Textos
Textos para uso geral de domínio público.

Crônica do viver Baiano Seiscentista - a cidade e seus pícaros - Betica

Índice BETICA
FOY ESTA DAMA VISTA DO POETA EM CERTA MANHÃ A SUA JANELLA, E ELLE LHE
DÀ OS BONS DIAS COM ESTE GRACIOSSISSIMO ROMANCE.
PASSOU O POETA PELA PORTA DESTA DAMA, ARRIBANDO DE FORA POR CAUSA
DA CHUVA, COM HUM CASACÃO, E HUA CARAPUÇA. E ELLA LHE DICE, QUE SE
FORA POETA, COMO ELLE, O HAVIA DE SATYRIZAR PELO DESCOCO: AO QUE ELLE
FEZ ESTAS DÉCIMAS.
INDO O POETA, E GONÇALLO RAVASCO A CASA DE BETICA E QUERENDO TRATAR
COM ELLA LHE PEDIO HUA GALA DE ANTEMÃO.
TEVE O POETA NOTICIA, QUE SEBASTIÃO DA ROCHA PITTA SENDO RAPAZ, SE
ESTRAGAVA COM BRITES.
OFFENDIDO SEBASTIÃO DA ROCHA PITTA POR CAUSA DE HUNS CIUMES À QUIZ
CASTIGAR: AO QUE ACODIO A MAY E LHE FEZ AS DESCOMPOSTURAS
SEGUINTES.
POR UM ESCRAVO MANDOU O POETA À BETICA HUM FORMOSO CARÁ COM ESTE.
VINDO ESTA DAMA HUMA VEZ A CASA DO POETA LHE PEDIO CEM MIL REIS PARA
HUM DESEMPENHO.
TORNA ESTA DAMA A INVESTIR SEGUNDA VEZ AO POETA PEDINDOLHE HUMA
GALA, E ELLE FAMOSAMENTE SE DESEMPULHA DESTE MODO.
PICADA BETICA, DE QUE O POETA LHE NÃO DESSE A GALA, LHE APPARECEO EM
CERTA OCCASIÃO COM HUMA SAYA DE SEDA AMARELLA, MAS O POETA SE
DESPICA COM ESTAS DÉCIMAS.
CERTO COMISSARIO DA PRAYA SEU AMAZIO, SABENDO, QUE ANTES DE ELLA IR À SUA CASA, COSTUMAVA PRIMEYRO TRATAR CO MANUEL RAMOS PARENTE, LHE
PREPAROU UMA LAVAGEM DE PIMENTAS, DE QUE FICOU EM MISERAVEL ESTADO.
AS DIFFERENÇAS QUE TINHÃO SEOS QUATRO AMANTES, SOBRE QUEM À HAVIA
DE LEVAR.
A MESMA APPARECENDO NO DIA DAS VIRGENS VESTIDA DE LUTO.
16 – BETICA
Vista do Poeta em certa manhã à sua janella.
Manuel Pereira Rabelo, licenciado Uma confusão das bocas uma batalha de veias, um reboliço de ancas, quem diz outra coisa, é besta FOY ESTA DAMA VISTA DO POETA EM CERTA MANHÃ A SUA JANELLA, E ELLE
LHE DÀ OS BONS DIAS COM ESTE GRACIOSSISSIMO ROMANCE.
Ontem ao romper da Aurora, começando o amanhecer, vi desta parte do ocaso dois sóis, a quem quero bem.
Que fazendo oposições com brilhantes rosicler, ao sol, que de envergonhado se começava a esconder.
Eclipsados vi seus raios, mas quem suas luzes vê, nas admirações se pasma, nas invejas perde o pé.
Que a beleza singular, que ostentam seus olhos, sei, que o sol não quer competi-la, porque a saiba engrandecer.
Cegam os seus resplandores, e de tal sorte me tem, que não como ao sol me escondo, porém morro por te ver.
Como cega barboleta ao fogo da minha fé se queima a desconfiança de nunca te merecer.
Valha-te Deus por Betica, não sei dizer-te, meu bem, como vivo enamorado, como estou, não sei dizer.
