha". Podre Polícia! Se não prendesse os turbulentos, mesmo por dá cá aquela palha, estaria na berlinda do mesmo jeito...
*
Subordinada ao título "Um médico processado, relata a Notícia, de ontem, o caso de uma queixa dada por uma senhora, contra um médico que examinou uma filha da referida senhora e que ao proceder o exame "fez o mal que não existia e queria verificar se havia".
E isso que se chama imperícia.
*
Um inspetor de veículos apanhou ontem na Avenida e foi preso por ter querido paralisar tráfego, metendo-se com gente graúda da Prefeitura.
Bem feito. Quem mandou o inspetor ir de encontro aos hábitos da inspetoria.
*
Telegrama de Atenas diz que o sr. Mustafá Nourry ao chegar no Club Liberal foi agredido a cacetadas por um sócio da União e Progresso.
- Os gregos, a respeito de Liberdade, União e Progresso são tão gregos como nós.
- É verdade: por um triz que era mesmo Ordem e Progresso...
*
Continuam, no Recife, a preocupar o espírito público os boatos que correm, da próxima crise política.
- O Dantas foi um mito para muita gente!
- Um mito?... Um conto-do-vigário... Bezerra de Carvalho!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1510, 20 fev. 1912, p.1.
Foi preso o sr. Emílio Guimarães por prática ilegal da medicina. Mas então, como é isto? Pois o sr. Rivadávia não decretou o liberdade de profissão?
Salta habeas-corpus para um!
*
O sr. Rosa e Silva protesta veementemente contra as perseguições de que estão sendo vítimas os seus amigos em Pernambuco.
O ex-chefe está agora convencido de que a pimenta arde; a questão é de ser ela posta em nossa... boca e não na alheia.
*
O sr. Belisário Távora prendeu e deportou para Dois Rios um rapaz, pelo crime de estar namorando uma moça com os mais nobres intuitos matrimoniais.
Para que havia de dar o Belisário, tão bom católico: para discípulo de Malthus, adversário do povoamento do solo.
*
O escritor Domingos Ribeiro Filho está processando o editor ja-cinto Santos por ter este avançado no seu romance VãsFortunas. Vã Fortuna, a do Domingos; os direitos autorais neste país são ainda um mito; os editores são os maiores anarquistas deste mundo; não reconhecem a propriedade ... dos outros.
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A propósito do local em que deve ser erigida a estátua do Rio Branco, consultamos o Emílio de Menezes.
- Homem, ao meu ver, disse-nos o poeta, devemos todos fazer uma forte propaganda para que se erija a estátua no local ocupado atualmente pelo barracão do Concerto Avenida...
- A arca é pequena, observamos.
- Não importa; faça-se a propaganda; e quando o prefeito man-dar pôr abáixo o barracão e não mais existir tábua sobre tábua, inicia--se nova propaganda para que o local seja outro.
Bem lembrado, não há dúvida.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1515, 25 fev. 1912, p. 1.
"O Benjamin Constant chegou à enseada de Araão", diz um tele grama.
A filha dileta do referido Benjamin Constant, a República Brasi leira, há muito que vive no seio do dito patriarca.
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O sr. Pires Ferreira, o delegado que beijou a moça, foi elogiado pelo sr. Belisário Távora, muito digno chefe de polícia.
- O Belisário é católico e católico apostólico romano.
Do baixo império...
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Atribuem ao Euclides Malta, o "homem das habilidades", uma frasezinha, que certamente irá para a história com tripas e tudo: `Pernambuco é o ninho de futuros presidentes da República".
- Ninho de presidentes?! Que é que o Malta chama presidente de República?!
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1516, 26 fev. 1912, p. 1.
- O capitão Areia Leão retirou definitivamente a sua candidatura a salvador do Piauí.
- E é pena; o Area é bom rapaz; não "aterra"...
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- Uma boa idéia a do dr. Barbosa Gonçalves escolher para seu secretário o sr. Euclides Moura; isto mostra que está disposto a trabalhar como, um mouro.
- E com toda a "mouralidade", concluiu um trocadilhista amoral.
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Este pedacinho de ouro é da Gazeta:
"A polícia dentro da lei foi violenta mas é forçoso justificar essa violência."
Então como é isto? Se a polícia está dentro da lei, porque mais justificativas?
- Mas houve violência, dirão. - Sim, violência legal. ..
- Então, adeus viola!
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Ainda é do mesmo trecho da colega?
"Quem conhece o dr. Belisário Távora sabe até que ponto S. Ex. leva o respeito pela família não pode de má fé acusá-lo".
É verdade; nem mesmo pelo elogio ao delegado beijocador, pela fuga dos sátiros expulsos da Brigada, nem pela impunidade daquele cônego que abusou das pupilas, o que já é história antiga.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1518, 28 fev. 1912, p. 1.
Com extraordinário sucesso, foi feita anteontem, nesta capital mais uma experiência com o óleo combustível americano.