Porque entre o doce de amar-te, e o amargo de te não ver, hei de viver da esperança ou da saudade morrer.
Tua rara formosura, eu a não sei comprender, porque um não és tens de humana, e um quase divina és.
E já que nesta cegueira tua beleza me tem, ou me corresponde amante, ou me acaba de uma vez.
Porque tão confuso vivo, tão triste me chego a ver, tão temeroso me atrevo, que é um abismo cruel.
Tal abismo o peito sente:
ora permite, meu bem, diminuir os incêndios, acabe-se o padecer.
Toma o astuto Piloto o sol, só para saber, se se acha na boa altura, mas sem carta nada fez.
E pois no mar de meus olhos perigos receia a fé, manda-me, por não perder-te, uma carta desta vez.
Dá-me velas à esperança, com elas marearei, já que o fogo da vontade sempre está firme a teus pés.
PASSOU O POETA PELA PORTA DESTA DAMA, ARRIBANDO DE FORA POR CAUSA
DA CHUVA, COM HUM CASACÃO, E HUA CARAPUÇA. E ELLA LHE DICE, QUE SE
FORA POETA, COMO ELLE, O HAVIA DE SATYRIZAR PELO DESCOCO: AO QUE
ELLE FEZ ESTAS DÉCIMAS.
1 Que não vos enganais, digo, Betica, e antes cuidai, que uma sátira a meu Pai farei, se bulir comigo:
fá-la-ei ao mor amigo, quando aleivoso me toe, e porque melhor vos soe, se vos pus em tanta calma, sendo meu ídolo d'alma, a quem quereis, que perdoe?
2 E se mal vos pareceu, que eu fosse por esse posto tão despido, e descomposto, sem ter respeito a esse céu, bem sabeis vós, que choveu, e eu vinha de me embarcar:
porém entoldou-se o ar, e para casa arribei, com que se desagradei, quero-me satirizar.
3 Betica, eu sou um magano, um patife, um mariola, um sátiro, um salvajola, e mais doudo que um galhano:
de pois de ser vosso mano, em tempo, que eu era honrado, fui muito desaforado em ir pela vossa rua com barrete de falua, e o pá de gato pingado.
4 Sou um sujo, e um patola, de mau ser, má propensão, porque se gasto o tostão, é só com negras de Angola:
um sátiro salvajola, a quem a universidade não melhorou qualidade, nem juízo melhorou, e se acaso lá estudou, foi loucura, e asnidade.
5 Sou um tonto, e um cabaça, pois fui qual bruto indigesto, onde os mais compõem o gesto por cair na vossa graça:
e se então fugi da praça, onde estão homens de porte, bem é, que a praça me corte, pois atento à vossa fé devia de entender, que onde vós estais, é corte.
6 Se da sátira entenderes, que pouco pesada vai, vós, Betica, a acrescentai, chamando-me, o que quiseres:
quantos nomes me puseres, todos me viram frisando, e se enfim acrescentando não vos parecer bastante, mudai-os de instante a instante, pondo-me uns, e outros tirando.
INDO O POETA, E GONÇALLO RAVASCO A CASA DE BETICA E QUERENDO
TRATAR COM ELLA LHE PEDIO HUA GALA DE ANTEMÃO.
Fui, Betica, à vossa casa uma noite de luar entrei com Senhor Gonçalo, e saí com Barrabás.
Propus-vos minha doença, comuniquei-vos meu mal, receitastes-me um veneno com matar-vos ofertar.
Logo entendi o remoque, e que fiz, vos lembrará, cara, como de quem prova cousa, que lhe sabe mal.
Contudo tive paciência, que, a quem saúde não há, morre às vezes do remédio, mais que do seu próprio mal.
Assentei de obedecer-vos, e pus-me a considerar, onde uma gala acharia em tempo, que ovos não há.
Fiei-me no mercador, que por fiar fiará as sedas, que heis de vestir, no roca de Portugal.
Mas tornando ao vosso conto creio, que se há de notar, que por pedires diante vós quereis dar por detrás.
Que diante a luz caminhe, diz o antigo rifão: mas como a posso levar eu, se o que quero, é tropeçar.
O que eu quisera, Betica, é, convosco me encontrar, que assim no escuro caíra, quem com luz não cairá.
Eu quero convosco amores, rinhas não, e claro está, que dar, e tomar são rinhas, de que Deus me há de livrar.
Dizem, que sois trigueirinha, juro, o que posso jurar, que mente, quem tal afirma, porque vós bem clara estais.
Contudo torno a dizer-vos que tenho de vos mandar tão grande luz adiante, que cegueis, e me caiais.
Entretanto só vos peço, não queirais acrescentar barrete de quatro cornos com trezentos cornos mais.
Porque vos quero já tanto, que a vida me há de custar, ver chupar outras abelhas flor, que sempre em flor está.
TEVE O POETA NOTICIA, QUE SEBASTIÃO DA ROCHA PITTA SENDO RAPAZ, SE
ESTRAGAVA COM BRITES.
Brás pastor inda donzelo, querendo descabaçar-se, viu Betica a recrear-se vinda ao prado de amarelo:
e tendo duro o pinguelo, foi lho metendo já nu, fossando como Tatu:
gritou Brites, inda bem, que tudo sofre, quem tem rachadura junto ao cu.
OFFENDIDO SEBASTIÃO DA ROCHA PITTA POR CAUSA DE HUNS CIUMES À QUIZ
CASTIGAR: AO QUE ACODIO A MAY E LHE FEZ AS DESCOMPOSTURAS
SEGUINTES.
1 Um Sansão de caramelo quis a Dalila ofender, ela pelo enfraquecer lançou-lhe mão do cabelo:
ele vendo-se sem pêlo franqueou a retirada;
de um pulo tomou a escada, e por ser Sansão às tortas, em vez de levar as portas levou muita bofetada.
2 O Filisteu, que lhas deu, (segundo ele significa)
a Mãe era de Betica mulher como um filisteu:
a bofetões o cozeu, e o pôs como um sal moído;
mas ele está agradecido sair com olhos na cara, que ela diz, lhos não tirara, por já lhos haver comido.
3 Posto o meu Sansão na rua, por firmar-se na estacada tomou de um burro a queixada, outros dizem, que era sua:
com ela o inimigo acua, mas não fez dano, nem mal, porque afirma cada qual entre alvoroço, e sussurro, quem livrou dos pés do burro, mal morrerá do queixal.
4 Enfim foi preso o Sansão pelas mãos da filistéia, não nos bofes da cadeia, nas tripas de um torreão:
ali o cabelo lhe dão, que perdeu na suja guerra;
jura Sansão, brama, e berra, que se torna a ver Betica, e as colunas se lhe aplica, que há de lançá-la por terra.
POR UM ESCRAVO MANDOU O POETA À BETICA HUM FORMOSO CARÁ COM
ESTE.
MOTE
Dize a Betica que quando buscava, que lhe mandar, um só cará pude achar, que por ser cará lho mando.
1 Bernardo, há quase dous anos, que andais a ir, e a vir sem podermos conseguir de Betica, mais que enganos:
se hás de dar fim a meus danos em vencê-la porfiando vai trazendo, e vai levando, e pois já chega a dizer que hei de lograr, e vencer, dize a Betica que quando?
2 Pede-lhe o dia, e a hora, em que a hei de ver louçã porque é mui longe amanhã para uma alma, que a adora:
e porquanto essa Senhora dá agora em desconfiar, dos que a não sabem comprar, dize-lhe, que isso entibia, a quem já por cortesia buscava, que lhe mandar.
3 Que há de ter em grande apreço os desejos da vontade, que valem na realidade mais que a dita do sucesso:
e que se o dar não tem preço, também se deve estimar, quem tem desejos de dar, como eu, que com tanto afinco desejando achar um brinco, só um cará pude achar.
4 Pois se a sorte mais não quis conceder-me, e deparar-me, inda assim posso gabar-me, que lhe dei bem de raiz:
que o que pude, agora fiz, ao depois de quando em quando lhe irei aos poucos mandando, sendo, que tão fora está de ser pouco esse cará, que por ser cará lho mando.
VINDO ESTA DAMA HUMA VEZ A CASA DO POETA LHE PEDIO CEM MIL REIS PARA
HUM DESEMPENHO.