Há dias também foi feita uma com o óleo B, que produziu esplêndido resultado.
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O sr. Samuel de Oliveira (de Sergipe) prossegue na sua série de artigos e, ainda anteontem, escreveu que "desejamos a força moral da força armada".
É querer muito! Os "salvadores" satisfazem-se com a "força armada" somente.
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Os gatinhos penetraram ontem na casa da família Tranqueira, na rua do Rocha.
Imprevidente família esta que confia em nossa polícia e, apesar de Tranqueira, não tranca convenientemente as portas.
Nada. De agora em diante confiem mais na família "Chaves" que na polícia do sr.
Távora.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1519, 29 fev. 1911, p. 1.
O general Mena Barreto declarou mais uma vez não ser candidato à presidência do Rio Grande do Sul.
S. Ex., apesar da insistência de amigos extremados, teima em não ser salvador.
S. Ex. pretende tão-somente salvar a sua palavra empenhada em carta ao marechal.
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A propósito do telegrama em que o sr. Dantas Barreto atribuía ao próprio pessoal do Diário de Pernambuco o empastelamento deste jornal, dizia ontem, um mirone do Watson:
- Não é novo: quando o Rosa mandou empastelar o Pernambuco, do Milet, mandou dizer isso mesmo...
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Em carta, já agora histórica, . dirigida pelo sr. Oliveira Lima ao sr. Estanislau Zeballos, diz o diplomata brasileiro considerar o outra grande amigo do Brasil, ao contrário do que se afirma em nosso país.
O sr. Oliveira Lima pede ao sr. Zeballos que lhe envie o seu retrato.
Caso este não possua nenhuma fotografia recente, vai "retratar-se"... do telegrama nº
9.
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Os jornais continuam a tratar da desastrada operação praticada na Assistência Municipal para retirar um feijão do ouvido de uma pobre criança de nome Esmeralda.
Foi uma coisa horrível! Quase que "lapidam" a pobre Esmeralda!
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A Noite estampa uma fotografia do edifício do Diário de Pernambuco com a seguinte legenda: "O edifício de três pavimentos de que só se vê uma parte da fachada é o do Diário de Pernambuco".
Modéstia; nós vemos perfeitamente bem as duas únicas fachadas do prédio; o que não vemos são os três pavimentos, mas apenas dois: a menos que não se conte como terceiro a rua... que é pavimentada.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, nº 1520, 1 mar. 1912, p. 1.
- Então, o Aurélio veio no vapor habeas corpus?
- Não é habeas corpus, homem, é Habsburgo.
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Porque uma locomotiva das Obras do Porto, em Pernambuco, matou, acidentalmente, um soldado da bateria da fortaleza do Brum, seus companheiros invadiram aquela repartição pública, praticando toda a sorte de depredações.
- Aguardemos a palavra do general Dantas Barreto. Vocês hão de ver que o caso das Obras do Porto é idêntico ao do Diário de Pernambuco: as obras estão em más condições financeiras.
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O ex-soldado job; um dos sátiros expulsos da Brigada Policial e que há dias fugira do xadrez, onde fora preso, resolveu voltar e apresentar-se à prisão.
E um belo triunfo para a glória dos nossos sherlocks policiais.
O dr. Belisário vai pedir, pelos jornais, ao outro sátiro que volte ao xadrez, para a vitória da polícia ser completa.
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n .O 1522, 3 mar. 1912, p. 1.
O dr. Solfieri explicava numa roda de amigos as razões que o levaram a exonerar-se do cargo de delegado:
- O Flores já havia antes prendido a atenção com as suas maneiras.
- E você só agora...
- Mas agora foi diferente. Agora ele teve foi a tenção...de prender-me!
- Fiquem sabendo que o Getúlio Santos é um homem de espírito!
- Mas não para os homens de Espírito Santo...
ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1523, 4 mar. 1912, p. 1.
O noticiário de polícia teve ontem motivo para um deplorável trocadilho: foi furtado o almirante idem de Mendonça.
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- Não é verdade que o tenente-coronel Coriolano de Carvalho permaneça na sua última resolução de não aceitar a governança, já aceita do Piauí. S. Ex., mais uma vez, desistiu.
- ?
- Desistir da desistência!
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Em certo Estado, o presidente quer despender duas centenas de contos com melhoramentos no palácio do Governo. Os jornais da oposição, saem logo em cima. Os jornais governistas mostram, porém, necessidades dadas:
- O chefe de Estado precisa ter todos os confortos!
– Mas não os tenha com furtos...
– ZANGÃO
A Imprensa, Rio de Janeiro, n.° 1524, 5 mar1912, p. 1.
* Os textos a seguir foram transcritos da seção "Colmeia" do jornal A Imprensa, onde o autor mantinha periodicamente uma coluna literária.
Obra de referência:
Obra Reunida, de Emílio de Menezes,
Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1980.