Betica: a bom mato vens com teu dá cá, com teu toma, o diabo te enganou, não pode ser outra cousa.
Viste-me acaso com jeito, de comissário da frota, que faz roupa de francês dos borcados de Lisboa?
Sou eu acaso o Mazulo, que, do que tem de outras contas, dá sem conta cada um ano cem mil cruzados à Rola?
Sou Mataxim por ventura, que vim onte ontem d'Angola, e dos escravos alheios faço mercancia própria?
Menina, eu bato moeda?
eu sou um pobre idiota, que para um tostão ganhar estudo uma noite toda.
Cem mil-réis me vens pedir?
a mim, cem mil-réis, demônia?
se eu algum dia os vi juntos, Deus mos dê, e mos comei.
Se eu nascera Genovês, ou fora visrei de Goa, vinte quatro de Sevilha, ou quarenta e oito de Roma:
Dera-te, minha Betica, pela graça, com que tomas, mais ouro, que vinte minas, mais sedas, que trinta frotas.
Mas um pobre estudantão, que vive à pura tramóia, e sendo leigo, se finge cleriguíssimo corona:
Que pode, Betica, dar-te, se não qués versos, nem prosa?
eu não dou senão conselhos, se mos paga, quem mos toma.
Se me há de custar tão caro erguer-te uma vez as roupas, com outra antes de barrete, do que castigo de gorra.
Para que sendo tão rica pedes como pobretona, se esses teus dentes de prata estorvem o dar-te esmolas!
Que mais cabedal desejas, se és tão rica de parolas, que com vários chistes pedes todo um dia a mesma cousa?
Tu pedindo, e eu negando, que cousa mais preciosa, que val mais, do que desejas, e a ti nada te consola.
Cem mil-réis de uma só vez?
pois, pobreta, à outra porta;
Deus te favoreça Irmã, não há trocado; perdoa.
Não há real em palácio, ando baldo, perdi a bolsa;
que são os modos, com que se despede uma pidona.
TORNA ESTA DAMA A INVESTIR SEGUNDA VEZ AO POETA PEDINDOLHE HUMA
GALA, E ELLE FAMOSAMENTE SE DESEMPULHA DESTE MODO.
Culpa fora, Brites bela, não vos dar aquela gala, em que o vosso amor me fala tantas vezes com cautela:
mas que gala será? Tela?
Tela não, minha menina, porque como sois tão fina, e tão lindo serafim, para luzirdes assim vossa gala é serafina.
PICADA BETICA, DE QUE O POETA LHE NÃO DESSE A GALA, LHE APPARECEO
EM CERTA OCCASIÃO COM HUMA SAYA DE SEDA AMARELLA, MAS O POETA SE
DESPICA COM ESTAS DÉCIMAS.
1 Toda a noite me desvelo por saber, com que conselho para meter de vermelho, vos vestistes de amarelo:
não sabe o vosso Donzelo, qual amante, ou quais amores vos deu a gala de flores:
porque assim como chamais para a cama oficiais, para a gala coadjutores.
2 Como se fora o deitá-la render um forte iminente, andais ajuntando gente, para deitar uma gala:
noutra cousa se não fala, mais que a gente, que fazeis, porque quando os convoqueis, e eles vos forem galando, mil galas vos irão dando, com que mil galas tereis.
3 De tanto amante sem conto a gala haveis recebido, que nos pontos do cosido, cabe a cada amante um ponto:
não vos sinto outro desconto, sendo a vossa obrigação tanta quantos pontos são:
senão, que um e outro se afoite, irem pagar-se de noite nos pontos, que se lhes dão.
4 Não tendes, que vos queixar destas minhas travessuras, porque eu vos bato as costuras, para o vestido assentar:
se todos hão de pagar em chegando a vos dormir, deixai também repartir por mim esta obrigação, que os mais de vestir vos dão, e eu vos corto de vestir.
CERTO COMISSARIO DA PRAYA SEU AMAZIO, SABENDO, QUE ANTES DE ELLA
IR À SUA CASA, COSTUMAVA PRIMEYRO TRATAR CO MANUEL RAMOS PARENTE, LHE PREPAROU UMA LAVAGEM DE PIMENTAS, DE QUE FICOU EM MISERAVEL
ESTADO.
1 Dá-me, Betica, cuidado, o desastre, que tivestes, quando gulosa comestes o paio salpimentado:
não era inda divulgado vosso mal, vosso desmaio, quando eu soube como um raio de u'as agulhas ferrugentas, que comestes as pimentas, mas não gostastes do paio.
2 Em vinganças tão cruentas tenho por justas seqüelas, que, a quem dais dor de canelas, vos dê dores de pimentas:
mais vezes do que duzentas vos mandou pôr atalaia o vosso amigo da praia, e vendo, que o outro malho vos punha de vinha-d'alho quis pôr-vos de jiquitaia.
3 Fez bem vosso barregão, pois que via com seu olho, que vínheis com tanto molho, de botar-lhe o pimentão:
vós vínheis de outra ocasião que ele viu, e coligiu, e como tanto o sentiu (sendo vós sua manceba)
que muito, que vos receba com puta que te pariu.
4 Ele vos pôs justamente Betica, em tanto perigo, porque se tendes amigo, não tenhais outro parente:
nem se sofre à boa mente (inda que sejam subornos a beleza, e os adornos)
que uma Moça de reclamos se deite à sombra dos Ramos, se os Ramos produzem cornos.
5 E pois vos vejo estalar tomara agora saber, em que vaso heis de cozer, o que haveis de manducar?
eu não hei de lá chegar, bem que a estrela violenta me inclina, arrasta, e atenta, pois tendes vaso tão mau, que sobre ser bacalhau tem muchíssima pimenta.
6 Mas deixada esta matéria, a saber de vós me alhano, que é feito daquele abano, com que à noite da miséria a vossa negra Quitéria (sendo na gema do inverno)
vos abanava o interno do vaso, que em viva chama vos ardia mais na cama, que o Avarento no Inferno.
AS DIFFERENÇAS QUE TINHÃO SEOS QUATRO AMANTES, SOBRE QUEM À HAVIA
DE LEVAR.
1 Betica: a vossa charola levam-na quatro galantes discretos, ricos, brilhantes peanhas da vossa sola:
qualquer deles acrisola o vosso trono eminente;
mas tem reparado a gente, que é muito para sentir, que um para o Norte quer ir, e que outro para o Poente.
2 Um por não perder o abrigo, vos quer levar para fora, outro por vos ver cad'hora, vos quer ter aqui consigo:
este diz, "há de ir comigo":
aquele: "aqui se há de estar":
e é muito para chorar, que um andor tão buliçoso sempre o tenham duvidoso entre partir, e ficar.
3 A mim me tem parecido, por fugir pesares artos, que um algoz vos faça em quartos, que o tendes bem merecido:
e que cada qual Cupido, o que leva, e o que atraca, da vossa carne velhaca leve um quarto por partilha, e dos quartos a quadrilha como irmãmente da vaca.
4 Para repartir-vos bem entre os quatro quadrilheiros, tirem-se os quartos inteiros soã, coxão, alcatra, acém:
e se entre eles houver quem vos dê mais prazer, e gosto, esse leve o entrecosto, a alcatra, quem bem vos quer, o acém, o que mais vos der, e o coxão a todo o posto.
A MESMA APPARECENDO NO DIA DAS VIRGENS VESTIDA DE LUTO.
Betica: que dó é esse, de que por Virgens te vestes?
acaso é, que dó tivestes, de que tal bem se perdesse?
compre-te, quem te conhece, que eu vendo-te assim vestida com dó, te vejo saída, e creio, que já és tal, que cores te fazem mal, e honesto só te dá vida.


Texto-fonte: Obra Poética, de Gregório de Matos,
3ª edição, Editora Record, Rio de Janeiro, 1992.


Domínio Público Gov.BR


Compartilhe esse texto!

O que você achou desse texto?

Comente abaixo e participe!

0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Os comentários não representam a opinião do site e seus parceiros. A responsabilidade do conteúdo da mensagem é unicamente do autor do comentário.